domingo, 27 de setembro de 2009

O voto

COM MÚSICA


Acho que é desta que vou ser linchada… lol
Ora bem, deixem-me respirar fundo e baixar a cabeça para enfrentar as bastonadas, antes de começar a escrever este post… cá vai vai então…

Está a fazer-me muita confusão a verdadeira onda de violência verbal que tenho presenciado nestes últimos tempos relativamente à abstenção nas eleições…
Eu hoje fui votar… tenho quarenta e quatro anos e deve ser a quarta ou quinta vez que voto…
Fui votar e ofereci o meu voto a um amigo… não a um político, a um cidadão como eu e você… lol
Porque não? Se posso oferecer prendas… se posso oferecer tempo… porque não haveria de poder oferecer o meu voto?
Votando, seria provavelmente onde votaria de qualquer maneira, mas a realidade é que só me desloquei por causa dele, porque sabia que para ele era importante.

Não costumo votar porque vivo no mundo da lua, vivo completamente a leste de todas as politiquices nacionais e internacionais, não leio jornais, não vejo televisão.
Se esta é uma atitude positiva ou não, seria tema para outro post, mas estou aberta a todo o tipo de críticas construtivas a este respeito.
Eu sou simplesmente assim, não consigo ir a todas e a minha vida é uma coisa assim mais “caseirinha”. Ás vezes pergunto-me se não serei intrinsecamente loira mas a realidade é que I don’t give a damn. Não me tenho dado mal e, até alguém me convencer de que estou profundamente errada, não vejo razões para mudar.

Dir-me-ão que sou uma completa idiota, que o resultado das votações tem tudo a ver comigo, que a política, que tão levianamente renego, irá entrar pelo meu dia a dia adentro e afectar-me directamente.
Pois que estou consciente de que têm toda a razão… só que isso não afecta em nada a minha posição.
Já alguém me ouviu queixar da “merda de país em que vivemos”, reclamar contra o governo ou cascar no Sócrates? Já alguém, alguma vez, me ouviu falar em política, passada, presente ou futura ? Pois… é que nem penso nisso.
Para mim as coisas são mais imediatas, não consigo ver a causa e efeito das medidas tomadas por um governo a não ser que mas abanem à frente dos olhos e expliquem como se tivesse dois anos.

“Um direito, um dever cívico”, pois permitam-me que discorde.
Um direito, sim senhor e um direito muitíssimo importante.
Um dever?! Não consigo concordar com isso…
E sabem porquê?
Porque eu levo qualquer votação a sério, não acho que seja coisa para se andar a “brincar”. Acho que quem vota deve fazê-lo porque acredita que a sua “palavra a dizer” é importante mas, mais importante ainda, porque é conhecedor das opções que tem em aberto e, em consciência, escolheu uma.

Li hoje no facebook que “… quem não vota, não escolhe!”
Desculpem, mas isto não será uma Lapalissade nem nada?
O que está, na minha opinião, em questão é o porquê da coisa, não votou porquê?
O Guincho estava demasiado fantástico?
Havia eventos no autódromo? (ouvi roncar motores o dia todo…lol)
Não lhes apeteceu despir o pijama?
Enfim, estão a ver a ideia…
E depois vão acintosamente criticar o estado das coisas??!
Têm opiniões, muitas vezes convictas, mas acham que não as devem partilhar com o resto do país fazendo uma cruz num papelito?
Tá mali !! Pois claro que está mali…

Mas… agora imaginem a seguinte situação…
A mãe (porque é que tem de ser sempre a mãe?... ;) dá a escolher à família o que quer jantar.
Uns emitem a sua opinião, outros dizem que lhes é indiferente e em função disto define-se o menu.
Dos que afirmaram ser-lhes indiferente, alguns descobrem que afinal tinham uma séria vontade de alguma das coisas, tipicamente a que não têm no prato, outros comem e calam.
Os primeiros são sem dúvida os abstencionistas típicos. Não ouvem a pergunta ou no momento da escolha “têm mais que fazer” e depois refilam.
Concordo que isto seja muito irritante. Baldam-se à tomada de decisões e depois mandam vir com as que foram tomadas.
Mas e os outros? E aqueles que comem o que se lhes põe à frente e não chateiam?!
Notem que isto não quer dizer que comam qualquer merda, estragada, salgada, queimada mas, baseando-se no princípio de que a refeição venha para a mesa em estado de ser comida, apesar de poderem evidentemente ter preferências, tanto se lhes faz carne ou peixe…
Mas ainda bem que alguém toma a decisão do que cozinhar, senão não se comia.

