quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Encruzilhadas

COM MÚSICA



Todos os dias fazemos escolhas, optamos por isto ou por aquilo… referem-se normalmente a pequenas coisas, o que vestir, o que fazer para o jantar, que caminho seguir para evitar o trânsito.
Volta não volta, no entanto, somos confrontados com decisões que poderão mudar radicalmente o curso da nossa vida.
São momentos tão cruciais como terríveis.

A dura tarefa é facilitada quando a decisão depende maioritariamente do raciocínio lógico, bastando assim uma análise cuidada da situação para se poder chegar a conclusões.
A coisa muda completamente de figura quando estão envolvidas emoções.
Nesses casos, encontrar o tal equilíbrio entre a razão e a emoção, fundamental para que possamos efectivamente ser felizes, não só se transforma numa tarefa titânica como gera normalmente muitíssimo sofrimento.

Nessas alturas desejamos que existissem bolas de cristal, que nos pudessem dar uma ante-visão dos resultados e consequências de cada uma das opções. Gostaríamos de poder de alguma forma tirar uma prova dos nove, de ter acesso a algum método de decisão infalível. 
Infelizmente, a não ser que ponhamos o nosso futuro nas mãos de cartomantes e videntes, nada disso será possível.

Opostamente ao nosso desejo e para mal dos nossos pecados, aquilo com que temos de lidar é com pontos de interrogação, dúvidas, incertezas, dilemas. Sentimo-nos em terreno pantanoso, a tentar andar por cima de areias movediças, com uma sensação de “loose, loose, situation”… para onde quer que olhemos só conseguimos visualizar a perda, aquilo de que iremos abdicar se optarmos pelo outro caminho.

Não há soluções fáceis, não há receitas milagrosas, não há truques que ajudem a ultrapassar as situações saltando levemente de nenúfar em nenúfar… estes momentos são sempre barra pesada e não há nada a fazer quanto a isso. A única coisa que poderemos tentar é não perder a cabeça, por forma a minimizar eventuais estragos.

A indecisão dilacera, e a dor às vezes é tão grande, parece-nos tão insuportável, que só queremos desesperadamente que passe, precipitando assim impetuosamente as decisões. Comparando com o lado físico, dói-nos tanto o dente, que só queremos tomar um analgésico, estando-nos nesse momento nas tintas para se este nos pode provocar uma úlcera no estômago.
A realidade é que o melhor conselheiro é geralmente o tempo.
Se tomarmos decisões simplesmente para tentar fugir ao sofrimento, à angústia, à ansiedade, que as situações não definidas provocam, o mais provável é que passemos algum tempo a andar para trás e para a frente.
Só conseguiremos viver em paz com o caminho escolhido quando se tiver dado um clic e os clics não obedecem a prazos.

Por outro lado, havendo emoção à mistura, esta tentará sempre falar mais alto. Quando o coração se põe a bater com força parece que o barulho nos impede de pensar.
Nessas alturas só conseguimos considerar o aqui e agora, não querendo sequer pensar na hipótese de nos poder sair o tiro pela culatra.

Há quem viva bem assim, navegando ao sabor das emoções. 
Acontece no entanto frequentemente que o que hoje nos parece tão bom se transforme amanhã num belo pesadelo. Os indícios normalmente até estão lá desde o início e tudo, nós é que preferimos não os ver. É impressionante como escolhemos calar as dicas da intuição quando estas não nos agradam.

Por outro lado, a partir de certa altura, damo-nos conta de que a nossa vida não é só nossa, parte dela pertence aos que partilham o nosso caminho. As nossas decisões, sejam elas quais forem, irão assim ter um impacto directo nas suas vidas.
O mundo é um grande emaranhado de relações inter-pessoais.
Viver em função dos outros, sejam eles quem forem, é na minha opinião um erro.
Não os ter em consideração, também.
Como tal, impõe-se uma noção de responsabilidade e o recurso a toda a sensatez que consigamos encontrar dentro de nós.  

Se formos completamente verdadeiros, com nós próprios e com os outros, por muito que isso nos possa custar, as coisas serão na realidade mais fáceis. Estas questões já são suficientemente difíceis de destrinçar, de encarar, sem que tenhamos de acrescentar factores externos que as venham complicar mais ainda. Se chamarmos os bois pelos nomes, se pegarmos o touro pelos cornos, se não taparmos o sol com a peneira, chegaremos muito mais facilmente a conclusões.

Costuma-se dizer que só nos arrependemos daquilo que não fazemos…  subscrevo… só me parece no entanto válido para as decisões tomadas com base na cobardia, no medo de enfrentar um futuro desconhecido que, por alguma razão, na altura nos assusta.
De resto, certezas nunca as teremos, e há que viver com as consequências das nossas escolhas. 
Se as tivermos feito em consciência, dando ouvidos tanto à razão como ao coração, abraçaremos em paz o caminho que escolhemos e conseguiremos olhar com serenidade e sem arrependimento ou azedume para o que não seguimos.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Vai-se andando…

COM MÚSICA





- Como estás?!
- Vai-se andando…
Um clássico.

“Vai-se andando”, é assim uma espécie de “nem bem, nem mal, antes pelo contrário”… é o cinzento neutro, a sopa sem sal, o chá morno…
Faz-me sempre pensar no deserto… andando… sem rumo, sem destino, sem objectivo… até encontrar um oásis, um camelo, a morte por desidratação.
Esta resposta transmite um espírito derrotista, conformado, apático, dificilmente a ouvirão da boca de um “lutador”.

Como todos sabemos, a vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras vezes para baixo. Tentem lá mantê-los numa posição intermédia para verem… lol
Assim, consoante o momento em que a pergunta for feita, estaremos bem ou mal, em diversos graus de intensidade.
Se pensarmos na dor física, por exemplo, ou a temos ou não temos. Esta pode ser mais forte ou mais fraca, mas dificilmente alguém responderá que está “mais ou menos” a sofrer.

“Algumas pessoas julgam que ser forte é nunca sentir dor. Na realidade, os mais fortes são aqueles que a sentem, compreendem e aceitam.”

O sofrimento, tal como o prazer, faz parte da vida, assumi-lo não é fraqueza, não é vergonha.
Não é necessário que desbobinemos toda a nossa vida a qualquer pessoa que pergunte, a alguns basta transmitir de alguma forma a noção de que possamos não estar nos nossos melhores dias.
A maior parte das pessoas, perante esta revelação de fragilidade, mesmo que não possa ou queira fazer nada por nós, terá pelo menos algum cuidado para não piorar a situação o que, convenhamos, é bastante providencial nessas alturas.

Este assumir dos nossos sentimentos, dos nossos estados de espírito, o chamar os bois pelo nome, tem ainda outra grande vantagem.
Não é fácil “mostrar a barriga”, assumir uma posição de vulnerabilidade… é portanto bom que nos sintamos efectivamente assim se o formos transmitir a terceiros.

Ora a realidade é que, mesmo no meio de uma fase difícil, se nos dermos ao trabalho de lhes prestar atenção, passamos por momentos em que a dor ou a aflição abrandam e nos deixam respirar.
Esses são definitivamente momentos bons, chamemo-los assim, não assumamos uma postura calimérica.
O mais engraçado é que, este tipo de atitude, acaba por efectivamente nos ajudar a dar valor ao que de bom a vida nos vai dando, desdramatizando as questões e reduzindo drasticamente os momentos em que nos sentimos realmente no fundo do poço.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

O que tem de ser, tem de ser e o que tem de ser, tem muita força

COM MÚSICA



A vida não é um mar de rosas
Nem sei quantos posts terei eu começado com esta frase mas parece-me sempre bem insistir, talvez para aqueles que continuam a achar que, se não é, deveria ser.

