terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cantas bem mas não me alegras

COM MÚSICA



Hoje em dia circulam constantemente e-mails com dizeres filosóficos, sábios ditados, citações, histórias de vida, conselhos de saúde e bem estar, pedidos de ajuda vários…
Estes dizem-nos que o dinheiro não é tudo, que devemos viver o momento, acarinhar as amizades, estender a mão ao próximo, sorrir, beber água, escolher bem os alimentos que consumimos, fazer exercício, reciclar, proteger o ambiente, respeitar o próximo, ajudar… e não vos aborreço mais pois todos devem receber os mesmos que eu. ;)

Se algumas pessoas os mandam directamente para o lixo, outras há que, mais ou menos criteriosamente, os reencaminham. São estas que tipicamente também partilham este tipo de mensagens em Facebooks e afins, em blogs, ao vivo e a cores… ou seja que, mais ou menos empolgadamente, as divulgam de uma forma geral.

A evolução do bicho homem passa por uma tomada de consciência relativamente a si próprio, à vida em sociedade e ao mundo que o rodeia. Este tem-se vindo a aperceber dos muitos erros que cometeu ao longo da história e do facto que, se as coisas não mudarem, o seu futuro não será brilhante.
Os actuais meios de comunicação permitem uma divulgação fácil destas problemáticas.

Pergunto-me no entanto, por entre aqueles que “divulgam a mensagem”, quantos viverão realmente segundo aquilo que apregoam.
Quantos depositarão as suas garrafas no vidrão, tentarão evitar usar sacos de plástico ou pouparão água no duche? Quantos farão efectivamente o tal telefonema para a União Zoófila ou se darão ao trabalho de se deslocar aos postos de recolha para testar a compatibilidade de medula? Quantos beberão a quantidade diária aconselhada de água ou praticarão exercício? Quantos estarão lá para os filhos e para os amigos, brindarão o próximo com um sorriso ou farão um esforço consciente por expulsar o stress das suas vidas?

É sem dúvida importante termos noção daquilo que podemos fazer para melhorar as nossas vidas, para estendermos a mão ao próximo, para pouparmos o ambiente. É igualmente importante a partilha dessa informação. Mas não chega…
A divulgação, através dos vários meios ao nosso dispor, deste tipo de dicas parece hoje em dia ter virado moda. As pessoas parecem sem dúvida mais alertas, mais conscientes do que está ao seu alcance fazer… a questão é se o fazem. 

Muitos apoiam iniciativas, ideias, conceitos… dissertam sobre eles, divulgam-nos… mas nem todos agem nesse sentido. Se as “mensagens” transmitidas a torto e a direito fossem seguidas pelo menos por aqueles que as passam, o mundo já seria neste momento um sítio muito melhor.
A vida é uma cadeira prática. ;)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Ogres são como as cebolas

COM MÚSICA



Burro – Cheiram mal?!
Shrek – Não! Têm camadas…

Assim são também as relações entre as pessoas, das mais superficiais às mais profundas …
Se o carácter e características dos indivíduos que se enquadram na primeira categoria não pesam grandemente na nossa vida, o mesmo já não se poderá dizer no que diz respeito aos da segunda.

Que o senhor do café,  goste de se vestir de mulher, que gaste tudo o que ganha no casino ou que tenha como hobbie coleccionar bigornas… para nós é perfeitamente igual ao litro. O mais provável, de qualquer forma, é que nem tenhamos conhecimento de nada disso.
Se estivermos no entanto a considerar casar com ele, talvez já não sejamos tão indiferentes a estes “pequenos detalhes” … ;)

Quanto mais as pessoas entram na nossa intimidade, mais importantes se tornam na nossa vida, mais peso têm. O que pensam, dizem e fazem as mais próximas de nós irá, frequentemente, de uma forma ou de outra, afectar-nos positiva ou negativamente.

O envolvimento, seja de que natureza for, começa por uma certa empatia. Volta não volta,  sentimo-nos tentados a “ir mais longe”, a deixar o outro entrar mais profundamente na nossa vida.
É no entanto extremamente importante que tenhamos a noção de “onde” o podemos efectivamente deixar entrar.
Inútil será dizer que isso nem sempre acontece e qualquer um de nós terá casos em que abriu a porta de uma divisão onde o outro não era suposto ir.