No meu caso, simplesmente não sou “má boca”… será pecado?!
Será que numa democracia as pessoas não terão também o direito de não votar?
Eu voto no direito a poder eventualmente ficar calado… ;)


terça-feira, 22 de setembro de 2009

De quarentões para cima…

COM MÚSICA

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Quando éramos mais novos todos acabávamos por assumir algum papel no liceu… A menina bonita, o fanfarrão, a tímida, o gabarolas, a pirosa, o introvertido, a boazona, o corajoso, a feiosa, o romântico, a cabra…
Dei-me conta de que algumas pessoas não perceberam ainda que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. ;)
Sim, é verdade… sentimo-nos atraídas pelos meninos bonitos da escola, um palminho de cara era meio caminho andado para ficarmos pelo beicinho. Sim, os putos de falinhas mansas ou os natural born leaders causavam o seu efeito. Sim, era importante aquela dose de “I’m the king of the world” para nos conquistar…
E há de haver um equivalente para eles.
Mas sabem que mais? Já não são as picas da adolescência que nos interessam hoje em dia…
Com os anos e a vivência, as pessoas (quer dizer... algumas...) vão aprendendo umas coisas.
No que respeita as relações amorosas, ao fim de uns anos largos de vida e de um que outro casamento falhado, começamos a ter uma noção cada vez mais nítida do que queremos e do que não queremos.
Descobrimos uma que outra coisa…
Que uma carinha laroca não é garantia de uma personalidade interessante.
Que um corpinho bem talhado não é garantia de satisfação sexual.
Que as falinhas mansas são muito bonitas mas que gostamos mais de ver as coisas postas em prática.
Que não somos pertença de ninguém.
Ou seja…
É nesta fase da vida que os patinhos feios se podem transformar em cisnes.
As qualidades mais apreciadas já não são as mesmas. Passa a dar-se mais valor ao “é” do que ao “parece”, mais crédito ás acções do que ás palavras, mais importância ao equilíbrio do que à força.
É como se o nosso discernimento passasse a usar peneira, a por de lado tudo o que já nos causou problemas, a procurar repetir o que correu bem.
Ou seja (digo eu, que gosto muito de dizer coisas…) a partir de certa idade, nós queremos mais é que não nos lixem o juízo. O que queremos ao nosso lado é alguém que nos veja tal como somos, com qualidades e defeitos, e aceite conscientemente todo o pacote. Alguém que dê importância ás coisas realmente importantes, perdemos a pachorra para “cenas”. Queremos que nos divirtam, que nos apoiem, que nos dêem espaço, que nos respeitem, que nos critiquem ou admirem conforme o caso e nos aceitem com os nossos bugs.
E queremos também que esperem todas estas coisas de volta da nossa parte.

domingo, 13 de setembro de 2009

Crises de Fé

COM MÚSICA

Julgo que todos tenhamos em alguma coisa.
Bem… se não for o caso também isso agora não interessa nada, pois vou só falar dos que têm. lol
A é geralmente associada à religiosa, mas não é necessariamente o caso…

Wikipedia:

“Fé (do grego: pistia e do latim: Fides) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.
A fé relaciona-se de maneira unilateral com os verbos acreditar, confiar ou apostar, isto é, se alguém tem fé em algo, então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita, confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha fé. A diferença entre eles, é que ter fé é nutrir um sentimento de afecto, ou até mesmo amor, pelo que acredita, confia e aposta.
É possível nutrir um sentimento de fé em relação a uma pessoa, um objecto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião. A fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas pela comunidade científica. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos. Nesse sentido, é geralmente associada ao contexto religioso.”



De entre as várias coisas que compõem o nosso ser, como a nossa personalidade, as nossas crenças, os nossos princípios, as nossas ideias… a fé é, na minha opinião, uma das mais importantes.
Se estivermos convencidos de que a vida é totalmente aleatória, caótica, sentir-nos-emos constantemente inseguros. Acreditar que haja uma razão para que as coisas sejam como são, mesmo que não se consiga identificar essa razão é, julgo eu, fundamental para o nosso equilíbrio.

