segunda-feira, 29 de março de 2010

Amor é...

COM MÚSICA



Quem não se lembra dos bonequinhos da Kim Grove sobre o tema?! Amor é isto, amor é aquilo… ;)
Tantos tentaram defini-lo, tantos o “cantaram”…deve ser dos temas mais abordados desde os primórdios da humanidade. Tantos poemas, canções, quadros, esculturas, peças de teatro, filmes, lhe foram dedicados. Tanta coisa foi feita em seu nome…
A maior parte de nós sente-o ou já sentiu em determinada altura da sua vida.
Amo-te, adoro-te, serão possivelmente as palavras mais batidas em todas as línguas…

Pergunto-me, no entanto, se será de facto o mesmo sentimento para toda a gente.
A minha visão do amor, por exemplo, pressupõe altruísmo, uma certa dose de sacrifício em prol da felicidade do ser amado, empenho nesse sentido…
Observo no entanto que, muitos dos que afirmam sentir amor… pelos filhos, pela mulher, pelo cão… frequentemente não o demonstram desta forma.
Verifico, com demasiada frequência, atitudes que não me parecem coerentes com este sentimento…

Quantos homens não espancam as mulheres e/ou os filhos, sujeitando-os a um permanente clima de terror, fazendo-os chegar a duvidar se o merecem.
Quantos pais não levam as suas vidas como se não tivessem filhos, chutando-os dos avós para as babysitters, isto quando não os deixam mesmo sozinhos.
Quantos cônjuges não têm aventuras, fixas ou voláteis, insistindo em manter-se numa relação na qual se recusam no entanto a investir.
Quantos pais separados não vêem os filhos durante meses, anos às vezes, entrando e saindo das suas vidas sem a mínima preocupação relativamente ao que isso irá fazer ás suas cabecinhas.
Quantos donos não “mimam” os seus cães com comidas impróprias, que os fazem inchar que nem balões e perder consequentemente a saúde ou se ausentam deixando os gatos fechados em condições de higiene duvidosas, ás vezes sem água ou comida suficientes.

Poderia arranjar muitos, mas muitos, mais exemplos de casos, infelizmente corriqueiros, uns mais extremos que outros, em que a felicidade e bem estar do ser “amado” não são tidos em consideração.
Acredito no entanto que, algumas dessas pessoas, se sintam absolutamente destroçadas se o perderem. Que, em muitos casos, estivessem dispostas a dar um rim por ele, a vida até… Acredito que sintam saudades lancinantes se dele estiverem separadas. Que o olhem como uma das coisas mais importantes das suas vidas…

Parece-me no entanto que, para alguns, o amor é um sentimento passivo…
Não sentem necessidade de o demonstrar, de o partilhar. Afirmam-no e isso é suficiente. Não parecem ter a noção de que o outro precisa de se sentir amado, não em situações extremas, de vida ou de morte, que felizmente não se nos apresentam frequentemente, mas no dia a dia.
Para nos sentirmos de facto amados precisamos que nos tratem com respeito e consideração e precisamos de constância nesse tratamento… para nos sentirmos amados temos de nos sentir importantes para a outra pessoa e não "saber" que somos.  A incongruência de algumas atitudes leva-nos a duvidar.

Pergunto-me, muito sinceramente, o que é o amor para certas pessoas…


domingo, 21 de março de 2010

O máximo


COM MÚSICA
Acredito genuinamente que ser-se bem fornecido de ego seja o primeiro requisito para sermos felizes.
Os Calimeros  deste mundo, aqueles que passam a vida a queixar-se de como são feios, estúpidos, pouco dignos de amor e por aí a fora… duvido que alguma vez consigam realmente saber do que estou a falar.


Eu pessoalmente (e digo-o sem qualquer pudor) gosto bastante de mim própria.
Sou essencialmente uma pessoa simpática. Gosto à brava de gente e parto do princípio que todos são boas pessoas até prova do contrário. Existe um princípio jurídico do género chamado presunção de inocência, acho que é um bom princípio. ;)
Logo, trato tendencialmente bem as pessoas, tentando não criar ondas nem atritos. O meu amor pelo género humano é habitualmente correspondido.

