quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mea culpa

COM MÚSICA


Só porque os outros nos aceitam (ou talvez devesse dizer “aturam”) tal como somos, não quer dizer que nós próprios o devamos fazer.
Em nome do amor, da amizade, dos laços de sangue, os que gostam de nós vão tolerando coisas que não deveriam ter de suportar,
Acontece que o caracter das pessoas é como o vinho, se fôr bom transforma-se numa pomada, senão... azeda tornando-se intragável.

Ninguém nos conseguirá impedir de azedar, é um trabalho que temos de fazer sozinhos, praticando a observação, a auto-análise e mudando o que podemos mudar.
Precisamos de perceber o que nos desagrada nos outros e descobrir se não o teremos também em nós. Identificar as nossas marrecas , assumi-las e tentar dar-lhes a volta.
Assumir as eventuais consequências nefastas das nossas acções e pedir desculpa pelas mesmas, se fôr caso disso. A desculpa mais do que um "beijinho no doidoi” é o reconhecimento da nossa responsabilidade.
Ser pacientes e tolerantes, se errarmos, fazermos por errar menos da vez seguinte. Não desistirmos só por não conseguirmos mudar de um dia para o outro.

Era bom que fosse tão fácil transformar o nosso feitio como o nosso aspecto físico. Que houvesse roupas, acessórios, maquilhagens e operações que nos transformassem em pessoas diferentes.
Estou a pensar pintar o espírito de côr de rosa. Vou comprar um sobretudo para me proteger da violência verbal. Bom dia dona Lúcia, hoje venho só aparar a intolerância, por favor. Dr, queria reduzir aqui um bocadinho o mau génio e fazer um implante na generosidade.
Infelizmente não é assim...

O nosso feitio precisa mesmo é de spirit-building. Requer trabalho regular, constante, penoso e, se pararmos, volta tudo para trás.
O pior é que, aparentemente, tal como o nosso corpo, também ele tende a perder a flexibilidade e a elasticidade. Conforme a idade vai avançando, as pessoas parecem recorrer cada vez menos à  auto-censura, à modelação do seu eu, usando a desculpa do “burro velho” para não se darem ao trabalho de mudar.

As ervas daninhas crescem no entanto em qualquer jardim, não param nunca de o fazer e, se não tivermos cuidado, invadem-no. E a realidade é que, por muitas árvores de fruto, flores de cheiro e plantas exóticas que lá tenhamos, ninguém gosta de se sentar na relva no meio das urtigas... mas cada um é o seu próprio jardineiro. ;)

Um bom ano, de cabeça erguida e pensamento positivo para todos!!!









quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Les petits mouchoirs

COM MÚSICA



Depois de semanas a fio de tentativas frustradas, consegui finalmente ontem ver os tais “lencinhos” de que toda a gente falava.
Muitos o compararam com “Os amigos de Alex” o que, sendo um dos meus filmes preferidos, me deixou logo de pé atrás. Quando se referem aos meus “monstros sagrados” temo sempre a decepção, achando que será dificil chegar-lhes aos calcanhares.
Senti-me um verdadeiro Velho do Restelo. Adorei o filme que não fica, na minha opinião, nem um passo atrás do outro.

Estava sem tema/inspiração para o post desta semana, como se poderá verificar pela ausência de verborreia  de ontem, já estou inspirada, vamos a isso. ;)

Vou tentar não estragar o filme aos que ainda não o tenham visto, aconselhando vivamente a que o façam.
Este, basicamente, retrata um grupo de amigos em férias... (versão Reader’s Digest)

Não encontrei grandes analogias entre os personagens e o meu próprio grupo de amigos, a não ser... Oh my God!!!... a não ser relativamente a um deles que... sou eu. Ouch!
Na realidade já não é bem assim, dado que me “ando a tratar” (lol) e, apesar dos “#$%### não gostarem de o reconhecer (achando certamente que tenho uma reputação a manter), já estou muito melhor, felizmente. A work in progress... ;)
Parecia que me estava a ver ao espelho, revivendo mentalmente umas que outras férias. A mania de organizar tudo e todos, as picuinhices, a preocupação com merdas sem qualquer importância,  o mau feitio, as explosões de mau génio. A quantidade de vezes que cuspi palavras sem qualquer auto-sensura, que gerei ambientes de cortar à faca, que tive atitudes completamente idiotas... bref, que fui absolutamente intragável. Céus!!!
Decidi-me a tentar mudar por ter tido consciência de como tudo isso era nefasto, confesso no entanto que vê-lo ali escarrapachado no ecrã foi para mim um choque, quanto mais não fosse pelo ridículo das situações.
Quero portanto começar por pedir enormes desculpas aos meus amigos por aquilo que fui, que ainda me sai vez em quando e que ninguém tem obrigação de aturar, vocês são os meus herois!

O que nos leva á consideração seguinte...
Embora pareça que acabei de descrever um verdadeiro monstro, por muito estranho que possa parecer, nem no filme nem na minha história da vida real, o personagem é encarado como tal. Porquê?!
Porque a vida não é a preto e branco e as relações de amizade não são côr de rosa.
Ser amigo não é só fazer umas farras de vez em quando, não são umas idas ao cinema, umas jogatanas, umas jantaradas, uns copos... ser amigo é partilhar bons e maus momentos, aceitar defeitos e qualidades, ver o outro tal qual como é e gostar dele na mesma.
A única coisa absolutamente necessária é que o balanço seja positivo, que o bem que nos trazem seja superior ás eventuais situações desagradáveis a que nos sugeitam, á irritação que nos causam pontualmente.
O que não quer dizer que cada um de nós não deva fazer os possíveis para tentar não martirizar o próximo... lol

