terça-feira, 29 de novembro de 2011

"A velha do Álvaro"

COM MÚSICA



Tenho vindo a ser, cada vez mais frequentemente, assolada por memórias antigas. Deve ser um prenúncio de velhice. lol

Recentemente lembrei-me de uma história, no mínimo curiosa:
Há muitos, muitos anos, enganei-me a discar (os putos já nem sabem o que isso quer dizer...lol) o número de telefone de um amigo.
Atendeu-me uma velha, do mais ordinário que se possa imaginar, que me desancou de cima a baixo, sem qualquer razão aparente.
Comentei o facto com os meus amigos e, azar dos azares para ela, lembrava-me do algarismo que tinha marcado errado. Como adolescentes parvos que éramos, ligámos então outra vez e a velha vai de voltar a cuspir um chorrilho de impropérios.
Chatear “a velha do Álvaro” (o tal amigo para quem queríamos ligar originalmente), como lhe chamávamos, transformou-se então num hobbie, ao qual nos dedicávamos com bastante regularidade.
Mal ouvia a nossa voz, desatava a vomitar insultos, fazendo-nos rir a bandeiras despregadas.
Passada a novidade, os telefonemas foram-se espaçando, até acabarem por completo. Até que um dia alguém se lembrou de que há muito tempo não chateávamos a velha...
Voltámos então a ligar mas, dessa vez, não nos insultou. Atendeu com voz cansada e sofredora e contou que tinha sido operada, que não estava nada bem.
Ficámos cheios de pena dela e roídos de remorços por lhe termos moído o juízo durante tanto tempo.
Ligámos para as informações e pedimos a morada associada áquele número de telefone. Depois, passámos por uma florista, comprámos uma rosa cada um e fomos, que nem Egas Moniz de corda ao pescoço, bater à porta da senhora.
Não sei do que estávamos à espera, mas garantidamente não do que aconteceu...
Quando percebeu quem éramos, ficou emocionadíssima, de lágrimas nos olhos. Perguntou-nos porque não ligávamos há tanto tempo, que julgava que já nos tínhamos esquecido dela. Contou-nos que éramos a sua única companhia. Abraçou-nos e disse que gostava muito de nós.
A minha memória acaba aqui e, estranhamente, não faço a mais pequena ideia se lhe voltámos ou não a ligar...

Outra história antiga, que me farto de contar:
Por alturas do pós 25/4, período de ânimos exaltados, na fabrica onde o meu pai trabalhava como administrador, um empregado pediu para falar com ele.
- Então o que se passa?!
- Sr. R, queria perguntar-lhe porquê que o Sr. R não gosta de mim...
- Não gosto de ti oquê, homem?! Que disparate, porquê que dizes isso?!
- Não gosta não, Sr. R... Aos outros trata-os por “idiota”, “sacana”, “maricas”... a mim é sempre o “Sr. X...”
E era verdade... o meu pai não gostava mesmo dele. E era efectivamente por isso que o tratava com a maior das cerimónias. Sempre teve um excelente relacionamento com os trabalhadores mas só se permitia “insultar” aqueles com quem tinha confiança, que apreciava, de quem gostava e que sabia que gostavam dele.

Devo ter herdado isto... só sou “a bitch” para as pessoas que são de alguma forma importantes para mim. Só a elas mando bocas, provoco, pico, chamo “nomes”.
Aqueles de quem não gosto ou que me são indiferentes, não têm direito a esse tratamento.

No nosso grupo de amigos, ninguém quer ser “o primeiro a sair”,  sabendo de antemão que vai ser alvo de “corte e costura”...
Uma vez fomos todos à rua despedir-nos de uma amiga, que fez vinte manobras para retirar o carro, quando bastavam duas ou três.
Estávamos todos de lencinho branco na mão a abanar (gracinha que tínhamos decidido fazer) quando alguém murmura entre dentes “Chiça, que não sabe mesmo conduzir...” Ao que outro responde “Bolas... pelo menos deixa-a chegar lá acima ao portão, antes de começar a cascar...” lol
É assim, quem não está, fica quase sempre com as orelhas quentes... ;)

Também não “perdoamos” as idiossincrasias de cada um, gozando-o, tanto pela frente, como pelas costas, à primeira ocasião.
Um porque grunfa, outro porque lança santolas, é hipocondríaco, tem mau feitio ou a mania da arrumação... Those last two would be me. ;)
Os “#$%”## chegavam a deslocar um qualquer objecto na sala, quando eu virava costas, pondo-se de relógio em punho a contar quantos segundos demorava a dar por isso e a repôr a coisa no sítio.