Claro que toda a regra tem excepção e há quem não me possa suportar, nem com molho de tomate…Já chegaram a ligar-me, ás tantas da manhã, para me insultar, gritando-me (entre outras coisas) estridentemente aos ouvidos “…e se julgas que eu não sei cortar alho, estás muito bem enganada, óvistes???!!!”
Mas isso não interessa nada porque, das pessoas de quem não gosto ou que não gostam de mim, e que curiosamente tendem a ser as mesmas, afasto-me.

Quando tenho oportunidade faço qualquer coisita pelo próximo, o que me faz sentir muito bem comigo própria (sou uma egoísta…) e sinto que, no geral, dou a minha modesta contribuição para “um mundo melhor”.
Vivo feliz, em paz e serenidade e sinto-me bem comigo e com os outros.
Estou perfeitamente consciente de que tenho ainda muitas arestas para limar, como toda a gente, mas vou enfrentando um dia de cada vez, sempre com esse propósito em mente.

No oposto dos Calimeros, temos aqueles que se acham o máximo…
Once upon a time, tive um amigo que se achava o máximo e nunca se cansava de o apregoar. Nunca vi um ego tão grande em toda a minha vida… É o menino da história do barco, do início deste post

Achava-se inteligentíssimo… e era, tinha um cérebro de fazer inveja a muita gente. Que o diga a sua carreira que, até ao ponto em que a conheço, foi brilhante.
Achava-se cultíssimo… e era, uma pessoa bem formada, com boas bases. Qualquer tema que o interessasse era estudado até à exaustão.
Achava-se engraçadíssimo… e era, quantas vezes não estive à beira de ter de mudar a fralda, ao ouvir deliciada as histórias que contava. Fazia qualquer episódio banal parecer interessantíssimo, se bem que os episódios da vida dele raramente eram banais…
Achava-se um borracho… bem… isso não acho que fosse, mas é só a minha opinião pessoal... lol Mas acho que tinha pinta, muita pinta e uma lábia sem igual.
Achava-se um grande mestre da sedução… e era, faria corar o D. Juan de humilhação, confesso que não conheço ninguém de carne e osso com um portfolio como o dele… a não ser talvez o Galo Tito.
Achava-se muito sábio… de facto, era absolutamente impressionante o conhecimento teórico que tinha do género humano, as conclusões a que chegava, os sentimentos e reacções que conseguia identificar e analisar.
E mais razões teria para se achar o máximo…

A questão é que raríssimamente vi o Máximo  utilizar qualquer destas características para ser ou tornar alguém feliz….
A pessoa que acabei de descrever, e que não passa de um exemplo, tinha toda a matéria-prima necessária para ser uma pessoa de excepção… mas não era. Sou daquelas que ainda acreditam no Pai Natal, não sei no que se terá transformado…
Do alto do seu ego passou a vida a desperdiçá-la, a pô-la constantemente em risco assim como as dos outros, a magoar quem gostava dele, a fazer escolhas erradas, a desprezar tudo o que de bom lhe ia parar ao colo…
O resultado prático é que, at the end of the day, só mesmo ele é que se achava o máximo.

Conclusão, quando o vosso ego vos disser que ninguém vos chega aos calcanhares, quando se acharem o máximo, façam um favor a vocês próprios… peçam uma segunda opinião. ;)

O máximo

Acredito genuinamente que ser-se bem fornecido de ego seja o primeiro requisito para sermos felizes.
Os Calimeros  deste mundo, aqueles que passam a vida a queixar-se de como são feios, estúpidos, pouco dignos de amor e por aí a fora… duvido que alguma vez consigam realmente saber do que estou a falar.


