Aspiro a ter serenidade para aceitar as coisas que não posso
mudar, coragem para mudar as que posso e sabedoria para perceber a diferença...
A parte frequentemente mais difícil de concretizar na
afirmação acima é sem dúvida a última. Sendo, no meu entender, por causa dela que muitos têm
dificuldade em compreender o significado da primeira.
Dado que considero esta máxima uma das descobertas mais
importantes da minha vida, que mudou radicalmente desde que comecei a tentar pô-la
em prática, recorrentemente a menciono.
É comum haver quem comenta que há coisas que simplesmente não
se podem aceitar.
Fazem-no como quem diz que não podemos concordar com elas,
apoia-las ou conformar-nos. Como se a sua revolta, o seu desgosto, a sua raiva
fossem mudar alguma coisa.
Em teoria, todos sabemos que há coisas relativamente ás
quais não há nada que possamos fazer. Na pratica continuamos muitas vezes na ilusão
de que, se não as aceitarmos, isso irá fazer alguma diferença.
É no entanto tão ridículo como dizer que não podemos aceitar a morte
de alguém.
Ultimamente, para conseguir dar a volta por cima à minha vida, tenho matutado muito. Tenho-me trabalhado para conseguir adaptar-me a várias realidades que me estavam a empecilhar a felicidade.
Há alturas em que sentimos necessidade de fazer pontos da situação, é natural.
Não sendo eremita, parte desse trabalho diz respeito à minha
relação com os outros, evidentemente.
Mais uma vez, em teoria, todos sabemos que cada um de nós
está em permanente evolução e mudança. Mudamos porque queremos, porque
decidimos que é melhor para nós, por sermos influenciados pelos outros, pela experiência de vida.
Na pratica temos no entanto ás vezes dificuldade em aceitar
as mudanças dos outros, sobretudo quando não vão ao encontro das nossas.
As mudanças são geralmente progressivas mas muitas vezes bastante
radicais. Se estivermos próximos da pessoa em questão podemos não dar realmente por elas, da mesma forma que não damos pelo crescimento dos nossos
filhos. Depois, um dia, as calças já não servem, têm uma mão travessa a menos e
perguntamo-nos como puderam crescer tanto de um dia para o outro.
Muitos são aqueles que, ao longo da vida, se transformam em
pessoas totalmente diferentes.
Se
essas mudanças são para melhor ou para pior, é subjectivo e cada um julgará por si. Importante mesmo sendo, no fundo, como se sente o indivíduo em questão.
O mesmo irá acontecer com a sua relação com
os outros que se irá inevitavelmente alterar.
Quando um casal se separa poderá ou não continuar a manter
uma relação. Ou seja, o tipo de relacionamento entre essas duas pessoas ou se transforma ou
acaba.
Acaba quando não se consegue aceitar, lidar, conviver, com a
nova situação. Quando não acaba, aquilo em que se torna não tem nada a ver com
aquilo que era.
Curiosamente, parecemos ter mais dificuldade em primeiro compreender e depois lidar com
transformações noutro tipo de relações, nomeadamente de amizade. O apego a momentos, partilhas, cumplicidades aparentemente
perdidos para sempre, fazendo com que surja uma sensação de perda irreversível.
Quando as relações são decididamente incomportáveis para
nós o melhor é sem dúvida, na minha opinião, o corte radical. No momento em que
compreendemos que uma situação não trás nada de positivo, insistir ou é cobardia
ou teimosia.
Mas desistir, com mágoa, de algo que pode ainda dar sumo é sem
dúvida desperdício.
Quando deixamos de lutar contra o que não está nas nossas
mãos mudar e conseguirmos aceitar o possível em vez de ambicionarmos pelo desejável,
temos mais disponibilidade mental e energia para aproveitar tudo o que
estiver efectivamente ao nosso alcance.
As pessoas mudam, os sentimentos mudam, as coisas mudam... mas
se dermos valor ao que temos, em vez de chorarmos pelo que tivemos ou poderíamos ter, poderão até surgir agradáveis surpresas na descoberta de
novas formas de relacionamento.
COM MUSICA
Keane - Everybody's Changing
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Minha querida Cris, nos momentos menos bons da minha vida citaste esta frase, e gostei. No momento faz a diferença, dá-nos esperança em conseguir simplificar a vida, aceitando umas e melhorando outras. Mas, na minha modesta opinião, não acredito que as pessoas mudem. Acredito, que uns, podem melhorar aspectos da sua personalidade, como um escultor faz com as suas obras de arte, outros ao longo dos anos ganham coragem para revelar o pior que existe em si! A minha opinião é baseada numa amostragem "viciada" na medida que se foca nas pessoas que fui conhecendo ao longo da minha vida. Mas, do que me é permitido observar, com as outras amostras os resultados são sememlhantes.
ResponderEliminarAceitar este facto dá-me serenidade para renovar as minhas energias cada manhã, para viver mais um dia....
Gilda, a ideia é não ser só "no momento" mas em "todos os momentos", a mim ajuda-me para caramba a separar o trigo do joio... ;)
ResponderEliminarQuanto ás pessoas não mudarem... achas que és a mesma que eras há vinte ou trinta anos atrás?! Duvido...
Todos mudamos, alguns transformam-se mesmo em pessoas completamente diferentes. ;)
Cristina,
ResponderEliminarNão se engane...as pessoas alteram modismos, consoante a vida ou para que a vida lhes dê mais jeito, agora a essência?! Essa é a mesma.
Aos vinte somos assim, mas por vezes, queremos ser somente um bocadinho.
Aos trinta, somos assim mas também somos, assumidamente, aquele outro bocado.
Aos quarenta, assumimo-nos e pronto.
Quem está, está. E quem não está, deixa de estar (sim, eu sei, tudo isto é tremendamente redutor). É desta forma, que as pessoas menos bem formatadas, reagem. Nãolamente.
Um beijinho cúmplice
Cara(o) anónimo(a), lol, talvez a essência não mude, não ponho isso em questão, uma macieira é uma macieira e uma oliveira uma oliveira... as mudanças são na “forma”, se lhes quisermos chamar assim, que é como quem diz na postura perante a vida / nas opiniões / nos hábitos / etc… e isso muda sim.
ResponderEliminarO “novo ser” até pode ter a mesma essência mas as diferenças são ás vezes tantas que é difícil destrinça-la.
Mas tem toda a razão, lamentar é que não vale realmente a pena, é preciso é fazer o possível, o melhor possível, com o que temos no momento, em vez de chorar sobre o leite derramado. ;)