Onde isto é mais flagrante é nas relações amorosas.
Terá, até certo ponto, a ver com a paixão, com a irracionalidade e cegueira inerentes a este tipo de sentimento. Mas não só.
A realidade é que, muitas vezes, não temos noção de que uma pessoa que poderíamos apreciar  como amiga, dificilmente poderá partilhar a vida connosco.
Mas o que é válido para os amores é também válido para as amizades, and so on

Utilizando mais uma vez a analogia com os jogos, que neste caso ajuda bastante a exemplificar o que tento transmitir, é preciso saber o que conseguimos e nos dá prazer jogar.

Tanto eu como grande parte das pessoas com quem me dou, somos jogohólics. Jogamos jogos de tabuleiro (de dificuldade variada), jogos de sociedade, jogos de cartas, etc… Temos um armário cheio deles, de cima a baixo.

Ora cada um de nós tem jogos que se recusa a jogar, que não sabe nem quer aprender.
As razões podem ser variadas, podemos acha-los demasiado estúpidos, demasiado complicados, ou simplesmente não lhes achar graça por alguma razão pessoal e intransmissível.
Eu pessoalmente recuso-me a jogar Bridge, por exemplo. Vivi com uma pessoa que  jogava todas as semanas e todas as semanas havia discussões, pessoas que se zangavam forte e feio, por causa da porcaria do jogo. Acho que fiquei traumatizada… (LOL)

Por outro lado, há jogos que só jogamos no social, quando estão presentes grupos grandes, mas que não nos passaria pela cabeça jogar no nosso núcleo mais fechado. Digamos que há jogos que se adequam a cada camada  da cebola.

Dito isto, voltando à vida real, cada um de nós tem os seus jogos, sendo eles a sua maneira de ser, de pensar, de agir. Não fazendo julgamentos de valor, convém no entanto saber os que estamos dispostos a jogar com os outros. E quanto mais perto do núcleo os deixarmos aproximar, mais criteriosos deveremos ser.

Imaginemos que alguém tem tendências sexuais sadomasoquistas, por exemplo. Se fôr um amigo, dificilmente isso irá interferir com a nossa relação. A coisa pode mudar de figura se se tratar da nossa cara-metade.
Este é um exemplo extremo e caricatural, há no entanto muitos aspectos a ter em conta ao atribuirmos um papel na nossa vida a alguém. 
Se certas características se podem facilmente suportar em certo tipo de relações, em que eventualmente nem sequer daremos por elas, noutras já  nos poderão afectar seriamente.

Nem sempre o “tipo de jogo” de cada um é fácil de identificar à partida. Ás vezes  atiramo-nos de cabeça,  dando-nos posteriormente conta de que não o queremos ou conseguimos jogar.
Mas uma coisa parece-me óbvia; se já sabemos que o outro não ouve a mesma canção, não empenhemos a porcaria do anel de rubi… ;)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Gatos escaldados

COM MÚSICA


No outro dia, numa série, apareceu um actor que já tinha visto várias vezes e tive a curiosidade de ir investigar…
Tommy Flannagan  tem duas cicatrizes na cara que dificilmente passarão despercebidas. Este Glasgow Smile  foi-lhe feito durante um assalto em que quase perdeu a vida. 
Depois desta desfiguração o rapaz tinha várias hipóteses… ficar fechado em casa, passar a usar burka ou, porque não, ir tentar a sorte como actor em Hollywood. ;)
Jà entrou entretanto em 42 filmes e séries, entre os quais o Braveheart e o Gladiator, e suspeito seriamente que o facto de nunca ter tido nenhum papel de relevo se deva mais provavelmente a uma certa ausência de talento do que à sua cara.

Ninguém está livre de passar por acontecimentos dramáticos. Ousaria mesmo dizer que, em diversas medidas, todos passamos por um que outro durante a vida.
Ás vezes são situações  tão extremas que nos perguntamos como será possível alguém sair delas mantendo alguma sanidade mental.
Conheço, pessoalmente, casos de mulheres maltratadas pelos maridos, de suicídios de entes queridos, de violações, de crianças molestadas sexualmente, de pessoas que perderam filhos, de filhos que perderam os pais durante a infância, um dos quais assassinado à sua frente…
Se conhecessem qualquer uma destas pessoas de quem vos falo, provavelmente nunca suspeitariam do que lhes tinha acontecido. São pessoas normais, sãs, aparentemente felizes. Qualquer uma delas acabou por me contar a sua história porque simplesmente veio a propósito e não para se vitimizar ou justificar fosse o que fosse.