Eu pessoalmente (e digo-o sem qualquer pudor) gosto bastante de mim própria. Acho que se eu não fosse eu, também gostaria muito de mim… lol
Sou essencialmente uma pessoa simpática. Gosto à brava de gente e parto do princípio que todos são boas pessoas até à prova do contrário. Existe um princípio jurídico do género chamado presunção de inocência. Acho que é um bom princípio. ;)

Logo, trato tendencialmente bem as pessoas, tentando não criar ondas nem atritos. O meu amor pelo género humano é correspondido e, no geral, as pessoas também gostam de mim.
Claro que toda a regra tem excepção e há quem não me possa suportar, nem com molho de tomate…Já chegaram a ligar-me, ás tantas da manhã, para me insultar, gritando-me (entre outras coisas) estridentemente aos ouvidos “…e se julgas que eu não sei cortar alho, estás muito bem enganada, óvistes???!!!”
Mas isso não interessa nada, porque das pessoas de quem não gosto ou que não gostam de mim, e que curiosamente tendem a ser as mesmas, afasto-me.

Sempre que tenho oportunidade faço qualquer coisita pelo próximo, o que me faz sentir muito bem comigo própria (sou uma egoísta…) e sinto que, no geral, dou a minha modesta contribuição para “um mundo melhor”.
Vivo feliz, em paz e serenidade e sinto-me bem comigo e com os outros.
Estou perfeitamente consciente de que tenho ainda muitas arestas a limar, como toda a gente, mas vou enfrentando um dia de cada vez, sempre com esse propósito em mente.

No oposto dos Calimeros, temos aqueles que se acham o máximo…
Tive um amigo que se achava o máximo e nunca se cansava de o apregoar. Nunca vi um ego tão grande em toda a minha vida… É o menino da história do barco, do início deste post
Achava-se inteligentíssimo… e era, tinha um cérebro de fazer inveja a muita gente. Que o diga a sua carreira que, até ao ponto em que a conheço, foi brilhante.
Achava-se cultíssimo… e era, uma pessoa bem formada, com boas bases. Qualquer tema que o interessasse era estudado até à exaustão.
Achava-se engraçadíssimo… e era, quantas vezes não estive à beira de ter de mudar a fralda, ao ouvir deliciada as histórias que contava. Fazia qualquer episódio banal parecer interessantíssimo, se bem que os episódios da vida dele raramente eram banais…
Achava-se um borracho… bem… isso não acho que fosse, mas é só a minha opinião pessoal. Acho que tinha pinta, muita pinta e uma lábia sem igual.
Achava-se um grande mestre do engate… e era, faria corar de humilhação o D. Juan, confesso que não conheço ninguém de carne e osso com um portfolio como o dele… a não ser talvez o Galo Tito ...
Achava-se muito sábio… e, de facto, era incrível o conhecimento teórico que tinha do género humano, os sentimentos e reacções que conseguia identificar e analisar.

A questão é que raríssimamente vi o Máximo  utilizar qualquer destas características para ser ou tornar alguém feliz….
O ser que acabei de descrever tem toda a matéria prima necessária para ser uma pessoa de excepção e não é. Correcção; não era, que eu sou daquelas que ainda acreditam no Pai Natal e não sei no que se terá transformado… ;)
Do alto do seu ego passou a vida a desperdiçá-la, a pô-la em risco constantemente, assim como a dos outros, a magoar as pessoas que gostavam dele, a fazer escolhas erradas, a desprezar tudo o que de bom lhe ia parar ao colo…
O resultado prático é que só mesmo ele é que se achava o máximo.

Quando se acharem o máximo, quando o vosso ego vos disser que são do melhor que há por aí, façam um favor a vocês próprios… peçam uma segunda opinião. ;)





segunda-feira, 15 de março de 2010

Para além dos rótulos

COM MÚSICA



Apesar de todos estarmos perfeitamente conscientes de que pessoas são pessoas, o nosso primeiro contacto com cada uma irá, antes do mais, ser influenciado pelo seu “rótulo”…
Antes de encararmos alguém como ser humano, a tendência natural é de o vermos como o empregador, o médico, o advogado, o vizinho, o aluno, a celebridade, o pobrezinho, o polícia, o rival, etc… Estes rótulos ser-lhes-ão aplicados por nós, consoante a circunstância e, inútil será dizer, cada um poderá ter outros em diferentes situações.