Finalmente queria falar sobre o espírito de grupo, de clã...
Nem todos o apreciam, há quem tenha um amigo aqui outro ali ou mesmo vários grupos de amigos, mas não goste de pertencer a nenhuma matilha.
Por matilha entendam-se aquelas pessoas constantemente presentes nas nossas vidas, convidadas à priori para a maioria dos eventos, com quem partilhamos regularmente tanto os acontecimentos importantes como os insignificantes. Aqueles com quem festejamos aniversários, passamos o ano, partilhamos férias, viajamos. Os que, ao longo dos anos, vão marcando presença nas fotos, vão envelhecendo nos nossos albums.
Aquele conjunto de pessoas que se conhece como ninguém, perfeitamente conscientes das idiossincrasias de cada um, dos seus pontos fortes, dos seus pontos fracos, da importância do seu papel naquela pequena família.
Família, sim... estes grupos são como famílias. São a família que escolhemos, não a que nos foi atribuida no sorteio do destino. São uma família a que decidimos pertencer e que nos acolheu no seu seio.
Pessoas que se divertem em conjunto, sem cerimónias, sem tabus e se apoiam, “estão lá” em bloco quando necessário. Pessoas que se picam, se pegam, se zangam, mas acabam sempre por fazer as pazes. Pessoas que, quando não estão, fazem falta...

Os dois filmes que referi são verdadeiros hinos à amizade, não sei se haverá muito mais coisas tão valiosas na vida. Amei! ;)









terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Remodelações

COM MÚSICA



Todos somos bonecos de plasticina, que a vida vai modelando.
Ao longo do tempo, com o desenvolvimento do raciocínio, a aquisição de conhecimentos, a acumulação de experiências, vamo-nos transformando, lenta mas seguramente. Não somos a mesma pessoa aos dez, aos vinte, aos trinta, aos quarenta...
Estas mudanças costumam ser graduais, quase imperceptíveis, algumas inconscientes, só se dando muitas vezes por elas ao comparar com o passado.

Há no entanto situações, experiências de vida, que provocam alterações mais rápidas, mais radicais, mais evidentes, coisas que nos mudam quase que “de um dia para o outro”.
Curiosamente, é frequente que mais depressa os outros dêem por isso do que nós próprios, o recuo, como toda a gente sabe, facilitando a visão...

Esses outros irão inevitávelmente, consciente ou inconscientemente, fazer julgamentos de valor relativamente a essa mudança, medir se esta foi para melhor ou para pior.
Esta será sempre, sem a mínima sombra de dúvida, uma avaliação subjectiva.
Já todos devemos ter utilizado expressões como “fez-lhe bem isto”, “fez-lhe mal aquilo”... que não são mais do que a verbalização das nossas próprias conclusões e valem o que valem.

A realidade é que as relações humanas, quer queiramos quer não, estão em permanente avaliação. A não ser que não tenhamos mesmo outra hipótese, tenderemos a rodear-nos daqueles por quem sentimos empatia, que apreciamos, respeitamos, com quem estamos em sintonia de princípios, ideias, posturas.

Se é verdade que, volta não volta, damos de caras com surpresas de mudança extremamente agradáveis e que melhoram substancialmente o nosso relacionamento com outra pessoa, casos há também em que acontece exactamente o contrário.

Vamo-nos dando conta de que a pessoa que conhecíamos já não está lá, já não existe, foi substítuida por outra que não é própriamente do nosso agrado. Quando começamos a suspeitar sériamente de que não regressará, pelo menos nos próximos tempos, a tendência natural é o afastamento.

Há no entanto, a meu ver, um erro grave que se comete frequentemente, dos dois lados: a renegação do passado.
Os  que testemunham a dita mudança, convencem-se de que se deixaram enganar, de que o outro não era bem o que aparentava.
Este de que afinal os outros não tinham por ele o apreço que julgava que tivessem.

É sem dúvida a solução fácil.
Quem se afasta não tem de encarar que perdeu efectivamente alguma coisa.
 “A certa altura teremos de compreender que algumas pessoas podem ficar no nosso coração mas não na nossa vida”
 Quem mudou não tem de assumir qualquer responsabilidade na questão.
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim.”

No entanto, passar assim uma borracha sobre o que de bom se teve em comum, como se nunca tivesse passado de uma ilusão, para além de nos fazer duvidar do nosso próprio discernimento, afecta o passado  desprovendo-o de valor e deixando na boca um sabor amargo doce.  
Há que ter confiança na memória das nossas emoções, em vez de tentar altera-la á posteriori. Se sentimos que alguma coisa foi efectivamente importante para nós, há que deixa-la ser, mesmo que tenhamos tido de abrir mão dela.

Ao longo dos tempos, por variadíssimas razões, as pessoas vão entrando e saindo das nossas vidas. As relações vão-se alternando, nascem umas, morrem outras, umas serão mais curtas outras mais longas, umas mais fortes, outras mais superficiais... mas “a César o que é de César”, atribuamos a cada uma o valor que lhe é devido.









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A insegurança mata

COM MÚSICA



O post da semana passada deixou-me um bocadinho tristonha, não pelo tema mas pelas memórias que remexeu. Fez-me pensar em como algumas coisas boas que temos na vida, que ingénuamente tomamos por garantidas, podem desaparecer de um momento para o outro, sem que nada possamos fazer.

Tive,  na minha adolescência, um amigo com quem partilhava uma empatia, um entendimento, um companheirismo, raros. Até que uma namorada o “proíbiu” de se dar comigo.
Sabendo, pela minha boca pois já nos conhecíamos antes, a importância que tinhamos um para o outro, o passado que partilhávamos, deve ter-se sentido ameaçada pela minha proximidade.
A realidade é que, para enorme pesar meu, deixámos de nos ver.

