quarta-feira, 26 de março de 2008

Poluição

Acredito, repudiando completamente o "politicamente correcto", que haja "boas" e "más" características nos seres humanos. A recente mania de não "chamar as coisas pelos nomes" irrita-me. Podem chamar-lhe o que quiserem mas para mim uma pessoa ser mentirosa é defeito sim!

Qual a definição de "boa" e de "má"?! Isso agora é evidentemente discutível...
Para mim, são boas características as que contribuem para que as pessoas se sintam bem consigo próprias e com os outros, em paz com o mundo e más as que fazem as pessoas sentir-se infelizes e/ou minam as relações com os outros. Tão simples quanto isto...

Porque é que eu digo que "ser mentiroso" é uma má característica?!
Porque dificulta muito as relações. A mentira não passa desapercebida... Como se costuma dizer, "mais depressa se apanha um mentiroso do que um cocho"... Os mentirosos, cedo ou tarde, são apanhados... E rotulados de mentirosos... A partir daí é muito difícil acreditar-se neles. Estamos sempre de pé atrás, pergunta-mo-nos se devemos confiar no que nos dizem. Ás vezes somos injustos por causa disso, pomos em questão afirmações genuínas. É o preço que todos pagamos... É como na história do pastor e do lobo... (caguei, na versão que me contavam quando era pequenina era o espróprio do pastor que era comido! LOL) No fim toda a gente fica a perder, o pastor é comido pelo lobo e os aldeões ficam com a morte dele na consciência porque não acreditaram daquela rara vez em que era mesmo verdade...

Ora, voltando ao início da conversa, o que é extremamente ingrato é que, aparentemente, as "más características" parecem ser muito mais contagiosas do que as boas...
Como se costuma dizer "os maus hábitos ganham-se depressa".
A realidade é que se observarmos bem os ambientes que nos rodeiam, parece haver muito mais tolerância relativamente aos defeitos alheios do que seria desejável. A política da não interferência, a aceitação do outro "como ele é", faz com que pareçam aceitáveis certos defeitos.
As más características, assim deixadas à rédea solta, espalham-se como a peste.
Reparem como, se um membro de uma família fôr de tendência agressiva, os outros também tendem a sê-lo.




Claro que não é evidente agir. Os outros aceitam mais facilmente ouvir "essa cor não te fica bem", ou mesmo "devias ir ao dentista, ultimamente andas com mau hálito" do que "és um aldrabão" ou "não devias falar tão agressivamente com as pessoas"...


Então o que fazer? A minha solução é: afastem-se de maus ambientes!
Não é possível, por variadíssimas razões sociais, evita-los completamente. Pontualmente teremos sempre de nos confrontar com eles. Mas reduzam ao máximo as hipóteses de "contágio"... Se estiverem muito tempo em contacto com os defeitos alheios, ás tantas vão achar que são normais, vão adopta-los como aceitáveis e sofrer-lhes depois as consequências.
Se se rodearem de gente "boa onda", se tentarem evitar pessoas negativas, agressivas, ácidas, recalcadas, maldizentes, abelhudas, intolerantes, prepotentes... podia aqui ficar mais uns minutos a enumerar "defeitos"... será muito mais fácil trabalhar as boas características.

Notem que digo tudo isto com total conhecimento de causa, numa de "quem te avisa, teu amigo é", visto que já fui possuidora de grande parte das características que acima enumero e de outras tantas igualmente beras... algumas das quais já me consegui livrar e outras nem por isso, e noto nitidamente que me parecem muito menos graves quando estou rodeada de "semelhantes". É como quando numa conversa alguém começa a subir o tom de voz e ás tantas já estão todos a gritar sem sequer se darem conta disso...

Hoje em dia quase que me sinto fisicamente mal em ambientes "má onda", é o equivalente psicológico de estar num ambiente poluído.




Talvez não possamos activamente mudar os outros. Mas se, dentro da medida do possível, evitarmos os que nos fazem mal, os que nos transformam em pessoas piores, estaremos já a contribuir para uma certa paz. E por outro lado talvez eles acabem por perceber...

