terça-feira, 29 de março de 2016

And now for something completly diferent... ;)



Apesar de, durante muito tempo, ter feito um esforço para aqui escrever semanalmente, a realidade é que os posts escritos à pressão não saíam geralmente grande coisa. Assim, a partir de certa altura, passei a só cá vir quando me sentia realmente inspirada.

Hoje decidi passar a inserir neste este blog Sopas Alheias... nem tudo o que partilho tem de ser escrito por mim, verdade?!
A regularidade, essa, continuará a ser a mesma, que é como quem diz quando me der na gana. ;)

Aqui vos deixo com a primeira. ;)



segunda-feira, 21 de março de 2016

Relacionamentos de cólidade superior



Um relacionamento fácil não é condição obrigatória para se gostar de alguém. Pessoalmente, adoro alguns seres com os quais o mesmo é tudo menos evidente.

Dei-me no entanto conta que, cada vez mais, dou não só mais importância como inclusivamente “prioridade”, às pessoas com quem me entendo melhor, com quem me sinto melhor.
Deduzo que seja consequência da minha provecta idade e da tal tomada de consciência, de que me farto de falar aqui, de que o tempo sendo a coisa mais preciosa que temos, o melhor mesmo é passa-lo da forma o mais agradável possível.

Um relacionamento fácil é, na minha opinião, aquele que flui sem grande esforço, proporcionando uma sensação de paz quase constante entre os intervenientes.
A parte do “quase” é importante; qualquer relação encontra pontualmente uma que outra pedra no seu caminho, passa por trilhos mais acidentados, é influenciada pelas companhias, por factores externos, pela forma como nós próprios nos sentimos.
Todos, sem excepção, metemos a pata na poça de vez em quando, pisamos um que outro calo, temos atitudes ou reacções das quais não nos orgulhamos. C’est la vie, ninguém é perfeito.
A realidade é que com alguns, sentimo-nos em permanente aventura de motocross, atravessando poças de lama e galgando calhaus.

Cheguei à conclusão que é imprescindível para as coisas correrem bem a capacidade de cada um se conseguir colocar no lugar do outro. Todos acham que o fazem mas poucos são efectivamente capazes de realmente o fazer.
Compreender os outros é uma tarefa complexa e por vezes difícil.

Para começar, empatizar com algo que não estamos de todo a sentir, vai lá vai…
Coisas como a dor, física ou psicológica, a saudade, o sentimento de perda, o medo, a repulsa, da mesma forma que o amor, a paixão, os gostos e preferências de cada um, são extremamente pessoais. Só raramente estamos no mesmo registo que alguém.
É muito fácil compreender o estado de espírito de um irmão quando ambos perdemos um progenitor, já é menos evidente para nós o do senhor Silva que perdeu o dele.
É o costume; “com o mal dos outros posso eu bem”…

Por outro lado, para compreender é preciso querê-lo mesmo, o que havendo conflitos de interesse não é muito comum. O mais frequente é cada um puxar a brasa à sua sardinha, defendendo as suas razões e pontos de vista com unhas e dentes, falando muito e ouvindo pouco.
Parece-me mais do que natural, quanto mais não seja por instinto de sobrevivência, que defendamos os nossos interesses. Acontece que, se em vez de agirmos como bichos numa postura de “lei da selva”, usarmos aquelas célulazinhas cinzentas tão giras que só nós temos; frequentemente chegaremos à conclusão que, em alguns casos, “valores mais altos (que os nossos) se alevantam”.
Ou seja, de vez em quando, e pelos nossos próprios padrões, se nos dermos ao trabalho de olhar para as questões de forma isenta, concluiremos que a causa do outro “ganha”.

O que nos leva à questão da razão, tanta gente quer à força “ter razão”, quando quantas vezes não existe uma razão mas sim as razões de cada um.
Muitos gostariam de viver num mundo feito à sua medida, com pessoas feitas à sua imagem, não é no entanto a realidade que vivemos. Há de tudo por aí, muita coisa que choca com aquilo que somos; não precisamos de gostar, só de aceitar que cada um é como é.
Contra factos não há argumentos e ninguém pode mudar ninguém. Criticar e combater a diferença, pelo simples facto de ser diferente, só serve mesmo para gerar desconforto e abrir fossos entre as pessoas.

Outra questão importante é a das bitolas, das quais muitos indivíduos utilizam dois modelos distintos, um  para “consumo próprio” e outro para todas as outras pessoas, criticando impiedosamente hoje aquilo que no dia seguinte praticam.
Para alguns, há sempre um “sim, mas…” e as suas questões nunca são semelhantes às dos outros, havendo sempre,  no seu caso,  justificações, desculpas e atenuantes.

A confiança é também um factor fundamental nos relacionamentos; saber que podemos contar com os outros, fiar-nos na sua palavra e acreditar que nos dirão, sem papas na língua, o que tiverem a dizer.
As relações transparentes, pão pão queijo queijo, em que as pessoas são efectivamente o que aparentam, cumprem com o que dizem, agem conforme apregoam, etc,  são muito mais descansativas.

Finalmente, não acredito que algum relacionamento tenha qualidade sem uma grande dose de bondade, de amor pelo próximo, de altruísmo.
Retirar genuíno prazer das relações humanas, gostar de fazer pelos outros, de ajudar, de apoiar, não fugir do compromisso ou da entrega, estar na disposição de fazer sacrifícios, é meio caminho andado para adoçar qualquer relação.

Nada disto evita pontuais atritos, mal entendidos, problemas. Todos temos os nossos dias “não”, os nossos bugs.
A questão é que  com alguns as coisas dão imenso trabalho, causam um desgaste tremendo, demoram tempo a ultrapassar, enquanto que com outros rapidamente tudo volta a entrar na linha.

Tenho a sorte e o privilégio de ter alguns relacionamentos destes na minha vida, relacionamentos low maintenance, relacionamentos SPA, relacionamentos que dão prazer pela sua simplicidade.
Que bons que são! ;)



COM MÚSICA