Muitos anos passaram, muita água correu e, por coincidências do destino, os nossos caminhos voltaram a cruzar-se. Mas o que quer que tenha existido entre nós já tinha morrido. Somos hoje amigos no facebook, daqueles que se mandam umas bocas de vez em quando, sem mais.

Neste caso, do nosso passado comum constava um namoro, há muito acabado, tendo até já havido outra entretanto, de quem me tinha inclusivamente tornado amiga.
Outros houve em que nem isso havia, somente amizade, pura e dura.

Nas minhas divagações, dei-me conta de que este tipo de afastamentos eram uma coisa comum. Pude identificar vários casos, não só relativos à minha pessoa como também aos que me rodeiam, de ambos os sexos.
Consciencializei-me então de que a insegurança mata. Mata relações, se o permitirmos.

As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes ciumentas, possessivas, sentindo-se consequentemente inseguras. Tentam então afastar tudo o que considerem uma ameaça ao seu estado de graça.
Quer seja de forma directa e frontal ou recorrendo a manipulações subliminares, fazem o que estiver ao seu alcance para cortar pela raíz o que as incomoda.
Assisti a este fenomeno tantas vezes que já lhe perdi a conta.

Julgo que muitos não consigam entender a enorme capacidade do coração humano e a enorme diversidade  das suas relações. Que não compreendam que estas não roubam pedaços umas ás outras, cada indivíduo podendo ser importante à sua maneira, ter a sua função, ser complementar. 

Poucos são, infelizmente, os que conseguem resistir à pressão. O medo de perder o outro, se lhe fizerem frente, parece ser demasiado assustador. A maior parte acaba por vestir a camisola do abandono, da desistência, abdicando de algo que era efectivamente importante para si.
Tal como alguns pais cedem ás birras das crianças para não ter de as aturar, afastam-se, consciente ou inconscientemente, de forma mais ou menos óbvia, da origem do seu mal estar, daqueles que provocam ondas na sua relação.

É, na minha humilde opinião, uma postura muito cobardolas, muito “looser” e sem grande fundamento.
Nos casos que conheço em que isso não aconteceu, em que a pessoa em questão bateu o pé e não cedeu, e felizmente existem alguns, ninguém perdeu ninguém por causa disso.
Conheço inclusivamente um, em que dois amigos se viram meio ás escondidas durante algum tempo, de tal forma a cara metade de um deles lhes fazia a vida negra... Mas não desistiram, não se afastaram, não se perderam. Simplesmente abdicaram de um certo “conforto relacional”, em prol de uma relativa paz de espírito.

Na minha opinião, mas isto sou eu, ou as pessoas são de alguma forma importantes para nós ou não são mas, se forem, ninguém nos consegue fazer virar o bico ao prego. Ninguém nos consegue convencer de que não prestam, de que já não servem. Ninguém consegue ocupar o seu lugar no nosso coração, simplesmente porque sabemos que há espaço para todos.

Claro que também me poderão dizer que, as relações que perdemos, na realidade não valiam o que julgávamos... também pode ser por aí... :(








terça-feira, 29 de novembro de 2011

"A velha do Álvaro"

COM MÚSICA



Tenho vindo a ser, cada vez mais frequentemente, assolada por memórias antigas. Deve ser um prenúncio de velhice. lol

Recentemente lembrei-me de uma história, no mínimo curiosa:
Há muitos, muitos anos, enganei-me a discar (os putos já nem sabem o que isso quer dizer...lol) o número de telefone de um amigo.
Atendeu-me uma velha, do mais ordinário que se possa imaginar, que me desancou de cima a baixo, sem qualquer razão aparente.
Comentei o facto com os meus amigos e, azar dos azares para ela, lembrava-me do algarismo que tinha marcado errado. Como adolescentes parvos que éramos, ligámos então outra vez e a velha vai de voltar a cuspir um chorrilho de impropérios.
Chatear “a velha do Álvaro” (o tal amigo para quem queríamos ligar originalmente), como lhe chamávamos, transformou-se então num hobbie, ao qual nos dedicávamos com bastante regularidade.
Mal ouvia a nossa voz, desatava a vomitar insultos, fazendo-nos rir a bandeiras despregadas.
Passada a novidade, os telefonemas foram-se espaçando, até acabarem por completo. Até que um dia alguém se lembrou de que há muito tempo não chateávamos a velha...
Voltámos então a ligar mas, dessa vez, não nos insultou. Atendeu com voz cansada e sofredora e contou que tinha sido operada, que não estava nada bem.
Ficámos cheios de pena dela e roídos de remorços por lhe termos moído o juízo durante tanto tempo.
Ligámos para as informações e pedimos a morada associada áquele número de telefone. Depois, passámos por uma florista, comprámos uma rosa cada um e fomos, que nem Egas Moniz de corda ao pescoço, bater à porta da senhora.
Não sei do que estávamos à espera, mas garantidamente não do que aconteceu...
Quando percebeu quem éramos, ficou emocionadíssima, de lágrimas nos olhos. Perguntou-nos porque não ligávamos há tanto tempo, que julgava que já nos tínhamos esquecido dela. Contou-nos que éramos a sua única companhia. Abraçou-nos e disse que gostava muito de nós.
A minha memória acaba aqui e, estranhamente, não faço a mais pequena ideia se lhe voltámos ou não a ligar...

Outra história antiga, que me farto de contar:
Por alturas do pós 25/4, período de ânimos exaltados, na fabrica onde o meu pai trabalhava como administrador, um empregado pediu para falar com ele.
- Então o que se passa?!
- Sr. R, queria perguntar-lhe porquê que o Sr. R não gosta de mim...
- Não gosto de ti oquê, homem?! Que disparate, porquê que dizes isso?!
- Não gosta não, Sr. R... Aos outros trata-os por “idiota”, “sacana”, “maricas”... a mim é sempre o “Sr. X...”
E era verdade... o meu pai não gostava mesmo dele. E era efectivamente por isso que o tratava com a maior das cerimónias. Sempre teve um excelente relacionamento com os trabalhadores mas só se permitia “insultar” aqueles com quem tinha confiança, que apreciava, de quem gostava e que sabia que gostavam dele.

