terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Último post de 2010

COM MÚSICA




Tipicamente, nesta altura do ano, olhamos para trás e fazemos um balanço...
o meu deixou-me sem grande disposição ou inspiração para escrever.

Não querendo no entanto deixar-vos sem nada para ler esta semana, remeto-vos então para um dos primeiros posts deste blog.

Desejo a todos um excelente ano de 2011!







"[…] And you start to accept your loss with your head up and eyes straight ahead, with the grace of a grown-up, not the sadness of a child.[...]"

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Palmadinhas nas costas…

COM MÚSICA



Aqueles de nós que não tiveram a sorte de nascer perfeitos e disso têm consciência, irão passar a vida numa luta constante contra as suas imperfeições, na tentativa de se tornarem pessoas melhores. ;)

Irão ganhar umas batalhas e perder outras, faz parte.
Algumas serão vitórias privadas, coisas que só a si dizem respeito. Outras terão a ver com a sua forma de se relacionar com os outros.
Curiosamente, estas poucas vezes são reconhecidas ou louvadas por terceiros.

Quando conhecemos alguém, mal ou bem tiramos-lhe as medidas. Conforme o tempo vai passando, raramente nos lembramos de fazer uma reavaliação. As pessoas tendem a ficar ad eternum com os carimbos que lhes foram impressos. 
Tanta gente tem a fama sem já ter o proveito…

Mudar custa, livrarmo-nos de hábitos, de traços de carácter, que identificamos e assumimos como prejudiciais, não é fácil, requer esforço.
O reconhecimento desse esforço, e eventual resultado positivo, por parte de terceiros tem um gostinho a recompensa. Este não é obrigatório, não é necessário, cada um terá certamente consciência da sua evolução, mas sabe bem.

Por outro lado, é ele que valida a opção que fizemos, a mudança que decidimos abraçar. É ele que nos confirma que esta foi positiva e apreciada.
É também um incentivo para continuarmos, não só a enfrentar novas lutas mas, sobretudo, a manter aquilo que já conseguimos alcançar. 
Se o nosso esforço não parecer surtir efeito, facilmente cairemos na tentação de deixar de o fazer, o que poderá ter como resultado uma regressão. Como toda a gente sabe os maus hábitos são muito mais fáceis de ganhar.

Temos o hábito de reclamar; quem não utilizou já os livros postos á sua disposição para esse efeito em estabelecimentos públicos?!
Mas quantos pensam sequer em elogiar algo que lhes agradou?
Qualquer pessoa, com um mínimo de à vontade a nosso respeito, nos apontará falhas com a maior das facilidades. Quantas terão por hábito enaltecer as nossas qualidades, sobretudo as recém adquiridas?

Mais grave ainda, quantos as vêm sequer, quantos dão por elas?
Os pontos desagradáveis são notados, são tidos em conta… as melhorias passam aparentemente frequentemente despercebidas.

Cada um de nós ganha rótulos que se lhe agarram ao corpo que nem etiqueta de supermercado, dificilmente nos livramos deles.
Se mudarmos de óculos, de corte de cabelo, de estilo de vestir, se fizermos um esforço por nos tornarmos mais agradáveis à vista… toda a gente repara, toda a gente acha por bem comentar.  
Se limarmos umas arestas da nossa personalidade e nos tornarmos pessoas mais sociáveis, de trato mais fácil, a maior parte nem sequer vai dar por isso e menos ainda comenta-lo connosco.

Abram os olhos e dêem umas palmadinhas nas costas de quem o merece. ;)


“The only man I know who behaves sensibly is my tailor; he takes my measurements anew each time he sees me. The rest go on with their old measurements and expect me to fit them.”
George Bernard Shaw



PS: Este vai dedicado a um Schtroumpf Grognon do meu coração que tem, a meu ver, feito um percurso de tal forma impressionante, que já pouco parece ter a ver com a pessoa que conheci. Quem disse que burro velho não aprende línguas?! ;)


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

HaHaHa

COM MÚSICA


No outro dia, o meu filho acusou-me de ser má.
Disse que eu era má para os animais, por causa dos brinquedos que lhes tinha arranjado recentemente. Quando soube a razão da minha maldade fiquei muito mais descansada… ;)

Comprei para a nossa cadela, que destrói tudo quanto é bola que apanhe, uma bola de ténis gigante, que ela simplesmente não consegue morder. Fica doida a tentar abocanha-la sem qualquer sucesso e perante a impossibilidade acaba por brincar como o fazem os gatos, à patada. É hilariante.
Para os bichanos construi um brinquedo, uma caixa de madeira com tampa de acrílico, onde fiz dois buracos. Lá dentro meti umas bolas. É vê-los doidos a tentar tira-las de lá.

É verdade, sou um bocado traquinas, mas o pior que faço é dar-lhes uns piparotes na dignidade, nada de realmente grave… entre a traquinice e a maldade vai uma grande distancia.

Acontece que acredito que o riso seja profiláctico… já diziam as Selecções do Reader’s Digest, que “rir é o melhor remédio”.

Desde que me lembro de ser gente que sempre vivi rodeada de humor, há famílias assim, não sei viver de outra forma, está-me no sangue. Bocas, piadas, partidas e brincadeiras sempre fizeram parte do meu dia a dia, tanto nos momentos bons como até ás vezes nos maus. Sempre que penso no meu pai, vejo-o com um sorriso malandro nos lábios, com ar de quem "já a fez ou está para a fazer", era assim que ele era. ;)

O simples esboçar de um sorriso tem o mesmo efeito que a válvula de escape de uma panela de pressão. Há situações em que nos perguntam “ e tu ris-te?!”… mais vale rir do que chorar, o que ás vezes é a alternativa. Se é verdade que acredito que o choro também possa ser libertador, tendo escolha, prefiro sempre a primeira opção.
Rir a bandeiras despregadas, rir até temer fazer xixi nas calças, pode ter efeitos semelhantes aos de um orgasmo. Partilhar o riso com alguém, partilhar boa disposição, é um acto de empatia, de cumplicidade,  que deixa um calorzinho bom.

Considero o sentido de humor uma das características mais importantes do ser humano, sem o qual a vida seria muito enfadonha. A sua perda é para mim um muito grave sinal de alarme.

Podemos utiliza-lo em qualquer situação, em qualquer modalidade, tanto com amigos como com perfeitos desconhecidos. O humor, para quem o partilha, faz baixar a guarda, relaxar, sentir-nos em sintonia.

Tal como tantas outras coisas, tem evidentemente de ser acompanhado de bom senso e sentido da oportunidade. Há sem dúvida anedotas sem graça, piadas despropositadas, brincadeiras de mau gosto.
É também um bocado como usar chapéu, há quem saiba e quem não saiba (que é o meu caso… lol) e quem não sabe sente-se, e fica efectivamente, mal com eles enfiados na cabeça. Não há dúvida que só devemos praticar aquilo com que nos sentimos confortáveis.

Há uma cena que adoro, no “Casamento do meu melhor amigo”, em que a Júlia Roberts, muito bitch, “obriga” a Cameron Diaz, que disso tem pavor, a cantar um Karaoke.
A desgraçada fica para morrer, mas vejam como acaba a cena, quando se dá conta de que afinal o embaraço não é fatal. ;)



Há infelizmente (para eles) muita gente que padece da sua falta, pessoas que se levam demasiado a sério, que têm um terrível medo do ridículo, que não sabem rir de si próprias. Tal como disse um tal de George Saintsbury, ilustre escritor de que nunca tinha ouvido falar (lol); “Nothing is more curious than the almost savage hostility that humor excites in those who lack it. “

Rir só me parece trazer benefícios, não conheço ninguém que se tenha prejudicado por ser bem disposto. Se a vida for levada demasiado a sério torna-se pesada, difícil de suportar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quem conta um conto…

COM MÚSICA



O ser humano comum fofoca… e quem nunca fofocou, que atire a primeira pedra. ;)
Por fofoca entenda-se falar de pessoas e assuntos que não lhe dizem obrigatoriamente respeito, basicamente, dar notícias e comentar a vida alheia.
Está-lhe na natureza, por alguma razão existem as malfadadas revistas da especialidade.

Uns fofocam sem dúvida mais do que outros, é certo mas, se há pessoas que raramente iniciam conversas sobre terceiros, não sei se existe algum ser que nunca nelas participe.

