segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Travessias do deserto

COM MÚSICA



Não é espectável passarmos pela vida sem uma que outra travessia do deserto, faz parte.

Curiosamente, como dizem os Ingleses when it rains, it pours  e assim, frequentemente, se acumulam dificuldades em vários campos. Questões de saúde, emocionais, económicas, parecem desafiar-se para ver qual nos consegue mais facilmente dar cabo do juízo. Interagem umas com as outras fazendo lembrar a história do pão para acabar o queijo e do queijo para acabar o vinho. Misturam-se ás vezes ao ponto de já não sabermos onde começa uma e acaba outra. Sentimo-nos a lutar com um mar revolto, em que nos é difícil vir à tona para respirar. 



As tristezas, as dificuldades, os problemas podem derrotar-nos ou fortalecer-nos e de nós depende qual será. A nossa atitude perante as adversidades da vida é determinante.

Para começar, é bom que estejamos conscientes da diferença entre ser  e estar  e de que, lá por nos sentirmos infelizes, não quer dizer que sejamos infelizes.
Quanto a mim, a coisa mais importante a ter em conta é que depois da tempestade vem a bonança… como costumo dizer, por cima das nuvens o céu está azul e o sol brilha.
É uma questão de nos resguardarmos tanto quanto possível durante a borrasca e aguentar firme.

É no entanto perfeitamente legítimo que estes períodos difíceis nos afectem. Por muito que tenhamos uma atitude positiva na vida e acreditemos genuinamente que “não há mal que sempre dure”, não sendo feitos de pedra, o sofrimento é por vezes inevitável.
Parece-me tão contraproducente o fazer de conta que não é nada connosco como o afogarmo-nos em queixumes e auto-comiseração.
Assumir a tristeza que carregamos, chorar, desabafar, são atitudes que aligeiram o fardo.

Neste ponto as amizades têm um papel crucial. Quando estamos fragilizados, são elas que nos amparam, que nos provam que não estamos sozinhos.
Costuma dizer-se que os amigos são para as ocasiões… não há, quanto a mim, grandes dúvidas disso. É fácil ser-se “amigo” de alguém quando tudo está bem. É fácil partilhar os prazeres da vida. Quando as coisas dão para o torto é que a porca torce o rabo.

Não é fácil acompanhar o sofrimento alheio. Não é fácil porque não é bonito, não é agradável. Quanto mais gostamos da pessoa em questão mais difícil é, quanto mais próximos estivermos, mais iremos sofrer por empatia.
Também não ajuda o facto de sabermos, consciente ou inconscientemente, que poderemos tentar ajudar mas só ela poderá resolver as suas questões.

Tal como nos afogamentos, o grande perigo é a aflição e o pânico. Tanto o “afogado” como o “banheiro” deverão tentar manter a calma. Como se costuma dizer, de boas intenções está o inferno cheio. É comum que a ânsia de ajudar provoque situações em que é pior a emenda do que o soneto. Então quando se envolvem várias pessoas, muitas vezes cada uma pelo seu lado, a coisa tende a complicar-se.

Os períodos difíceis podem ser longos, ás vezes muito longos, verdadeiras maratonas. Nesses casos o desalento pode ser fatal, o cansaço pode levar à desistência.
O truque é dar um passo de cada vez, não olhar para o topo da montanha para não desanimar pelo que nos resta a subir.
Quando o cansaço for insuportável, podemos boiar, parar de nadar para poupar forças, por as decisões, os actos, os esforços, em stand-by para recuperar o fôlego. Já dizia a Scarlett O’Hara; “I’ll think about it tomorrow”.

Desistir, no entanto, é que não é solução, “If you’re going thru hell, keep going”. Se não fizermos por nós, ninguém conseguirá fazê-lo. Com ajuda, sem ajuda, é preciso ter fé em que tudo se irá resolver, é preciso ter consciência de que as nuvens negras não ficam paradas.

Como dizia o dono do Teatro, no “Shakespeare in love”;
- Tudo se vai resolver!
- Mas como?!
- Não sei, é um mistério!
;)