Onde estou a querer chegar é a que love moves in mysterious ways...

“A velha” percebeu que lhe ligávamos para ouvir os disparates que nos gritava ás orelhas, fazendo-nos portanto a vontade em troca da “companhia” que lhe faltava.
Uma expressão/palavra teoricamente insultuosa pode na realidade ser afectuosa, carinhosa, dependendo do contexto e tom de voz.
Um “vai à merda” pode até ser sensual. ;)

As crianças testam os seus limites com os pais pois contam com o seu amor incondícional. É sem dúvida com as pessoas de quem nos sentimos mais próximos que estamos mais à vontade. É com elas que brincamos, sem medo de ser mal interpretados, podendo dar-nos ao luxo de ser “mauzinhos, porque sabem que gostamos delas. Todos temos um lado pirralho traquinas dentro de nós, parece-me saudável deixá-lo sair de vez em quando.

Sem dúvida que ás vezes, sem dar por isso, se podem passar os limites. Mas se realmente há amizade/amor, um queixa-se, o outro desculpa-se e amigos como dantes. ;) 












terça-feira, 22 de novembro de 2011

A feliz apanhadora de ameijoa

COM MÚSICA



Já muitas vezes pensei em escrever sobre este tema e sempre me reprimi, achando que não tinha conhecimentos suficientes sobre o assunto para o poder fazer. Comprei livros, investiguei na net, sem nunca me sentir habilitada.
Cheguei no entanto à conclusão de que não preciso de ser uma expert para transmitir o que sinto, o que penso, o que observo, que valem o que valem.
De qualquer forma, como me disse uma vez um Sr. Doutor de Coimbra: “Ó filha, tu dizes estupidezes com muita naturalidade...”
Vou portanto desta vez ter a audácia de o fazer. lol

Conheço cada vez mais gente, uns mais próximos do que outros, que se tem vindo a tornar Budista... e... não me parecem ser pessoas lá muito  felizes ou satisfeitas com a vida. :(
Posso, estar profundamente enganada, mas é sem dúvida o que a minha percepção me transmite.  

São geralmente pessoas extremamente correctas, gentis, bem educadas. São aparentemente calmas, falam pausadamente e sem levantar a voz, não utilizam “expressões fortes” nem “dizem mal” do próximo. Aplicam-se em ter hábitos saudáveis, uma alimentação equilibrada, muitos são vegetarianos, não fumam, não bebem, fazem yoga, meditam, vão a retiros. Preocupam-se e dedicam-se aos outros, à natureza, ao ambiente, frequentemente abraçando causas.
Têm no entanto, a meu ver, um ar profundamente triste.

Recentemente, numa noite de jogo em que, por razões que não são para aqui chamadas, acabámos por não poder jogar, dedicámo-nos enfaticamente a outra actividade, também ela muito do meu agrado; a conversa. Esta acabou por recair sobre o tema em questão.

O meu “mais que tudo” (em termos de amizade), é um dos que abraçou esta filosofia de vida e, mais uma vez, lhe disse que não compreendia.
Declarou então que ele é que não compreendia como é que, 99% das pessoas, conseguiam viver sem se questionarem, sem procurarem respostas.

Quando perguntei se achava que EU não procurava respostas, respondeu-me que, dos 99%, eu era sem dúvida das que mais procurava... à superfície... que era a melhor “apanhadora de ameijoa” que conhecia... mas que não passava disso, não ia mais fundo.

Sinto-me perfeitamente incapaz de reproduzir a longa conversa (de qualquer forma, o respeito pela privacidade alheia leva-me a preferir não a expôr para uso num grupo tão alargado... lolololol )  dado que estes meninos tendem a falar de forma absolutamente críptica para mim. Pão pão, queijo queijo, não é definitivamente o seu forte e não há cá afirmações claras, é preciso descodificar tudo o que dizem.

Em todo o caso, o sumo que consegui toscamente extrair, é que o “aqui e agora”, não serve para eles. Não chega, não satisfaz, precisam de perceber alguma coisa que eu não consegui perceber o que era. Isto à mistura com o “vir cá muitas vezes” e eventualmente a felicidade não estar sempre presente.
Acabámos por concordar em discordar, pois eu também não consegui demonstrar que, se era feliz agora, nada mais importava.

Como já aqui disse várias vezes, a minha felicidade é uma coisa bastante recente. Tempos houve em que acreditava que se tratava de um “estar” e não de um “ser”. Até que descobri que esta depende exclusivamente de nós, de decidirmos ser felizes “apesar de”.
E se tenho tido “apesares de” desde que me assumi como feliz...