Aqueles vão-se separar, o outro vai casar, aquela teve uma criança, teve um acidente, cortou o cabelo, inscreveu-se no curso tal, mudou de casa, adoptou um cão, pintou o tecto de beige… lol
A curiosidade é uma das características do homem e a conversa também.

Não havendo tempo suficiente na vida para aprender tudo com a experiência, a dos outros pode eventualmente ajudar-nos. Através da observação e análise daquilo que consideramos ser os seus erros poderemos evitar comete-los nós próprios. O contrário também sendo evidentemente válido e parecendo-me legítimo “copiarmos” comportamentos que pareçam trazer bons resultados.

A conversa sobre a vida alheia pode também ser valiosa como exemplo para discutir ideias. Muitas pessoas têm pudor em falar de si próprias mas, distanciando-se, conseguem argumentar teorias que poderão ser de alguma utilidade.

A experiência dos outros poderá também servir de alerta para determinado tipo de situações. Pode ajudar-nos a protegermo-nos e/ou ensinar-nos como lidar com acidentes, doenças, agressões, falcatruas, etc…

Mas, frequentemente convenhamos, serve simplesmente para se praticar aquele desporto chamado “corte e costura”… ;)
Desde que não seja feito com malícia, que não se inventem mentiras ou sejam devassados assuntos confidenciais ou íntimos, não vejo grande problema nisso.

Há no entanto um grande perigo…
Como se costuma dizer; “quem conta um conto, acrescenta um ponto”.
E se alguns falam exclusivamente daquilo que sabem, deixam claro que estão a dar uma opinião pessoal ou frisam que foi simplesmente o que ouviram dizer, outros há que extrapolam sem qualquer pudor.

Há quem acrescente o tal ponto, para dar colorido à história.
Quem tenha a presunção de conhecer os outros ao ponto de saber o que lhes vai na cabeça, de lhes atribuir pensamentos, intenções.
Quem permita que julgamentos de valor sufoquem qualquer isenção no que está a reportar.
Quem tenha uma imaginação fértil e tire ilações com demasiada leviandade.
Qualquer uma destas coisas pode facilmente levar à calúnia e à difamação...


Quem fala dos outros deveria fazê-lo com bom senso, justiça, critério e contenção, exactamente como gostaria que fizessem a seu respeito, pois suponho que ninguém seja ingénuo ao ponto de julgar que não falam também de si. ;)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cantas bem mas não me alegras

COM MÚSICA



Hoje em dia circulam constantemente e-mails com dizeres filosóficos, sábios ditados, citações, histórias de vida, conselhos de saúde e bem estar, pedidos de ajuda vários…
Estes dizem-nos que o dinheiro não é tudo, que devemos viver o momento, acarinhar as amizades, estender a mão ao próximo, sorrir, beber água, escolher bem os alimentos que consumimos, fazer exercício, reciclar, proteger o ambiente, respeitar o próximo, ajudar… e não vos aborreço mais pois todos devem receber os mesmos que eu. ;)

Se algumas pessoas os mandam directamente para o lixo, outras há que, mais ou menos criteriosamente, os reencaminham. São estas que tipicamente também partilham este tipo de mensagens em Facebooks e afins, em blogs, ao vivo e a cores… ou seja que, mais ou menos empolgadamente, as divulgam de uma forma geral.

A evolução do bicho homem passa por uma tomada de consciência relativamente a si próprio, à vida em sociedade e ao mundo que o rodeia. Este tem-se vindo a aperceber dos muitos erros que cometeu ao longo da história e do facto que, se as coisas não mudarem, o seu futuro não será brilhante.
Os actuais meios de comunicação permitem uma divulgação fácil destas problemáticas.

Pergunto-me no entanto, por entre aqueles que “divulgam a mensagem”, quantos viverão realmente segundo aquilo que apregoam.
Quantos depositarão as suas garrafas no vidrão, tentarão evitar usar sacos de plástico ou pouparão água no duche? Quantos farão efectivamente o tal telefonema para a União Zoófila ou se darão ao trabalho de se deslocar aos postos de recolha para testar a compatibilidade de medula? Quantos beberão a quantidade diária aconselhada de água ou praticarão exercício? Quantos estarão lá para os filhos e para os amigos, brindarão o próximo com um sorriso ou farão um esforço consciente por expulsar o stress das suas vidas?

É sem dúvida importante termos noção daquilo que podemos fazer para melhorar as nossas vidas, para estendermos a mão ao próximo, para pouparmos o ambiente. É igualmente importante a partilha dessa informação. Mas não chega…
A divulgação, através dos vários meios ao nosso dispor, deste tipo de dicas parece hoje em dia ter virado moda. As pessoas parecem sem dúvida mais alertas, mais conscientes do que está ao seu alcance fazer… a questão é se o fazem. 

Muitos apoiam iniciativas, ideias, conceitos… dissertam sobre eles, divulgam-nos… mas nem todos agem nesse sentido. Se as “mensagens” transmitidas a torto e a direito fossem seguidas pelo menos por aqueles que as passam, o mundo já seria neste momento um sítio muito melhor.
A vida é uma cadeira prática. ;)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Ogres são como as cebolas

COM MÚSICA



Burro – Cheiram mal?!
Shrek – Não! Têm camadas…

Assim são também as relações entre as pessoas, das mais superficiais às mais profundas …
Se o carácter e características dos indivíduos que se enquadram na primeira categoria não pesam grandemente na nossa vida, o mesmo já não se poderá dizer no que diz respeito aos da segunda.

Que o senhor do café,  goste de se vestir de mulher, que gaste tudo o que ganha no casino ou que tenha como hobbie coleccionar bigornas… para nós é perfeitamente igual ao litro. O mais provável, de qualquer forma, é que nem tenhamos conhecimento de nada disso.
Se estivermos no entanto a considerar casar com ele, talvez já não sejamos tão indiferentes a estes “pequenos detalhes” … ;)

Quanto mais as pessoas entram na nossa intimidade, mais importantes se tornam na nossa vida, mais peso têm. O que pensam, dizem e fazem as mais próximas de nós irá, frequentemente, de uma forma ou de outra, afectar-nos positiva ou negativamente.

O envolvimento, seja de que natureza for, começa por uma certa empatia. Volta não volta,  sentimo-nos tentados a “ir mais longe”, a deixar o outro entrar mais profundamente na nossa vida.
É no entanto extremamente importante que tenhamos a noção de “onde” o podemos efectivamente deixar entrar.
Inútil será dizer que isso nem sempre acontece e qualquer um de nós terá casos em que abriu a porta de uma divisão onde o outro não era suposto ir.

Onde isto é mais flagrante é nas relações amorosas.
Terá, até certo ponto, a ver com a paixão, com a irracionalidade e cegueira inerentes a este tipo de sentimento. Mas não só.
A realidade é que, muitas vezes, não temos noção de que uma pessoa que poderíamos apreciar  como amiga, dificilmente poderá partilhar a vida connosco.
Mas o que é válido para os amores é também válido para as amizades, and so on

Utilizando mais uma vez a analogia com os jogos, que neste caso ajuda bastante a exemplificar o que tento transmitir, é preciso saber o que conseguimos e nos dá prazer jogar.

Tanto eu como grande parte das pessoas com quem me dou, somos jogohólics. Jogamos jogos de tabuleiro (de dificuldade variada), jogos de sociedade, jogos de cartas, etc… Temos um armário cheio deles, de cima a baixo.

Ora cada um de nós tem jogos que se recusa a jogar, que não sabe nem quer aprender.
As razões podem ser variadas, podemos acha-los demasiado estúpidos, demasiado complicados, ou simplesmente não lhes achar graça por alguma razão pessoal e intransmissível.
Eu pessoalmente recuso-me a jogar Bridge, por exemplo. Vivi com uma pessoa que  jogava todas as semanas e todas as semanas havia discussões, pessoas que se zangavam forte e feio, por causa da porcaria do jogo. Acho que fiquei traumatizada… (LOL)

Por outro lado, há jogos que só jogamos no social, quando estão presentes grupos grandes, mas que não nos passaria pela cabeça jogar no nosso núcleo mais fechado. Digamos que há jogos que se adequam a cada camada  da cebola.

Dito isto, voltando à vida real, cada um de nós tem os seus jogos, sendo eles a sua maneira de ser, de pensar, de agir. Não fazendo julgamentos de valor, convém no entanto saber os que estamos dispostos a jogar com os outros. E quanto mais perto do núcleo os deixarmos aproximar, mais criteriosos deveremos ser.

