As emoções que nos provocam pessoas
e “coisas”, quer sejam elas positivas ou negativas, afectam-nos sempre. Os
sentimentos regulam a nossa vida, a forma como nos “sentimos”, lá está, como a palavra o indica.
Sentimentos como o amor, a
amizade, a compaixão, fazem-nos sentir bem, como o ódio, o ciúme, a inveja,
fazem-nos sentir mal.
Ou seja, os sentimentos têm poder
sobre nós, sobre as nossas vidas. Influenciam o nosso estado de espírito,
puxam-nos para cima ou para baixo consoante as circunstâncias, impelem-nos
inclusivamente a tomar esta ou aquela atitude.
Resumindo, só não
nos toca o que nos é indiferente.
A vida encarrega-se constantemente
de por e tirar coisas do nosso caminho.
As boas, as que nos são
agradáveis, temos sempre receio de as perder. As más, as que de alguma forma
nos fazem sofrer, queremos mais è vê-las pelas costas.
Aquilo de que não nos damos
geralmente conta, é que somos muitas vezes nós próprios que as retemos, que lhes
damos o poder de nos afectar.
Alimentar sentimentos relativamente
a determinada situação liga-nos a ela, faz com que continue a ter presença
emocional. Amar alguém que não quer saber de nós, odiar, desprezar, guardar
rancor, são tudo sentimentos e como tal mexem connosco. A ideia, em prol do bem
estar e da paz de espírito, é deixa-los ir, não nos agarrarmos a eles.
Ahhh, pois, e tal e coiso, muito
mais fácil de dizer do que de fazer, dirão os do costume.
Ora alguém disse que era canja?! Se
fosse uma coisa evidente nem valeria a pena dissertar sobre o assunto…
A realidade é que é possível
controlar sim, tal como na história
do Velho Índio e dos dois lobos, nós é que escolhemos o que alimentamos. E se
não houver cães não é preciso alimentar nenhum, a questão não se põe, é uma não-questão, um não problema.
Isto é válido relativamente a
tudo, só a emoção nos prende, a indiferença é absolutamente libertadora.
Não, não estou a sugerir que descartemos
toda e qualquer emoção transformando-nos em flat-liners, nem pouco mais ou
menos, somente aquelas que não servem absolutamente para nada, que não cumprem
qualquer propósito a não ser fazer-nos sofrer.
Quando eu era miúda tinha pânico
de osgas, detestava-as, achava-as nojentas (e ainda acho um bocado, confesso), tinha imenso medo de ter algum "encontro" e tornava-me totalmente irracional na sua presença.
Uma noite, há muitos anos, os
meus amigos sabendo desta fobia, fecharam-me num quarto com uma. A desgraçada
estava na parede, lá bem perto do tecto, quietinha, sem fazer mal a ninguém,
enquanto eu berrava insultos, guinchava e dava murros e pontapés na porta
implorando que a abrissem para eu sair.
Nesse dia dei-me conta do ridículo
que era nutrir “sentimentos” por um bicho sem qualquer importância na minha vida, com o qual o mais que podia acontecer era ter de partilhar pontualmente uma divisão. As osgas
passaram a ser-me completamente indiferentes,
As relações humanas, familiares,
amorosas, amigáveis, não funcionam sem emoções mas pode haver emoção sem haver
relação. Mantemos laços emocionais com pessoas com quem já não temos qualquer
relacionamento, tentamos, por alguma razão, manter o
passado no presente, o que não é nada
saudável.
Se não nos agarrarmos às emoções,
se não ficarmos a remoer as questões, se deixarmos a coisa fluir, se nos
deixarmos de mesquinhices e trivialidades, frequentemente nos daremos conta que
determinada pessoa já não tem lugar na nossa vida, que tudo o que lhe diga
respeito nos passou a ser perfeitamente indiferente.
Apesar disto poder parecer insensível
é no entanto uma excelente bitola, uma forma de separar o trigo do joio, pois
há também aqueles que, passe o tempo que passar, seja qual for a
distância que nos separa ou a razão do afastamento, não conseguimos “esquecer”, não conseguimos ganhar distância emocional. Esses são os que realmente importam.
Alimentar sentimentos,
só os que nos fazem sentir cheios por dentro, nunca os que nos corroem as
entranhas. Esses é deixa-los ir, larga-los e usufruir do fabuloso poder libertador da
indiferença.
COM MÚSICA