Nas definições associa-se a fé a ideias como “acreditar”, “apostar”, “confiar”, “sentir afecto”… de onde se deduz que a fé se refira sempre a sentimentos positivos.
“Confio, acredito e aposto, que aquele filho da mãe me vai tentar aldrabar no negócio”, não qualifica para fé, apesar de cumprir com a maior parte dos requisitos.

Há coisas em que acreditamos sem que as possamos provar, não são por isso menos verdade aos nossos olhos. Nelas depositamos a nossa confiança e vivemos em conforme.
Pode ser uma coisa “grande”, como uma religião ou várias piquininas, como no meu caso, que todas juntas acabam por fazer com que esta vida faça sentido.

A fé, pode acabar de repente…
Uma vivência dolorosa, uma experiência traumática, um enorme desgosto podem, julgo eu, matar qualquer fé.
Mas nesses casos fala-se em perder a fé… não em crise da mesma.

Não, as crises de fé não são geralmente provocadas por uma machadada radical…
Estas geralmente aparecem por desgaste, quando nos cansamos, nalguma área da nossa vida, de remar contra a maré… de dar um passo para a frente e logo a seguir dois para trás…
Quando nos fartamos de ver a luz ao fundo do túnel, mas nunca lhe conseguimos realmente chegar…
Quando a nossa vida se mantém tipo montanha russa enquanto que, pelas nossas contas, já deveríamos estar a chegar ao cais, com as pernas a abanar, mas o estômago no sítio.
Ou quando uma série de eventos adversos, uns atrás dos outros, parece vir contrariar aquilo em que acreditamos.

Por exemplo… durante os partos gera-se muitas vezes uma grande crise de fé… ;)
A maior parte de nós acredita que parir é a coisa mais natural do mundo, tem confiança que vá tudo correr bem (se não houver anteriormente causa para alarme), sente já amor pelo serzinho que aí vem… Grande parte das mulheres (ok, há umas que são um bocadinho mais caguinchas…) vai para o parto cheia de fé em que vá tudo correr bem.
Umas horas de fé mais tarde, as coisas já piam de outra maneira…
Como é possível suportar aquelas dores durante tanto tempo? Em que cinco minutos rapidamente parecem uma hora... E dizem-nos que ainda não está para breve?! Devem estar a gozar connosco… alguém aguenta aquilo mais uma vez?
E então lá aparece a fé, que nem anjinho de asas brancas, a dizer-nos à orelha que à milénios que as mulheres passam por aquilo… muitas até repetem a dose.
Depois vem o diabinho, de corninhos vermelhos e rabinho em flecha, que nos berra: “que se lixe essa merda toooda, eu quero uma epidural e quero já!”

A realidade é que “quem espera, desespera”… e se a espera for dolorosa, pior ainda… e sem esperança, não há fé que aguente.

A fé é o que nos permite enfrentar as adversidades com serenidade. É o que nos faz acreditar que há uma maneira de chegar ao outro lado… seja lá o que for o outro lado… é o sítio para onde queremos ir…
A fé digamos que é uma ponte…
Só que quando esta é abalada, a ponte aparece-nos assim



Entre o dia em que meti na cabeça que iria abandonar a querida mas muito stressada Lisboa e acabar a minha vida para os lados de Cascais/Sintra, e o dia em que fiz efectivamente a mudança, passaram-se quinze anos.
Entre o dia em que deixei de tomar a pílula com intenções de engravidar, e o dia em que vi pela primeira vez a carinha linda do meu filho, passaram-se dez anos.

Tantas vezes a ponte me pareceu pouco sólida.
Tantas vezes me perguntei se deveria ou não tentar de facto atravessa-la.
Tantas vezes tremi ao fazê-lo…
Mas cheguei lá… cheguei lá porque, em termos de ditados populares, prefiro aquele que diz que “quem espera, sempre alcança”… e levo-o nos dois sentidos, de quem espera pacientemente (de preferência sentado, ás vezes…) e de quem tem esperança…

Por isso, por muito ranhosa que a ponte possa parecer em determinadas alturas, é acreditar que é possível de alguma maneira atravessa-la…

Mas o que é importante é que continuemos sempre a ver uma ponte. ;)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009