Terão sido fáceis de ultrapassar, estas situações?!
Suspeito seriamente que não, deve ter sido um árduo e longo caminho. As cicatrizes, apesar de não serem visíveis a olho nu, devem ser profundas e nunca irão desaparecer.
A realidade é que, de uma forma ou de outra, conseguiram ultrapassar os seus martírios e aproveitar o que a vida tem de bom para dar.

No meio das minhas pesquisas dei de caras com esta citação, que lhes assenta que nem uma luva:
“No experience is a cause of success or failure. We do not suffer from the shock of our experiences, so-called trauma - but we make out of them just what suits our purposes.”
Alfred Adler

No outro dia estive a ver uma conferência muito interessante no Ted Talks, de um tal de Dan Gilbert, que vos aconselho vivamente.
Entre outras coisas, ele pergunta o que preferíamos, se ganhar a lotaria ou ficar paraplégicos, sublinhando o facto de que, provavelmente, todos escolheríamos a primeira opção.
Contou então que, um estudo demonstrou que, um ano depois de terem ganho a lotaria ou terem ficado paraplégicas, havia uma equivalência de pessoas felizes em ambos os grupos.

Há outro tipo de pessoas, para quem qualquer experiência menos agradável, mais difícil de gerir, serve de desculpa para não serem felizes. Pessoas que, em vez de tentarem dar a volta por cima, preferem passar a vida a carpir os seus dramas.
Não os aproveitam para aprender; a apreciar a “bonança” entre tempestades, a dar valor ao que de bom têm na vida, a lidar com os outros, a saber proteger-se, a fortalecer-se.
Muitos gostam de lhes chamar traumas, ficam traumatizados  por dá cá aquela palha. A questão é que esses traumas só costumam dar ares de sua graça quando a coisa dá para o torto e precisam de um bode expiatório para justificar as suas atitudes.
São pessoas que, em vez de erguer a cabeça e fazer-se à vida, se encolhem no seu pequeno ninho de autocomiseração, encarando o mundo como seu inimigo.

Quero ressalvar que estou consciente de que verdadeiros traumas existem e são problemas extremamente sérios e difíceis de ultrapassar. Acho simplesmente que se faz um uso abusivo da palavra.

Diz-se que “gato escaldado de água fria tem medo”… mas convém não esquecer que bichano é animal irracional… digo eu, sei lá… ;)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Comprimentos de onda

COM MÚSICA

 
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros…”
Ou deveria talvez antes dizer, para efeitos deste post ; todos somos diferentes, mas alguns são menos diferentes que outros… ;)

As pessoas com quem escolhemos relacionar-nos não são obrigatoriamente parecidas connosco. Cada um de nós é único, com características, convicções, ideias, atitudes, etc, potencialmente muito diferentes.
Se as semelhanças tendem a aproximar as pessoas, são no entanto, por vezes, as diferenças que nos atraem nos outros.

Partilhar a mesma visão do mundo não é condição  sine qua non  para um relacionamento. Se assim fosse, seria aliás um tédio, sem desafios, sem contradições, sem discussão, sem novidade.
Algo nos aproxima certamente, algo teremos em comum que nos atraia uns para os outros, mas não obrigatoriamente a postura perante a vida.
É perfeitamente possível um bom  relacionamento entre pessoas de diferentes religiões, opiniões políticas, ideologias, etc… nem só de concordância vive o homem.

O contacto com a diferença é, na minha opinião, positivo, saudável e estimulante, sobretudo se tivermos uma mente aberta, crítica e permeável à mudança.
Entre outras coisas, através desses outros diferentes  poderemos apreender novos pontos de vista, observar reacções ás suas maneiras de ser, assistir ás consequências dos seus actos, analisar as suas ideias e tirarmos as nossas próprias conclusões.
Em suma, permitem-nos evoluir, sem termos de passar pessoalmente pelas experiências o que, convenhamos, dá um certo jeito e poupa tempo.

Como seres em permanente mutação que somos, vamos pondo coisas em questão.
“Quanto mais sei, mais sei que nada sei…”
E, relativamente ás conclusões a que vamos chegando na vida, gostaríamos de ter certezas, gostaríamos de ter provas, gostaríamos de nos poder apoiar em verdades absolutas… mas nada disto acontece.