Devo ter herdado isto... só sou “a bitch” para as pessoas que são de alguma forma importantes para mim. Só a elas mando bocas, provoco, pico, chamo “nomes”.
Aqueles de quem não gosto ou que me são indiferentes, não têm direito a esse tratamento.

No nosso grupo de amigos, ninguém quer ser “o primeiro a sair”,  sabendo de antemão que vai ser alvo de “corte e costura”...
Uma vez fomos todos à rua despedir-nos de uma amiga, que fez vinte manobras para retirar o carro, quando bastavam duas ou três.
Estávamos todos de lencinho branco na mão a abanar (gracinha que tínhamos decidido fazer) quando alguém murmura entre dentes “Chiça, que não sabe mesmo conduzir...” Ao que outro responde “Bolas... pelo menos deixa-a chegar lá acima ao portão, antes de começar a cascar...” lol
É assim, quem não está, fica quase sempre com as orelhas quentes... ;)

Também não “perdoamos” as idiossincrasias de cada um, gozando-o, tanto pela frente, como pelas costas, à primeira ocasião.
Um porque grunfa, outro porque lança santolas, é hipocondríaco, tem mau feitio ou a mania da arrumação... Those last two would be me. ;)
Os “#$%”## chegavam a deslocar um qualquer objecto na sala, quando eu virava costas, pondo-se de relógio em punho a contar quantos segundos demorava a dar por isso e a repôr a coisa no sítio.

Onde estou a querer chegar é a que love moves in mysterious ways...

“A velha” percebeu que lhe ligávamos para ouvir os disparates que nos gritava ás orelhas, fazendo-nos portanto a vontade em troca da “companhia” que lhe faltava.
Uma expressão/palavra teoricamente insultuosa pode na realidade ser afectuosa, carinhosa, dependendo do contexto e tom de voz.
Um “vai à merda” pode até ser sensual. ;)

As crianças testam os seus limites com os pais pois contam com o seu amor incondícional. É sem dúvida com as pessoas de quem nos sentimos mais próximos que estamos mais à vontade. É com elas que brincamos, sem medo de ser mal interpretados, podendo dar-nos ao luxo de ser “mauzinhos, porque sabem que gostamos delas. Todos temos um lado pirralho traquinas dentro de nós, parece-me saudável deixá-lo sair de vez em quando.

Sem dúvida que ás vezes, sem dar por isso, se podem passar os limites. Mas se realmente há amizade/amor, um queixa-se, o outro desculpa-se e amigos como dantes. ;) 












terça-feira, 22 de novembro de 2011

A feliz apanhadora de ameijoa

COM MÚSICA



Já muitas vezes pensei em escrever sobre este tema e sempre me reprimi, achando que não tinha conhecimentos suficientes sobre o assunto para o poder fazer. Comprei livros, investiguei na net, sem nunca me sentir habilitada.
Cheguei no entanto à conclusão de que não preciso de ser uma expert para transmitir o que sinto, o que penso, o que observo, que valem o que valem.
De qualquer forma, como me disse uma vez um Sr. Doutor de Coimbra: “Ó filha, tu dizes estupidezes com muita naturalidade...”
Vou portanto desta vez ter a audácia de o fazer. lol

Conheço cada vez mais gente, uns mais próximos do que outros, que se tem vindo a tornar Budista... e... não me parecem ser pessoas lá muito  felizes ou satisfeitas com a vida. :(
Posso, estar profundamente enganada, mas é sem dúvida o que a minha percepção me transmite.  

São geralmente pessoas extremamente correctas, gentis, bem educadas. São aparentemente calmas, falam pausadamente e sem levantar a voz, não utilizam “expressões fortes” nem “dizem mal” do próximo. Aplicam-se em ter hábitos saudáveis, uma alimentação equilibrada, muitos são vegetarianos, não fumam, não bebem, fazem yoga, meditam, vão a retiros. Preocupam-se e dedicam-se aos outros, à natureza, ao ambiente, frequentemente abraçando causas.
Têm no entanto, a meu ver, um ar profundamente triste.

Recentemente, numa noite de jogo em que, por razões que não são para aqui chamadas, acabámos por não poder jogar, dedicámo-nos enfaticamente a outra actividade, também ela muito do meu agrado; a conversa. Esta acabou por recair sobre o tema em questão.

O meu “mais que tudo” (em termos de amizade), é um dos que abraçou esta filosofia de vida e, mais uma vez, lhe disse que não compreendia.
Declarou então que ele é que não compreendia como é que, 99% das pessoas, conseguiam viver sem se questionarem, sem procurarem respostas.

Quando perguntei se achava que EU não procurava respostas, respondeu-me que, dos 99%, eu era sem dúvida das que mais procurava... à superfície... que era a melhor “apanhadora de ameijoa” que conhecia... mas que não passava disso, não ia mais fundo.

Sinto-me perfeitamente incapaz de reproduzir a longa conversa (de qualquer forma, o respeito pela privacidade alheia leva-me a preferir não a expôr para uso num grupo tão alargado... lolololol )  dado que estes meninos tendem a falar de forma absolutamente críptica para mim. Pão pão, queijo queijo, não é definitivamente o seu forte e não há cá afirmações claras, é preciso descodificar tudo o que dizem.