Volta não volta, somos confrontados com situações que doem, que doem pra caramba…
Fazem parte, vêm com o pacote, não há como evita-las, resistance is futile.
Da forma como lhes dermos a volta, dependerão a duração e intensidade do sofrimento.
Seja qual for a questão, há sempre decisões a tomar e uma postura a adoptar.

Esta última tende, no primeiro impacto, a ser de “coitadinhos” cheios de autocomiseração.
Depois do choque inicial parece-me no entanto mais do que natural carpirmos as nossas mágoas, sendo inclusivamente, na minha opinião, extremamente saudável que o façamos.
Aquela ideia de “homem não chora” (aplicada neste caso figurativamente e relativamente a ambos os sexos) parece-me completamente idiota se considerarmos o alívio que pode proporcionar.

Ainda me estou a ver, há tanto tempo que quase parece noutra vida, frente a frente com o homem com quem vivia, literalmente a chorar baba e ranho.
“Mas és tu que te queres separar…” dizia-me ele com ar perplexo.
“Pois sou, eu sei… mas isso não quer dizer que não me custe!”
O facto de estarmos convencidos de que tomámos a decisão certa, em pouco ou nada muitas vezes atenua a dor nos primeiros tempos.

Para quem está de fora e, azar dos azares, seja apanhado no enredo nesta fase, menosprezar essa dor será garantidamente a pior maneira de ajudar. É como, quando caímos e nos aleijamos, tentarem levantar-nos logo. As pessoas precisam de um tempinho para recuperar, para conseguir reagir, não é espectável que levem uma porrada valente e sigam caminho como se nada fosse.
Carinho, compreensão e empatia são assim os primeiros socorros aconselhados.

Se esta primeira reacção é perfeitamente natural é também, por outro lado, absolutamente indispensável que não desliguemos o cérebro e que nos comecemos, o mais rapidamente possível, a fazer à ideia.
Fazer-se à ideia como o avião se “faz à pista”, para poder fazer uma boa aterragem.

Tipicamente, as primeiras coisas que nos vêm ao espírito em momentos críticos são as “más”, as dificuldades, cabe-nos a nós encontrar as boas, que TODAS as situações têm.
Perguntaram à Elle Macpherson: “Como encara a ideia de envelhecer?” Pergunta muito pertinente, a meu ver… como enfrentará efectivamente “The body” a questão das rugas e das peles flácidas? A sua resposta foi surpreendente: “Acho fantástico… já pensou na alternativa?!” Always look at the bright side of life, já diziam os Monthy Python.

Uma das minhas amigas de infância morreu há pouco tempo de cancro. Apesar de altamente recomendada pelos médicos, recusou-se terminantemente a fazer uma mastectomia.  Ainda por cá andaria se a tivesse feito? Quem sabe… O que se sabe efectivamente é que a sua postura perante a doença foi negativa do princípio ao fim, nunca tendo efectivamente ultrapassado aquela fase inicial de que falava à pouco.

Dito isto, o que fazer então para encarar de forma positiva e saudável, situações difíceis e dolorosas?

O primeiro instinto é tentar fugir da dor. Na maior parte das vezes, não só não o vamos conseguir, como estaremos na realidade com isso a prolonga-la. Se temos de perder um braço, que seja de um golpe rápido e limpo, não o arranquemos devagarinho.
Tapar o sol com a peneira não nos ajuda em nada, enfrentemos o touro pelos cornos.

Como em tudo na vida, sendo que nestes casos mais importante ainda é, encaremos um dia de cada vez. Se olharmos para o todo, para o topo da montanha, desmoralizaremos. Lidemos com as situações conforme se forem apresentando, sem fazer filmes, sem sofrer por antecipação.

Ganhar a noção de que, por muito má que possa ser a situação, podia ser muito pior ainda, também ajuda enormemente. Desdramatizar, relativizar, as situações, é o primeiro passo para as ultrapassar.
Se vez de chorarmos no ombro de quem parece estar em melhor situação, oferecermos o nosso a quem esteja pior, poderá ser uma excelente terapia.

Fazer por dar valor a todo e qualquer pequeno detalhe positivo que a situação nos possa trazer. Ignorar o facto que se temos isto foi porque perdemos aquilo e apreciar e aproveitar plenamente a parte que nos agrada.

Não tentar enfrentar tudo sozinhos, aceitando a ajuda e apoio que nos oferecerem. Compreender que ao longo do percurso iremos ter altos e baixos e que isso é perfeitamente natural. Não encarar momentos pontuais de fraqueza como “recaídas”.

Finalmente, usar sempre a cabeça para raciocinar e o coração para nos guiar.

Como se costuma dizer, o que não nos mata torna-nos mais fortes. ;)




terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nenhuma situação é tão má que não a consigamos ainda piorar.

COM MÚSICA


Não vivemos tempos fáceis, não senhores… este mundo está virado do avesso, em mais do que um sentido. Reinam as dificuldades, a angústia, a insegurança, o descontentamento. Estamos, sem a mínima sombra de dúvida, a viver um período muito negro da história da humanidade. Dificilmente alguém conseguirá passar ao lado de uma situação destas despreocupadamente e de ânimo leve, sendo perfeitamente legítima a sensação de extrema gravidade do estado das coisas.

Nos últimos tempos têm-me vindo frequentemente à cabeça filmes pós-apocalípticos.
Valores e princípios parecem diluir-se nos ácidos da crise. É o vale tudo, o sai da frente, o salve-se quem puder. Os momentos de aflição sendo quando melhor se vê de que barro cada um é feito, demonstrando que não passam de bichos falantes, alguns transformam-se agora em animais irracionais e agressivos.
Enfim… o karma certamente se encarregará de equilibrar todas essas situações.

Mas o que certamente não ajuda e, por muito que tente, não consigo mesmo, mesmo, compreender, é a postura geral relativamente ao estado das coisas. Por que raio as pessoas continuam a puxar-se umas às outras para baixo em vez de contribuírem para levantar o moral. Não consigo entender em quê que esta propagação do desespero possa ajudar seja quem for.

Para vos dar um pequeno exemplo concreto; um amigo meu mudou recentemente a foto de perfil do facebook… colocou uma imagem de sobrolho franzido, com cara de caso, que grita “estou muito preocupado e nada optimista”. Esta expressão perturba-me ainda mais do que o facto de há já algum tempo não postar sobre qualquer outro assunto.

Muitos estão neste momento em real sofrimento, num estado emocional debilitado e, em vez de lhes ser transmitida energia positiva, não param de ouvir como as coisas estão más, como vão provavelmente piorar ainda.
Estejam onde estiverem, não conseguem deixar de ouvir estas vozes, de ver estes semblantes carregados, que sufocam qualquer sopro de esperança. Que vez de procurarem os pontos positivos que existem em qualquer situação, as potenciais boas notícias, as pequenas melhorias que possa haver, só falam dos aspectos negativos. Que em vez de citarem exemplos de situações semelhantes que foram ultrapassadas, apresentam cenários dantescos e premonições do que de mau pode ainda estar para vir.

É o que se sente neste momento por todo o lado.
Uns, em vez de tentar levantar o moral geral, não param de agoirar e de por achas na fogueira. Os outros partilham maleitas que nem velhas no posto médico, fazendo concursos de miséria.
Todos parecem esquecer ou desprezar as coisas boas que ainda têm.

Não há vida para além da crise? Nunca vamos sair do buraco? O nosso destino é continuar a ir de mal para pior?
Então e a esperança de um futuro melhor, morreu?!
Que tal começarmos a falar disso também?!
E, se possível, com um sorrisinho na cara... meio sorriso, vá… ;)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Os maus da fita

COM MÚSICA





Os contos infantis, os filmes, os desenhos animados, as BDs, apresentam-nos geralmente um mundo que se divide entre bons e maus. Depois, conforme vamos crescendo, vamos descobrindo tons de cinzento e abandonando esta noção tão radical das coisas.
Pergunto-me no entanto seriamente hoje em dia se não será mesmo essa a visão correcta…

É sabido que infelizmente existem seres humanos (?!) que mais parecem ser a própria maldade encarnada, pedófilos, torturadores, serial killers… não é evidentemente desses que trata este post mas de gente com quem potencialmente todos convivemos no dia-a-dia.