Há no entanto uma coisa que ajuda muito… e que são os  menos diferentes do que os outros.
Todos temos um que outro na nossa vida, seres com a mesma visão das coisas, a mesma postura. Daquelas pessoas que provocam em nós o pensamento presunçoso de que “Great minds think alike”…lol

Ao partilharmos as nossas ideias, as nossas teorias, com terceiros , estes podem até  vir a concordar connosco, aceitar os nossos pontos de vista ou simplesmente estar dispostos a considera-los.

Muito mais gratificante, no entanto, é o contacto com alguém que diga as mesmas coisas por outras palavras, que exprima aquilo que pensamos mas não verbalizámos, que acrescente alguma coisa que vá no mesmo sentido, que sustente teorias que intuímos, que desenvolva as questões como o faríamos… basicamente que tenha chegado, grosso modo, ás mesmas conclusões que nós.
 
Não serão obrigatoriamente parecidos connosco. São frequentemente pessoas com uma experiência diferente da nossa, ás vezes até com vidas muito diferentes  mas que, de alguma forma, acabaram por ver o mundo com os mesmos olhos, por chegar ás mesmas conclusões básicas sobre o que é realmente importante na vida.

Não são nem mais nem menos do que os outros mas, sobretudo se nos parecerem pessoas equilibradas, sãs, felizes, são de certa maneira eles que validam aquilo que somos.






Este vai dedicado a um






que tem sido objecto de agradáveis surpresas... ;)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os bem intencionados

COM MÚSICA




Aqui à tempos veio cá jantar uma amiga em vias de mudar de casa.
Quando lhe perguntámos se precisava de ajuda, respondeu que  agradecia mas tinha tudo sob controlo e acrescentou que já várias pessoas lhe tinham perguntado o mesmo.
Ao que o namorado (ups… não sei se lhe devia ter chamado isso… lol) comentou que gostava de saber, se tivesse aceite, quantas delas se chegariam efectivamente à frente…

É um facto que aparentemente muita gente acredita que “a intenção é que conta”…
Não a querendo subestimar, pois sem dúvida que ás vezes as coisas não correm propriamente como desejaríamos, também não consigo concordar a afirmação.

Se alguém nos pede ajuda, ou espontaneamente lha oferecemos, supõe-se que seja porque dela precisa. A simples intenção de o fazer não vai, convenhamos, adiantar grande coisa.
Notem que quem diz ajudar, diz “estar lá” para os outros de alguma forma. Como se costuma dizer “os amigos são para as ocasiões”, expressão um bocado vaga mas que todos entendemos. ;)

É muito fácil ser-se “amigo” numa festa, numa ida ao cinema, num jantar… Os momentos de descontracção e lazer não geram normalmente conflitos de interesse.
Alancar numa mudança, fazer uma visita ao hospital,  dar uma ajuda com um projecto ou simplesmente ouvir um desabafo, não trazem à partida grande satisfação pessoal.

Estender a mão implica sempre algum sacrifício da nossa parte.
Pode obrigar-nos a reorganizar os nossos planos, a ter de arranjar soluções alternativas para a nossa própria vida, a arranjar um tempo que muitas vezes já escasseia ou simplesmente a abdicar de coisas que nos apetecia muito mais fazer.

A questão é que as pessoas tendem a falar da boca para fora, sem ter em conta este tipo de considerações. Querem ser simpáticas, fazer boa figura, portanto propõem/acedem e só mais tarde se deparam com os mas… e aí é que a porca torce o rabo.
Nessa altura põem, consciente ou inconscientemente, numa balança o transtorno que a “boa acção” lhes irá causar versus o seu retorno e optam por ficar quietinhas e seguir calmamente com a sua vida.

Aquilo de que provavelmente não se darão conta é que, ao gorar as expectativas que criaram, estão a causar dano.
A maior parte de nós já está conformada com o facto de que, infelizmente, a única pessoa com quem realmente pode contar é consigo própria. Quando não surge ninguém para dar uma “mãozinha”, já ninguém se admira.
No entanto, se nos puxarem o tapete debaixo dos pés, acaba por ser muito pior a decepção  e eventual alteração de planos para colmatar o buraco, do que a ausência de candidatos.

Assim, antes de acedermos a fazer alguma coisa pelo próximo, todos deveríamos estar perfeitamente conscientes do que isso implica e certos de que estamos dispostos a fazê-lo. Mas sobretudo, como em tantas outras coisas, deveríamos manter as nossas “promessas”.
A intenção, afinal, não conta para grande coisa…