Em todo o caso, o sumo que consegui toscamente extrair, é que o “aqui e agora”, não serve para eles. Não chega, não satisfaz, precisam de perceber alguma coisa que eu não consegui perceber o que era. Isto à mistura com o “vir cá muitas vezes” e eventualmente a felicidade não estar sempre presente.
Acabámos por concordar em discordar, pois eu também não consegui demonstrar que, se era feliz agora, nada mais importava.

Como já aqui disse várias vezes, a minha felicidade é uma coisa bastante recente. Tempos houve em que acreditava que se tratava de um “estar” e não de um “ser”. Até que descobri que esta depende exclusivamente de nós, de decidirmos ser felizes “apesar de”.
E se tenho tido “apesares de” desde que me assumi como feliz...

Acredito que se possa perder. Acredito que possam ocorrer mudanças em nós que nos roubem a força de continuar a ser felizes. Mas enquanto o pau vai e vem...

O estado do mundo, a miséria humana, o sofrimento em geral, foram mencionados algures na conversa. Não consegui perceber em quê que o facto de me sentir infeliz pudesse aliviar a situação. Não sou feliz ás custas de nada, nem de ninguém e faço o que posso para contribuir para um mundo melhor.

Esse  sofrimento, que aparentemente tanto os atormenta, que tentam evitar, erradicar é, aos meus olhos e dentro de certa medida, extremamente útil. É ele que nos permite crescer, aprender, evoluir. Não estou de todo a sugerir que o procuremos ou provoquemos nos outros. Só não me parece que seja o fim do mundo.

Acima de tudo acredito que, se perdermos a capacidade de sofrer, perderemos também a de realmente apreciar o outro lado da moeda.

Como dizem os franceses:
“pourquoi faire simple, quand on peut faire compliqué?!”
ou
"Happiness in intelligent people is the rarest thing I know."
Ernest Hemingway
Se calhar é mais por aí... não conheço Budistas burros. ;)




  "Há uma esfera que não é certa, nem água, nem fogo, nem ar: 
a esfera do nada, é só aí o fim do sofrimento" 
Buda

 I rest my case...
Ameijoas à Bulhão Pato, anyone?! ;)












terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma iluminação da tempestade

COM MÚSICA


No domingo, aquela tempestade que mais parecia o dilúvio, rebentou-nos com a electricidade.
Tinha praticamente acabado de deixar na cama, onde tinha ficado a ler, o meu filhote que veio então  informar que estava “com medo”.
Aos apalpões pelas escadas, voltei para cima e deitei-me com ele na cama.

Comecei por lhe falar um bocadinho das tempestades. Disse-lhe que não fazia sentido nenhum ter medo delas quando se está em casa, numa cama quentinha. Expliquei-lhe que não corria grandes riscos.
Contei-lhe depois como acho bonita a luz de um raio que de repente ilumina uma divisão, como o disparar de um flash na escuridão. Disse-lhe como achava impressionante o barulho do trovão, demonstração imponente da natureza em toda a sua força. Como me fazia sentir o bater da água com força nas janelas, privilegiada e agradecida por ter uma casa confortável e protegida.
Sugeri-lhe que tentasse sentir tudo isto, que sentisse no corpo o ribombar da tempestade, que a apreciasse em vez de temer.

Dois dedos de conversa e um abraço e já estava tudo bem, se é que não tinha sido desculpa para me sacar mais um bocadinho com ele.
Fosse como fosse, dado que de qualquer forma hoje em dia não se consegue fazer nada sem electricidade (quer dizer... lol... quase nada... ) decidi ficar ali mais um tempinho, aconchegada na sua proximidade enquanto adormecia.

Então, enroscada nele, em silêncio, a curtir a tempestade, dei por mim a sofrer de um assustador ataque de saudades...
De saudades dos tempos irresponsáveis em que achávamos que os pais resolviam tudo. Dos tempos em que acreditávamos inocentemente que estávamos protegidos de tudo e de todos. 
Quis, desesperadamente, voltar a ser "filho" e não "pai", o que pondera, o que decide, põe em pratica, gere, consola, protege.
Dei por mim com “inveja” da criança que estava ao meu lado. 
Pensei que não há tempos mais felizes do que aqueles e que eles nem sequer têm consciência disso.

Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
(isto é efeito sonoro: agulha de gramofone a guinchar através do prato...)

Péráíiiiiiiiii...
Que raio quer dizer “eles nem sequer têm consciência disso”?!
Estão no Nirvana e não sabem?!
Lá se foi o EU “Bref, je suis comme tout le monde” e desembarcou o EU “ser ou não ser, eis a questão”...
Ora bem... por que raio não têm eles consciência de que são extremamente felizes?!

Trrrrrrrtrrrrrrrrrtrrrrrrrrrtrrrrrrrrrr
(outro efeito sonoro: rufo de tambores)

Porque não são, meus amigos, porque não são... 
Até podem saltar levemente de nenúfar em nenúfar... mas as crianças estão constantemente insatisfeitas com alguma coisa. Coisas essas que sentem a ensombrar a sua felicidade.

Por exemplo, no meu caso, grande parte da infância passou-se a “odiar” padrasto e madrasta. A pensar que só queria crescer para poder decidir com quem me dava e não dava. A ansiar por poder mandar à merda quem ousasse tratar-me de forma que achasse que não merecia.
Não julguem, por isto, que tive uma infância “traumática”. Os “respectivos” dos meus pais eram “gente como eu e você”, não torturadores de criancinhas... simplesmente, cada um à sua maneira, conseguiu fazer-nos um bocado a vida num inferno.

Hoje em dia, quase que tenho de fazer um esforço para descrever em quê exactamente. Ficou aquele amargo de boca, a lembrar que não eram lá muito boas rezes, mas foi-se a importância dos factos, no big deal.
Pusessem-me hoje nas mesmas situações, que eu vos dizia como tratava do assunto... lol
Pois...mas hoje tenho quarenta e seis anos.

