segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A mad, mad, mad world...

Gentes, sentem-se e apertem os cintos que este post vai ser longo...

No outro dia diziam-me "a cabeça das pessoas anda toda f..."
Pudera!!! Já pensaram com o que as pessoas têm de lidar hoje em dia?
Nos últimos, digamos trinta anos, as coisas mudaram a uma velocidade alucinante... é sobre isso que vou falar hoje.
A ideia não é "dizer mal"... como se costuma dizer "não há bela sem senão" e se calhar este estado das coisas é transitório e quando as gerações se habituarem a ele volta a haver harmonia.
Mas que os entretantos são complicados...

Senão vejamos:

Vivemos hoje na era da informação e da comunicação, temos dezenas de canais de televisão, internet, telemóveis...
A abundante informação a que temos acesso é no entanto frequentemente falsa, manipulada através de meios tecnologicamente avançados e dificilmente detectável. Dantes o que ouvíamos no telejornal, o que líamos nos jornais, era geralmente verdade, hoje em dia é difícil "separar o trigo do joio" e saber de facto com o que estamos a lidar.
Os computadores já conseguem atingir uma imitação tal da realidade que qualquer dia é difícil de distinguir.
As imagens entram-nos pela vida a dentro, constantemente nos deparamos com cenas violentas, com a miséria humana, com a desgraça. Já não há qualquer tipo de "pudor social", se existe é para se ver e aparece nos telejornais, nos outdoors, nas revistas, na internet, nos mails, sem pedir licença. Dantes ouvíamos falar das coisas, agora temos uma visualização das mesmas quer queiramos quer não.
Graças à internet toda a gente (que tenha tido aulas comigo, claro... LOLOLOLOLOL) tem acesso a todo o tipo de informação. Até a bomba atómica é explicada online... Se este exemplo não é propriamente muito preocupante outros há que já o serão mais...
Podemos comunicar com pessoas que não conhecemos de lado nenhum, tornar as nossas ideias públicas, mas se não tivermos cuidado acabamos completamente devassados sem saber ler nem escrever...
Fazemos um videozinho porno caseiro ou tiramos umas fotos porcas com o telemóvel (eu não faço nada disso, é só um exemplo... LOLOLOLOLOLOLOLOL) e acabamos por eventualmente aparecer online... dantes eventualmente o amiguinho dava umas risadas e a coisa ficava-se pelo bairro...
As coisas entram-nos pela vida a dentro sem pedir autorização... dantes, para estarmos informados sobre determinado assunto tínhamos de ir à procura da informação, ou pelo menos de estar atentos aos meios de comunicação. Hoje em dia, não só nos referidos meios de comunicação mas também através dos mails que recebemos, somos informados sobre o que queremos e sobre o que não queremos... que os cães e gatos na china são transportados para abate em condições insustentáveis, que as mulheres em certos países sofrem mutilações terríveis, e sei lá mais oquê... coisas relativamente ás quais pouco ou nada podemos fazer e se calhar éramos mais felizes se não tivéssemos de visualizar.
As figuras públicas não podem dar um peido sem que haja vinte mil sites a cagar sentença sobre o assunto. Públicas, públicas, mas há limites...

Por outro lado certos valores imemoriais foram completamente alterados. Um exemplo flagrante disso é que em termos tecnológicos os mais velhos já não ensinem nada aos mais novos, antes pelo contrário. Isto confunde-se facilmente com os mais velhos já não terem NADA para ensinar aos mais novos, o que é obviamente uma coisa completamente falsa.
Os mais velhos sentem-se no entanto inseguros, têm de lidar com uma realidade que disparou para uma velocidade alucinante e sentem-se a perder o barco. Não conseguem acompanhar o ritmo e muitos estão completamente perdidos já não sendo capazes de efectuar as tarefas que dantes lhes eram corriqueiras.
As pessoas, não só em termos de trabalho como de hobbies, de interesses, etc... estão cada vez mais especializadas, a tendência parece-me mais no sentido de se saber muito de uma coisa do que pouco de muitas. Isto isola as pessoas, limita o universo em que se conseguem mover confortavelmente.
O facto de se poder fazer tanta coisa online também vai afastar as pessoas do convívio umas com as outras. Mandam-se mails, fazem-se compras, faz-se pesquisa, até se joga online (Oh my God, é o fim do nosso Casino... LOLOLOLOLOLOLOL) qualquer dia as pessoas não precisam de falar umas com as outras... logo tornam-se cada vez mais individualistas.
Mas por outro lado cada vez menos têm direito a momentos a sós consigo próprias... começou com o telemóvel e já vai na Internet Móvel, estamos contactáveis de várias formas em qualquer lado. Qualquer dia nem na praia temos desculpa para não enviar "aquele relatório de excel"...
Tudo parece tecnologicamente possível hoje em dia, já muito pouco nos surpreende.
Por outro lado, coisas que tínhamos como certas no passado são postas em questão por estas avançadas tecnologias.

