terça-feira, 22 de outubro de 2013

Estranhos tempos…



Dias complicadinhos estes, hein?!
Farto-me de pensar na má sina das crianças de hoje, que desde cedo têm de enfrentar uma realidade tão mais pesada do que a que nós vivemos.
Este mundo está um caos!!!

Mais do que financeira ou política vivemos, na minha opinião, uma gravíssima crise humana, de princípios e valores.
Sinto actualmente, socialmente falando, um grande desconforto.
Por um lado, cada vez mais sinto que não domino as regras, se é que ainda existem algumas.
Por outro, sinto o calor humano a ficar cada vez mais ténue, que nem fogueira da qual já só restam brasas.
É uma questão de tal forma generalizada, abrangendo tantos indivíduos, de todas as áreas, que se torna impossível fazer cortes” em nome da “boa onda, que é como quem diz, para fugir a isto, teria de virar eremita.

O politicamente correcto, que não passa, na minha opinião, de um medo absurdo de chamar os bois pelos nomes, transforma os homens em seres sonsos e hipócritas.
Se dantes alguns não tinham o mínimo tento na língua, o mais pequeno respeito pelo próximo, dizendo tudo o que lhes passasse pela cabeça sem pensar duas vezes, temos  hoje em dia de pensar vinte vezes antes de abrir a boca para não nos arriscarmos a ser apedrejados.
O mesmo se passa relativamente aos actos. Se antigamente era o vale tudo, vigora agora o não se pode nada. Noutros tempos os pais davam tareias de cinto ás crianças, hoje, nalguns países, arriscam-se a ficar sem elas se lhes derem uma palmada no rabo.
Passou-se no fundo do oito ao oitenta, de um extremo para o outro, sem passar pelo bom senso.

Os extremismos fazem-se aliás sentir em todos os campos, a moderação não estando nitidamente na ordem do dia. Religião, política, ecologia, sexualidade, são estandartes que se empunham cegamente. As pessoas vestem-lhes as camisolas, de cores de tal forma berrantes, que se torna impossível ver para além delas.
Reinam a intolerância, a intransigência, o fundamentalismo, a ideia de que quem não está connosco está contra nós. Comer um bife ou fumar um cigarro ao ar livre podendo hoje em dia ser considerados actos de agressão.

Os novos canais de comunicação ajudam enormemente este abraçar de causas, de ideias, de ideologias, está ali tudo à mão, à distância de um clic. Tornam muito fácil e acessível a qualquer um a divulgação de tudo e mais alguma coisa. Pena é que haja sempre tanta distância entre a teoria e a prática, que tenhamos entrado nesta era do falar muito e não fazer nada, que no fundo de tão pouco serve. Vivemos tempos de extremo individualismo em que as boas intenções raramente passam disso mesmo.

Assistimos a uma total desresponsabilização do indivíduo. Se fez algum “mal” a culpa é dos pais, da escola, do sistema, dos traumas, do tempo… dele não será certamente. Todos os comportamentos aberrantes são etiquetados de algum nome pomposo e ai de quem lhes aponte o dedo pois são “doença”.
Desapareceram as normas de conduta sólidas e fiáveis para distinção do bem e do mal, do justo e do injusto, as pessoas andam baralhadas, confundidas, perturbadas.
Os pais desresponsabilizam-se do papel de educadores, de guias, de exemplo. Não querem fazer o inevitável papel de “maus da fita”, não querem que o pouco tempo que passam com os filhos seja a implicar com eles. Mais assustador ainda, muitos deles nem saberão provavelmente sequer como fazer, o que dizer, como os dirigir e em que sentido, sentindo-se eles próprios completamente perdidos.

O resultado de tudo isto são homens e mulheres cada vez mais virados para o seu próprio umbigo, que se estão cada vez mais a cagar para o próximo, senão na teoria pelo menos na prática.

Pessoalmente ressinto-me de tal forma deste estado das coisas que frequentemente considero “go with the flow”, desistir de lutar por tudo aquilo que considero correcto e/ou desejável.
É tão difícil e cansativo remar contra a maré…
Felizmente, de cada vez que isso acontece alguém, directa ou indirectamente, me põe na ordem, relembrando que se há coisa que não podemos fazer é baixar os braços e encolher os ombros.
Aqueles que acreditam que, por baixo de toda esta fuligem negra que nos envolve, há ainda esperança para o género humano, para a “humanidade”, têm a obrigação de lutar com todos os meios à sua disposição para que esta vingue.

Se deixarmos de tentar “ser a mudança que queremos ver no mundo” não podemos esperar que ela aconteça.




COM MÚSICA
The Doors - Strange days

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