Dito isto, não conheço nenhuma criança que não tenha, com maior ou menor intensidade, espírito de “António Variações”.
E isto, meus amigos, gera ansiedade, quer esta seja crónica, em alguns casos ou, mais frequentemente, pontual. A antítese da paz de espírito. ;)
Notem que não estou a sugerir que todas as crianças são infelizes, nada disso, simplesmente que a vida nesses anos não é de todo tão côr de rosa como tendemos a  pinta-la mais tarde.

A realidade é que a felicidade é uma escolha, a escolha de sermos felizes “apesar de”.
Não há épocas das nossas vidas em que nada nos apoquente. Numas alturas são umas coisas, noutras outras. As proporções vão sendo diferentes mas todos os períodos são sobrevoados por nuvens negras.
Não sei se haverá alguém que consiga olhar para a sua infância e sinceramente afirmar que foi um total mar de rosas sem espinhos.

Portanto, meus amigos, toca a viver o aqui e agora, aproveitando o momento, com os seus prós e contras...
Carpe Diem! ;)


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Falar para dentro

COM MÚSICA





A tendência natural (pelo menos de alguns...lol),  quando sentimos alguém aflito, é de tentar ajudar. Pomos água na fervura, tentamos desdramatizar as situações, racionalizar os problemas e arranjar soluções.

Tudo isto se faz geralmente através de conversa. 
Se o outro está alterado fazemos primeiro por acalma-lo. Depois, tentamos compreender o que o aflige. Analisamos interiormente a situação e transmitimos, da forma mais clara que conseguimos, as conclusões a que chegámos. Então, com base no diálogo, vamos tentando em conjunto arranjar soluções.

Todos teremos certamente experiência de momentos em que a nossa mente fica transtornada, tornando-se difícil pensar com clareza.
A ansiedade, o medo, a angústia, as preocupações... alteram negativamente a nossa visão e percepção das coisas, tornando-as ainda mais negras aos nossos olhos, fazendo-nos sentir pessimistas, derrotistas.

Nem sempre temos, no entanto, à mão alguém com quem possamos/queiramos falar...
Falamos então, muitas vezes, sozinhos.

Cheguei no entanto recentemente à conclusão de que somos umas bestas... ou pelo menos eu era. lol
Falava comigo como se falasse com uma criança de dois anos. Como se eu (o outro “eu”, o eu aflito) não tivesse capacidade de entender um raciocínio mais elaborado, como se não fosse sensível a argumentos.
Por outro lado, tratava-me sem grande consideração. Dava-me ordens, assumia uma postura de “sê um homenzinho”, ordenando-me (que nem o arquitecto): “Aguenta!!!”

Dei-me conta de que nunca trataria outra pessoa, na mesma situação, como me tratava a mim própria. Que isso seria extremamente insensível e estúpido da minha parte. Que para ajudarmos efectivamente alguém, temos de lhe “demonstrar”, de alguma forma, que há efectivamente luz ao fundo do túnel. Que pedir-lhe simplesmente para ser forte, não chega, não alivia, não aconchega, não convence.

Passando-me para o outro lado, perguntei-me como me sentiria se outra pessoa (que não eu) me tentasse “consolar” dessa forma e acho que não me iria sentir muito confortada. Sobretudo, não seria grande ajuda... ajudar não é menosprezar as dificuldades do outro.

Comecei então a tentar mudar de atitude.
Em momentos de crise, divido-me imediatamente em duas.
A primeira está à brocha... não se está a conseguir controlar... não se sente capaz de analisar ou racionalizar as questões... não consegue já encontrar pensamentos positivos e menos ainda soluções.
Mas “a outra” não emigrou para o espaço...
A outra, aquela com quem os amigos falam quando disso sentem necessidade. Aquela que acredita, sem qualquer sombra de dúvida, que “acima das nuvens o céu está azul e o sol brilha”. A que consegue efectivamente, muitas vezes, acalmar os outros, descansá-los, ajudá-los a alcançar alguma paz de espírito e vislumbrar a tal luzinha ao fundo do túnel.

Ponho então uma a falar com a outra.
Funciona maravilhosamente bem, grande truque, garanto-vos. ;)

Todos temos dentro de nós esta duplicidade.
Todos temos dois lados, um mais fraco e outro mais forte.
Normalmente, quando o mais fraco vem ao de cima, o mais forte despreza-o. Retira-se, pura e simplesmente, até que o outro recupere a compostura. Só então volta a tomar rédeas à situação.

Erro!!! Não é virando costas que se resolve nada...
Se ficar e for à luta, se se empenhar em levantar-lhe o moral. Se falar com ele como falaria com qualquer outra pessoa. Se tiver consideração por ele em vez de vergonha...
Juntos conseguirão certamente manter o astral e arranjar soluções. ;)


PS: Acho que depois deste post me vão mandar internar... lol

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

As cuecas da rainha

COM MÚSICA




Ele há dias em que me pergunto seriamente se este mundo não terá enlouquecido de vez...

Esta manhã, ao levar o meu filhote à escola, ouvi dizer na rádio que umas cuecas da rainha Victoria (a quem os portugueses roubaram o c... lol) tinham sido vendidas em leilão, pela módica quantia de 8.700€...
Foi a gota de água, já andava há uns tempos com ideias de escrever sobre este tema, é hoje! ;)

Oito mil euros resolviam a vida de muita gente, dão para comprar muita comida, muita roupa, muitos medicamentos... há no entanto quem decida gasta-los numas cuecas velhas.
Estou consciente de que a receita deste tipo de leilões reverte frequentemente a favor de causas humanitárias, não sei se será o caso com este. O que me intriga no entanto realmente é que raio terá na cabeça alguém que larga uma soma astronómica de dinheiro por uma coisa tão absurda.