Vive-se num clima de total insegurança... Terrorismo, pedofilia, violência, tudo pode estar ao virar da esquina. Continua a haver locais mais perigosos do que outros mas em todo o lado se sente a ansiedade. A pequena Maddie desapareceu de Portugal, já não é só nos Estados Unidos que há assassinatos nas escolas ou atentados terroristas.
Por outro lado passamos a vida a ser assediados por causa das Vacas Loucas, da Gripe das Aves, sei lá mais oquê. Já ninguém sabe bem o que é realmente seguro comer, ou fazer...

Até no que diz respeito à saúde as coisas estão diferentes... dantes tínhamos o nosso médico, que íamos consultar quando qualquer coisa não estava bem. Ele anunciava-nos o seu diagnóstico e receitava-nos um tratamento que nós seguíamos.
Hoje em dia já conhecemos montes de sintomas de tudo e mais alguma coisa, quando vamos ao médico já vamos cheios de certezas ou de dúvidas relativamente a casos terríveis de que ouvimos falar ("será urina de rato?"LOLOLOLOL). Depois de ele nos dar o seu veredicto vamos investigar à Net e decidir se ele nos diagnosticou como deve de ser. Se não gostamos do diagnóstico teremos de procurar outro médico. No que diz respeito ao tratamento também teremos de ir verificar se é de facto o adequado, afinal de contas hoje em dia somos todos "quase médicos"... O problema é quando deparamos com informações contraditórias, aparentemente todas elas de fontes fiáveis e credíveis, aí é que a porca torce o rabo.
Dantes havia menos tratamentos para as doenças, mas será que havia tantas?
Garantidamente não se espalhavam pelo mundo como agora, com o intercâmbio rápido de gente que há com a facilidade em viajar de hoje em dia.
E a quantidade de crianças que pela lei da selecção natural não estariam cá?! O sofrimento a que todos estamos sujeitos...
Por outro lado dá-se um regresso ao naturalismo. Algumas pessoas estão por exemplo a deixar de vacinar as crianças. Mas como disse alguém num comentário ao assunto, "a percentagem da população vacinada também funciona como um factor que dificulta a propagação da doença", ora ao não vacinarem as criancinhas estão a fazer um retrocesso na erradicação da doença.
Por outro lado dão-se antibióticos por tudo e por nada, qualquer dia quando for realmente necessário não fazem efeito.

Não fomos nós pessoalmente que fodemos (pardon my french) o planeta... mas sentimo-nos como se tivéssemos sido. Não dá para voltar para trás de um momento para o outro nos disparates ecológicos que temos cometido ao longo da história da humanidade, não estamos mentalmente preparados para isso. Fazem-nos sentir culpados por consumir recursos como se tivéssemos sido nós a fazer o buraco na camada de ozono. Há cada vez mais gente extremista... Há quem se choque porque "os leds dos telemóveis gastam muita água"... Quem se angustie porque não percebeu bem se os pacotes de leite deveriam ir para o papel ou para as embalagens visto que têm metal por dentro.
Há cada vez mais uma noção de globalização que, se por um lado é verdadeira, por outro ainda não é... o facto é que não temos todos os mesmos problemas ou simplesmente as mesmas realidades. Logo não conseguimos sentir-nos iguais ao resto do mundo. Mas hoje em dia, para além dos problemas pessoais e locais, sentimo-nos com o peso dos problemas mundiais nos ombros... é muita coisa para carregar.