A verdade é que há realmente pessoas relativamente às quais a avaliação é quase sempre negativa. Que, ao longo das suas vidas, pouco ou nada contribuem para que haja paz e harmonia entre seres humanos, antes pelo contrário. Que vivem em função dos seus próprios umbigos, sem qualquer noção de empatia ou compaixão. Para quem há sempre duas bitolas, uma para si e outra para os outros. Que magoam, humilham, agridem, espezinham, sem hesitar, sem pensar duas vezes, sem se questionarem, sem se arrependerem.

No entanto, contrariamente à ficção, em que se topam à légua, na vida real não costumam ter feições diabólicas nem pontuar os seus actos com um“muhahaha” maléfico, tornando-se assim mais difíceis de identificar.

O contacto continuado com estes indivíduos comporta dois grandes perigos; o risco latente de a qualquer momento nos podermos transformar em alvo e o de, por mimetismo, nos virmos a portar da mesma forma que eles.
Quanto ao primeiro ponto, não há grande coisa a dizer, relativamente ao segundo precisamos de ter muito cuidado.

Como me disse certa vez uma pessoa, no seguimento de uma separação: “Ele fazia vir ao de cima o que de pior há em mim”.
O ditado popular afirma que quem anda com um coxo, fica coxo. E notem que o “andar” não implica uma relação amorosa, bastando qualquer tipo de proximidade.
Nem todos tendo os genes da madre Teresa, portarmo-nos “bem” não sai naturalmente, requer trabalho, esforço, empenho e como toda a gente (sobretudo os que são pais) sabe, os maus hábitos adquirem-se com muito mais facilidade. A questão é que estas pessoas adoptam más atitudes com tanta naturalidade que estas às tantas já quase que nos parecem “ok”.

Não acredito que consigam ser realmente felizes, pois a felicidade passa, na minha opinião e entre outras coisas, por uma boa integração social. Concebo que tenham momentos, picos de felicidade, mas não que consigam atingi-la de forma estável e duradoira.
Problema deles, não fora minarem também a nossa.

Assim, uma vez identificados, o afastamento, tão rápido e tão grande quanto possível, destas criaturas das trevas e tudo o que lhes diga respeito, contribui enormemente para o nosso bem-estar. Uma “dieta” livre destes seres que nos fazem mal à alma sendo tão importante como deixar de consumir alimentos aos quais sejamos alérgicos.





domingo, 16 de setembro de 2012

A morrer…

COM MÚSICA


O único rapaz que alguma vez me “pediu namoro” está a morrer, foi-lhe diagnosticada uma esclerose lateral amiotrófica, tem entre 2 a 5 anos de vida.
A primeira coisa que senti ao saber foram remorsos, por ter gozado com ele há mais de trinta anos, aquando do caricato episódio. Depois tive vontade de o ver, de estar com ele. Finalmente, dei-me conta do ridículo de tudo isto.
A realidade é que, apesar de gostar dele, mal conheço o Miguel. É filho de amigos da minha família, que conheço desde que nasci é certo, mas com os quais pouco contacto tive ao longo da vida.
Por razões que não me recordo, houve um verão em que nos demos bastante mas, como já devem ter percebido, não houve namoro nenhum nem qualquer outro tipo de convívio posterior, a nossa relação tendo começado e acabado ali.
Voltei a encontra-lo há meia dúzia de anos. Não me pareceu lembrar-se de mim quanto mais do embaraçante pedido.

Perante esta morte anunciada pus-me então a pensar em quantos não nos irão deixar antes dele… ou mesmo se eu própria estarei por cá nessa altura para o acompanhar à sua última morada.
É que não ter data marcada não é de todo sinónimo de imortalidade, embora às vezes pareçamos esquecer-nos disso. No outro dia a minha mãe começou uma frase por “Se eu morrer…” e é assim que vivemos, a confundir o “se” com o “quando”.
Acontece que estamos todos “a morrer”, desde que nascemos.

O morto no caixão parece transformar-se imediatamente num “gajo porreiro”, quer o tenha efectivamente sido em vida ou não. Suponho que se deva ao facto de só querermos guardar como recordação o lado positivo de cada um.
Da mesma forma aqueles que, em vez de nos serem arrancados de repente, têm ocasião de olhar a morte nos olhos, gozam de estatuto privilegiado.
Na antecipação da sua perda, tendemos a perdoar-lhes coisas que não tínhamos perdoado, a dizer o que estava por dizer, a demonstrar sentimentos que até então esperávamos que adivinhassem. Ou seja, como bons humanos que somos, só começamos realmente a tratar dos assuntos quando se aproxima a “deadline”.

As pessoas não são melhores nem piores, mais ou menos relevantes nas nossas vidas, por estarem perante uma morte iminente e a nossa relação com as mesmas não deveria mudar em função disso.
O meu avô lutou com o cancro durante quinze anos tendo-nos todos preparado para a sua morte, incluindo a minha avó… que morreu atropelada dois ou três anos antes dele.

Meus amigos, a vida é aqui e agora. Se gostam de alguém digam-lhe, mostrem-lhe. Se têm assuntos inacabados, tratem deles. Se estão coisas por dizer, digam-nas. Acima de tudo, não só não percam a oportunidade como façam por passar tempo com aqueles que são importantes para vocês, porque não é preciso um diagnóstico negro para que eventualmente já não estejam por cá amanhã. E a realidade é que aquilo por que acabamos sempre por nos arrepender, não é dos erros que cometemos pelo caminho mas das coisas que deixámos por fazer.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

.................

COM MÚSICA


Pela primeira vez na história deste blog apaguei um post... 
Era um post nhéééééé, quem eventualmente o tenha chegado a ler estará certamente de acordo comigo.
Não o fiz para desdizer o que tinha dito mas simplesmente porque, desde que o publiquei, que andava a remoer o facto deste ter sido um mau recomeço, um mau post.

O que é um "bom" post?!
Simplesmente um que acabe de escrever e pense "este saiu-me bem"... só isso.
Se depois vocês concordam ou não comigo já é problema vosso... lol


No fim do mês passado anunciei o meu regresso (fiz mal, voltava e pronto...), desde esse momento que voltei  a sentir a pressão da tal "obrigatoriedade" de publicação, que não existe senão na minha cabeça. 

Escrevi um post que não cheguei a publicar, porque não era dos mais positivos e não queria recomeçar nesse tom. Escrevi depois o tal outro, que saiu a ferros, depois de muito penar (nestes meses de pausa aparentemente perdi a fluidez na escrita) e no qual acabei por me baralhar toda, tendo virado não sei quantas vezes de direcção pelo caminho.

Como se prova, com a maior facilidade (e apesar das nossas afirmações em contrário), voltamos a cair nos mesmos erros. Pouco mais de uma semana depois de apregoar que as coisas iam mudar, já estava tudo na mesma outra vez. ;)

Mas não faz mal, o que é preciso é estar atento e fazer rapidamente marcha atrás. 
Assim, quando me sair alguma coisa de jeito  logo a partilharei convosco. ;)




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

I'm back!!! :)))

COM MÚSICA




Olá cá estou eu, depois da maior pausa que alguma vez fiz neste blog.  ;)
Parei basicamente por duas razões…

Primeiro porque, sentindo-me (vá-se lá saber porquê, dado que não tenho nenhum contrato a cumprir…lol) na “obrigação” de escrever com uma certa regularidade, o que fazia geralmente todas as semanas tirando raras excepções, o empenho e gozo na escrita e consequente qualidade dos posts variavam muito.
Assim, alguns escrevi mesmo só para “encher chouriço” o que nunca foi o objectivo, se é que existe algum, deste blog.
Por outro lado, mesmo em momentos de inspiração, a verdade é que isto me dava um trabalho do caraças e era terrivelmente time consuming.
Não fazem ideia das horas que passava ás vezes à procura da música “certa” para um post, frequentemente até mais do que a escrevê-lo, o mesmo se passando com a(s) imagen(s).
Ou da quantidade de vezes que relia o que escrevia, que o refraseava, tentando não ofender ninguém ou deixar grande margem para mal entendidos.
Resumindo, andava-me a pesar e a “roubar” demasiado tempo.