Outra coisa que me provoca violento prurido, são os anúncios do euromilhões.
“A criar excêntricos todas as semanas...” é o slogan deles, seguido de exemplos completamente cretinos de como torrar o guito.
Que é como quem diz, se ganhar, deite dinheiro à rua, queime-o, gaste-o estupidamente... pela mesma razão pela qual o cão lambe a pila, porque pode.

O nosso mundo é feito de desigualdade, todos sabemos isso.
Há pessoas feias e bonitas, doentes e saudáveis, bem constituídas e com deficiências, pobres e ricas.
Discutir a injustiça deste facto ou tentar arranjar soluções para equilibrar as coisas não é o propósito deste post.

Compreendo perfeitamente que, assim o podendo, as pessoas se rodeiem de coisas de boa qualidade. Um bom carro oferece muito mais conforto e segurança do que um chaço velho em terceira mão. Umas férias nas Maldivas são, sem sombra de dúvida, muito mais agradáveis do que na Costa da Caparica. Um sushizinho parece-me bastante mais atraente do que um MacDonalds. Uma casa com vidros duplos e aquecimento central é um bocado mais confortável do que uma barraca no bairro da lata.
Gostava muito era que alguém me explicasse o potencial da roupa interior da real senhora em termos de melhoria da qualidade de vida...

Uma sociedade que, não só aceita como promove, este tipo de atitudes, só pode estar muito doente.

Provavelmente já todos terão ouvido a música que escolhi para o post desta semana. Não sei se terão dado alguma atenção à letra, a mim tinha-me passado ao lado. Lembrei-me dela por causa do título, que associei à minha visceral embirração com os anúncios do euromilhões, e fui consequentemente investigar.

Qual não é o meu espanto ao dar-me conta de que apregoa exactamente o contrário.
Ele quer ser bilionário (quem não quer?! lol)... mas quer também “be the host of everyday Christmas”...
Fala em adoptar crianças que nunca tiveram nada na vida, oferecer Mercedes, satisfazer últimos desejos. Em dar uns cobres a todos aqueles de quem gosta e garantir que ninguém à sua volta saiba o que é fome.
Menciona a Oprah Winfrey, podre de rica, coração de ouro.

Engana-se no entanto, a meu ver, quando diz que:
“Eu sei que todos temos o mesmo sonho
Meter  a mão ao bolso e tirar a carteira
Atira-la ao ar e cantar”

Caramba, será que era assim tão difícil tentar passar este tipo de mensagem, em vez de incitar o povo à excentricidade idiota?!

Olhem... vou ali pôr umas meias no ebay e já volto... Grunf!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A crise

COM MÚSICA



Caramba!!!
(para não dizer outra coisa...)
Não se fala de mais nada, parece uma obsessão colectiva.

Sim, os indivíduos estão em crise, o país está em crise, o mundo está em crise.
Sim, estamos a passar por momentos complicados, duros, difíceis, espinhosos.

Toda a gente se queixa, se lamenta, se indigna, se revolta contra o estado das coisas...
No facebook, post sim, post não, é sobre o tema. Na televisão e nos jornais, é a mesma coisa. Na rádio, ouvi um anúncio que afirmava ser o único a não mencionar a crise (dahaaa!). Parece hoje em dia impossível ter uma conversa sem que esta, mais tarde ou mais cedo, venha à baila. Há pessoas, inclusivamente, que já não parecem conseguir falar de outra coisa.

Parecem velhas a comparar doenças.
Mas será que acham que esta conversa monotemática geral ajuda em alguma coisa?!
Será que não conseguem compreender que só estão a complicar ainda mais a situação?!

Crises tem havido muitas, ao longo da história da humanidade. Crises económicas, políticas, de saúde pública, etc... já passámos por guerras, recessões, epidemias.
But... everything will be ok at the end, if it’s not ok, it’s not the end.
Ou, se preferirem na lingua de Camões: não há bem que sempre dure, não há mal que nunca acabe.

Não estou de forma alguma a menosprezar as dificuldades que se fazem sentir neste momento, a terrível e assustadora luta  que tem sido para alguns (eu que o diga) manter a cabeça fora d’água. Não estou a tentar minimizar os dramas que se vivem por esse mundo fora.
Mas, minha gente, acham mesmo que é por nos lamuriarmos que as coisas vão melhorar?

Reina o pessimismo, o derrotismo, o desalento. O ambiente fica pesado, oprimente, sufocante. Seja para onde fôr que nos viremos não vemos outra coisa à frente. Em vez de nos puxarmos uns aos outros para cima, empurramo-nos ainda mais para baixo.

Será que ninguém consegue já ver o que tem de bom na vida? Será que “um mau bocado”, por muito longo que esteja a ser, apaga tudo o que temos de positivo?
Bolas, o que é feito da amizade, do amor, da saúde... perderam a importãncia?
Se as coisas estão duras, mais razão me parece haver para nos agarrarmos, com unhas e dentes, ao que realmente importa. Se os tempos estão difíceis de suportar, é acarinhar o que temos de agradável. Será que absolutamente tudo desapareceu de repente?
Consigo imaginar casos extremos em que isso tenha efectivamente acontecido mas não será certamente o caso para a maioria de nós...

Imaginem uma criança que esteja a enfrentar uma fase difícil da sua vida, uma mudança de escola, o nascimento de um irmão, o divórcio dos pais, naquelas idades em que tudo é “um drama”. Imaginem o efeito devastador que teria estar constantemente a ser relembrada disso, constantemente a ser violentada pela confrontação com as dificuldades que irá enfrentar. Qualquer adulto, no seu perfeito juízo, tentará minimizar a situação, pôr “paninhos quentes”, distraí-la, dar-lhe força para enfrentar a situação.
Porque não fazemos então isso uns com os outros?

