As relações humanas são provavelmente, para mim pelo menos, a coisa mais importante na vida.
Não me imagino a viver sem amor e carinho, sem humor, sem apoio e entreajuda, sem troca de ideias ou partilha de experiências…
Tenho, talvez por isso, uma memória emocional de elefante.
As datas e os factos, os porquês e os detalhes, esfumam-se-me na mente mas dificilmente me esqueço de como alguém me fez sentir.
O instinto de sobrevivência e o absoluto prazer em ser feliz, levam-me a afastar de tudo o que me faz mal, atirando para trás das costas aqueles que me fizeram essencialmente sofrer.
Os outros, independentemente de eventuais quezílias que possa ter havido pelo caminho, transporto-os para sempre no coração, quer tenham sido namorados ou amigos, colegas ou professores, colaboradores ou vizinhos…
Assim, quando reencontro alguém que, de alguma forma, fez parte da minha vida, sinto-me como se o tempo não tivesse passado.
Se de um “mau” se tratar, afasto-me prudente e discretamente, reduzindo a interacção ao inevitável.
Se, pelo contrário, se tratar de alguém que tenha deixado uma marca positiva na minha vida, continuo a sentir a mesma empatia, a mesma cumplicidade, a mesma intimidade.
É aqui que a porca torce o rabo, pois raramente sou correspondida.
Neste tipo de situações sinto-me como um cachorrito acolhendo o dono depois de uma longa ausência, salto, gano e dou ao rabo, numa excitação, à espera de festas, à cata de reconhecimento e afecto, recebendo no entanto geralmente em troca um distanciamento reservado, uma indiferença polida.
O expoente máximo desta sensação foram os meus 50 anos, durante uns tempos hesitei entre não fazer absolutamente nada, deixando passar a ocasião em branco ou celebra-los, de alguma forma diferente do habitual.
Cinquenta anos, meio século, bodas de ouro da vida… se há data gira para se festejar, na minha opinião, é mesmo essa e achei que se não o fizesse me iria arrepender.
Decidi assim seleccionar as 50 pessoas que, de alguma forma, em algum momento, cruzaram a minha vida, com quem me apetecia realmente partilhar esse marco.
Foi um exercício engraçado, mais difícil do que estava à espera… 50 pessoas é muito e é pouco, são demasiadas para o núcleo duro mas é extremamente limitativo quando alargamos o horizonte da escolha...
Adivinhem então quem esteve presente?! Grosso modo, aqueles com quem partilho actualmente a minha vida, os que são, hoje em dia, convidados para qualquer evento de relevo.
Os que tentei ir buscar ao passado baldaram-se ou, pior ainda, nem sequer se deram ao trabalho de responder ao convite.
Os que tentei ir buscar ao passado baldaram-se ou, pior ainda, nem sequer se deram ao trabalho de responder ao convite.
Apesar da postura “cool” que tentei ostentar para o exterior, se vos dissesse que não doeu, estaria a mentir. As inúmeras ausências fizeram-me sentir pequenina, insignificante. Fizeram-me acima de tudo pensar que não tinha tido qualquer peso, qualquer importância, qualquer relevância, nas suas vidas.
Acredito que a auto comiseração seja uma tendência natural do ser humano, somos todos instintivamente Calimeros, se não lutarmos contra isso. Assim, de cada vez que me deparo com uma destas situações de afastamento emocional, penso que o “problema” é meu. Sinto que não deixo senão marcas d’água no coração dos outros, marcas que desaparecem com o tempo, não ficando senão uma muito ténue lembrança do que existiu entre nós.
A realidade é que a própria vida não passa de uma marca d'água, tudo é efémero, a vida é hoje, é aqui, é agora e consciente ou inconscientemente é no que as pessoas investem, é ao presente e a tudo o que dele faz parte que se entregam.
Qualquer um de nós tem muito menos importância do que gosta de acreditar e as marcas que eventualmente deixamos nos outros têm muito mais a ver com eles próprios do que connosco.
COM MÚSICA