Concluí no entanto, durante estes meses de pausa, que não era forçoso que as coisas assim fossem.
Logo, a partir de agora, só haverá Sopa quando me der na real gana, podendo esta ser uma consistente Sopa da Pedra ou um ligeiro Consomé. ;)
Vou passar a ser (ainda) menos politicamente correcta, se não gostarem não leiam, que cada vez estou mais avessa a papas na língua.
Quanto aos mal entendidos, paciência, por muito cuidado que tenha sempre hão de acontecer. É também para isso que os “comentários” existem e, se se manifestarem, posso sempre tentar clarifica-los.
Finalmente, se me surgirem espontaneamente ideias de músicas e/ou imagens óptimo, senão sempre  poderei eventualmente acrescenta-los mais tarde ou nem por isso.  lol

Nota: A música, quando existir, deixará de passar automaticamente, para evitar a cacofonia assustadora que nos assalta quando clicamos numa “etiqueta” desatando todas a tocar ao mesmo tempo.
Assim, se a quiserem ouvir, terão de passar a carregar no “plei” lá em baixo. ;)
Prometo, quando arranjar um bocadinho, tratar do assunto nos posts antigos.

Mas houve outra razão que me levou a parar: estava zangada com o género humano.
Pois…
Sabem aquelas afirmações do género “quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais”?! 
Deu-me uma coisa dentro desse género.
Acontece que acredito, do fundo do meu ser, que a “salvação” do bicho homem passe por muitos dos princípios e ideias que por aqui vou transmitindo.
Notem que não inventei a pólvora, estando eles presentes, julgo eu, em qualquer religião e tendo vindo a ser defendidos por todo o tipo de gente, desde o princípio dos tempos.
Constatar que não são nem pouco mais ou menos postos em prática pela esmagadora maioria das pessoas, embora muitas delas não se coíbam de os apregoar, dá-me a volta ao estômago.
Desmoralizei, entrei numa fase derrotista em que achei que não valia a pena continuar a “pregar”.

Já recuperei no entanto forças e não só quero como preciso de voltar a escrever, senão por vocês queridos leitores, pelo menos por mim.
Dei-me subitamente conta de que estava a abandalhar, a dar menos atenção ao meu eu, àquilo que quero ser.
Estão a ver a diferença entre quando estamos sozinhos em casa e quando recebemos visitas?! É uma coisa do género mas relativa à  psique… lol
Assim percebi que, por uma questão de coerência, me sinto comprometida a viver segundo aquilo que aqui apregoo e que, se não escrever, também me torno preguiçosa e badalhoca a pensar e entro numa de deixa andar.
Ora, como toda a gente sabe (ou talvez não), a felicidade não cai do céu, é preciso querer muito tê-la e dá muito trabalhinho, on a daily  basis, a manter. 
Se a descurarmos, vai-se embora.

E nós não queremos isso, pois nãããooo?!
Bem vindos então a esta nova panela de sopa. ;)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Cada coisa a seu tempo...

COM MÚSICA


No fim-de-semana passado houve a festa anual da escolinha do mê filhote…pré-primária e primeiro ciclo no Sábado, Sarau dos mais crescidos na Sexta à noite.
Da mesma forma que não acho graça a bebés (sim, sou um monstro…), confesso que nunca achei grande piada a este tipo de espectáculos, que acabo por suportar mais do que apreciar. Maternidade a quanto obrigas… lol

O Pedro ainda só estando no 4º ano, não tinha nenhuma “obrigação” de presença nesse dia, decidi no entanto também ir na Sexta-feira, pois o meu sobrinho querido do meu coração, já “mais grande”, ia tocar.
Preparei-me portanto para uma seca com putos com uns centímetros a mais do que os outros.

Pois que fui agradavelmente surpreendida e adorei! ;)
Foi, na realidade, um espectáculo de “variedades” bastante bem apresentado, em que os miúdos tocaram, cantaram, dançaram, tudo isto com um guarda-roupa e umas coreografias giros e música à maneira.
Não foi comparável àquelas apresentações fantásticas que estamos habituados a ver nas séries e filmes americanos, mas também não envergonhou ninguém.

Mas o que mais me empolgou, para dizer a verdade, foi o ambiente que por ali reinava. Não sei se terei olhado mais para o palco ou, feita mirone, para aquela fauna que me rodeava.
De repente senti-me transportada para o passado, como que numa maquina do tempo. Tal como o Pierre de “Les choses de la vie”  revivi mentalmente a minha própria adolescência, voltando-me à memória pessoas e situações, há muito abandonadas no sótão das recordações.

Aquela ilusão de que já sabemos/percebemos tudo, a rebeldia e irreverência naturais da idade, os primeiros passos a caminho da independência. A quase absoluta falta de responsabilidades, de reais preocupações, de encargos. As festas “de garagem”, os primeiros copos, as primeiras bebedeiras. Os grupos, a “melhor amiga”, os flirts, as paixões. O despontar da sexualidade, o primeiro beijo, a curiosidade, a intensidade, a experimentação, a consumação. A firmeza das carnes, a lisura da pele, a inesgotável energia. Aquela fantástica sensação de estarmos ainda a começar o resto da nossa vida…
Tudo isto voltei a sentir na pele naquela noite.
E tive saudades, muitas saudades…

Mas depois, alguma coisa me chamou de volta à terra e senti também o reverso da medalha.
Os ups and downs de emoções, com picos fantásticos mas também terríveis buracos negros. A sensação de que tudo é a preto e branco, as pessoas ou são boas ou más, as situações maravilhosas ou absolutamente terríveis, os sentimentos extremos, em que tão depressa adoramos como odiamos. Os medos, as inseguranças, as depressões. A noção de que não temos a vida nas mãos, de que muitas das decisões que nos dizem respeito não são tomadas por nós. Aquele mal estar de nos sentirmos desadaptados, de já não sermos crianças mas também ainda não sermos adultos, sem que saibamos bem onde nos enquadramos.

Tive então a nítida noção de que, se pudesse, não voltaria atrás.
Como dizia o José Mário Branco, “eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar…” ;)
Sim, tenho cabelos brancos, rugas e as peles flácidas e volta não volta começo a parecer-me com o Condor… com dor aqui, com dor ali… A idade não perdoa. lol
Sim, já tenho muito provavelmente menos tempo de vida pela frente do que pelas costas e, fisicamente, a sua qualidade só tenderá a decair.
Mas céus, como me sinto melhor do que naquela altura!!!

Não consigo sequer imaginar-me a passar outra vez por tudo aquilo por que tive de passar para conseguir chegar onde estou. Não é de todo fácil, ou pelo menos para mim não foi, atingir a paz de espírito que sinto hoje em dia. Bati muito com a cabeça nas paredes, cai e levantei-me várias vezes, sofri, fiz sofrer, e foi tudo isto, sentido na pele, que me permitiu aprender.
Repetir?! Não, obrigada.
Já dei para as montanhas russas, agora quero é sossego… lol









sexta-feira, 6 de abril de 2012

Minha vida, minha responsabilidade

COM MÚSICA


A esmagadora maioria das coisas que nos “acontecem” na vida são consequência, directa ou indirecta, dos nossos actos.
A todo o momento somos confrontados com pequenas ou grandes decisões que irão determinar o nosso caminho. Tudo aquilo que fazemos ou dizemos ou, pelo contrário, optamos por não fazer ou dizer, irá de alguma forma alterar o nosso futuro.

