Educar
[...] Oferecer a alguém
o necessário
para que consiga desenvolver plenamente a sua personalidade. Propagar ou transmitir conhecimento (instrução) a; oferecer
ensino (educação)
a; instruir..[...]
De cada vez que vou a uma reunião de pais, pergunto-me
qual será o futuro da humanidade nas mãos das crianças de hoje.
Partindo do princípio que as escolas não
mencionam as coisas só porque sim mas porque chegaram à conclusão que não são
óbvias para toda a gente, bradam aos céus alguns dos conselhos que se ouvem.
Os filhos não vêm com manual de instruções,
cada caso é um caso e não tenho qualquer dúvida que vários caminhos levem a
Roma. Convém é que exista, para que não reine a lei
da selva, pois as crianças não se auto-educam.
Não sou sumidade na matéria, só uma mãe que
retira genuíno gozo do papel e se aplica na tarefa. Haverá quem não
concorde comigo, quem abrace outras teorias e práticas, o que compreendo e
respeito.
Na minha opinião, há duas coisas fundamentais
para o sucesso de uma educação; amor infinito e um pulso de ferro.
Não há formulas mágicas nem truques
infalíveis e por muito que se possa estudar sobre o assunto, para educar temos
de usar o bom senso e tocar de ouvido.
Se funcionarmos por experimentação e formos
rectificando os erros, a coisa deverá correr mais ou menos bem.
Convém no
entanto que tenhamos noção que, muitas vezes, educar custa-nos bastante mais a nós do que a eles e que, façamos o que fizermos, iremos inevitavelmente
falhar algures, não há pais perfeitos.
Nada me convence que as crianças não se
começam a educar desde o dia em que nascem e faz-me alguma confusão o precioso tempo
que perdem os pais que acham que só o podem fazer a partir de determinada
idade.
A partir do momento em que começa a haver
reciprocidade na comunicação verbal, então, passamos a ter mais uma preciosa ferramenta
ao nosso serviço.
Uma das coisas que considero importante
para que se gere uma sensação de estabilidade, são os horários e as rotinas. As
crianças precisam de comer com calma e sem stress, de estudar, de tempo para a brincadeira,
das suas horas de sono, etc. Se tudo isto não for devidamente organizado,
facilmente as coisas descambam e não acho que as crianças digiram bem o
caos.
Outra, são as regras. As sociedades em que
vivemos, sejam elas quais forem, estão sempre repletas de regras. É bom que os
miúdos percebam desde cedo o que isso quer dizer e aprendam a cumpri-las, a respeita-las,
ou até mesmo eventualmente a quebra-las, desde que com a noção de que o estão a
fazer.
Só assim se conseguirão integrar.
Haverá alguém melhor do que nós, que temos
por eles um amor incondicional, com quem testarem tudo isto?!
Acredito numa educação cuidadosa e firme
mas não austera e rígida.
Pessoalmente sou uma mãe brincalhona e
informal e considero a cumplicidade e o companheirismo muito importantes e
valiosos. Não tolero no entanto qualquer tipo de abusos, sendo bastante implacável
relativamente a respostas tortas, insultos ou faltas de respeito. Quanto a este
último, não só pelos mais velhos mas por qualquer ser vivo.
Se formos déspotas e prepotentes, só
estaremos a mandar, não a educar. Se formos manipuláveis e permissivos,
perderemos a autoridade necessária para o fazer. Como em tudo o resto, no meio
é que está a virtude.
Não sou assim apologista de porque sins e porque nãos.
Na minha opinião, as nossas decisões podem ser
contestadas e postas em causa, sim, desde que civilizadamente e não através de
birra.
Caso seja possível devem-lhes ser explicadas e, no caso de
contra-argumentarem convincentemente, revistas e eventualmente alteradas. Não
tenhamos a presunção de achar que estamos sempre certos.
Da mesma forma, somos humanos, falhamos,
metemos a pata na poça, somos injustos, etc… nesses casos não há nada como
pedir desculpa, sinceras e humildes desculpas.
Não acredito em tabus e, as crianças tendo uma
enorme curiosidade natural, acho óptimo que se sintam à vontade para nos
perguntarem tudo que quiserem e que lhes respondamos sem embaraço ou
preconceito.
Nem sempre é fácil adaptar as respostas à
sua idade e às vezes nem sequer conseguimos arranjar uma que possam efectivamente
compreender. Não vejo qualquer inconveniente em explicar-lhes isso mesmo, que
são novas demais, que voltaremos eventualmente a falar sobre o assunto mais
tarde.
Da mesma forma, acontece nós próprios não
as sabermos, em cujo caso reconhecê-lo me parece a melhor solução, ninguém é
suposto saber tudo. Todos conhecemos pessoas que, quando não sabem, inventam.
Se for alguém em quem confiamos, acreditaremos, assumiremos o embuste como
conhecimento. Caso o tema nos interesse e esteja ao alcance da nossa
própria compreensão, é até uma excelente oportunidade para aprendermos e de
seguida o transmitirmos.
Quando são bebés temos de fazer
absolutamente tudo por eles. Conforme vão crescendo, à medida das suas
capacidades e respeitando o seu tempo de ser criança, acho que lhes devemos ir
exigindo cada vez mais independência e colaboração.
É bom que se vão habituando lenta e
suavemente a que a vida não é um mar de rosas e que nos sai do pelo. Sair tudo
do nosso quando já podem participar com a sua quota-parte não me parece, nem
justo, nem formativo.
Acho muito importante que estejamos
disponíveis, para os ajudar sempre que possível. Ás vezes era sem dúvida mais
fácil fazermos nós as coisas por eles, dava-nos menos trabalho, mexia-nos menos
com os nervos. No entanto, quem precisa de aprender, de praticar, não somos nós, não
devemos assim dar-lhes o peixe mas ensina-los a pescar.
Transmitir-lhes a noção de que, apesar de
serem a coisa mais importante da nossa vida, não são a única, também me parece
essencial. O ser humano è naturalmente egoísta e, se o deixarmos, tende a
ver-se como o centro do universo. Convém cortar esse mal pela raiz desde cedo.
Sacrifícios sim senhor, mas os que fazem sentido, os que cumprem algum
propósito para além do “querer” da criancinha.
O que nos leva à questão das “liberdades
individuais” de que tanto se fala hoje em dia. Sempre ouvi dizer que a nossa
liberdade acaba onde começa a dos outros. Seres humanos em fase de formação,
que ainda vêem a vida a preto e branco devem, na minha opinião, ter as escolhas
reguladas pelo bom senso paternal. Quando forem adultos e independentes, logo
poderão fazer o que bem entenderem, até lá, no que me diz respeito, estarão sempre em “liberdade
condicional”. lol
Em tudo o que fazem acho que lhes devemos sempre
exigir o máximo, não que sejam os melhores mas que dêem o seu melhor. Pouco ou
nada se faz sem esforço, sem empenho, sem força de vontade. Na minha opinião todos
devemos ser tão bons, em tudo o que fazemos, quanto aquilo que conseguimos ser,
nem mais, nem menos.
Acho perfeitamente possível passar-lhes
noções que nós próprios só descobrimos tarde na vida e tanto jeito nos teria
dado interiorizar precocemente. Não são necessárias palestras, não fazem
sentido grandes dissertações, eles compreendem bem melhor os exemplos práticos,
as demonstrações com base em exemplos concretos do dia a dia.
Finalmente, como não podia deixar de ser,
dar o exemplo é essencial. Haja coerência, se não praticarmos o que apregoamos,
como iremos convence-los que lhes possa trazer algum benefício na vida?!
COM MÚSICA