Imaginemos que alguém tem tendências sexuais sadomasoquistas, por exemplo. Se fôr um amigo, dificilmente isso irá interferir com a nossa relação. A coisa pode mudar de figura se se tratar da nossa cara-metade.
Este é um exemplo extremo e caricatural, há no entanto muitos aspectos a ter em conta ao atribuirmos um papel na nossa vida a alguém. 
Se certas características se podem facilmente suportar em certo tipo de relações, em que eventualmente nem sequer daremos por elas, noutras já  nos poderão afectar seriamente.

Nem sempre o “tipo de jogo” de cada um é fácil de identificar à partida. Ás vezes  atiramo-nos de cabeça,  dando-nos posteriormente conta de que não o queremos ou conseguimos jogar.
Mas uma coisa parece-me óbvia; se já sabemos que o outro não ouve a mesma canção, não empenhemos a porcaria do anel de rubi… ;)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Gatos escaldados

COM MÚSICA


No outro dia, numa série, apareceu um actor que já tinha visto várias vezes e tive a curiosidade de ir investigar…
Tommy Flannagan  tem duas cicatrizes na cara que dificilmente passarão despercebidas. Este Glasgow Smile  foi-lhe feito durante um assalto em que quase perdeu a vida. 
Depois desta desfiguração o rapaz tinha várias hipóteses… ficar fechado em casa, passar a usar burka ou, porque não, ir tentar a sorte como actor em Hollywood. ;)
Jà entrou entretanto em 42 filmes e séries, entre os quais o Braveheart e o Gladiator, e suspeito seriamente que o facto de nunca ter tido nenhum papel de relevo se deva mais provavelmente a uma certa ausência de talento do que à sua cara.

Ninguém está livre de passar por acontecimentos dramáticos. Ousaria mesmo dizer que, em diversas medidas, todos passamos por um que outro durante a vida.
Ás vezes são situações  tão extremas que nos perguntamos como será possível alguém sair delas mantendo alguma sanidade mental.
Conheço, pessoalmente, casos de mulheres maltratadas pelos maridos, de suicídios de entes queridos, de violações, de crianças molestadas sexualmente, de pessoas que perderam filhos, de filhos que perderam os pais durante a infância, um dos quais assassinado à sua frente…
Se conhecessem qualquer uma destas pessoas de quem vos falo, provavelmente nunca suspeitariam do que lhes tinha acontecido. São pessoas normais, sãs, aparentemente felizes. Qualquer uma delas acabou por me contar a sua história porque simplesmente veio a propósito e não para se vitimizar ou justificar fosse o que fosse.

Terão sido fáceis de ultrapassar, estas situações?!
Suspeito seriamente que não, deve ter sido um árduo e longo caminho. As cicatrizes, apesar de não serem visíveis a olho nu, devem ser profundas e nunca irão desaparecer.
A realidade é que, de uma forma ou de outra, conseguiram ultrapassar os seus martírios e aproveitar o que a vida tem de bom para dar.

No meio das minhas pesquisas dei de caras com esta citação, que lhes assenta que nem uma luva:
“No experience is a cause of success or failure. We do not suffer from the shock of our experiences, so-called trauma - but we make out of them just what suits our purposes.”
Alfred Adler

No outro dia estive a ver uma conferência muito interessante no Ted Talks, de um tal de Dan Gilbert, que vos aconselho vivamente.
Entre outras coisas, ele pergunta o que preferíamos, se ganhar a lotaria ou ficar paraplégicos, sublinhando o facto de que, provavelmente, todos escolheríamos a primeira opção.
Contou então que, um estudo demonstrou que, um ano depois de terem ganho a lotaria ou terem ficado paraplégicas, havia uma equivalência de pessoas felizes em ambos os grupos.

Há outro tipo de pessoas, para quem qualquer experiência menos agradável, mais difícil de gerir, serve de desculpa para não serem felizes. Pessoas que, em vez de tentarem dar a volta por cima, preferem passar a vida a carpir os seus dramas.
Não os aproveitam para aprender; a apreciar a “bonança” entre tempestades, a dar valor ao que de bom têm na vida, a lidar com os outros, a saber proteger-se, a fortalecer-se.
Muitos gostam de lhes chamar traumas, ficam traumatizados  por dá cá aquela palha. A questão é que esses traumas só costumam dar ares de sua graça quando a coisa dá para o torto e precisam de um bode expiatório para justificar as suas atitudes.
São pessoas que, em vez de erguer a cabeça e fazer-se à vida, se encolhem no seu pequeno ninho de autocomiseração, encarando o mundo como seu inimigo.

Quero ressalvar que estou consciente de que verdadeiros traumas existem e são problemas extremamente sérios e difíceis de ultrapassar. Acho simplesmente que se faz um uso abusivo da palavra.

Diz-se que “gato escaldado de água fria tem medo”… mas convém não esquecer que bichano é animal irracional… digo eu, sei lá… ;)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Comprimentos de onda

COM MÚSICA

 
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros…”
Ou deveria talvez antes dizer, para efeitos deste post ; todos somos diferentes, mas alguns são menos diferentes que outros… ;)

As pessoas com quem escolhemos relacionar-nos não são obrigatoriamente parecidas connosco. Cada um de nós é único, com características, convicções, ideias, atitudes, etc, potencialmente muito diferentes.
Se as semelhanças tendem a aproximar as pessoas, são no entanto, por vezes, as diferenças que nos atraem nos outros.

Partilhar a mesma visão do mundo não é condição  sine qua non  para um relacionamento. Se assim fosse, seria aliás um tédio, sem desafios, sem contradições, sem discussão, sem novidade.
Algo nos aproxima certamente, algo teremos em comum que nos atraia uns para os outros, mas não obrigatoriamente a postura perante a vida.
É perfeitamente possível um bom  relacionamento entre pessoas de diferentes religiões, opiniões políticas, ideologias, etc… nem só de concordância vive o homem.

O contacto com a diferença é, na minha opinião, positivo, saudável e estimulante, sobretudo se tivermos uma mente aberta, crítica e permeável à mudança.
Entre outras coisas, através desses outros diferentes  poderemos apreender novos pontos de vista, observar reacções ás suas maneiras de ser, assistir ás consequências dos seus actos, analisar as suas ideias e tirarmos as nossas próprias conclusões.
Em suma, permitem-nos evoluir, sem termos de passar pessoalmente pelas experiências o que, convenhamos, dá um certo jeito e poupa tempo.

Como seres em permanente mutação que somos, vamos pondo coisas em questão.
“Quanto mais sei, mais sei que nada sei…”
E, relativamente ás conclusões a que vamos chegando na vida, gostaríamos de ter certezas, gostaríamos de ter provas, gostaríamos de nos poder apoiar em verdades absolutas… mas nada disto acontece.

Há no entanto uma coisa que ajuda muito… e que são os  menos diferentes do que os outros.
Todos temos um que outro na nossa vida, seres com a mesma visão das coisas, a mesma postura. Daquelas pessoas que provocam em nós o pensamento presunçoso de que “Great minds think alike”…lol

Ao partilharmos as nossas ideias, as nossas teorias, com terceiros , estes podem até  vir a concordar connosco, aceitar os nossos pontos de vista ou simplesmente estar dispostos a considera-los.

Muito mais gratificante, no entanto, é o contacto com alguém que diga as mesmas coisas por outras palavras, que exprima aquilo que pensamos mas não verbalizámos, que acrescente alguma coisa que vá no mesmo sentido, que sustente teorias que intuímos, que desenvolva as questões como o faríamos… basicamente que tenha chegado, grosso modo, ás mesmas conclusões que nós.
 
Não serão obrigatoriamente parecidos connosco. São frequentemente pessoas com uma experiência diferente da nossa, ás vezes até com vidas muito diferentes  mas que, de alguma forma, acabaram por ver o mundo com os mesmos olhos, por chegar ás mesmas conclusões básicas sobre o que é realmente importante na vida.

Não são nem mais nem menos do que os outros mas, sobretudo se nos parecerem pessoas equilibradas, sãs, felizes, são de certa maneira eles que validam aquilo que somos.