Embora, dito assim, isto possa parecer uma verdade de La Palice, a realidade é que muitos não se dão realmente conta de até que ponto a sua vida está efectivamente nas suas mãos.

Muitas destas causas/consequências são difíceis de analisar, há no entanto quem nem sequer se dê ao trabalho de o tentar fazer.
As pessoas não gostam geralmente de falar em “culpas”, a realidade é que muitas das coisas que nos acontecem são “culpa” nossa, sim, de uma forma ou de outra.
Alguns conseguem ver isso claramente, outros sacodem a água do capote e culpam o Cavaco, o Socrates, o vizinho, o tempo, a sorte… ;)

Era bom que conseguíssemos constantemente ter a atitude correcta, fazer a escolha certa, dizer a coisa adequada… infelizmente e por variadíssimas razões nem sempre assim é. Afinal de contas “errar é humano”.
Podemos ter mil e uma desculpas, justificações, atenuantes, para a merda que fazemos, mas uma coisa é quase certa, se não a encararmos como tal, é meio caminho andado para a repetirmos.

Identificar e assumir a responsabilidade pelos nossos actos parece-me portanto uma postura fundamental para que possamos evoluir e evitar futuros erros.
Apesar de também o considerar importante, não estou a falar de assumir perante os outros mas, sobretudo e antes do mais, para nós próprios.

O meu filho comeu lindamente até ao ano de idade, altura em que tudo mudou drasticamente e cheguei a pô-lo na cama há noite com um Danoninho no bucho, sem que tivesse comido mais nada o dia inteiro.
Stressei pra caraças transformando assim a hora das refeições num verdadeiro inferno, tanto para mim como para ele.
Quando me dei conta do meu erro, o mal já estava feito e só agora, com a sua entrada na pré-adolescência, a situação está a melhorar.
Podia simplesmente concluir que era um pisco e encolher os ombros.
No entanto, embora não tenha sem dúvida provas disso, estou profundamente convencida de que foi a minha atitude que gerou este mini-drama.
Assim, se tivesse tido outro filho, teria certamente reagido de uma forma totalmente diferente, para tentar evitar este tormento que durou quase dez anos.

Todos conhecemos certamente casos de pessoas que, no tempo das vacas mais rechonchudas, tinham uma rica vida e estão neste momento a fazer mais furos no cinto. Algumas delas, no entanto, viviam nitidamente acima das suas possibilidades, acumulando créditos ou dívidas. Agora culpam a crise. Ou pais que se descartam completamente da educação dos filhos e depois culpam a escola. Gente que se envolve sucessivamente com as pessoas “erradas” e depois culpa o outro da relação não ter dado certo. Malta que anda sem cinto de segurança ou capacete e depois culpa a mancha de óleo na estrada. Etc, etc, etc…

Não temos sem dúvida total controlo sobre as nossas vidas, não conseguimos prever tudo, não podemos garantir de antemão que estamos no caminho certo.
Podemos no entanto analisar os nossos erros e tentar não os repetir.
Só o conseguiremos no entanto fazer se os assumirmos como tal e aceitarmos carregar nos ombros a responsabilidade das suas consequências.




quinta-feira, 29 de março de 2012

Saber ajudar

COM MÚSICA



Todos nós, volta não volta, precisamos de ajuda.
Não é no entanto qualquer um que consegue, efectivamente, ajudar e uma ajuda “mal dada” pode inclusivamente tornar-se contraproducente.

Aquilo que me parece de longe mais importante, quando nos propomos a ajudar alguém, é que estejamos de facto dispostos a fazê-lo.
É um duro golpe contarmos com alguma coisa e puxarem-nos o tapete debaixo dos pés. Expectativas goradas causam desalento, o que é certamente a última coisa de que essa pessoa precisa.
Infelizmente, muitos propõem ajuda porque é simpático fazê-lo, porque é costume em determinadas situações, porque se deixam levar pela emotividade do momento, sem que no entanto, consciente ou inconscientemente, tenham uma real intenção de a fornecer.

O contrário também se aplica. Ás vezes as pessoas precisam simplesmente de desabafar, sem que isso implique qualquer acção da nossa parte.
Arregaçar as mangas e começar a engendrar soluções pode ser extremamente invasivo.

Outra coisa que me parece fundamental é termos a noção de que todos somos diferentes.
A outra pessoa pode ter princípios, ideias, crenças, convicções, etc que não partilhamos, sendo no entanto importante que as respeitemos.
Por outro lado, cada um de nós tem as suas próprias limitações. O facto de, perante determinada situação, nos sentirmos capazes de tomar esta ou aquela atitude, não quer dizer que o outro também o consiga fazer.
Ou seja, não podemos esperar que o outro reaja como nós o faríamos e convém que configuremos a nossa ajuda tendo em conta as suas características. Sugerir-lhe que faça algo que vá contra aquilo que é ou aquilo de que é capaz só irá afligi-lo ainda mais.

Para que surja vontade de ajudar alguém, essa pessoa tem de nos dizer alguma coisa, temos de ter com ela algum tipo de empatia.
Empatia em excesso, em momentos de crise, parece-me no entanto ser mais prejudicial do que outra coisa.
As dificuldades da vida trazem uma carga emocional associada, não é útil partilha-la.
Alguns dos problemas que surgem nessas alturas são a perda de visão clara sobre os factos, o raciocínio turvo, uma parcialidade exacerbada.
Ora se vestirmos completamente a pele do outro, seremos afectados pelo mesmo handicap.

Quem está de fora, tende a ver as situações com mais clareza.
Se por um lado me parece fundamental que alerte o outro sobre detalhes que lhe possam estar a passar ao lado, fazê-lo em excesso só irá servir para causar angústia.
Há pessoas que, na sua desesperada tentativa de ajuda, divagam sobre potenciais dificuldades futuras cuja consideração em nada irá ajudar a resolver a situação presente. Um extenso leque de “ses” só indo baralhar as tomadas de decisão.

Ninguém é perfeito ou dono da verdade e, quando analisamos as situações, damos conselhos, propomos soluções, estamos sempre sujeitos a falhar, a que estes não sejam os ideais para a situação concreta.
No entanto, e apesar dessa hipótese, dizer ao outro aquilo que muitas vezes sabemos que ele quer ouvir, em vez daquilo em que realmente acreditamos é, na minha opinião, um erro. Por muito difícil que seja ouvir ou dizer certas coisas, quando julgamos que o outro está a seguir pelo caminho errado, devemos dizer-lho.

Finalmente, ajudar não costuma ser fácil.
Física e/ou psicologicamente sai-nos do coiro, desgasta, cansa, chupa energia, rouba tempo. Pontualmente temos de pôr a nossa própria vida em pausa para tentarmos ajudar a desembrulhar a dos outros.
Mas… what goes around, comes around… e se não o fizermos, como podemos esperar que alguém um dia o faça por nós?! ;)



quarta-feira, 21 de março de 2012

Querer e poder…



A generalidade das pessoas tem uma noção bastante clara do que pode ou não, legalmente, fazer. A maioria delas tenderá a cumprir a lei.
Muitas das coisas consideradas ilegais estão ao alcance de qualquer um, só não as fazemos porque, apesar de na prática podermos, sabemos que não devemos fazê-las…

No que diz respeito às questões morais, o caso muda completamente de figura, muitas pessoas se dando ao luxo de ter atitudes de bradar aos céus.
Passo a exemplificar.