Disto veio também o politicamente correcto, não se pode mencionar o facto que "todos diferentes, todos iguais" é uma ganda treta, e que há diferenças grandes sim, entre homens e mulheres, entre pretos e brancos, entre povos, entre pessoas... o medo de ofender chamando as coisas pelos nomes, admitindo que elas existem e resolvendo o que houver a resolver. Acham que por não falar nas coisas elas deixam de existir.
Apagam-se as Torres Gemeas do filme do Homem Aranha e o 11 de Setembro nunca aconteceu...
Isto leva à censura e á castração das liberdades individuais que tanto defende.
Altera a vivência das coisas.
Uma educadora de infância contou-nos há uns tempos que em Inglaterra elas não podem tocar nas crianças, pode ser considerado assédio, se uma criança se magoar não podem po-la no colinho para lhe dar mimo porque podem ser processadas pelos pais...
Por outro lado a defesa dessas liberdades individuais leva a extremismos assustadores... as tatuagens e piercings radicais que já todos recebemos por mail, é o desespero de ser diferente, de dar nas vistas...

Está a haver paralelamente um culto obsessivo do corpo (ginástica, dietas, operações plásticas) e da mente, cada vez se fala mais em espiritualidade.
Mas cada vez é mais difícil seguir um caminho espiritual, há demasiada escolha... faz-me lembrar a primeira vez que entrei numa Fnac em Paris, fui à secção da fotografia e havia tantos livros que não consegui decidir-me por nenhum e acabei por sair de mãos a abanar...
Anyway... cada vez há mais religiões e seitas. As pessoas já não sabem em que acreditar...
As religiões ancestrais foram criadas para lidar com um estado das coisas que está hoje em dia completamente alterado. Muitas coisas em que continuam a "teimar" deixaram de fazer sentido à muito tempo... Veja-se o caso do Vaticano no que diz respeito ao uso do preservativo e aos riscos de Sida.
Por outro lado tudo é posto em questão como na história do Codigo Davinci por exemplo.
As pessoas andam tão desesperadas por acreditar, por ter fé em seja o que for, que muitas vão parar a cultos duvidosos onde o seu desespero é chulado até à medula.

Este excesso de escolha é cada vez mais comum em todos os campos da nossa vida.
A escolha profissional era dantes muito mais fácil, não havia tantas opções, os miúdos acabam ás vezes por se sentir perante uma escolha de estudos como eu me senti na Fnac perante os livros de fotografia.

Também já não há tempo para nada.
A vida corre tão depressa que tudo hoje em dia é feito para poupar tempo.
Os carros estão mais rapidos, os aviões, os computadores... Cada vez vamos portanto "metendo mais coisas" no nosso dia a dia ficando com horários cada vez mais apertados.
Depois falta tempo para coisas como a educação das crianças, por exemplo. Temos de trabalhar, de ir ao super-mercado, de tratar da casa, quando é que vamos arranjar energia para os educar? E não só para os educar mas sobretudo para perceber como...
Hoje em dia fica-se arrasado só com a energia necessária para conseguir manter os padrões de vida que os nossos filhos esperam que lhes proporcionemos. Os Gameboys, as Playstations, os telemóveis, as roupas de marca... porque sem eles se vão sentir infelizes nesta sociedade cada vez mais consumista.

E podia estar aqui a massacrar-vos durante mais umas horas... LOL

Sei que este post foi muito longo... peço desculpa pela seca a quem conseguiu chegar até aqui ; ). Propuseram-me dividi-lo em vários posts mas achei que não fazia sentido.
A ideia era apresentar o que disse como um todo, como um conjunto incompleto de alterações à realidade a que a maior parte de nós estava habituada.
Quis só demonstrar que é mais do que normal que a cabeça das pessoas ande toda f... e que tenham dificuldades em ser felizes. O mundo de hoje não ajuda... mas é possível ; )))





domingo, 18 de novembro de 2007

Vira o disco e toca o mesmo...

Ia comentar os últimos comentários do post anterior mas dei-me conta de que tinha tanta coisa para dizer que o melhor mesmo era escrever novo post sobre o assunto...

Devo começar por dizer que estou muito contente com a quantidade de comentários que este Blog tem recebido ultimamente, é muito gratificante, fico feliz... LOL
Dito isto é impressionante verificar como a ideia de que a felicidade é uma escolha parece tão óbvia para alguns e tão inacreditável para outros...

Muitos afirmam querer atingir a felicidade, como se esta fosse uma meta...


Eu partilho a opinião de que a felicidade é "aqui e agora" e não "um objectivo a ser trabalhado".

Nem sempre me considerei feliz, ou tive noção de que o era e de que continuar a se-lo dependia quase só exclusivamente de uma escolha minha, de uma atitude, de uma forma de ver a vida, tão simples quanto isto... Acho que a partir do momento em que tomamos consciência deste facto tudo muda. E isto dá-se com um Clic...