Este vai dedicado a um






que tem sido objecto de agradáveis surpresas... ;)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os bem intencionados

COM MÚSICA




Aqui à tempos veio cá jantar uma amiga em vias de mudar de casa.
Quando lhe perguntámos se precisava de ajuda, respondeu que  agradecia mas tinha tudo sob controlo e acrescentou que já várias pessoas lhe tinham perguntado o mesmo.
Ao que o namorado (ups… não sei se lhe devia ter chamado isso… lol) comentou que gostava de saber, se tivesse aceite, quantas delas se chegariam efectivamente à frente…

É um facto que aparentemente muita gente acredita que “a intenção é que conta”…
Não a querendo subestimar, pois sem dúvida que ás vezes as coisas não correm propriamente como desejaríamos, também não consigo concordar a afirmação.

Se alguém nos pede ajuda, ou espontaneamente lha oferecemos, supõe-se que seja porque dela precisa. A simples intenção de o fazer não vai, convenhamos, adiantar grande coisa.
Notem que quem diz ajudar, diz “estar lá” para os outros de alguma forma. Como se costuma dizer “os amigos são para as ocasiões”, expressão um bocado vaga mas que todos entendemos. ;)

É muito fácil ser-se “amigo” numa festa, numa ida ao cinema, num jantar… Os momentos de descontracção e lazer não geram normalmente conflitos de interesse.
Alancar numa mudança, fazer uma visita ao hospital,  dar uma ajuda com um projecto ou simplesmente ouvir um desabafo, não trazem à partida grande satisfação pessoal.

Estender a mão implica sempre algum sacrifício da nossa parte.
Pode obrigar-nos a reorganizar os nossos planos, a ter de arranjar soluções alternativas para a nossa própria vida, a arranjar um tempo que muitas vezes já escasseia ou simplesmente a abdicar de coisas que nos apetecia muito mais fazer.

A questão é que as pessoas tendem a falar da boca para fora, sem ter em conta este tipo de considerações. Querem ser simpáticas, fazer boa figura, portanto propõem/acedem e só mais tarde se deparam com os mas… e aí é que a porca torce o rabo.
Nessa altura põem, consciente ou inconscientemente, numa balança o transtorno que a “boa acção” lhes irá causar versus o seu retorno e optam por ficar quietinhas e seguir calmamente com a sua vida.

Aquilo de que provavelmente não se darão conta é que, ao gorar as expectativas que criaram, estão a causar dano.
A maior parte de nós já está conformada com o facto de que, infelizmente, a única pessoa com quem realmente pode contar é consigo própria. Quando não surge ninguém para dar uma “mãozinha”, já ninguém se admira.
No entanto, se nos puxarem o tapete debaixo dos pés, acaba por ser muito pior a decepção  e eventual alteração de planos para colmatar o buraco, do que a ausência de candidatos.

Assim, antes de acedermos a fazer alguma coisa pelo próximo, todos deveríamos estar perfeitamente conscientes do que isso implica e certos de que estamos dispostos a fazê-lo. Mas sobretudo, como em tantas outras coisas, deveríamos manter as nossas “promessas”.
A intenção, afinal, não conta para grande coisa…

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Watcha see is watcha get

COM MÚSICA



Quem somos, de onde vimos, para onde vamos?
De onde vimos, é história… para onde vamos, ninguém sabe… parece-me no entanto definitivamente importante que tenhamos uma ideia de quem somos. ;)

E quase tão importante como o sabermos nós, é que os outros também tenham uma boa noção.
Uma sólida coluna vertebral e transparência relativamente ao nosso carácter parecem-me fundamentais para que saibam com o que podem contar, o que não irá obrigatoriamente fazer com que nos aprovem ou apreciem, mas pelo menos não os induzirá em erro.
Por outro lado, esse reflexo de nós próprios que vemos nos outros – se nos dermos ao trabalho de lhe prestar atenção – é o que nos irá servir de bitola para irmos moldando a nossa personalidade.

Nobody is perfect. But who wants to be nobody?!
Todos temos traços menos agradáveis, todos metemos o pé na argola de vez em quando, todos já fizemos ou dissemos coisas de que nos arrependemos…

Por transparência não estou a sugerir que publiquemos os nossos pecados e pecadilhos no jornal ou que mandemos sempre cá para fora tudo o que nos passa pela cabeça. É evidente que viver em sociedade requer sensatez e diplomacia.
No entanto assumirmos, quando necessário, a responsabilidade tanto dos nossos actos como das nossas opiniões, torna-nos íntegros e fiáveis.

Tal como o disse anteriormente, isso não nos torna obrigatoriamente “amáveis”. Os outros, dependendo da presença ou ausência de empatia, do seu grau de tolerância para com as diferenças, das suas próprias características, gostos e ideias, poderão apreciar-nos ou nem por isso. Parece-me no entanto importante que, quer gostem ou não, seja daquilo que efectivamente somos, e não de uma ideia romanceada que possam fazer de nós.

É natural que, por razões várias, ás vezes tenhamos tendência a reprimir o nosso "verdadeiro eu”. Acontece, por exemplo, por desejo de agradar, necessidade de integração, receio de perder alguém ou simplesmente por não querermos criar ondas. Assim, frequentemente somos confrontados com a tentação de não nos mostrarmos tal como somos na realidade.

No entanto, a inegável realidade é que, quer queiramos quer não, as pessoas acabam sempre por falar umas sobre as outras; comentam o que fizeram ou disseram, teçem críticas ou elogios e emitem as suas opiniões sobre as mesmas.
Havendo grandes divergências, falta de consistência do personagem, falhas de coerência, começa a escassear a confiança na mesma.

Vestimo-nos consoante a ocasião, não é portanto de estranhar que alguns nos conheçam de fato de banho e outros de fato e gravata. Assim, é normal que várias pessoas tenham de nós percepções diferentes, para além de mais ou menos íntimas.
Mas, se parece natural alterarmos a nossa aparência, já não o será tanto fazê-lo com a nossa essência. Imaginem se duas pessoas, ao falar de nós, nos descrevessem com estrutura óssea, estatura, cor de pele, etc… diferentes.

Se esta transparência nos pode colocar em situações constrangedoras?! Sem dúvida.
Se nos virmos confrontados com alguma coisa que fizemos e da qual não nos orgulhamos, assumi-lo nem sempre é fácil. Estarmos em presença de pessoas com as quais temos normalmente relacionamentos completamente diferentes não é evidente de gerir. Assumirmos determinadas opiniões perante pessoas que suspeitamos á partida que não as partilham, nem sempre é uma coisa óbvia de fazer. Manter posições em que acreditamos mas não nos vão beneficiar no imediato pode parecer-nos suicida.

Todos vamos mudando ao longo dos tempos. Aprendemos com a experiência, mudamos de ideias, de gostos, de opiniões, ás vezes até mesmo de princípios. O importante no entanto é que a coluna vertebral se mantenha sólida, no lugar e perceptível para o resto do mundo.




Senão… somos umas lesmas… lol

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Diferenças irreconciliáveis"

COM MÚSICA


A vida sendo uma caixinha de surpresas, nem sempre as coisas correm como esperávamos… não devemos tomar nada como garantido.
As relações entre as pessoas são complexas e ás vezes, tal como o leite, azedam.

A vida é demasiado curta para que a desperdicemos em relações que de bom nada nos trazem. É então necessário ter coragem para mudar aquilo que podemos mudar e serenidade para aceitar o que não podemos.
E se há algo que não podemos mudar, são os outros.

A maior parte dos nossos relacionamentos sendo voluntários, apesar de tudo o que isso possa implicar, somos livres de sair deles.
Abre-se talvez uma excepção para os laços de sangue, ou deveria talvez dizer “algemas de sangue”, pois esses não escolhemos, saem-nos na rifa.

A relação com os outros, quer queiramos quer não, tem uma enorme influência nas nossas vidas. As que são harmoniosas trazem-nos paz e bem estar e as difíceis, angústia e desconforto. Qualquer uma nos afecta na medida do tempo a que a ela estamos expostos.
Assim sendo, deixando de parte a família que não é para aqui chamada, as que mais nos tocam são as relações amorosas e de amizade.

Quando deixamos alguém entrar na nossa vida, devemos aceita-lo como um todo. Não podemos “comprar” só as partes que nos agradam. Ninguém sendo perfeito, cabe-nos perceber se o podemos e queremos fazer.
E aqui entramos em terreno pantanoso.

Para começar, antes de realmente conhecermos alguém… não o conhecemos. Lapalissade, sem dúvida, mas muito relevante.
As pessoas encetam relacionamentos devido à empatia, a algo que as atrai umas para as outras, no entanto só o tempo e a experiência partilhada as dão efectivamente a conhecer umas ás outras.
Por outro lado, as pessoas mudam e ninguém nos garante que a que conhecemos hoje vá manter-se a mesma amanhã.