Acredito que se possa perder. Acredito que possam ocorrer mudanças em nós que nos roubem a força de continuar a ser felizes. Mas enquanto o pau vai e vem...

O estado do mundo, a miséria humana, o sofrimento em geral, foram mencionados algures na conversa. Não consegui perceber em quê que o facto de me sentir infeliz pudesse aliviar a situação. Não sou feliz ás custas de nada, nem de ninguém e faço o que posso para contribuir para um mundo melhor.

Esse  sofrimento, que aparentemente tanto os atormenta, que tentam evitar, erradicar é, aos meus olhos e dentro de certa medida, extremamente útil. É ele que nos permite crescer, aprender, evoluir. Não estou de todo a sugerir que o procuremos ou provoquemos nos outros. Só não me parece que seja o fim do mundo.

Acima de tudo acredito que, se perdermos a capacidade de sofrer, perderemos também a de realmente apreciar o outro lado da moeda.

Como dizem os franceses:
“pourquoi faire simple, quand on peut faire compliqué?!”
ou
"Happiness in intelligent people is the rarest thing I know."
Ernest Hemingway
Se calhar é mais por aí... não conheço Budistas burros. ;)




  "Há uma esfera que não é certa, nem água, nem fogo, nem ar: 
a esfera do nada, é só aí o fim do sofrimento" 
Buda

 I rest my case...
Ameijoas à Bulhão Pato, anyone?! ;)












terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma iluminação da tempestade

COM MÚSICA


No domingo, aquela tempestade que mais parecia o dilúvio, rebentou-nos com a electricidade.
Tinha praticamente acabado de deixar na cama, onde tinha ficado a ler, o meu filhote que veio então  informar que estava “com medo”.
Aos apalpões pelas escadas, voltei para cima e deitei-me com ele na cama.

Comecei por lhe falar um bocadinho das tempestades. Disse-lhe que não fazia sentido nenhum ter medo delas quando se está em casa, numa cama quentinha. Expliquei-lhe que não corria grandes riscos.
Contei-lhe depois como acho bonita a luz de um raio que de repente ilumina uma divisão, como o disparar de um flash na escuridão. Disse-lhe como achava impressionante o barulho do trovão, demonstração imponente da natureza em toda a sua força. Como me fazia sentir o bater da água com força nas janelas, privilegiada e agradecida por ter uma casa confortável e protegida.
Sugeri-lhe que tentasse sentir tudo isto, que sentisse no corpo o ribombar da tempestade, que a apreciasse em vez de temer.

Dois dedos de conversa e um abraço e já estava tudo bem, se é que não tinha sido desculpa para me sacar mais um bocadinho com ele.
Fosse como fosse, dado que de qualquer forma hoje em dia não se consegue fazer nada sem electricidade (quer dizer... lol... quase nada... ) decidi ficar ali mais um tempinho, aconchegada na sua proximidade enquanto adormecia.

Então, enroscada nele, em silêncio, a curtir a tempestade, dei por mim a sofrer de um assustador ataque de saudades...
De saudades dos tempos irresponsáveis em que achávamos que os pais resolviam tudo. Dos tempos em que acreditávamos inocentemente que estávamos protegidos de tudo e de todos. 
Quis, desesperadamente, voltar a ser "filho" e não "pai", o que pondera, o que decide, põe em pratica, gere, consola, protege.
Dei por mim com “inveja” da criança que estava ao meu lado. 
Pensei que não há tempos mais felizes do que aqueles e que eles nem sequer têm consciência disso.

Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
(isto é efeito sonoro: agulha de gramofone a guinchar através do prato...)

Péráíiiiiiiiii...
Que raio quer dizer “eles nem sequer têm consciência disso”?!
Estão no Nirvana e não sabem?!
Lá se foi o EU “Bref, je suis comme tout le monde” e desembarcou o EU “ser ou não ser, eis a questão”...
Ora bem... por que raio não têm eles consciência de que são extremamente felizes?!

Trrrrrrrtrrrrrrrrrtrrrrrrrrrtrrrrrrrrrr
(outro efeito sonoro: rufo de tambores)

Porque não são, meus amigos, porque não são... 
Até podem saltar levemente de nenúfar em nenúfar... mas as crianças estão constantemente insatisfeitas com alguma coisa. Coisas essas que sentem a ensombrar a sua felicidade.