Julgo que seja ponto assente que, por muito que tudo isto faça sentido para nós, pode haver circunstancias que alterem drasticamente este estado de felicidade. Falou-se por exemplo da morte de um filho mas pode haver outras e diferentes de individuo para individuo.

Mas relativamente a este assunto gostava de vos contar uma história:
Tive uma aluna que tinha três filhos, o mais novo era deficiente profundo.
Antes de saber que estava grávida teve uma forte constipação e tomou um remédio qualquer que basicamente destruiu o cérebro do bebé.
Este, na altura em que conheci a mãe, tinha cerca de quinze anos, estava colado a uma cama desde que nasceu, era cego e tinha recorrentemente problemas respiratórios que o mandavam de urgência para o hospital.
Perguntei à mãe se ele a reconhecia, ao que ela respondeu "acho que sim"...
Não consigo sequer começar a descrever o que esta resposta provocou em mim... não estamos a falar de uma pessoa com amnésia, esta mãe não tinha a certeza absoluta de que o filho fizesse distinção entre ela e as outras pessoas que tratavam dele pois não tinha qualquer tipo de reacção. Dizia ela que de vez em quando lhe escorria uma lágrima pela cara abaixo, logo alguma emoção devia sentir...
Quando fiz um comentário em como aquela situação devia ser horrível para ela, respondeu-me:
"Sim, é duro, mas não podemos dar demasiada importância a estas coisas, senão como é quando for uma coisa realmente grave?"


Ainda hoje me pergunto o que será uma coisa grave para esta senhora...
A realidade é que, digo eu que não a conheci tão bem como isso ;) , ela tinha de facto um ar feliz. Não acredito no entanto que levasse o filho para o hospital, entre a vida e a morte, de "sorriso nos lábios".

A felicidade vem de dentro para fora, alguém dizia que "viu razões mais do que suficientes para não ser ou estar feliz", a maior parte das pessoas tem tendência para se focar sempre muito mais no que corre mal, nos problemas, nos desgostos, nas chatices, nas merdas do dia a dia, do que naquilo que de facto tem de bom na vida.
Por outro lado é sempre muito melhor, muito mais apetecível, muito mais valioso, muito mais interessante, aquilo que não se tem do que aquilo que se tem. Já sem falar do facto de que a galinha da vizinha dá sempre muito mais leite do que a minha, como dizia o Herman, há sempre razões para o gajo do lado estar muito melhor do que eu.

A realidade é que a felicidade passa obrigatoriamente por uma grande dose de auto-estima, para se ser feliz é preciso não só querer como sobretudo acreditar que se merece.
Embora toda a gente afirme que quer ser feliz eu não acredito que isso seja verdade, acho que há pessoas que por razões que me ultrapassam não julgam ter esse direito.

Contando outra piquena história:
Num dos sítios onde trabalhei havia uma rapariga que sofria horrores todos os meses com o período. Era extremamente responsável e raramente se baldou por causa disso. Metia dó a arrastar-se pelo escritório contorcendo-se de dores. Como sofro do mesmo mal, fazia-me imensa confusão e por várias vezes lhe ofereci analgésicos. Nunca os aceitou. Perguntei-lhe se tinha alguma razão física para não os poder tomar... não tinha, simplesmente não queria. Preferia passar três dias por mês a sofrer. Porquê? Nunca me conseguiu explicar apesar de lho ter pedido insistentemente...
Anda por sinal a passar-se uma história semelhante neste momento, com um dos nossos habitués da casa que, sendo alérgico a gatos bebés, se recusa terminantemente a tomar pontualmente um anti-histamínico afirmando que voltará a aparecer "quando o gato crescer ou morrer, o que acontecer primeiro" LOL

Dito isto, e não afirmando que haja quem goste de sofrer (apesar de haver, chamam-se masoquistas LOL) a realidade é que há de facto quem não trate lá muito bem de si próprio...
Os medos também não ajudam nada, muitas vezes as pessoas têm medo e nem sabem bem de quê, é uma coisa perfeitamente irracional.

As preocupações são outro entrave, há uma grande tendência para as pessoas se preocuparem com coisas que estão na realidade completamente fora do seu controle. Tipo está um tempo do caraças em Novembro, oh meu Deus é porque o planeta está todo feito num molho de brócolos, nem consigo aproveitar o solinho como deve de ser...