Um relacionamento pode começar por ser empolgante, gratificante, agradável e algures ao longo do caminho definhar. É triste mas não inédito.
Não estou a falar em problemas que possam surgir ao longo do percurso, nada mais natural do que um atrito aqui ou ali, um desentendimento, uma falha de parte a parte, esses acabam por se resolver de uma forma ou de outra.

Há uns anos escrevi um post que me voltou agora á memoria, sobre os sintomas que nos podem levar a abandonar um barco… é a isso que me refiro agora. Àquela sensação de que “algo está podre no reino da Dinamarca”.
Um dia dá-se um clic, cai uma gota de água, e torna-se claro para nós, mesmo que não o seja para o outro, que a relação já nada tem de positivo.

E quando isso acontece sou apologista do ponto final.
Todos conhecemos casos em que as coisas se arrastam, doentes, moribundas, durante o que parecem séculos. Não é, sem dúvida, fácil dar o passo.
Representa normalmente tanta mudança nas nossas vidas que se torna assustador, altera rotinas, implica terceiros, obriga-nos a pôr muita coisa em perspectiva.

Quando o fazemos sentimos um misto de alívio com profunda tristeza, pois por alguma razão nos envolvemos, por alguma razão deixámos crescer a relação.

Um erro comum é querer encontrar maus da fita, na vida real há poucos heróis ou vilões.
Cada um é como é e não nos cabe apontar o dedo, da mesma forma que não somos obrigados a apreciar ou aprovar.
Outro típico tiro ao lado é tentar induzir terceiros a tomar partidos. Cada relação é única, pessoal e intransmissível. O que é válido para nós pode não o ser para os outros, deixa-los de fora das nossas questões é não só uma questão de civilidade como de bom senso.

Até reencontrar-mos algum equilíbrio, até recuperarmos alguma paz de espírito, passamos por momentos difíceis, em que a situação acaba por estar sempre presente no nosso espírito, em que tudo nos parece lembrar a pessoa em questão.
Depois o tempo acaba por ter o seu efeito curativo, a dor vai-se atenuando, sendo inclusivamente possível voltar eventualmente um dia a conviver civilizadamente nos mesmos meios.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Marreca? Qual marreca?!

COM MÚSICA

Há pessoas que parecem viver em realidades alternativas, a imagem que têm de si próprias e dos seus actos não condizendo com o que o resto do mundo observa.

Fazem-me lembrar aquela cena do Frankenstein Jr. em que este diz para o Igor:
- Sabes, sou um brilhante cirurgião, talvez te possa ajudar com essa marreca…
- Qual marreca?!


Para que consigamos dar a volta àqueles traços de carácter que não trazem bem nenhum ás relações humanas, temos de os identificar em nós e assumir como indesejáveis.
Curiosamente, certas pessoas conseguem eximiamente reconhece-los nos outros, parecendo no entanto incapazes de os detectar em sem si próprios.

Há muitos e longos anos uma pessoa, em pós divórcio, disse-me estar extremamente preocupada com os filhos, pois a mãe “é uma mentirosa compulsiva, sem a mínima noção da realidade… mente sem razão, sem objectivo… afirma ter almoçado com A tendo almoçado com B quando, qualquer das situações sendo perfeitamente inócua, não haveria teoricamente qualquer razão para mentir sobre o assunto… não se pode acreditar em nada do que diz, com o perigo inerente que isso acarreta, fazendo lembrar a história do pastor e do lobo…”
Durante o decorrer conversa, na realidade mais um monólogo, o queixo ia-se-me descaindo até quase assentar nos joelhos… É que essa pessoa esteve a descrever-se detalhadamente a si própria sem visivelmente ter a mínima noção disso.

São igualmente muito desprovidas de isenção no que diz respeito a factos, distorcendo-os da forma que menos incómodo lhes cause, tendo só em consideração o seu ponto de vista e chegando inclusivamente a negar que certas coisas tenham acontecido. O que nos outros é a seus olhos condenável, no que lhes diz respeito, é geralmente perfeitamente explicável e justificado.

Não tenho conhecimentos de psicologia para conseguir compreender o que vem primeiro, o ovo ou a galinha…
Pergunto-me se começam por bloquear a autocensura para poderem fazer/dizer as coisas sem problemas de consciência ou se agem primeiro negando de seguida interiormente que o fizeram.

Não faço ideia se esta condição terá direito ao rótulo de “patologia psicológica“ mas faz-me pensar na anorexia, em que a imagem que a pessoa vê reflectida no espelho não condiz com a visão do resto do mundo.


De qualquer forma, estes individuos têm nitidamente sérios problemas de discernimento , tornando muito complicado o relacionamento com eles.
Hoje em dia chego à conclusão de que o confronto não é solução, não muda nada, não resolve nada, antes pelo contrário.
Convém ter em conta que costumam ter uma visão bastante lisonjeira de si próprios, aos seus olhos são “lindos” enquanto que os outros são “feios, porcos e maus”…
Tentar chama-los à razão será tão frustrante como tentar partilhar as cores do arco íris com um cego. Talvez até pior, porque além de frustrante é igualmente inglório pois irão certamente voltar-se contra nós.

Todos conhecemos ao longo da vida várias pessoas que se enquadram na descrição que acabo de fazer. Pessoalmente não conheço uma única que tenha acabado por “ver a luz”…

Resta-nos ter presentes as suas características e tentar, dentro da medida do possível, não nos deixar lesar por elas.
Parece-me um caso flagrante de ter a serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar. ;)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um direito, uma obrigação, um dever cívico…

COM MÚSICA



Ser feliz é um acto de altruísmo… ;)
Pessoas infelizes são a pain in the arse.

As pessoas infelizes são tristes e a tristeza, tal como a alegria, é contagiante.
Tal como quando estamos com dores não conseguimos pôr-nos na pele de alguém que não as sente, quando estamos tristes não conseguimos encontrar razões para sorrir. As pessoas infelizes tornam-se amargas, o seu sentido de humor, quando presente, é ácido, sarcástico.
A infelicidade é um grande inibidor da empatia. Assim, as pessoas infelizes são muitas vezes assoladas por sentimentos de inveja, de rancor, de aversão, pelo próximo.
Por outro lado, ela sufoca o amor próprio e facilmente as pessoas se convencem de que não são dignas de estima e consideração. Frequentemente se sentem magoadas, agredidas, sub-valorizadas, vendo as atitudes dos outros como reflexo dos seus próprios olhos.
A tolerância também escasseia e salta-lhes a tampa por dá cá aquela palha. Simplesmente não têm pachorra para aturar os outros.
Se não se conseguem ajudar a si próprios muito menos o conseguirão fazer a terceiros, não se pode portanto contar com uma pessoa infeliz.
A eles a vida nunca parece simples, o complicómetro não pára um segundo. Tudo é negro, tudo é pesado, tudo é difícil…
Perdem o fôlego, perdem a esperança, não vêem luz ao fundo do túnel, entrando assim numa espiral descendente que ameaça sugar todos os que estiverem à sua volta.

As pessoas felizes, ao contrário, irradiam calor e luz.
Sentem que a vida lhes sorri e sorriem de volta.
Não é nada entusiasmante “beber sozinho”,  assim gostam de companhia, apreciam partilhar a vida com quem está na mesma onda.
São geralmente alegres, bem dispostas, boa companhia, muitas vezes engraçadas.
Gostam de si próprias logo acham natural que os outros gostem também.
Como se sentem bem, gostariam que todos sentissem o mesmo, costumam portanto a estender a mão a quem dela precisa.
Tendem a ter o pavio mais comprido, a aceitar mais facilmente as diferenças, a tentar compreender posições diferentes das suas.
Para as pessoas felizes as dificuldades, os problemas, são desafios e não o fim do mundo.
As pessoas felizes têm um halo de energia positiva à sua volta onde dá vontade de nos aconchegarmos.

Somando dois e dois, a infelicidade não trás nada de bom… nem a nós próprios, nem aos outros. Be happy!


PS: Este post é dedicado a uma pessoa que foi infeliz durante muitos e longos anos (tal como previsto pela astróloga… lol) e que recentemente voltou “ao mundo dos vivos”.  Welcome back! ;)


terça-feira, 28 de setembro de 2010

What goes around, comes around…

COM MÚSICA





A vida é como um boomerang… what goes around, comes around.