Em alguns casos, estes estarão associados, nas nossas cabeças, a uma série de características (diferentes para cada um de nós) que atribuímos à “espécie”… Assim poderemos considerar, por exemplo, que os políticos são corruptos, os moedinhas drogados e os actores de cinema o máximo… Sem sequer conhecermos a pessoa, já estaremos a fazer juízos de valor.

Por outro lado, estes mesmos rótulos, irão provocar instintivamente em nós reacções emocionais… receio, admiração, repulsa, reverência, etc.
Quem não se sentiu já nervoso por ir conhecer os futuros sogros ou intimidado ao ver-se perante o juiz num tribunal, por exemplo…

Na minha opinião, ninguém é melhor ou pior por ser advogado ou caixa de supermercado, cantor ou mestre de obras, médico ou motorista de autocarro… nas relações humanas, e todas as relações entre pessoas o são (entre outras coisas), o que interessa é o âmago de cada um. O respeito e consideração (ou a ausência dos mesmos), deveriam estar, a meu ver, associados á pessoa e não ao rótulo. Qualquer um pode ser um gajo porreiro ou um filho da mãe desgraçado.

A realidade é que, todos aqueles com quem temos de lidar na vida, são acima de tudo “gente”. Comem, dormem e respiram como nós, têm sentimentos, opiniões, assumem posições e terão provavelmente também família e amigos. Somos basicamente todos feitos do mesmo barro…
Se tivermos sempre isso presente, a interacção torna-se muito mais fácil. Seremos muito mais susceptíveis de demonstrar tolerância, compaixão, empatia. Os sentimentos de superioridade/inferioridade, que ás vezes nos tomam de assalto, tornam-se ridículos.

Um orador afirmou que, para não se sentir intimidado pelo seu público, imaginava que a assistência estava toda nua. Não iria a esse ponto.
Acho no entanto um exercício interessante imaginar a pessoa com quem estamos a lidar a tomar o pequeno almoço em pijama ou a lavar os dentes antes de se ir deitar. Vê-la mentalmente na intimidade do seu dia a dia, ajuda a humaniza-la, a pô-la exactamente ao mesmo nível que nós.

Imaginem, por exemplo, o médico que vos vai operar, deitado na cama ao lado da vossa a sofrer de cólicas renais. Ou a super-star que têm de entrevistar, enjoada que nem uma pescada num barco. A empregada doméstica, a fazer em casa dela as mesmas tarefas que fez na vossa. A sogra a fazer respiração de cãozinho cansado enquanto dá à luz a vossa cara metade. And so on…

Os outros têm as mesmas vivências que nós… alegrias e desgostos, problemas e vitórias, desalentos e entusiasmos, independentemente do papel que estejam a interpretar no momento. Se os olharmos nos olhos e virmos a pessoa por detrás do rótulo, se os tratarmos como gente e exigirmos o mesmo tratamento, o desfecho de qualquer encontro será garantidamente muito mais satisfatório. ;)

terça-feira, 9 de março de 2010

Que fazes tu?




Aqui à tempos recebi um mail, de um membro do nosso sitezinho, a informar que tinha começado a dedicar-se à pintura de casas e execução de diversos trabalhos de bricolage…
Achei giro, reencaminhei-o e guardei-o para se um dia precisar dos seus serviços.
Qual não foi o meu espanto, ao  receber um que outro comentário,  em que a ideia de fundo era “isto anda mesmo a saque, até os ex-LF (uma verdadeira elite, como todos sabem…lol)  já andam a pintar paredes…”

Não conheço bem a pessoa em questão, vi-o duas ou três vezes ao vivo e a cores e trocámos algumas palavras no site. Posso evidentemente estar enganada mas, aparenta ser uma pessoa alegre, bem disposta, positiva, em paz com a vida.
Também não sei qual será a sua situação financeira mas, longe de me parecer uma atitude desesperada (a “aviltante” decisão de pintar paredes… credo) senti um verdadeiro gozo pela actividade, mais uma vez posso estar enganada…

A maior parte de nós precisa de trabalhar para viver…
Em termos de “mercado de trabalho” existem dois extremos; os que, por variadíssimas razões, não têm outra hipótese senão agarrar-se ao que vier à rede e aqueles que, tendo-se apaixonado por uma profissão, abraçam uma carreira.
Pelo meio temos variadíssimos tons de cinzento…

Se tivermos em conta que o trabalho ocupa a maior parte do nosso precioso tempo, parece bastante evidente que quanto mais satisfação dele conseguirmos retirar melhor.
Se o nosso “ganha pão” requer esforço constante, se a maior parte dos dias metemos mãos à obra contrariados, sem entusiasmo, se não nos der gozo, não nos desafiar/realizar de alguma forma … então algo está profundamente errado.

