quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Reaprender a andar…



Nos últimos tempos, por circunstâncias da vida diversas, tenho perdido pessoas importantes para mim, mais do que possam imaginar, e sem as quais me custa viver.
Ei de conseguir resolver internamente a questão e ultrapassar a perda. Parece no entanto que o nosso cérebro já está formatado para libertar quem morre, por aceitarmos ser o destino final da vida, mas tem bastante mais dificuldade em deixar ir quem segue um caminho diferente.
Descobri também que relações que julgava serem uma coisa afinal eram outra. Que algumas que gostaria que fossem de certa maneira dificilmente alguma vez o serão. Estou rodeada de relações familiares extremamente complicadas. A minha própria relação esteve por um fio.
Nenhuma destas situações mata mas, sobretudo em conjunto, moem muito.

Há cerca de ano e meio que deixei de fumar (não há um dia em que não me apeteça um cigarrinho) e mais ou menos seis meses que entrei na pré-menopausa.
Esta última mói-me completamente o juízo. Sinto-me, por uma ou outra razão, em permanente mau estar físico. Põe-me também as hormonas aos pulos, descompensando-me emocionalmente.
Para além disso, está a transformar numa tarefa hercúlea perder os dez quilos que ganhei quando deixei de fumar, que me incomodam por demais.

A nossa situação financeira é alarmante. Tenho conseguido aguentar as pontas mas o futuro, o mês que vem, o dia de amanhã, é uma incógnita.
Esta constante luta pela sobrevivência, o estado de alerta permanente , o gigantesco ponto de interrogação que escurece o horizonte, tudo é extremamente angustiante. Tudo está em jogo, de um dia para o outro tudo pode mudar… previsivelmente para pior.
Por outro lado, dar-me sequer ao luxo de me queixar da situação quando, mal ou bem, continuo a conseguir assegurar todos os bens essenciais para a família, até me faz sentir mal. Quando sabemos das histórias de que todos sabemos, da miséria humana que mora em cada esquina, do desespero de certas pessoas, sentimos que não temos o direito de gemer.

Last, but not least, muito daquilo em que acreditava, está actualmente a ser posto em questão. As regras, se é que ainda existem regras, estão a mudar e não estou familiarizada com elas. Os princípios segundo os quais vivia parecem já não estar em vigor, quase ninguém já os pratica. 
Não posso ser prepotente ao ponto de achar que eu estou certa e o resto do mundo está errado, não teria essa arrogância.
Não consigo no entanto deixar de acreditar que determinadas coisas, posturas, atitudes, acções, são positivas e que, se todos as adoptássemos, o mundo seria um sítio melhor.

Tudo isto (e mais alguma coisa) me desgasta enormemente. A minha auto-estima anda pelas ruas da amargura. Já nem comento a auto-confiança, abalada até aos alicerces por tanta provação
Estão a ver aquele plano comum nos filmes… de alguém que está quase a perder os sentidos por alguma razão... do ponto de vista do próprio? Aquelas imagens que começam por ficar desfocadas… depois entre cortadas por piscadelas de olho… até que desaparecem de vez, num fade-out para preto?!
É como me tenho sentido.
Isto é um sentimento muitíssimo perigoso e falo com conhecimento de causa. É imprescindível resistir-lhe. A dormência e a exaustão causadas por um excesso de pressões externas leva à tentação pelo abismo.
A depressão vem quando menos se espera e esta faz o mesmo efeito no salto da vida que um pára-quedas enrolado sobre si próprio.

Tudo tem remédio, é a primeira coisa em que acredito mas que tive de me obrigar a relembrar. Everything will be ok at the end, if it’s not ok, it’s not the end…
Assim, levemos um dia de cada vez, enfrentemos cada dificuldade conforme se nos for apresentando, passo a passo, degrau a degrau, sem olhar para o todo para não nos assustarmos.

Depois… há que reaprender a viver, tal como após uma questão física temos de reaprender a andar.
Há que rever valores e princípios, relações e hábitos de vida.
Há que analisar o mundo em que vivemos e separar o trigo do joio. Aquilo que, apesar de nos custar a habituar, até poderá ser benéfico, daquilo que acreditamos do fundo do coração estar certo e de que nos recusamos terminantemente a abdicar.
Há que por coisas em questão, sem disso fazer um bicho-de-sete-cabeças ou entrar em parafuso.
Roma e Pavia não se fizeram num dia… há que dar tempo ao tempo, ir com calma, com perseverança, com paciência.
Há que nos permitirmos demorar, fraquejar, chorar… sem por isso desistir.
Mudam-se os tempos mudam-se as vontades… parar é morrer.

O mundo está cheio de estropiados.
Esta é a minha história, são as minhas questões, cada um terá as suas.
Acredito no entanto que, a maior parte de nós, esteja a precisar de uma boa dose de adaptação, de revisão de vida.
Temos de estar conscientes que esta está nas nossas mãos, que cada um dorme na cama que faz.

Dizem-me para deixar andar, para não pensar nisso, para não me preocupar que tudo passa… mas eu não quero que passe, não quero que a vida passe por mim.
Quero vivê-la intensamente a cada momento, mesmo os menos intensos, não quero zombificar.
Para isso não posso baixar os braços. Sem stress e dando tempo ao tempo, preciso de me ir moldando aos tempos e à realidade que vivemos.







COM MÚSICA