Pessoalmente acredito que assim seja a todos os níveis, acredito que tudo o que fazemos, de bom ou de mau, acaba por voltar a nós. Talvez não pela mesma via, talvez não através das mesmas pessoas, mas de alguma forma acabamos por receber de volta o que atirámos para o universo. Não queria no entanto, hoje, entrar por esta via meio esotérica.

Revi recentemente o “Saving Private Ryan”, excelente filme que muito mexeu comigo…
Conta-nos a história de um grupo de homens cuja missão é descobrir e levar para casa outro soldado, cujos três irmãos morreram na mesma guerra. Durante todo o filme vão pondo em questão a decisão de arriscar a vida de todos para salvar a de um único homem, revoltam-se, discordam, mas vão prosseguindo. Mais não conto para não estragar o filme a quem não o tenha visto mas, no fim, o capitão Miller -Tom Hanks, para os amigos ;) - diz-lhe “James, faz por merecer isto…”.

Julgo que todos gostemos de “ser gostados”, de ser bem tratados… a realidade é que para isso temos de o merecer. Muita gente não percebe isso, não percebe que para receber é também preciso dar.

Para sermos respeitados, temos de respeitar. Para inspirarmos confiança, temos de saber confiar. Para merecermos dedicação, temos de nos dedicar. Para podermos ser amados, temos de conseguir amar.
Muitos desejam sentimentos nobres e quentes a seu respeito mas não sabem tratar o próximo com humanidade.

Todos deveríamos tentar ser aquilo que gostaríamos que os outros fossem.
A agressividade só chama por violência, a prepotência não atrai dedicação, a hipocrisia não inspira confiança, a intolerância não favorece o entendimento, a sonsice não merece frontalidade, o egoísmo inibe a compaixão, and so on
Que é como quem diz, não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti.

Se formos pessoas amáveis, afáveis, agradáveis, de trato fácil, educadas, seremos, na maior parte das vezes, tratados na mesma moeda. A empatia será certamente muito facilitada.
O poder de um sorriso franco é incalculável. Simples actos de simpatia movem montanhas. Pequeníssimos gestos de solidariedade valem ouro. É de todas estas pequenas coisas que se alimenta o amor pelo próximo.

Isto não funciona obrigatoriamente na base do um para um. Seremos ocasionalmente maltratados por quem acarinhámos, desconsiderados por quem respeitámos, agredidos por quem não provocámos. Mas, at the end of the day, a nossa relação com os outros em geral, sairá garantidamente favorecida.

O calor humano partilha-se e difunde-se. ;)


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Sopa

COM MÚSICA


Recentemente uma que outra pessoa me perguntou se estava tudo bem comigo, aparentemente os meus últimos posts pareceram-lhes um pouco “negros”…
Achei então oportuno relembrar-vos a razão de ser deste blog. ;)

Como julgo ter mencionado anteriormente, se quisesse manter um diário, não seria garantidamente online. Este blog não é sobre mim, como tal também não o uso para carpir as minhas mágoas.

Há tempos dei-me conta de que, probabilisticamente, já tenho menos anos pela frente do que pelas costas.
Passamos os primeiros tempos da nossa vida a desejar que os anos passem depressa e, quando finalmente começamos realmente a aprecia-la, parece que o desejo se realiza e estes ganham asas. Be carefull what you wish for… lol
De repente começamos a dar muito mais valor ao (pouco, é sempre pouco…) tempo que nos resta.

Costuma dizer-se que “burro velho não aprende línguas”… pois eu contrario completamente essa teoria, a minha aprendizagem de vida tem sido bem tardia e não paro de aprender dia após dia.
Acontece que adoro viver e como tal quero fazê-lo o melhor possível. Quando descobri que isso dependia essencialmente de nós próprios fiquei fascinada.

Então, tal como uma cozinheira gosta de partilhar os seus cozinhados - daí o nome do Blog, topam?!  lol – decidi partilhar, com quem me quiser ler, as minhas receitas de felicidade.
Não são revelações, não são verdades absolutas, há muitas formas de se fazer bacalhau… ;)

Tal como na culinária, há gostos para tudo, nem todos apreciamos o mesmo. Também nem todos preparamos os pratos da mesma forma, o que não quer dizer que não possam ser igualmente apreciados.
Aqui vou transmitindo a minha experiência e conclusões pessoais, tão válidas como quaisquer outras. 

Sabiam que se, nos pratos que levam tomate, deitarem uma pequena colher de açúcar, lhe cortam a acidez?!  Pois também relativamente ao nosso relacionamento com os outros, com o mundo, com nós próprios, há uma série de pequenos truques que podem evitar agruras.

Há alimentos ácidos, amargos, doces, salgados, picantes… tal como as experiências de vida. Mais tarde ou mais cedo, de uma forma ou de outra, entraremos em contacto com todos eles. Se os soubermos confeccionar, a sua degustação será certamente muito mais agradável.

Volta não volta comemos qualquer coisa estragada ou que simplesmente nos cai mal, não é o fim do mundo.
Convém simplesmente aprendermos a lidar com esse tipo de situações.
É importante saber reconhecer um ovo podre ou um cogumelo venenoso, estar consciente das nossas intolerâncias alimentares ou ter noção do que fazer em caso de intoxicação,  por exemplo.

Acredito que a vida deve ter ingredientes de qualidade e ser bem cozinhada.
É simplesmente disso que trata este blog. ;)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Not fair...

COM MÚSICA



Gostamos de pensar que, se formos bonzinhos, se nos portarmos bem, se formos justos… o universo retribuirá.
Observamos no entanto que, infelizmente, nem sempre é bem assim.

Onde está a justiça numa mulher violada engravidar enquanto outras tentam desesperadamente ter filhos sem sucesso?!
Onde está a justiça em crianças perderem pais extremosos enquanto outras sofrem tormentos que parecem não ter fim nas mãos dos seus progenitores?!
Onde está a justiça em pessoas fantásticas sofrerem horrores devido a doenças ou acidentes enquanto verdadeiros filhos da mãe saltam levemente de nenúfar em nenúfar gozando de perfeita saúde?!
Etc, etc, etc…

Mas não só de “Injustiça Divina” sofremos na vida…
Não vou sequer entrar no campo da injustiça social, humanitária, etc… daria pano para mangas mas não era o que tinha em mente.
A realidade é que somos frequentemente injustiçados por quem nos rodeia, inclusivamente por quem está próximo e gosta genuinamente de nós, diria talvez até mais do que pelos outros. Acredito que, na maior parte das vezes, não seja voluntário ou sequer consciente… a tendência natural do ser humano não é propriamente ver o “outro lado” e, olhando predominantemente para o nosso próprio umbigo, muita coisa nos passará garantidamente ao lado.

A injustiça sendo das coisas que mais me revoltam, acredito em  fazer-lhe frente sempre que necessário. Tento estar constantemente atenta para não a praticar eu mesma e acho saudável e proveitoso fazê-la notar aos outros o que, embora nem sempre aconteça, muitas vezes faz com que seja assim corrigida.

Acontece que, para que isso seja possível, é necessária por um lado empatia e por outro capacidade de análise racional dos nossos actos e percepção do impacto das nossas acções nos outros. Ora, por razões diversas, geralmente de teor emocional, isso nem sempre é possível.

O exemplo mais flagrante do que estou a tentar transmitir é a adolescência, fase tão encantadora como terrível da vida do bicho homem. Altura em que geralmente as crias se revoltam contra os pais, cuspindo palavras e praticando actos de uma total injustiça.
Acontece no entanto com pessoas de todas as idades e em todo o tipo de relações.

Ora bem…
Acredito que a máxima que tenho em cabeçalho deste blog seja o caminho para atingirmos a serenidade, a paz de espírito.
Nesta questão (como em todas as outras…lol) parece-me fundamental a “sabedoria para perceber a diferença”… A realidade é que há injustiças contra as quais não vale a pena lutar, não vamos “mudar” nada.

As pessoas só vêem aquilo que querem ver e, volta não volta, ficam momentaneamente cegas e não há nada a fazer. Revoltarmo-nos contra esse estado das coisas serve para tanto como revoltarmo-nos contra o facto de termos partido uma perna, é um desgaste inútil.
Eventualmente os próprios um dia se dão conta disso, ou não… mas quanto a mim são casos em que convém termos “a serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar”.

