terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem semeia ventos, colhe tempestades...

COM MÚSICA




Quem semeia ventos, colhe tempestades.

A vida não sendo propriamente um mar de rosas, temos de contar com uma certa dose de coisas “más” ao longo do caminho, é utópico pensar que lhes podemos escapar.
Por muito cuidadosos que sejamos, algumas caem-nos em cima, vindas sabe-se lá de onde, não adiantando tentar criar uma redoma à nossa volta pois quando são para acontecer, acontecem.
Outras pelo contrário são, de uma forma ou de outra, da nossa responsabilidade, devendo-se algumas àquilo a que poderemos chamar “comportamentos de risco”.

A adolescência costuma ser o período em que somos campeões da modalidade, reinando um certo “je m’en foutisme” rebelde. De qualquer forma, seja lá quando e como for, poucos serão certamente aqueles que se podem gabar de sempre ter agido conscienciosamente e tendo em conta as potenciais consequências nefastas dos seus actos.
Quem não guiou já com um copito a mais ou não mandou uma pinocada desprotegida?!
Na esmagadora maioria das vezes, felizmente, safamos-nos com uma consciência pesada e a sensação de que fomos estupidamente inconscientes.

Há no entanto pessoas que parecem sentir uma atracção irresistível por este tipo de comportamentos, adoptando-os como modo de vida, numa de “o perigo é a minha profissão”.
Uns vivem nitidamente acima das suas possibilidades financeiras, outros envolvem-se com pessoas casadas, alguns praticam actividades perigosas sem tomarem as devidas precauções, outros conduzem numa base regular num estado perto do coma etílico, etc, etc, etc...

Os que os rodeiam bem podem tentar alerta-los, chama-los à razão, abrir-lhes os olhos para os riscos que estão a correr... que geralmente não serve para nada. Acabam inclusivamente ás vezes por, de alguma forma, compactuar com eles, aparando-lhes os golpes ou ajudando a “limpar” a porcaria que fazem.

Este tipo de postura pode perpetuar-se por anos e anos sem que nada demais aconteça, criando a ilusão de que não tem qualquer problema.
Até que um dia a coisa corre mal e alguém se “magoa” à séria...

Se há coisa importante é o factor probabilidade e, como se costuma dizer,  “tanto vai o cântaro à fonte”...
É óbvio que alguém que, num momento de loucura, mande uma cambalhota sem camisinha, terá muito menos hipóteses de engravidar, apanhar Sida ou qualquer outra doença menos simpática, do que aquele que passa a vida em one-night-stands com desconhecidos.

Outro factor de peso é a competência e empenho do anjo da guarda que paira por cima da cabeça de cada um.
Conheci uma pessoa que guiava, numa base regular, em avançado estado de embriaguez. Apesar de ter evidentemente espatifado um que outro carro, nunca aconteceu nada de grave, nunca se magoou, nem magoou ninguém. Isto durou muitos anos, não sei se continuará ainda, e o tal anjinho sempre se mostrou absolutamente incansável. Acredito no entanto que, a certo ponto, até eles se sintam tentados a desistir.

Quem vive na corda bamba parece ter muitas vezes a ilusão de que as coisas são a preto e branco, de que está conscientemente a arriscar o “tudo ou nada”.
Só para dar um exemplo, é recorrente ao falar-se com um motard sobre os perigos de andar de moto, este afirmar que não tem medo de morrer. Acontece que, em caso de acidente, muitos não morrem, não... ficam sem perninhas, sem bracinhos, tetraplégicos ou transformados em couve. Ou seja, a coisa não acaba num ponto final, em que vão desta para melhor,  mas potencialmente em muitos anos de sofrimento, para si e para os outros.

E a propósito dos outros, os comportamentos de risco não implicam geralmente exclusivamente os próprios. Ao tentar o destino, estão muitas vezes também a pôr em cheque os que os rodeiam, quer sejam família, amigos ou até mesmo perfeitos desconhecidos, que podem ser levados por arrasto.
Muitas vezes não pensam nisso, acham que só eles estão em questão e quando se dão conta de que terceiros foram lesados o peso torna-se ainda mais difícil de suportar.

Asneiras, todos fazemos, quem nunca errou que atire a primeira pedra.
A diferença entre o pontual pé na argola e a atitude recorrente é que, tanto para nós próprios como para os outros, a reacção passa do “ganda galo” para o “tava mesmo a pedi-las”... e com isso é muito mais difícil de lidar.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Presunção de culpa

COM MÚSICA



É um clássico, dos filmes de cowboys, a cena do desgraçado prestes a ser enforcado, sem direito a julgamento, por um crime que não cometeu...
Apesar de normalmente não se chegar a esse extremo, no nosso mundo é também infelizmente frequente a presunção de culpa “porque sim” e consequente acusação.

Acusa-se, directa ou indirectamente, o funcionário de preguiçar, a empregada de roubar, a criança de mentir, a cara metade de trair, o amigo de divulgar um segredo...
Para alguns, aparentemente, tudo o que parece é, sem se porem grandes questões.
Pode advir da ideia de que “onde há fumo há fogo”... mas, meus amigos, nem sempre, nem sempre.

Porque é que isto acontece?!
Porque o individuo tem perfil para cometer a infâmia, porque tem antecedentes, porque algo aconteceu que não se consegue explicar e a pessoa em questão aparenta ser o único suspeito, ás vezes simplesmente porque no seu lugar era o que faríamos.

Em qualquer dos casos, acusar sem fundamento, tá mali.
Na melhor das hipóteses gera um sentimento de injustiça, de revolta, pois ninguém gosta que lhe apontem o dedo sem razão.
Mas a coisa pode piorar, saindo o tiro pela culatra, se o outro adoptar uma atitude de “já que tenho a fama, vou ter o proveito”. Ah, pois...

Embora em alguns casos a questão não se ponha, noutros a pessoa em questão poderá na realidade ter efectivamente lutado contra a tentação de fazer exactamente aquilo de que acaba por ser acusada.
O auto-controle, resistir a certos impulsos,  conseguir que a razão leve a melhor, não fazer aquilo que queremos mas o que achamos que devemos, nem sempre é tarefa fácil. Ser recompensado com calúnia não é propriamente motivante.

Por outro lado, se se vier a provar que a coisa não aconteceu, que o “criminoso” não cometeu o acto, o delator faz uma verdadeira figura de urso.
Mas não só, será ele próprio encarado como estando de má fé, ou pior.
Assim, antes de abrir a bocarra e começar a gritar mata/esfola, convém ter a certeza de que as pedras que atiramos não irão fazer ricochete. ;)