Por exemplo, no meu caso, grande parte da infância passou-se a “odiar” padrasto e madrasta. A pensar que só queria crescer para poder decidir com quem me dava e não dava. A ansiar por poder mandar à merda quem ousasse tratar-me de forma que achasse que não merecia.
Não julguem, por isto, que tive uma infância “traumática”. Os “respectivos” dos meus pais eram “gente como eu e você”, não torturadores de criancinhas... simplesmente, cada um à sua maneira, conseguiu fazer-nos um bocado a vida num inferno.

Hoje em dia, quase que tenho de fazer um esforço para descrever em quê exactamente. Ficou aquele amargo de boca, a lembrar que não eram lá muito boas rezes, mas foi-se a importância dos factos, no big deal.
Pusessem-me hoje nas mesmas situações, que eu vos dizia como tratava do assunto... lol
Pois...mas hoje tenho quarenta e seis anos.

Dito isto, não conheço nenhuma criança que não tenha, com maior ou menor intensidade, espírito de “António Variações”.
E isto, meus amigos, gera ansiedade, quer esta seja crónica, em alguns casos ou, mais frequentemente, pontual. A antítese da paz de espírito. ;)
Notem que não estou a sugerir que todas as crianças são infelizes, nada disso, simplesmente que a vida nesses anos não é de todo tão côr de rosa como tendemos a  pinta-la mais tarde.

A realidade é que a felicidade é uma escolha, a escolha de sermos felizes “apesar de”.
Não há épocas das nossas vidas em que nada nos apoquente. Numas alturas são umas coisas, noutras outras. As proporções vão sendo diferentes mas todos os períodos são sobrevoados por nuvens negras.
Não sei se haverá alguém que consiga olhar para a sua infância e sinceramente afirmar que foi um total mar de rosas sem espinhos.

Portanto, meus amigos, toca a viver o aqui e agora, aproveitando o momento, com os seus prós e contras...
Carpe Diem! ;)


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Falar para dentro

COM MÚSICA





A tendência natural (pelo menos de alguns...lol),  quando sentimos alguém aflito, é de tentar ajudar. Pomos água na fervura, tentamos desdramatizar as situações, racionalizar os problemas e arranjar soluções.

Tudo isto se faz geralmente através de conversa. 
Se o outro está alterado fazemos primeiro por acalma-lo. Depois, tentamos compreender o que o aflige. Analisamos interiormente a situação e transmitimos, da forma mais clara que conseguimos, as conclusões a que chegámos. Então, com base no diálogo, vamos tentando em conjunto arranjar soluções.

Todos teremos certamente experiência de momentos em que a nossa mente fica transtornada, tornando-se difícil pensar com clareza.
A ansiedade, o medo, a angústia, as preocupações... alteram negativamente a nossa visão e percepção das coisas, tornando-as ainda mais negras aos nossos olhos, fazendo-nos sentir pessimistas, derrotistas.

Nem sempre temos, no entanto, à mão alguém com quem possamos/queiramos falar...
Falamos então, muitas vezes, sozinhos.

Cheguei no entanto recentemente à conclusão de que somos umas bestas... ou pelo menos eu era. lol
Falava comigo como se falasse com uma criança de dois anos. Como se eu (o outro “eu”, o eu aflito) não tivesse capacidade de entender um raciocínio mais elaborado, como se não fosse sensível a argumentos.
Por outro lado, tratava-me sem grande consideração. Dava-me ordens, assumia uma postura de “sê um homenzinho”, ordenando-me (que nem o arquitecto): “Aguenta!!!”

Dei-me conta de que nunca trataria outra pessoa, na mesma situação, como me tratava a mim própria. Que isso seria extremamente insensível e estúpido da minha parte. Que para ajudarmos efectivamente alguém, temos de lhe “demonstrar”, de alguma forma, que há efectivamente luz ao fundo do túnel. Que pedir-lhe simplesmente para ser forte, não chega, não alivia, não aconchega, não convence.

Passando-me para o outro lado, perguntei-me como me sentiria se outra pessoa (que não eu) me tentasse “consolar” dessa forma e acho que não me iria sentir muito confortada. Sobretudo, não seria grande ajuda... ajudar não é menosprezar as dificuldades do outro.

Comecei então a tentar mudar de atitude.
Em momentos de crise, divido-me imediatamente em duas.
A primeira está à brocha... não se está a conseguir controlar... não se sente capaz de analisar ou racionalizar as questões... não consegue já encontrar pensamentos positivos e menos ainda soluções.
Mas “a outra” não emigrou para o espaço...
A outra, aquela com quem os amigos falam quando disso sentem necessidade. Aquela que acredita, sem qualquer sombra de dúvida, que “acima das nuvens o céu está azul e o sol brilha”. A que consegue efectivamente, muitas vezes, acalmar os outros, descansá-los, ajudá-los a alcançar alguma paz de espírito e vislumbrar a tal luzinha ao fundo do túnel.