Temos tendência a gritar a nossa indignação pois, vá-se lá saber porquê, temos a ilusão de que a vida deveria ser justa.
Pois meus amigos, azarete, não é.
Passar por este tipo de situações é tão natural como mandar uma biqueirada no pé da cama ou  levar uma joelhada nos tintins… Faz parte… ;)


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A peito

COM MÚSICA

Recentemente cheguei a uma conclusão que muito me tem ajudado; se as coisas boas e agradáveis que nos dirigem têm normalmente a ver com a nossa pessoa, com o que somos, com o que fazemos, o contrário já não é, na maior parte das vezes, verdade.


Embora não seja evidentemente sempre o caso, quando alguém de alguma forma nos magoa, quer seja através de palavras ou da sua omissão, de acções ou da ausência das mesmas, tem geralmente muito mais a ver com ela própria do que connosco.

Isto pode dever-se a “factores externos”; mau estar físico, um dia complicado, preocupações, stress, as fases da lua, sei lá eu…
Ou, ninguém sendo perfeito, aos nossos bugs, postos em evidência na relação com os outros. 
Mau feitio, agressividade, egoísmo, inveja, insegurança, ciúme, preconceito, prepotência, susceptibilidade, rancor, mentira, intolerância, etc, etc, etc… são coisas que facilmente, de alguma forma, podem atingir os outros, o que não quer dizer que o tenham obrigatoriamente “merecido”.
A tomada de consciência deste facto traz-me bastante serenidade e paz de espírito.

Como me dizia no outro dia um amigo, a quem tentava “vender” a teoria;
 “…foste omissa nas conclusões "meio filosóficas" que aparentemente deverão explicar porque motivo todos devemos seguir à risca o exemplo de Jesus Cristo.” lol

Confesso, envergonhadamente, não estar familiarizada com o exemplo de Jesus Cristo. Acho no entanto que percebi o que queria dizer, que julgo ter a ver com a história do “oferecer a outra face” e tal e coiso…
Não é nada disso que apregoo. ;)
Acho simplesmente que “entender” esta questão nos ajuda a ultrapassar a dor, digamos que funciona como um analgésico.

Assisti a um que outro episódio de uma série com reconstituições e relatos de sobreviventes de ataques de animais selvagens; crocodilos, ursos, tigres, pumas, elefantes, lobos, tubarões…
As pessoas foram desfiguradas, retalhadas, amputadas, algumas perderam familiares ou amigos. Passaram certamente por momentos atrozes, de dor física e psicológica.
Não houve no entanto uma única que demonstrasse ressentimento para com o animal em questão. Todas pareciam perfeitamente conscientes de que o que tinha acontecido se devia á natureza dos mesmos e ao azar das circunstâncias.

Este foi um exemplo caricatural do que estou a tentar transmitir mas que serve bem o propósito.
Não nego o sofrimento envolvido e estou certa de que, qualquer um deles, de futuro, terá muitíssimo cuidado para que a situação não se repita.
No entanto, esta compreensão das causas dos ataques parece trazer-lhes uma certa paz. 
Alguns deles, de certa maneira, até se “puseram a jeito”; o do tigre, por exemplo, enfiou o braço dentro da jaula… encara no entanto como uma consequência natural ter ficado sem ele.

A mágoa, o ressentimento, o levar a peito as situações e a vontade, ás vezes, de retribuir só provocam mais dor. 
Sermos capazes de, enquanto lambemos as feridas, perceber o que aconteceu e tentar resguardar-nos de futuras situações semelhantes, se possível, parece-me muito mais proveitoso e inteligente. ;)


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Para o infinito e mais além...

COM MÚSICA

Há já muitos anos que acredito que a nossa felicidade passe, obrigatoriamente, por aquilo a que costumo chamar “teoria da coerência”…  A harmonia interna parece-me indispensável à nossa paz de espírito. Penso ser extremamente importante que aquilo que pensamos, aquilo que dizemos, aquilo que fazemos e aquilo que sentimos vá no mesmo sentido.
Curiosamente, descobri há pouco tempo que já o Gandhi defendia a mesma ideia. ;)

Aqui há tempos dei por mim a “sofrer” de graves incoerências a vários níveis, razão pela qual decidi interromper a escrita neste blog. Precisei de reencontrar uma certa coesão, de crescer, como lhe chamei. Já me sinto de novo coesa qb… I’m back! ;)



A incoerência, observo, é socialmente bastante tolerada. Acredito que isso se deva ao facto desta afectar certamente muito mais o próprio do que terceiros.
Quem não conhece a frase “faz o que  eu digo, não faças o que eu faço”?!  Todos podemos apontar inúmeros exemplos de pessoas que defendem uma coisa e fazem outra. E o mais grave é que muitos nem sequer  parecem ter consciência disso.

A coerência total é evidentemente uma utopia. Não acredito que ninguém consiga ser completamente coerente a todo o momento. Não acho sequer que seja possível. Somos seres em permanente mutação, constantemente sujeitos a uma série de factores externos que nos influenciam a muitos níveis.

Falei em pensar, dizer, fazer e sentir… Estes tendem a organizar-se em pares; o pensar com o dizer e o fazer com o sentir. O conflito dá-se normalmente entre estas duas facções. Ou seja, as pessoas dizem o que pensam mas fazem o que sentem.
É aqui que a porca torce o rabo, é isto que nos atormenta a paz interior.
Então porque não mudar?!

Muitos defendem que não podemos “controlar” os sentimentos. Discordo totalmente, teoria comprovada pela minha experiência pessoal. Não digo que seja fácil, mas é sem dúvida possível. Acredito que sentimentos que não nos tragam bem-estar e felicidade não estão cá a fazer nada, mais vale erradica-los.  As crianças aprendem a controlar os sentimentos, o temperamento, para se conseguirem enquadrar. Porque é que um adulto não havia de poder fazer exactamente a mesma coisa?!

Mas não digo que tenha de ser o sentimento a mudar… porque não, em certos casos, seguir antes os nossos instintos, o nosso coração, se assim lhe quiserem chamar, e alterar antes as nossas ideias?
A educação que recebemos, a sociedade em que vivemos, as pessoas que nos rodeiam, incutem-nos ideias que não são forçosamente válidas para nós. Se acreditamos que uma coisa esteja errada porque não assumir essa ideia?

Ou seja, em caso de conflito, mudar de ideias, mudar de sentimentos, ambas as hipóteses são na realidade possíveis. Para podermos optar por uma delas temos de dar tantos ouvidos à nossa razão como ao nosso feeling e ver qual dos dois leva a melhor.
Qualquer uma das coisas requer muito trabalho e perseverança e sobretudo muita consciência, não é normalmente uma coisa que aconteça sozinha. Requer também muitíssima tolerância e paciência pois iremos certamente tropeçar muitas vezes antes de conseguirmos acertar agulhas.

O equilíbrio que iremos encontrando irá certamente ser transtornado aqui e ali, por esta e por aquela razão. Então, pontualmente, sentir-nos-emos como o mercúrio de um termómetro que se partiu. Mas se tivermos esta teoria em mente, cada vez mais facilmente nos iremos reencontrar.



Para o infinito e mais além… sei que nunca chegarei, mas ei de morrer a caminhar para lá. ;)


terça-feira, 29 de junho de 2010

Viver e aprender

COM MÚSICA



Dantes imaginava que o crescimento fosse uma coisa regular, progressiva. Quando tive o meu filho dei-me conta de que funciona por “saltos”. A roupa serve-lhe durante uns meses e, de repente, parece que de um dia para o outro, fica-lhe indecentemente curta.
O mesmo parece passar-se psicológica e emocionalmente.

Estou neste momento numa fase de crescimento… (vou ficar com um metro e oitenta…lol)

Acontecimentos recentes despoletaram em mim uma série de questões existencialistas, na onda do “quem sou, de onde venho, para onde vou”, que estou ainda a digerir.
São, na minha opinião, extremamente positivos estes “saltos de crescimento”. É nestas ocasiões que pomos certas coisas em questão, fazemos balanços das nossas vidas e  lhes afinamos o rumo.

