quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Hey Ho Let Go


As emoções que nos provocam pessoas e “coisas”, quer sejam elas positivas ou negativas, afectam-nos sempre. Os sentimentos regulam a nossa vida, a forma como nos “sentimos”,  lá está, como a palavra o indica.
Sentimentos como o amor, a amizade, a compaixão, fazem-nos sentir bem, como o ódio, o ciúme, a inveja, fazem-nos sentir mal.
Ou seja, os sentimentos têm poder sobre nós, sobre as nossas vidas. Influenciam o nosso estado de espírito, puxam-nos para cima ou para baixo consoante as circunstâncias, impelem-nos inclusivamente a tomar esta ou aquela atitude.
Resumindo, só não nos toca o que nos é indiferente.

A vida encarrega-se constantemente de por e tirar coisas do nosso caminho.
As boas, as que nos são agradáveis, temos sempre receio de as perder. As más, as que de alguma forma nos fazem sofrer, queremos mais è vê-las pelas costas.
Aquilo de que não nos damos geralmente conta, é que somos muitas vezes nós próprios que as retemos, que lhes damos o poder de nos afectar.

Alimentar sentimentos relativamente a determinada situação liga-nos a ela, faz com que continue a ter presença emocional. Amar alguém que não quer saber de nós, odiar, desprezar, guardar rancor, são tudo sentimentos e como tal mexem connosco. A ideia, em prol do bem estar e da paz de espírito, é deixa-los ir, não nos agarrarmos a eles.

Ahhh, pois, e tal e coiso, muito mais fácil de dizer do que de fazer, dirão os do costume.
Ora alguém disse que era canja?! Se fosse uma coisa evidente nem valeria a pena dissertar sobre o assunto…
A realidade é que é possível controlar  sim, tal como na história do Velho Índio e dos dois lobos, nós é que escolhemos o que alimentamos. E se não houver cães não é preciso alimentar nenhum, a questão não se põe, é uma não-questão, um não problema.
Isto é válido relativamente a tudo, só a emoção nos prende, a indiferença é absolutamente libertadora.

Não, não estou a sugerir que descartemos toda e qualquer emoção transformando-nos em flat-liners, nem pouco mais ou menos, somente aquelas que não servem absolutamente para nada, que não cumprem qualquer propósito a não ser fazer-nos sofrer.

Quando eu era miúda tinha pânico de osgas, detestava-as, achava-as nojentas (e ainda acho um bocado, confesso), tinha imenso medo de ter algum "encontro" e tornava-me totalmente irracional na sua presença.
Uma noite, há muitos anos, os meus amigos sabendo desta fobia, fecharam-me num quarto com uma. A desgraçada estava na parede, lá bem perto do tecto, quietinha, sem fazer mal a ninguém, enquanto eu berrava insultos, guinchava e dava murros e pontapés na porta implorando que a abrissem para eu sair.
Nesse dia dei-me conta do ridículo que era nutrir “sentimentos” por um bicho sem qualquer importância na minha vida, com o qual o mais que podia acontecer era ter de partilhar pontualmente uma divisão. As osgas passaram a ser-me completamente indiferentes,

As relações humanas, familiares, amorosas, amigáveis, não funcionam sem emoções mas pode haver emoção sem haver relação. Mantemos laços emocionais com pessoas com quem já não temos qualquer relacionamento, tentamos, por alguma razão, manter o passado no presente, o que não é nada saudável.

Se não nos agarrarmos às emoções, se não ficarmos a remoer as questões, se deixarmos a coisa fluir, se nos deixarmos de mesquinhices e trivialidades, frequentemente nos daremos conta que determinada pessoa já não tem lugar na nossa vida, que tudo o que lhe diga respeito nos passou a ser perfeitamente indiferente.

Apesar disto poder parecer insensível é no entanto uma excelente bitola, uma forma de separar o trigo do joio, pois há também aqueles que, passe o tempo que passar, seja qual for a distância que nos separa ou a razão do afastamento, não conseguimos “esquecer”, não conseguimos ganhar distância emocional. Esses são os que realmente importam.

Alimentar sentimentos, só os que nos fazem sentir cheios por dentro, nunca os que nos corroem as entranhas. Esses é deixa-los ir, larga-los e usufruir do fabuloso poder libertador da indiferença.






COM MÚSICA