A minha empregada saiu recentemente de um casamento desastroso. Necessitando ganhar o seu dinheirinho, foi por opção que decidiu fazer o que faz.  Simplesmente gosta das tarefas domesticas e fá-las com prazer e brio. Anda de cabeça erguida, está-se nas tintas para quem a aponta do dedo e parece bem disposta e satisfeita com a vida.

Todos seremos competentes em algum campo de utilidade profissional. “Diagnosticar” essas competências e apetências e aplica-las a um projecto real, nem sempre é no entanto obvio ou fácil. A realidade é que todos ficarão muito melhor servidos se cada um se conseguir integrar numa área onde se sinta capaz e feliz.
A questão é que, aparentemente, nem toda a gente tem noção disto…

Há uns anos trabalhei numa agência de comunicação. Estava encarregue de toda a parte logística da empresa, assim como da contabilidade corrente, pagamentos e recebimentos, mapas de tesouraria, etc e dava também apoio a alguns projectos.
Basicamente, fazia aquilo que melhor sei fazer; organizar… Para mim é quase uma actividade lúdica, o meu cérebro parece talhado para esse tipo de tarefa. Mesmo sem querer, quando dou por mim já estou a organizar tudo à minha volta. Ou seja, durante uns tempos senti-me bem naquela empresa.
As minhas patroas também pareciam bastante satisfeitas comigo. Na realidade, tão satisfeitas, que acharam que deveria aspirar a um “cargo” de maior relevância, que deveria tornar-me gestora de projecto. Começaram a pressionar-me por não compreenderem a minha falta de “ambição”.  O ambiente tornou-se tão pesado que acabei por me despedir.
Ora se fazia bem o meu trabalho e gostava de o fazer… se elas precisavam de alguém que o fizesse… isto parece-vos fazer algum sentido? Pois…

Há tempos, propuseram-me um negócio de venda de roupas. Pareceu-me uma ideia brilhante, coisas muito giras, muito baratas, atirei-me a ela.
Erro! Oh que grande erro… a realidade é que, se há quem consiga vender areia no deserto, eu  acho que nem água conseguiria vender. Se as pessoas se queixam de falta de dinheiro, ponho-me no lugar delas e não consigo insistir. Se não acedem a vir ver à primeira ou à segunda, sou incapaz de insistir, sinto-me uma chata. Se não se mostram naturalmente inclinadas a comprar, não consigo dar-lhes a volta. Não tenho espírito de vendedora, tudo o que implica vai contra as minhas tendências naturais.

Há coisas que gostamos de fazer ou que fazemos bem, com facilidade, mesmo que não nos dêem um especial  prazer, e outras para as quais simplesmente não fomos talhados. Coisas que a uns saem com naturalidade, para outros são verdadeiras provações mas, como se costuma dizer, há gente para tudo.
As aflições financeiras tendem a toldar-nos o raciocínio e a fazer com que, em desespero, nos abalancemos a actividades condenadas ao fracasso desde o início. Se conseguirmos no entanto ter uma noção dos nossos pontos fortes e fracos, mais facilmente nos iremos encaixar nalguma, seja ela qual for, que nos encha as medidas, que nos faça sentir que aquelas horas do dia não são desperdiçadas.


COM MÚSICA

terça-feira, 2 de março de 2010

Baldes de água fria

COM MÚSICA




Começo por pedir desculpa por esta longa ausência… é difícil arranjar ligação á net no deserto… ;)


O nosso relacionamento com os outros baseia-se em determinados pressupostos. Quando acabamos de conhecer alguém estes ainda não existem, tudo está ainda por descobrir, apesar de podermos eventualmente já possuir algum feed-back de terceiros.
No caso das relações de longa data, sejam de que tipo for, teoricamente “as medidas” já estão tiradas, os principais traços de carácter são claros para nós e agimos em conforme.