O Churchill dizia; "Um pessimista vê a dificuldade em qualquer oportunidade, um optimista vê oportunidade em todas as dificuldades".
Assim é com a felicidade... quem decide ser feliz aproveita todas as ocasiões para delas tirar coisas boas.
Muita gente fica chocada quando afirmo que a morte do meu pai me trouxe coisas positivas... Para começar tirou-me um grande peso de cima, deixei de viver com o medo que morresse ;). Para quem não saiba, o meu pai morreu do seu quarto enfarte. A partir do terceiro tornou-se bastante evidente que poderia "ir" a qualquer momento.
Depois, a sua morte sendo a primeira de facto relevante na minha vida, levou-me a reflectir muito sobre o assunto e a ganhar uma grande paz de espírito relativamente ao tema. Cresci muito com a morte dele...
Se sofri?! Pra caramba... Se foi difícil?! Muito...
Mas "virei" infeliz?
"Se as estrelas não brilham é porque o céu está nublado... elas continuam lá..."


:)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ser ou não ser, eis a questão

Ultimamente, por causa do meu inquérito, por causa deste blog, enfim sei lá, porque tem calhado, tenho tido várias conversas, ao vivo e a cores, sobre o tema da felicidade...
Chego à conclusão de que a maior parte das pessoas não parece considerar a felicidade como um "ser" mas mais como um "estar"...



Há pessoas alegres, pessoas tristes, pessoas carrancudas, pessoas divertidas... qualquer uma destas coisas é facilmente aceite como um "ser", como uma característica que as define.
Também podem ser um estado, claro, uma pessoa pode "ser" alegre e "estar" momentaneamente triste.

Então porque não havíamos de poder "ser" felizes? Porque é que a felicidade é encarada como se fosse uma utopia?

Até alguns dos que pensam mais como eu, com quem sinto mais empatia em termos de forma de ver a vida, parecem achar que a felicidade é uma espécie de nirvana.

Uma pessoa pode ser saudável e estar pontualmente doente.
O facto de se apanhar uma gripe ou de se partir uma perna não faz com que passemos a ser considerados "doentes".
Então por que raio é que os eventuais
períodos de dor, física ou emocional, de desalento, de tristeza, etc, têm de nos fazer mudar de estatuto no que diz respeito à felicidade?

Está um dia lindo, almocei que nem um abade e estou profundamente apaixonado; sou feliz.
Chove a cântaros, estou de caganeira e morreu o meu cão; sou infeliz.
Isto faz algum sentido? A felicidade é tipo pisca-pisca?

Não há dúvidas de que tem condicionantes.
Estas podem ser diferentes de individuo para individuo.
Há quem não consiga ser feliz sozinho, quem não consiga ser feliz sem dinheiro, quem não consiga ser feliz com uma deficiência física... sei lá.
Eu, por exemplo, tenho sérias dúvidas que conseguisse continuar a ser feliz se perdesse o meu filho... ou a visão, por exemplos.
Ou seja, há condições para a felicidade de cada um e estas podem sofrer alterações.

Voltando a usar o exemplo da saúde,
não se deixa de considerar uma pessoa saudável porque apanhou varicela, mas se apanhar Sida já é outra história.
Há casos e casos e a sua gravidade e duração determinam no fundo a passagem do ser uma coisa para passar a ser outra.
Claro que há casos em que uma pessoa tem uma constipaçãozinha da treta e julga que está a morrer... Conheço pessoas assim... mas não irei desrespeitar a privacidade alheia expondo o nome delas para uso num grupo tão alargado. LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL

Dito isto o meu exemplo não é de todo idiota.
A realidade é que acho que aqueles que dizem que não se é feliz, que se está
mais ou menos frequentemente feliz, não passam no fundo de uns "hipocondríacos emocionais".
Da mesma maneira que certas pessoas não perdem a ocasião de se lamentarem das suas doenças, outros estão constantemente a lamentar-se dos seus azares e da vida porca e miserável que levam.

Eu própria, nem sempre fui feliz, ou tive consciência de o ser e o assumi (shame on me...).
Quantas vezes me perguntaram "então, como vai isso?" e dei por mim a responder "mais ou menos" ou "vai-se andando", só porque tinha tido qualquer tipo de contratempo de merda, daqueles que não têm ponta de importância.