No painel de controlo da rede do LF, há um assustador botãozinho que diz “delete network”. Só eu tenho acesso ao mesmo, fui eu que criei o site, sou eu que o giro.
Posso então, se me der na real gana, clicar-lhe em cima, certo?!
Posso, a Ning  diz que sim…
Ou será que não é bem assim?
Criei aquele site na brincadeira, sem a mínima noção daquilo em que se viria a transformar. Fui ultrapassada pelos acontecimentos, a coisa tendo tomado proporções completamente desmesuradas.
Poderia ter (descansem amiguinhos, que não tenho…lol) mil e duas razões, perfeitamente válidas, para querer vê-lo pelas costas, livrar-me dele.
No entanto, apaga-lo é a última coisa que me sinto no direito de fazer.
Apesar de o ter “gerado” ele não é meu, ganhou vida própria, é de todos e de cada um dos seus membros. Cada um lá depositou, pouco ou muito de si, ninguém podendo deitar isso para o lixo, como se não tivesse qualquer importância.

Todos somos regularmente confrontados com casos de maus tratos ou abandono animal. Chegam ao nosso conhecimento actos atrozes, de revolver o estômago, que nos fazem duvidar da humanidade de certos indivíduos e perguntar quem será efectivamente o animal.
Podem fazer essas coisas?
Podem.
Têm pés para dar chutos, punhos para esmurrar, facas para cortar, fogo para queimar, carros para os ir largar bem longe de casa, para garantir que não voltem. Tanto quanto sei, nada disto é punível por lei.
Os bichos não têm defesa contra as monstruosidades das bestas humanas, a sua única safa é não cruzar o seu caminho. Nem todos têm essa sorte.

Recentemente, vi no Facebook, um apelo relativamente a uma pessoa desaparecida. O texto tocou-me e a fotografia também, fiz portanto share do post.
Recebi posteriormente um aviso para não continuar a partilhar, pois tinha sido encontrada… morta.
Era muito bonita, jovem e… tinha dois filhos pequeninos. Suicidou-se.
Não irei certamente atirar a primeira pedra, não só porque não tenho conhecimento do que se passava na vida e na cabeça daquela pessoa como porque, como os meus leitores mais assíduos sabem, não tenho autoridade moral para o fazer.
Mas, podia?
Dois filhos, dificilmente se tem dois filhos por acidente, foram provavelmente desejados, amados, queridos e tragicamente atirados para a orfandade. Dois filhos por criar e desiste-se, decide-se que não valem o esforço de lutar por eles, seja lá contra o que for? É preciso não ter qualquer noção da gigantesca cicatriz que se lhes deixa em herança, da devastadora sensação de abandono que os irá perseguir por toda a vida.

Julgo que estes três exemplos sejam suficientes to make my point
Em qualquer uma destas situações, como em tantas outras, as pessoas têm a faca e o queijo na mão, podem efectivamente fazer estas coisas.
Podem, se se dispensarem de auto-crítica, autocensura, auto-controle, auto-estima, às vezes. Podem se não tiverem os outros, humanos ou animais, em consideração, se não se puserem no seu lugar, se não tiverem princípios morais sólidos.
Infelizmente, muitos só se inibem se também for ilegal…


COM MÚSICA

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dar a mão à palmatória

COM MÚSICA


Eu portei-me mal
Tu portaste-te mal
Ele portou-se mal
Quem nunca se portou mal, que atire a primeira pedra…

O que quero dizer com portar-se mal?!
Basicamente, agir contra os nossos próprios princípios.
Fazer (ou não fazer)  algo que normalmente criticaríamos nos outros.

Mais ou menos frequentemente, todos o fazemos e quem disser que não, mente com quantos dentes tem na boca.
Por muitos esforços que façamos para nos tornarmos pessoas melhores, por muito que tentemos viver segundo as nossas convicções, que estejamos alertas para que a teoria e a prática andem de mãos dadas… há sempre alturas em que metemos a pata na poça.

Porque estamos com o período, porque estamos doentes, porque sofremos de algum mal-estar, porque estamos chateados, porque estamos revoltados, porque estamos preocupados, porque estamos cansados, porque estamos stressados, porque temos a cabeça noutro lado, porque deixámos os nossos instintos levar a melhor, porque não pensámos antes de agir, porque acordámos com o pé esquerdo… porque, porque, porque… há sempre razões que explicam as más acções.
Explicam mas não justificam, nem desculpam.

Nem todos os seres humanos seguem o seu caminho no sentido de tentar melhorar a sua personalidade, o seu feitio, o seu relacionamento com os outros…
Não se iludam no entanto os que o fazem, a coisa nem é fácil, nem acontece de um dia para o outro. Não basta decidir mudar. Fazê-lo requer trabalho, perseverança, insistência.
Tal como para uma criança que aprende a andar, há muitos tombos à nossa espera.

Por outro lado, a demanda da perfeição (daquilo que na nossa cabeça é a perfeição), é uma perseguição inglória, uma utopia, é como tentar atingir o fim do arco-íris. Há sempre mais arestas a limar, mais campos a trabalhar.
Uma coisa é no entanto certa, sem a ajuda dos outros para nos abrirem os olhos e fazerem ver onde vamos errando, associada a uma boa dose de auto-crítica, não chegaremos a lado nenhum.

Um episódio recente inspirou este meu post…
Uma amiga pediu-me ajuda e lembrei-me de deixar um apelo no nosso sitezinho.
Quando me contactou no chat do FB, já era muito tarde e estava a tentar despachar uma série de coisas para me ir deitar. Tivemos uma conversa telegráfica, em que estupidamente não pedi detalhes, sendo consequentemente o meu apelo no dia seguinte bastante minimalista.

Qual não é no entanto o meu espanto quando, em vez das habituais mensagens positivas e solidárias, me deparo com uma pessoa que, ainda com menos conhecimento de causa do que eu, interpretou a coisa como lhe deu na real gana (com requintes de malvadez imaginativa, devo dizer) e julgou e condenou ali a minha amiga, sem dó nem piedade.

Mais estranha a ainda foi a reacção de outros que, perante esta atitude, foram a seguir pôr paninhos quentes, atribuindo a culpa desta crucificação aos computadores, à comunicação na net…

Um “filme” foi gerado na cabeça daquela pessoa, com base na informação deficiente que transmiti, as novas tecnologias não tendo qualquer responsabilidade no assunto. Retratou infelizmente uma pessoa que é exactamente o oposto da que conheço.
Não indagou, não quis saber detalhes, não deu o beneficio da dúvida antes de apontar acusadoramente o dedo…
Na minha humilde opinião, portou-se mal.

Acredito que, no seu íntimo, também ache o mesmo. Acredito que não aprove este tipo de reacção  precipitada e infundada. Acredito que dela se tenha de alguma forma arrependido.
Não foi no entanto o que deixou transparecer. Quando mais tarde lá fui deixar uma explicação mais completa do que se estava a passar, deu uma desculpa totalmente esfarrapada para justificar a sua atitude

Se não reconhecermos os nossos erros, se não os assumirmos como tais, dificilmente os conseguiremos corrigir, será difícil escapar a recidivas, amanhã voltaremos garantidamente, de uma forma ou de outra, a repetir “a graça”.
E se os outros julgam que nos estão a fazer algum favor em nos aparar os golpes, desenganem-se. A sua reacção é a nossa bitola, o espelho das nossas faltas. Validar uma postura negativa é ajudar a perpetuar o erro. Ajudem o próximo com a vossa crítica, não com a vossa permissividade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O amor é cego

COM MÚSICA



Or so they say…pessoalmente, acho que muitas vezes simplesmente não quer ver.