Ou talvez eu seja uma ingénua do caraças... é outra opção. LOL



Dieu est un fumeur de havanes - Serge Gainsbourg & Brigitte Bardot

quarta-feira, 12 de março de 2008

Quero ser uma velhotinha baril

O tempo vai passando... cada vez mais depressa... ás tantas damo-nos conta de que provavelmente já temos mais tempo pelas costas do que pela frente...

Se durante a nossa juventude "os velhos" eram seres meio transparentes, aos quais não prestávamos grande atenção, damos agora por nós a observa-los, a tentar perceber no que se transformaram, talvez para tentar ter um vislumbre do que nos espera se lá chegarmos...

As alterações do corpo são o que salta logo à vista, o envelhecimento, a perda de capacidades, tanto físicas como intelectuais.
Mas... e o que acontece à nossa personalidade?

Segundo a minha observação "refina"... LOL
Tanto as "boas" como as "más" características de cada um parecem acentuar-se substancialmente com a idade.
Os calmos tendem a ter cada vez mais calma, os meigos a ficar cada vez mais doces, os refilões cada vez mais rezingões, os críticos mais intolerantes, and so on.
Pensem nas pessoas que conhecem há muitos anos e vejam se não tenho razão...

A realidade é que ninguém parece pensar muito no assunto.
As "boas" características, aquelas que contribuem para a serenidade, a paz de espírito, a felicidade, amadurecem como um bom vinho.
As outras azedam!

Na minha óptica de que as ervas daninhas da vida são para se arrancar, quanto mais cedo melhor.
De que serve pôr creme na cara quando já estamos cheios de rugas, preocupar-mo-nos com a osteoporose quando já temos os ossos rendilhados ou começar a exercitar o cérebro quando aparecem os primeiros sintomas de Alzheimer?

Se achamos que temos domínio sobre a nossa vida, sobre quem somos, como somos... devemos também ter a noção de que o vamos tendo cada vez menos... Se as deixarmos, as "más" características instalam-se por Usucapião.
Da mesma forma que cada vez vamos tendo menos controle sobre o nosso corpo, queremos fazer as coisas mas já não conseguimos, o mesmo se vai com certeza passando com o nosso cérebro.
Deve ser triste chegarmos à velhice e dar-mo-nos conta de que somos intragáveis, de que as pessoas que se dão connosco o fazem por obrigação e não por prazer.

Eu cá quero ser uma velhotinha baril, querida, bem disposta e serena... e vou já começar a trabalhar para o efeito porque, com as ervas daninhas que tenho no meu jardim, ainda acabo é a beber cházinho de urtigas... LOL




When Im Sixty-Four - The Beatles

sexta-feira, 7 de março de 2008

Tenho um feitio de merda

Sou uma gaja porreira, tenho as minhas qualidades, como toda a gente... senão ninguém me aturava... mas a realidade é que tenho de facto um feitio de merda!!!

Sou bruta, agressiva, não meço as palavras... se estou convencida de que estou com a razão, o que acontece montes de vezes (embora, em raríssimos casos, esteja enganada... LOL), sou ácida e desagradável. Quando contrariada reajo violentamente. Basicamente fervo em muito pouca água.

A terrível característica dos Rodos, o exagero, não ajuda nada. Se pode ser considerado cómico o comentário de que havia dez centímetros de pó em cima de um armário, o dizer que qualquer coisa está uma merda completa, que estou completamente f...ida com uma situação, ou que alguém é absolutamente execrável, não ajuda muito nas relações humanas. O mais estúpido é que acabamos por sentir as coisas como as descrevemos.

Neste momento os leitores que me conhecem pior estão a pensar "não é nada... que exagero!"... Ah, ah!!! Estão a ver?! Não, não, acreditem, por detrás da gaija boazinha que conhecem está um verdadeiro monstro...
Estão a ver outra vez?!
Aaaaaaarrrrrrggggg!!!
Não consigo impedir-me de fazer isto...