Descobri a seguinte citação da Helen Keller:
"Quando uma porta de felicidade se fecha, abre-se outra; mas frequentemente ficamos tanto tempo a olhar para a porta que acabou de se fechar que nem sequer nos damos conta da que se abriu."
Ok, não vamos discutir como é que a Helen Keller via, ou sequer ouvia, portas a abrir e a fechar...
LOLOLOLOLOLOL
OLOLOLOLOLOL
Desculpem, não consegui resistir a um pouco de humor negro... LOL...
Dito isto era exactamente o que estava a tentar dizer, que ás vezes damos tanta importância ás coisas más que nos vão acontecendo na vida que não vemos sequer as boas que estão à nossa frente.
Caraças, se até a Helen Keller fala em felicidade vocês têm a lata de me dizer que não é possível ser-se feliz?! Santa paciência...

Dito isto acho que na realidade há uma espécie de pudor social, que não consigo compreender, no que diz respeito à felicidade. Não "é bem" assumir que se é feliz. Devia-se criar os "felizes anónimos" de tal maneira o assunto incomoda as pessoas. Se alguém afirma sê-lo sente-se como se estivesse a divulgar o saldo da conta bancária (no caso de ter lá alguma coisa, claro... LOLOLOL).
Todos afirmam que querem ser felizes, mas na realidade poucos se dão conta de que já o são.









segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O inquérito

Recentemente enviei por mail um "inquérito" sobre pessoas "resolvidas".
Muitos saberão do que estou a falar visto que enviei para pessoas que sei que vêm aqui...
De qualquer forma, para os que não sabem, basicamente pedi que me dissessem quais as três pessoas mais resolvidas que conheciam e porquê.
Não podiam ser figuras públicas, tinham de as conhecer pessoalmente.

Nem eu própria sei bem porque lancei o desafio...
Fiz-me a pergunta a mim própria e achei interessante.
Achei então que era giro fazer a mesma pergunta aos outros, talvez para tentar perceber o que queria dizer "resolvido" na cabeça de cada um.

Até agora ainda só tive quatro respostas, muita gente a dizer de uma forma ou de outra que não iria responder (ou que não conhecia ninguém resolvido) e mais "abstenções" ainda.
Mas de qualquer maneira não era sobre o inquérito propriamente dito que queria falar... era mais a propósito de uma das respostas que recebi, que me deixou absolutamente perplexa...
Rezava qualquer coisa do genero: "... o respeito pela privacidade alheia me leva a preferir não expor o nome delas para uso num grupo tão alargado..." (não fiz copy/paste nem nada... LOLOLOLOL)

Como disse, várias pessoas responderam ao mail, sem que por isso tenham respondido ao inquérito...
Já antes desta resposta tinha sentido um clima estranho no ar, um desconforto geral. Tinha ficado um bocado com a sensação de ter feito alguma pergunta indiscreta, despudorada...
Depois senti-me... como se tivesse a pedir que denunciassem alguém...


Hellooooooooo???!!!
Há que resguardar o facto de que alguém possa ser resolvido?!
Deve-se guardar segredo? É alguma doença venérea? LOL
Aposto que se tivesse pedido o nome das três pessoas com mais filhos ou com mais paciência... mos "forneciam" (LOL) sem qualquer tipo de problema...

Não sei o que pensaram relativamente à pergunta, mas independentemente das várias possíveis interpretações da palavra "resolvido", parece-me difícil atribuir-se-lhe um sentido pejorativo...
Logo, dizer que alguém é resolvido é no mínimo um elogio.
Se eu tivesse perguntado pelas três pessoas mais generosas ainda conseguia compreender, não fosse alguém aproveitar para ir crava-los ... LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL
Agora a sério... parece que é alguma vergonha, alguma falha de carácter...

Quando comecei este Blog, com a afirmação de que era feliz, várias pessoas me "deram os parabéns", com um sorriso amarelo, como se pensassem; "deves..."
Parece de facto haver um certo mal estar quando se fala destes temas... como se ser feliz, ser resolvido, viver em paz, etc, etc, etc... não fossem coisas atingíveis pelo comum dos humanos e só o facto de se mencionar que alguém o pudesse ser fosse já de si uma heresia.
Os que dizem não conhecer ninguém estão a ter a mesma atitude, no fundo não querem é "apontar o dedo".

Aquele ali... aquele é um tipo resolvido!!!
LOLOLOLOLOLOLOLOLOL

Notem que eu não perguntei por pessoas totalmente resolvidas, perguntei quais as pessoas MAIS resolvidas que conhecem... Se alguém só conhecesse três pessoas, essas serviam...
Aposto que se tivesse pedido directamente a definição da palavra para cada um teria sido mais fácil, não obrigava ninguém a tentar perceber porque lhe veio esta ou aquela pessoa à cabeça.