Pomos aqueles que amamos num pedestal, desviando instintivamente o olhar dos seus defeitos e imperfeições, como se tivéssemos medo que o facto de os encararmos como tal fosse de alguma maneira afectar o nosso amor.
Com eles tendemos a ser permissivos, tolerantes, pacientes, indulgentes, condescendentes, aceitando comportamentos que não toleraríamos de mais ninguém, arranjando geralmente forma de os justificar.
Perdoamos ao ente querido actos que provavelmente criticaríamos implacavelmente a terceiros, tornando-nos, parciais, tendenciosos e por vezes até injustos.

Ás vezes fazemo-lo por empatia, por nos reconhecermos neles, não tendo assim que os assumir como indesejáveis. Outras, pelo contrário, vão de tal forma contra tudo aquilo que somos, que preferimos renega-los completamente.

É muitas vezes difícil convencer uma mãe de que o seu filho cometeu efectivamente um acto danoso ou levar um amante a condenar uma atitude do outro, por exemplo. Esta negação, esta falta de visão, podem no entanto levar a amargos dissabores. Quem não conhece o caso clássico do casal que se separa, passando “o outro” de bestial a besta, do dia para a noite… do pai que "renega" o filho que comete alguma "atrocidade", perfeitamente previsível se o tivesse encarado com olhos de ver.

As pessoas não precisam de ser perfeitas para serem dignas do nosso amor, nada é perfeito, ninguém é perfeito, nem eles, nem nós. Parece-me portanto fundamental que as aceitemos tal como são, com todos os seus prós e contras bem definidos nas nossas mentes.

Um amigo nosso costumava dizer que “homem que é homem, papa miúdas feias… as giras qualquer um papa”. lol
Gostar de alguém apesar dos seus “senões”, parece-me muito mais positivo do que tapar o sol com a peneira e fazer de conta que não os tem.

Por outro lado, ingénua, iludida ou simplesmente parva, a verdade é que acredito que nos seja possível ajudarmo-nos mutuamente a ter uma postura mais positiva na vida.  
Se não identificarmos aquilo que consideramos pontos fracos no outro, não poderemos tentar abrir-lhe os olhos no sentido de tentar melhorar, não poderemos agir por forma a ajuda-lo a “trabalha-los”, o que iria possivelmente não só melhorar a sua qualidade de vida, como também a nossa.

Depois há as coisas que não se podem mudar e quanto a essas batatas, como se costuma dizer, “não há bela sem senão”.
O que me parece, no fundo, realmente importante é que se ame aquilo que o outro é efectivamente e não uma ilusão criada por nós. ;)



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O meu popó

COM MÚSICA



Quando vivíamos em Lisboa, tínhamos um só carro, que passava a maior parte do tempo estacionado à porta.
A mudança para cá fez com que tivéssemos de comprar outro, sendo impossível (que é como quem diz “muito chato”) viver por estas bandas sem locomoção própria.

Assim, estando já nessa altura as vacas muito magrinhaaas, comprámos uma biatura em segunda mão, num estado absolutamente miserável, pelo que nos fizeram um desconto considerável.
A aquisição transformou-nos em alegres proprietários de dois chaços velhos, mas perfeitamente funcionais. Que mais se pode querer?!

Os anos foram passando… as vacas continuaram a tender para o anoréctico… e os carritos foram atingindo as provectas idades de 14 e 19 anos.
O mais velhote, um Pagero, consideramos que tem a obrigação de durar “uma vida”. Assim vamoziu tratando com muito amor e carinho e continua aí para as curvas (e contra curvas e lombas e calhaus e praias de Porto Covo… hehe).

A Zafira, tadinha, vinha muntooo maltratada da antiga dona. Parecia um daqueles cãezinhos que se vão buscar ao canil para não serem abatidos… Nem vale a pena mencionar o que gastámos em veterinário desde que a acolhemos.
A realidade é que estava com um pé para a cova. Mais do que uma vez nos deixou a meio de uma viagem, recusando-se a prosseguir caminho. Nunca sabíamos se efectivamente chegaríamos ao destino, pelo menos na sua garupa.

Conclusão, comprámos um carro novoooooooo!!! :)))

Quando anunciamos isto, regra geral as pessoas comentam “estão ricos… a vida corre-vos bem…”
Pois que não e foi esta a razão que me levou a escrever um post sobre o assunto.  
Passo a explicar…

A primeira parte é “técnica” e talvez possa ajudar alguém com este raciocínio:
Basicamente, fiz uma pesquisa e cheguei à conclusão de que, a maioria dos carros de hoje em dia, consome metade do que gastava a negra besta.  
Depois de me informar sobre preços e ofertas de mercado, sentei-me a fazer continhas e cheguei à conclusão de que a diferença do que vamos gastar em gasolina é suficiente para pagar uma prestação a 96 meses.
Demos o chaço de entrada mas reservámos parte do dinheiro para pagar a primeira prestação, que é sempre mais cara por causa das despesas de processo.
Fizemos um seguro contra todos, a pagar mensalmente em vez de anualmente, diluindo assim a dolorosa.
E eis-nos felizes proprietários de um magnifico “Ferrari” C1 vermelhinho, lindo, lindo… :)))

Ok, passámos de cavalo velho para burro novo, é um facto.
Tínhamos um carro de sete lugares, com um porta bagagens onde dava para dançar o tango, computador de bordo e todo o tipo de mariquices, que substituímos por quatro míseros assentos (apertados), um porta-luvas traseiro e indicador de velocidade.
Mas, digo eu, mais vale burro a trotar do que cavalo morto. ;)

Sobretudo, é impressionante (apesar de estupidamente material) a lufada de ar fresco que veio trazer ás nossas vidas… A ilusão de prosperidade que proporciona. A sensação de que as coisas afinal não estão assim tão mal. Já sem falar da confiança no veiculo que nos irá transportar.

Não comprava um carro novo há 25 anos!
Já não me lembrava do cheirinho, dos tapetes imaculados, da carroçaria a brilhar… quando o fui buscar estava tapado com um feltro para não lhe porem dedadas… lol
O nosso filhote tinha imensa vergonha do nosso antigo “amolgado”. Sobretudo quando o estacionava na escola ao lado de outro igualzinho mas que não está colado com cuspo…
Hoje, quando o fui deitar, disse-me: “que bom, amanhã vou para a escola”. Quando estranhei a afirmação, explicou: “… no carro novo.”

Hoje é Natal cá em casa! :)))














sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Figuras Publicas

COM MÚSICA



A internet tem vindo progressivamente a transformar os seus utilizadores em “figuras públicas”.
Se não acreditam, Googlem o vosso nome e pasmem-se com os resultados. Scaryyy!!!

Antes de escrever este post fiz esse exercício e deparei-me, entre outras coisas, com um comprovativo de transferência do Barclays, para pagamento de um dos jantares do Liceu Francês…
Tudo ali escarrapachadinho, ordenante, nib, destinatário, valor, comissões (que fiquei a saber que o senhor não paga, tenho de me mudar para aquele banco), referência, data, etc…

Se dantes nos podíamos dar ao luxo de ser “cidadãos anónimos” agora, desde que frequentemos o ciberespaço, isso acabou.

Há muitos, muitos anos (mas já não era eu uma criança) escrevi um livro que se chama “Um baralho de cartas”. É uma história contada através de cartas enviadas a várias pessoas. A ideia por detrás do mesmo sendo que aquilo que contamos a cada um, assim como a forma como o fazemos, as expressões que utilizamos, etc, variam de indivíduo para indivíduo, de relação para relação.
Teoricamente é esta a base das relações humanas, a diplomacia, o respeito e consideração pelo outro, pelas suas ideias, pela sua postura perante a vida, sendo fundamentais para que haja entendimento e harmonia.

