segunda-feira, 18 de abril de 2016

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Botão de Onofre

Pouquíssimas são as coisas que suscitam em mim sentimentos de inveja, uma delas sendo a natureza completamente cool de certas pessoas.
O meu filhote, por exemplo, é assim. Leva a vida saltando levemente de nenúfar em nenúfar, calmamente, descontraidamente, nada parecendo afecta-lo de sobremaneira.

Já eu, sou um caso completamente diferente. Não faço ideia se estas características já virão com o ADN ou se serão fruto das experiências de cada um mas a realidade é que sempre vivi em sobressalto.
Ansiedade is my midle name.

Tenho naturalmente oscilações de intensidade mas, desde que me lembro, que vivo em constante luta contra a desgraçada.
Exceptuando ali à roda dos meus vinte anos, em que passei por um período de ataques de pânico (experiência que não desejo ao pior inimigo), nunca me impediu de levar uma vida  normal.
Viver regularmente com um nó no estômago não é no entanto propriamente agradável.

A dependência, de seja o que for, sendo uma ideia que sempre me assustou, nunca me deu para me virar para fármacos e afins.
A minha luta tem portanto sido essencialmente cerebral e, confesso, até à data bastante inglória.
Não é no entanto o facto de andar a perder batalhas há cinquenta anos que me esmorece os ânimos e não tenho intenções de baixar os braços e dar-me por vencida.

Recentemente e pela primeira vez, parece que estou a levar a melhor. É ainda cedo para o afirmar categoricamente mas julgo ter arranjado forma de calar a desgraçada, quanto mais não seja em grande parte dos casos.
Tenho esperanças de, com o tempo e a prática, conseguir finalmente ganhar esta malfadada guerra.

O meu cérebro é, simultaneamente, a minha melhor ferramenta e o meu maior handicap.
É ele que uso para manter as emoções à rédea curta, para aprender, para alinhavar estratégias, para controlar e dirigir a minha vida.
Só que o desgraçado parece ter vida própria e atazana-me mesmo quando não lhe peço nada, às vezes até durante o sono. É um bocado como um smartphone com montes de Apps a correr em background, permanentemente a gastar energia e recursos.

Pessoalmente, não são tanto as preocupações que me atormentam, embora pontualmente as tenha, como qualquer pessoa. Consigo já no entanto dar-lhes relativamente bem a volta com alguma facilidade.
O estar permanentemente a tentar “resolver” situações é que me provoca nitidamente essa tal sensação de ansiedade.

Resolvi assim, tal como o faço com o telefone, ir fechando as aplicações que não estou a usar. Ou seja, não me permito divagar, ocupar a minha mente com questões que não tenha efectivamente pela frente.
Quando é para lidar com alguma coisa, arregaço as mangas e vamos a isso. Situações hipotéticas ou relativamente às quais não há nada que possa fazer no momento, ponho-as de lado até eventualmente serem efectivamente uma realidade.

Se vos dissesse que é fácil ou que sempre o consigo fazer, estaria a mentir. São muitos anos de cérebro a funcionar em permanência, a varrer hipóteses, a jogar xadrez, a fazer filmes… a verdade é que cada vez vai custando menos.






COM MÚSICA