Agora a sério, se algumas pessoas não conhecem esta minha faceta é porque não ando propriamente para aí ao estalo na rua... também não é preciso exagerar... LOLOLOLOL
Sorry! LOL

Bem... a realidade é que quanto mais próxima está a pessoa menos eu me controlo.
Nesta parte acho que sou "normal"... Todos nos libertamos mais com as pessoas com quem temos mais confiança.
Pois está mali!!!
Se mandarmos o taxista que se atirou para cima de nós na rotunda para a piiiiiii que o papiiiiiiiiiii, não perdemos nada com isso, quanto muito uns pontitos de karma... LOL
Se o fazemos com os que estão próximos minamos as nossas relações.

Ora se sempre estive consciente desta minha característica (sou estúpida, mas não sou burra...) a realidade é que só muito recentemente me dei conta de a que ponto muitas vezes me tem lixado a vida. Desta vez, não só não estou a exagerar, como estou a falar muito a sério.
As pessoas aturam-na porque lá hei de ter uma que outra qualidade que compense, mas a grande verdade é que todos saímos a perder.

Decidi então declarar-lhe guerra!
Não é fácil... um feitio de merda, impregnado há mais de quarenta anos, é difícil de sair...
É como o risco do cabelo... por muito que o tente usar de lado não há nada a fazer, quando dou por isso lá está ele ao meio outra vez, são muitos anos.
A diferença é que eu gosto do meu risco ao meio... no que diz respeito ao feitio há de ficar de lado nem que tenha de lhe pôr cola! LOL

Uso então pequenos truques...
Por exemplo, como dizia o meu pai "a tua mãe é munto chaaata..." (notem que ele a adorava, é portanto mesmo verdade... LOLOLOL). Bem, se calhar não é mais chata do que a mãe do próximo... É no entanto garantidamente mais speedada... é um verdadeiro Speedy Gonzalez diria eu...
Ora eu tenho toques personalizados no telemóvel e o dela sempre foram músicas que tinham a ver com o feitio dela. Primeiro a do Indiana Jones, mais recentemente a da Missão Impossível... A realidade é que, só de ouvir aqueles toques já começava a ficar enervada...
É verdade que ás vezes me liga para me chagar o juizo... mas quantas vezes me ligou porque estava numa loja, a perguntar se eu precisava de alguma coisa, por exemplo, e levou logo com um atendimento de "não tenho pachorra para te aturar", coitadinha...
Agora, o toque dela é o Bright Side of Life, dos Monty Python, quando o oiço fico logo de sorriso no cérebro, atendo-a portanto muito mais simpáticamente.

Quando o meu filho me dá cabo do juizo (sou uma vítima, todos me chateiam... a minha mãe, o meu filho, o meu marido... pobre de mim...LOL), como todos os filhos fazem ás mães, tento sempre imaginar que estou a lidar com um dos meus sobrinhos. Nunca "ataquei violentamente" (LOL) nenhum dos meus sobrinhos, isso ajuda-me portanto a controlar-me.

Quando o desatino é com o paizinho dele, ensaio sempre o meu discurso antes de o mandar cá para fora, para ver como é que soa. Se necessário, troco as palavras arrasadoras por outras mais soft. Penso dez vezes antes de falar e só falo de facto se continuar a achar que o assunto é relevante para a nossa vida.

And so on... para cada situação vou encontrando pequenos truques.
Ainda vou ter de encontrar muitos mais.
Nem sempre resultam, um homem não é de pau, ás vezes lá deixo saír a fera outra vez... mas no geral acho que estou bastante melhor. Ainda é cedo para dizer porque comecei há pouco tempo, mas a ideia é ir atacando uma situação de cada vez, grão a grão enche a galinha o papo.
A realidade é que acredito que a vida seja muito mais fácil se fôr levada com delicadeza, com suavidade, do que com brutalidade e agressividade, mesmo que "as vítimas" não reajam.

Peace and love men!