Com certas pessoas fazemos cerimónia, com outras refreamo-nos de partilhar algumas coisas, com alguns sentimos confiança para assumir todas as nossas idiossincrasias…
Esta gestão, aliada a um mínimo de bom senso, costumava ser fácil… Hoje em dia está-se a transformar uma tarefa titânica…
Na internet tudo fica registado, tudo fica visível, tudo fica acessível a qualquer um, tornando extremamente difícil a compartimentação daquilo que partilhamos com os outros.

A generalidade das pessoas julgo que ainda não se tenha realmente apercebido deste facto. Muitas pessoas partilham online detalhes das suas vidas privadas, sem noção de que não estão a escrever “para os amiguinhos”. Mesmo quando estão conscientes desse facto, muitos não pensam em todo o tipo de gente que os pode ler, ver, etc…
Assim, ás vezes sem sequer pensar duas vezes no assunto, dizem ou partilham coisas que podem de alguma forma mete-las em sarilhos.
Ao vivo, frente a frente, provavelmente não o fariam… não mostrariam certas fotos a determinadas pessoas, não fariam certo tipo de comentários, não contariam certas coisas, não utilizariam certo tipo de linguagem. Na net, esquecem-se, soltam-se e por vezes arrependem-se.

Quem navega na internet tem de se comportar como as “verdadeiras” figuras públicas. Tem de se resguardar, de se proteger, de evitar expor-se. Para além disso tem de estar disposto a assumir tudo o que faz, tudo o que diz, tudo o que divulga, perante seja quem for. Não é nada fácil.

Tomando o exemplo deste blog (ou de outro qualquer), não faço ideia de quem o irá ler. Pode ser a minha mãe, uma tia, a minha empregada, os meus vizinhos, um cliente, a professora do meu filho. Tenho portanto o máximo cuidado com o que digo.
Não quer dizer por isso que não possa meter a pata na poça de vez em quando, mas estou extremamente consciente de qualquer individuo, com todo o tipo de ideias, susceptibilidades, crenças, credos, etc, é um potencial leitor. Tento assim fazer o meu melhor por não agredir, não ofender, não chocar… uso e abuso da autocensura, releio várias vezes o que escrevo e sobretudo não tenho de forma alguma o à-vontade que teria no recato da minha vida íntima e privada.

Outra coisa que tento fazer é não expor a vida de terceiros.
E é aqui que a porca torce o rabo…
Se é verdade que, com um pouco de presença de espírito e noção das coisas nos conseguimos proteger da exposição pública, quem é que nos vai proteger dos outros?!

A foto que podem ver em cabeçalho foi publicada esta semana no facebook por uma amiga minha.  Não tem mal nenhum, pelo menos aos meus olhos, e acho até, tal como a pessoa que a postou, que está bem gira. É de um grupo de amigos esparramados num sofá, num casório… nada demais.
Acontece que não tenho qualquer dúvida de que certas pessoas a fossem achar “escandalosa”… pernas nuas, mãos nas ditas cujas, tudo a molho… é o debocheeeeeeee!

Acho portanto muito importante que tenhamos também muito cuidado com o que mostramos, divulgamos ou dizemos, dos outros… Que tenhamos a noção de que não sabemos de todo quem o irá ver/ler, incluindo o próprio. Que poderemos, sem querer, por não termos sequer pensado nisso, de alguma forma lesa-los.

A internet é fantástica mas é um local muito perigoso… ;)











quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A tradição já não é o que era…

COM MÚSICA



Tendo recebido uma educação tradicional, sou uma menina prendada, que sabe fazer muitas coisas “como deve de ser”.
Sei, por exemplo, pôr a mesa com todo o tipo de talheres, para as mais variadas funções, sem qualquer hesitação quer na ordem quer na direcção, o mesmo se passando com os copos. Sei fazer a cama com “cantinhos de enfermeira” e a dobra da colcha a moldar as almofadas. Sei fazer bainhas “invisíveis”, engomar uma camisa, dobrar uma fralda de pano em forma de bacalhau, enfim, uma verdadeira fadinha do lar.

A realidade é que não pratico a maior parte dos ensinamentos que recebi.
Dobro as toalhas da casa de banho em três, por uma questão estética e as meias em envelope, para ser mais fácil de enfiar o pé, e posteriormente em bolinha para não se perderem umas das outras. Dou no entanto nós nos lençóis de baixo que não sejam de elástico, uso guardanapos de papel e não tenho qualquer problema em trazer uma panela para a mesa se estivermos em família (e com esta descarada e desonrosa confissão, acabei de me habilitar a ser deserdada).

Também em termos de relacionamentos sociais as coisas se vão alterando.
Em tempos, por pouco não fiz uma embaraçosa figura de ursa, aparecendo indevidamente num casamento, por ter recebido um idiota de um “faire part" que confundi com um convite. Quando o meu pai morreu, choquei um que outro membro da família, por me ter recusado a enviar os tétricos envelopezinhos de borda preta com os agradecimentos a quem nos acompanhou.

Enfim, mudam-se os tempos mudam-se os hábitos e pessoalmente mantenho os que me parecem fazer sentido, por razões práticas, de tempo, de dinheiro, de espaço. Não acredito em fazer as coisas “porque já os meus paizinhos faziam assim”… a não ser que continue a ver razão para tal.
Noto no entanto cada vez mais, um “descarte” da educação que nos foi dada, sem grande critério, devo dizer.

Acontece-me frequentemente ir buscar o meu filho à escola e ser bloqueada por carros em segunda fila, uma vez por mais de um quarto de hora, sendo quase insultada pelo paizinho/mãezinha ao ousar protestar no seu regresso.
Na passagem de ano, tendo os anfitriões do costume roído a corda quanto à mega festa dançante da praxe, decidi fazer um pequeno get together cá em casa. Enviei um mail a cerca de quinze pessoas, das quais UMA respondeu. Quando protestei, três responderam a gozar comigo, continuando a não dizer se sim ou sopas. Na véspera, outro perguntou a que horas era para aparecer. Não sei se algum deu com as fuças na porta porque não fiquei cá para ver.
No último jantar que fizemos, duas pessoas chegaram perto da hora combinada. Todos os outros chegaram com pelo menos uma hora de atraso, como se nada fosse. Quando comentei o facto, uma respondeu que achava ternurento que ainda tivesse ilusões de que alguma vez fossem chegar a horas.

Podia continuar por aí a fora, com muitíssimos mais casos, alguns dos quais já mencionei aqui, mas acho que já deu para perceber de que tipo de coisas estou a falar.
Adorava poder pensar que era uma cabala contra a minha pessoa, que só a mim estes filmes aconteciam, infelizmente não tenho tais ilusões, é um mal generalizado.
Os exemplos que mencionei denotam a meu ver, no mínimo, de falta de educação. Mas todos os males fossem esses… o que me parece realmente grave é a aceitação tácita pela maioria das pessoas, deste estado das coisas.

Chamem-me careta, chamem-me antiquada, chamem-me basicamente o que quiserem… mas não consigo de facto engolir posturas que demonstram nítida falta de respeito  e consideração pelos outros.

É-me perfeitamente indiferente o que cada um pratica em sua casa, no seu dia a dia, na sua intimidade, cada um sabe de si e ninguém tem nada a ver com isso. A coisa já muda completamente de figura quando entram terceiros em cena. O estar-se completamente a cagar para o próximo, não tendo minimamente em conta o incómodo que se possa causar é uma coisa que me ultrapassa.

Se calhar é o rumo que o bicho homem está a tomar. Eu própria já não mando vir como mandaria há uns anos, já não fico de trombas como ficaria, já não reajo de uma forma tão intempestiva como reagia dantes. Não deixo no entanto de me indignar, de me revoltar e de continuar a protestar.

“Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti”, sempre foi para mim uma regra de ouro. Parece agora estar a ser subvertida pelo conceito de “aguenta dos outros para poderes fazer tu também…”
Não consigo papar esta.