quarta-feira, 28 de agosto de 2013

El condor pasa...

Irina Werning - Back to the Future

Nascer, crescer, envelhecer, morrer… é a sequência natural de qualquer vida.
Estou de acordo com o Woody Allen, que esta seria provavelmente mais simpática vivida ao contrário, envelhecer é sem dúvida chato.
Then again, como dizia The Body, “considerem a alternativa”…

Temos, ou pelo menos eu tinha, a ideia de que tudo isto se passa progressiva e linearmente.
Desde que o meu filho nasceu que tenho vindo a constatar que é uma noção completamente errada, tudo se passa na realidade aos pulos, tanto física como intelectualmente.
Roupa que lhes serviu durante meses fica, de um dia para o outro, uma mão-travessa mais curta. Os gugu dadás parece que passam de repente a frases compostas. Não se nota qualquer progresso durante uma série de tempo e, subitamente, temos de lidar com uma realidade completamente diferente.
Aos poucos vamo-nos apercebendo de que isto se passa relativamente a tudo, eventualmente a um ritmo diferente, mas com o mesmo tipo de degraus.

Ao longo deste último ano, talvez por ter entrado na pré-menopausa, talvez por causa dos muitos quilos de “já não fumo” que penosamente arrasto por aí, ou simplesmente porque o tempo passou sem me avisar, levei nitidamente aquilo a que os franceses chamam “un coup de vieux”… já ando a sentir-me cansadota e um bocado como o condor, com dor aqui, com dor ali…

Um dia destes, na rádio, mencionaram uma “senhora de meia idade”… era mais nova do que eu. lol
A esperança média de vida em Portugal ronda hoje em dia os oitenta anos, para as mulheres. Para os homens cerca de meia dúzia deles a menos, deve ser por causa do que lhes infernizamos o juízo… hehe
Ora oitenta a dividir por dois dando quarenta, se a matemática não me falha que fiz a conta de cabeça, já ultrapassei mesmo a tal meia idade, indo alegremente a caminho da terceira, e não estou a falar da ilha. ;)

Dei no entanto por mim, este verão, vejam lá vocês o disparate, deliciada na observação do fenómeno idade.
Tive a sorte, a  vontade, a capacidade, de aqui chegar rodeada de amigos de longa data, alguns dos quais conheci quando eram ainda jovens adolescentes, da idade do meu filho. 
Este ano, na praia, dei-me conta de que fazíamos já parte dos mais velhos.
Comecei a observar-nos mais atentamente e senti-me enternecida pelas carecas, as brancas, as rugas e as barriguinhas. No nosso grupo já não há boazonas nem garanhões, já só resta gente, que vale o que vale pelo que é, e não pelo que faz ou aparenta.

Já não tenho “pedalada” para muita coisa, ao mais pequeno excesso parece que levei uma tareia e levo infinitamente mais tempo a recuperar, é certo. O corpinho está-se a ir, em mais do que um sentido, lenta mas seguramente.
Perante esta evidência posso revoltar-me ou aceita-la como parte inevitável do percurso e adaptar a vida à nova realidade.

Há tempos, numa comparação de mães, alguém dizia: “não, a minha não se sente velha nem cansada, mas também não faz nada que não sinta que seja adequado á sua idade.”
Sábia senhora…
O erro é pedirmos aos nossos corpos e cérebros que se comportem e reajam como se tivessem não sei quantos anos a menos. Compararmo-nos e querermos ter a mesma vida que a malta mais nova. Recusarmo-nos a aceitar que, da mesma forma que no início “ainda não” podíamos/conseguíamos fazer determinadas coisas, para o fim “já não” vamos podendo fazer outras.
 Isto não quer dizer que não continuemos a ter acesso a mil e uma fontes de alegria e prazer, não são melhores nem piores, como dizia a minha professora de história da arte, são diferentes.

Uns partem na flor da idade, outros arrastam-se por cá até à decrepitude. Nenhum de nós sabe o que irá determinar o seu último suspiro. Podemos só esperar não pesar a ninguém, não sofrer nem fazer sofrer demasiado.
No entanto, minha gente, enquanto as maleitas não forem males, enquanto formos donos e senhores dos nossos corpos, das nossas mentes e das nossas vidas, tiremos proveito do que a experiência dos anos nos trouxe e apreciemos o que é, em vez de carpir sobre o que foi…


COM MÚSICA




domingo, 11 de agosto de 2013

Amar a vida



Que me perdoem aqueles que me estão a ler e que neste momento, por alguma razão, estão em sofrimento.
Que me perdoem os que estão doentes ou têm alguém próximo que esteja, os que perderam um ente querido, por morte ou separação. Que me perdoem os que ficaram sem emprego, os que estão em extrema dificuldade financeira, os que tiveram de abandonar o seu pais e as suas pessoas para lutar pela vida. Que me perdoem aqueles que acham que como o país, o mundo, a espécie humana, estão em crise profunda, temos a obrigação de nos sentir infelizes.
Eu sou feliz e neste momento sinto-me muito bem! :)

Acabei de regressar de férias e volto de barriga cheia.
Passei nos últimos tempos por períodos muito difíceis, muito complicados e é espectável que volte a passar, num futuro mais ou menos próximo. Algumas das pedras do caminho consigo já antever daqui, outras me surpreenderão.
Amar a vida é no entanto exactamente como amar alguém, não podemos esperar que nos esteja sempre a sorrir.

As agruras espreitam a cada esquina, pelo que sou apologista do “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.
Acabei de chegar, recauchutada por orgias de sol e amizade, em companhia dos meus mais que tudo. Tenho a pele dourada a expelir calor e os músculos agradavelmente doridos dos passeios na praia. Volto para o meu pequeno paraíso privado, onde tenho o barulho da água a correr e o cheiro a flores como pano de fundo enquanto vos escrevo. Trouxemos recuerdos das férias,  pequenos pedaços da alma das falésias, que vieram ainda mais embelezar o lar que tanto apreciamos.
Começamos agora a combinar os próximos encontros e “brincadeiras” (mentes porcas abstenham-se de pensar), com a família e amigos que também, já ou ainda, por cá vagueiam. A vida, por ser verão, está neste momento a meio gás. O apoio e companhia ao filhote, que se impõem nestas alturas, fazem com que passe uma série de coisas para prioridade dois.
Sinto-me neste momento completamente apaixonada pela vida.

Quase que hesitei no entanto em escrever este post.
Ás vezes sinto uma espécie de “vergonha”, actualmente não é nada bem visto dizermos que nos sentimos bem, é como se entrássemos em pelota num baile de gala, fica tudo a olhar escandalizado.
“As coisas” estão mal, nós também temos de estar. Há outros a sofrer, nós também temos de nos agarrar, de unhas e dentes, a tudo aquilo que possa de alguma forma interferir com a nossa felicidade, para garantir que empatisamos.

Acredito, do fundo da minha alma, que seja necessário um equilíbrio para que o mundo possa continuar. Com toda a merda que anda por aí, se não houver muita energia positiva, acredito que estejamos perante um futuro muito triste, muito sem graça.
Assim, no aqui e agora, que amanhã é um novo dia, acredito em apreciar todos os sorrisos, todas as carícias, todos os abraços que a vida nos queira dar.
Que tristezas não pagam dívidas e a vida é demasiado curta... ;)


Este vai dedicado aos amigos de Porto Covo, que me enchem a vida de sol… ;)

COM MUSICA