Quem já passou por períodos de dôr física, ter-se-há dado conta de que a distracção é, por vezes, um bom analgésico. Apesar da dôr continuar lá, parece incomodar menos.
O que se está a passar neste momento é um “foquem-se na dôr, não pensem em mais nada”, estamos a agudizar o problema.

Temos de apertar o cinto?! Apertemos o cinto. Respiremos fundo e façamo-nos à vida, com coragem e boa disposição. Não abramos voluntariamente a porta ao desespero e à depressão. Passemos uma mensagem positiva, de esperança no futuro, em vez de ceder ás dificuldades do momento.

Acima das núvens, o céu está azul e o sol brilha. 
Chega de má onda!!!
Não nos deixemos desmoralizar pelo inverno. ;)




PS: Criei o "Sopa de Ideias II" (Link por baixo do cabeçalho), para tentar transmitir mais regularmente "boa onda"... enjoy. ;)







terça-feira, 18 de outubro de 2011

Em defesa do Facebook...

COM MÚSICA



... em particular e das redes sociais em geral.

No domingo passado, tive cá uma prima a lanchar...três dias antes, nem sequer sabia da sua existência.
O irmão, devido ao nosso apelido comum, tinha-me feito um “pedido de amizade” no Facebook. Comentei o facto com outro primo meu, que me disse que ele tinha uma irmã que era minha vizinha. Pedi-lhe então eu amizade e, tendo-se mostrado tão entusiasmada com a ideia de nos virmos a conhecer, convidei-a a aparecer.

Apesar de ter vagamente conhecido, em miúda, o tal primo que me elucidou sobre os outros dois, a verdade é que não tivemos qualquer contacto, até nos reencontrarmos no Facebook. 
Sinto hoje em dia com ele uma empatia que não sinto com qualquer um.
Dado que vive do outro lado do atlântico, ainda não tivemos oportunidade de nos encontramos mas vamo-nos assim mantendo em contacto regularmente...

Pela mesma via reencontrei uma vizinha dos tempos em que vivi em França, de quem nada sabia há mais de trinta e cinco anos. Reatei conversa com o meu primeiro namorado. Fui descoberta por uma menina que andou comigo na primeira classe. Já sem falar em todos os ex-Liceu Francês que reapareceram ou apareceram na minha vida, graças ás ditas redes.

Há muita gente que, não só se recusa a aderir, como parece sentir por elas uma certa repulsa.
As redes sociais, como o seu nome indica, são ferramentas que nos permitem sociabilizar.
Se as pessoas em questão fossem bichos do mato, candidatos a eremitas, eu ainda conseguiria compreender. Não é no entanto geralmente o caso.

Denotam ás vezes de um certo receio, um sentimento de insegurança relativamente a elas. Acusam-nas de ser antros de bisbilhotice e mexericos.  Afirmam não ter tempo “para essas coisas”.

Acontece que, tal como acima referi, estas são simplesmente mais uma ferramenta de comunicação posta ao nosso dispor.
Tal como com qualquer ferramenta, convém sem dúvida aprender a utiliza-la. Convém estar cientes  dos eventuais perigos para podermos evita-los. Mas isto é tão válido para o Facebook como para uma rebarbadora.

Não há dúvidas que, se para lá pespegar-mos com todo o tipo de informações e fotos pessoais, nos arriscamos a surpresas desagradáveis.
O mesmo poderá acontecer se gritarmos aos sete ventos o código do nosso cartão multibanco... ;)

Ai que é invasivo, ai que não tenho pachorra para certas pessoas, ai que não quero que alguns leiam o que escrevo, vejam o que lá ponho... afirmam alguns.
É, mais uma vez, uma questão de domínio da ferramenta. Aquilo está tão bem feito que quase tudo é possível, limitar o que os outros podem ver, bloquear algumas coisas a algumas pessoas, etc... convém sem dúvida tirar a carta antes de comprar carro.
Por outro lado, ninguém nos obriga a aceitar ou manter “amizades” que não queremos ter, da mesma forma que só abrimos a porta de nossa casa a quem quisermos.

O senso comum é também, evidentemente, uma característica a não menosprezar e convém ter em conta que, ao postar, nos estamos a dirigir a uma plateia alargada. Impõe-se portanto, sem dúvida, uma certa auto-censura, tendo em conta que nem todos poderão encarar da melhor forma as nossas opiniões ou detalhes das nossas vidas.
Por outro lado, pessoas que se metem onde não são chamadas, que emitem opiniões que ninguém pediu, que são dadas a peixeiradas, etc... sempre houve e sempre há de haver, infelizmente. Não é no entanto um exclusivo da internet.

Outra ideia, na minha opinião errada, é que a vida passe a ser uma coisa virtual, como se o facto de se inscreverem lhes limitasse os relacionamentos ao vivo e a cores.
Se não tenho grandes dúvidas de que haja pessoas para quem isso seja verdade, não é no entanto de todo obrigatório que assim seja. Antes pelo contrário, acho que potencialmente as proporciona devido à facilidade de contacto.

Esta ferramenta de comunicação (e divulgação, pois até para actividades várias e/ou negócios é extremamente útil) vem finalmente, a meu ver, de certa forma combater um dos grandes males dos nossos dias: a falta de tempo.
O Facebook e afins são um veículo para “irmos sabendo” de gente que, de uma forma ou de outra, é importante para nós.
De certa maneira são como as antigas idas ao café, onde se punha a par das novidades, se davam dois dedos de conversa, se combinavam encontros, se conheciam pessoas.
Hoje, podemos fazê-lo sem nos deslocarmos e relativamente a muito mais gente.

Será que quando apareceu o telefone também houve assim tanta resistência?! lol