Todos temos defeitos e qualidades, características louváveis e outras menos agradáveis, mas sobretudo uma entidade com a qual os outros nos identificam.
Algumas pessoas escolhemos para fazer parte das nossas relações, outras nem por isso. É o caso da família, por exemplo, dos colegas de trabalho, das caras metade dos amigos, etc… Seja por escolha ou obra do destino que entraram nas nossas vidas, se lá estão, gostamos de saber com o que contar.
Olhamos para as pessoas e interagimos com elas com base neste conhecimento. Como tal, as nossas acções e reacções são diferentes consoante o individuo com o qual estivermos a lidar.

Para dar um exemplo concreto e muito simples; como todos sabemos, há quem não tenha qualquer noção de horas e quem seja de uma pontualidade britânica.
Se um dos primeiros chegar atrasado a algum evento é considerado normal, é espectável, ninguém irá estranhar.
Se, por outro lado, o mesmo acontecer com alguém que se enquadre na segunda categoria, irá certamente causar, senão preocupação, pelo menos espanto.
É tudo uma questão de expectativas…

Independentemente de qualquer juízo de valor sobre as características de cada um, esperamos que certas pessoas “sejam” de determinada maneira, simplesmente porque sempre nos deram a entender que assim eram.
Podemos não admirar ou sequer apreciar certos traços de carácter, considera-los negativos, dignos de crítica, condenáveis… mas gostamos de saber “com que linhas nos cozemos”.
Acontece que, volta não volta, levamos com desagradabilíssimos baldes de água fria.
De repente damo-nos conta de que o que parece não é, tomamos consciência de que vivemos uma ilusão… é, ás vezes, uma experiência chocante.

Imaginem, por exemplo, uma mulher que se deixe encantar por um D. Juan e com ele junte trapinhos. Por muito que acredite que este se tenha “reformado” por sua causa, se um dia descobrir que não foi bem assim, só se for muito ingénua é que ficará realmente surpreendida.
Imaginem agora que o cara metade em questão é um tipo certinho, sem evidência de instintos putanheiros, com um passado pacífico. Se por acaso vier a lume que andou alegremente a mijar fora do penico, deixará qualquer uma de cara à banda.
Dir-me-ão que o resultado final é o mesmo; um grande par de cornos… É um facto, mas aposto que não sabem ao mesmo.

Há dias li, algures num blog da nossa praça, que uma amiga da autora se apaixonou por um homossexual, estando absolutamente decidida a fazê-lo mudar de campo… Santa ingenuidade, diria eu, mas está no seu direito e pelo menos sabe o que a casa gasta. Imaginem que “consegue” e um dia chega a casa e dá com ele a apanhar o sabonete na banheira com um amigo … Não me parece bem a mesma coisa do que se for qualquer uma de nós a dar de caras com tal cenário.

Ou outro caso, de uma pessoa que namorou, viveu e mais tarde casou, com outra que não sabia ser toxicodependente. Imaginem o que terá sentido quando começou finalmente a somar dois e dois…

Se estes meus últimos exemplos são de carácter sentimental, eles existem em todas as cores, tamanhos e feitios. 
Podemos relacionar-nos com pessoas com qualquer característica … mas deveríamos pelo menos saber com o que contar. Há coisas que têm um impacto brutal nas nossas vidas, é bom que para elas estejamos preparados, certas descobertas podem abalar os nossos alicerces.

Mas, no meu entender, pior do que a necessidade de reajustarmos as nossas vidas em função do novo pressuposto, mais grave do que os eventuais danos que a nova realidade possa provocar… é a sensação de termos sido ludibriados, de nos terem atirado areia para os olhos ou, pior ainda, de não termos tido o discernimento de apreciar a situação tal como era na realidade.
A verdade é que, na maior parte dos casos, à posteriori nos perguntamos “mas como é que eu não me apercebi disto, estava ali mesmo à minha frente e eu não quis ver…”