Ponho então uma a falar com a outra.
Funciona maravilhosamente bem, grande truque, garanto-vos. ;)

Todos temos dentro de nós esta duplicidade.
Todos temos dois lados, um mais fraco e outro mais forte.
Normalmente, quando o mais fraco vem ao de cima, o mais forte despreza-o. Retira-se, pura e simplesmente, até que o outro recupere a compostura. Só então volta a tomar rédeas à situação.

Erro!!! Não é virando costas que se resolve nada...
Se ficar e for à luta, se se empenhar em levantar-lhe o moral. Se falar com ele como falaria com qualquer outra pessoa. Se tiver consideração por ele em vez de vergonha...
Juntos conseguirão certamente manter o astral e arranjar soluções. ;)


PS: Acho que depois deste post me vão mandar internar... lol

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

As cuecas da rainha

COM MÚSICA




Ele há dias em que me pergunto seriamente se este mundo não terá enlouquecido de vez...

Esta manhã, ao levar o meu filhote à escola, ouvi dizer na rádio que umas cuecas da rainha Victoria (a quem os portugueses roubaram o c... lol) tinham sido vendidas em leilão, pela módica quantia de 8.700€...
Foi a gota de água, já andava há uns tempos com ideias de escrever sobre este tema, é hoje! ;)

Oito mil euros resolviam a vida de muita gente, dão para comprar muita comida, muita roupa, muitos medicamentos... há no entanto quem decida gasta-los numas cuecas velhas.
Estou consciente de que a receita deste tipo de leilões reverte frequentemente a favor de causas humanitárias, não sei se será o caso com este. O que me intriga no entanto realmente é que raio terá na cabeça alguém que larga uma soma astronómica de dinheiro por uma coisa tão absurda.

Outra coisa que me provoca violento prurido, são os anúncios do euromilhões.
“A criar excêntricos todas as semanas...” é o slogan deles, seguido de exemplos completamente cretinos de como torrar o guito.
Que é como quem diz, se ganhar, deite dinheiro à rua, queime-o, gaste-o estupidamente... pela mesma razão pela qual o cão lambe a pila, porque pode.

O nosso mundo é feito de desigualdade, todos sabemos isso.
Há pessoas feias e bonitas, doentes e saudáveis, bem constituídas e com deficiências, pobres e ricas.
Discutir a injustiça deste facto ou tentar arranjar soluções para equilibrar as coisas não é o propósito deste post.

Compreendo perfeitamente que, assim o podendo, as pessoas se rodeiem de coisas de boa qualidade. Um bom carro oferece muito mais conforto e segurança do que um chaço velho em terceira mão. Umas férias nas Maldivas são, sem sombra de dúvida, muito mais agradáveis do que na Costa da Caparica. Um sushizinho parece-me bastante mais atraente do que um MacDonalds. Uma casa com vidros duplos e aquecimento central é um bocado mais confortável do que uma barraca no bairro da lata.
Gostava muito era que alguém me explicasse o potencial da roupa interior da real senhora em termos de melhoria da qualidade de vida...

Uma sociedade que, não só aceita como promove, este tipo de atitudes, só pode estar muito doente.

Provavelmente já todos terão ouvido a música que escolhi para o post desta semana. Não sei se terão dado alguma atenção à letra, a mim tinha-me passado ao lado. Lembrei-me dela por causa do título, que associei à minha visceral embirração com os anúncios do euromilhões, e fui consequentemente investigar.

Qual não é o meu espanto ao dar-me conta de que apregoa exactamente o contrário.
Ele quer ser bilionário (quem não quer?! lol)... mas quer também “be the host of everyday Christmas”...
Fala em adoptar crianças que nunca tiveram nada na vida, oferecer Mercedes, satisfazer últimos desejos. Em dar uns cobres a todos aqueles de quem gosta e garantir que ninguém à sua volta saiba o que é fome.
Menciona a Oprah Winfrey, podre de rica, coração de ouro.

Engana-se no entanto, a meu ver, quando diz que:
“Eu sei que todos temos o mesmo sonho
Meter  a mão ao bolso e tirar a carteira
Atira-la ao ar e cantar”

Caramba, será que era assim tão difícil tentar passar este tipo de mensagem, em vez de incitar o povo à excentricidade idiota?!

Olhem... vou ali pôr umas meias no ebay e já volto... Grunf!