Para isso preciso de me virar para dentro, o que é um bocado o oposto do que faço neste blog… deixo-vos então com um “até qualquer dia”. ;)


domingo, 20 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Make love, not war

COM MÚSICA



Conforme o meu caminho vai seguindo, cada vez mais, no sentido de não “comprar guerras” mais me vou dando conta de que o ser humano tem uma tendência naturalmente conflituosa.
Julgo que esta seja muitas vezes confundida com força de carácter, auto-defesa, chegar-se à frente pelos seus princípios, etc…

Todos nos sentimos pontualmente agredidos, directa ou indirectamente, por acções ou palavras de terceiros. Todos nos sentimos magoados, ofendidos, humilhados, injustiçados, indignados, etc… de vez em quando. A questão é o que fazer com esses sentimentos.

Se por um lado acredito que devemos defender os nossos interesses com unhas e dentes, hoje em dia pergunto-me sinceramente que interesses serão esses ás vezes. No que me diz respeito, aquilo que realmente me interessa é viver em harmonia com o mundo que me rodeia, num ambiente de paz e serenidade.
Se algo ou alguém ameaçar verdadeiramente este equilíbrio, serei a primeira a por as garras de fora pronta para o salto… no entanto a realidade é que, na maior parte das vezes, todos ficamos a ganhar se conseguirmos controlar esse impulso.

Ás vezes não é, sem dúvida, fácil. Como seres humanos que somos há coisas que nos afectam emocionalmente e a tendência é reagir. Fazê-lo, sobretudo fazê-lo embarcando de alguma forma numa “guerra”, nem sempre trará resultados positivos, ousaria mesmo dizer que antes pelo contrário. Notem que não estou a falar em discussões saudáveis, em por pontos nos iis, em fazer valer pontos de vista…

Senão vejamos, embora nem sempre seja o caso, frequentemente os “agressores” são pessoas que conhecemos, com quem mantemos algum tipo de relacionamento, possivelmente de quem gostamos até. As altercações deixam cicatrizes. As palavras, uma vez ditas, não podem ser recuperadas. O conflito azeda as relações.
As coisas têm para nós a importância que lhes atribuirmos. Perante uma situação desagradável podemos empola-la ou passar à frente recusando-nos a imputar-lhe mais peso.
Se a coisa efectivamente nos afectou poderá sem dúvida ficar alguma mágoa, mas esta estará presente em ambos os casos. Se embarcarmos numa troca de agressões poderemos inclusivamente por em risco a própria relação.

De qualquer forma, conhecendo ou não a outra parte, tendo ou não um relacionamento com ela, o que me parece estar em questão é o que se poderá eventualmente vir a extrair desse conflito. E aí é que a porca torce o rabo, se conseguirem analisar as situações da vossa vida, chegarão possivelmente à conclusão que geralmente não sai nada de bom. As pessoas ficam desgastadas, tristes, amargas e nada de positivo para nenhum dos lados surge do embate.

Temos tendência a levar a peito tudo o que “nos acontece”, a achar que tem directamente a ver connosco, a realidade é que muitas vezes não é o caso. As pessoas agridem-nos porque se levantaram com o pé esquerdo, porque por alguma razão não se sentem bem na sua própria pele, porque estão de mal com o mundo e nós estávamos à mão de semear. Se reagirmos é que a coisa se pode efectivamente tornar pessoal.
Ás vezes até é inclusivamente o contrário, as pessoas dizem coisas que nos agridem justamente porque nem sequer pensaram em nós, porque se o fizessem se calhar nem abriam a boca.

Eu, de há uns tempos para cá, opto normalmente por mandar vir com as paredes. Eventualmente desabafo com pessoas que não tenham nada a ver com o assunto. Grito a minha raiva aos ouvidos de quem as minhas palavras não afectam. Conto até dez, até cem, até mil, antes de responder na mesma moeda. O resultado é que a maior parte das vezes acabo por não o fazer e fico feliz por isso.  ;)



sexta-feira, 28 de maio de 2010

O circo

COM MÚSICA


Á alturas na vida em que me sinto uma verdadeira palhacita… esta é uma delas.

A gestão do “monstro”, apesar do trabalho que dá e do tempo que me ocupa, não me tem trazido grandes dissabores. No que diz respeito aos eventos, a coisa já pia de outra maneira.

Costuma dizer-se que “quem corre por gosto, não cansa”… mas… como todos sabemos, não é bem assim, ás vezes cansa um bocadinho… lol
Todos os eventos que tenho organizado me têm trazido verdadeiras dores de cabeça.

O primeiro jantar, ao qual compareceram  quase quinhentas pessoas, foi um verdadeiro desafio ao meu auto-controle.
Ainda muito verde nestas andanças, divulguei indicações extremamente detalhadas relativamente ás inscrições e respectivo pagamento, que quase ninguém seguiu, dando comigo em doida para conseguir identificar as pessoas.
Desde que o marquei até ao fim do prazo, desfiz-me em apelos e pedidos de colaboração, acabando inclusivamente, em desespero, por perder uma vez as estribeiras.
Achei que era giro fazer uma gracinha, um miminho, seguindo então a confirmação de reserva sob a forma do nosso cartão do Liceu…
Para além de conferir os extractos do banco, tentar associar os pagamentos aos respectivos membros e descobri-lhes as moradas de email para poder enviar a confirmação de reserva… ainda fiz mais de quatrocentos  copy/paste/montagens em Photoshopl!!!

Para o segundo jantar tive a fantástica ideia de tentar “fazer diferente”… 
(Acho que em parte lhe devo a minha úlcera.)
Esta envolvia valores fixos, como o aluguer do espaço, por exemplo, a dividir pelo número de participantes. Pois, brilhante… tive de me esmifrar até ao último dia, numa ansiedade brutal,  para acabar por conseguir reunir cerca de 60% das pessoas que tinham afirmado que iam… Não sei se estão a ver o que isso faz a um orçamento.
Depois queixaram-se de que o jantar tinha sido uma vergonha, o que por sinal não deixa de ser verdade, mas ninguém teve sequer em conta as cerca de duzentas pessoas (e respectivos pagamentos!!!) que houve a menos.

Para tentar atenuar o amargo de boca deste jantar tentei organizar uma Boum (festa)   que também ela me deu água pela barba. 
Depois das dificuldades e desaires iniciais para tentar mais uma vez organizar um evento original (hellooooo?!), decidi-me por uma solução chave na mão, num bar que reservei para nós, mais uma vez com base no número de pessoas que tinham afirmado estar presentes. Dias antes do evento, descobri que tinham anunciado no Facebook  uma festa “deles” para o mesmo dia e “parti a loiça toda”. Ele foram mails, ele foram telefonemas, ele foram gritos de indignação…
Se compareceram trinta pessoas já foi muito, o bar estava ás moscas, o ambiente uma verdadeira trampa e passei a noite a tentar enfiar a cabeça dentro do meu próprio decote para não ter de olhar para a cara do dono.

E cá estamos nós agora, no dia do fim do prazo do terceiro jantar…
(riam-se à vontade... eu também me rio, vá... Ha Ha Ha...)
Temos 131 pessoas inscritas, 76 que até hoje ainda não se decidiram… mas, vá lá… 70  já pagaram!!! Yééééééééé!!!
Avisei-os um bocado em cima da hora, é certo… só anunciei o jantar no dia 9 de Fevereiro… é complicado tomar decisões e ainda fazer transferências on such a short notice

Plagiando um amigo meu… “e merda?!”

Apesar das minhas afirmações de “nunca mais”, achei que não lhes podia “faltar”.
Desde Janeiro que ando a tratar disto… fiz pesquisas, fiz contactos, pedi orçamentos, visitei locais… mas “eles” não se conseguem decidir até à véspera…
Tendo de atirar com números, apostei em aproximadamente trezentas pessoas, já contando com as baldas devido ao flop anterior. Vou agora ter de anunciar ao restaurante que provavelmente nem aos cem chegaremos …

- “Parabéns por não seres «desistente». Tens desde já o meu apoio, incondicional. Obrigada por não desistires de nós!”
- “Que bom não desistires Cris :)”
- “Olé olé olé olá a cristina é do melhor que há! Um beijão minha Linda e obrigada por existires! má nada! ;-)”
- “Cristina, és a minha heroína…”
- “Grande Cristina! Venha mais um jantar!”
- “Cristina, parabéns por seres como és.”
- “Olá Cristina a Valente, Corajosa e Linda!”


É por estes “alguns” que tenho estas iniciativas idiotas…
O meu coração mole (esta merda não é suposta ser um músculo?!) não os quer decepcionar…

Mea culpa! Ninguém me pediu nada,  tudo o que fiz foi por iniciativa própria… 
Mas sabem que mais?! Não vale a pena o esforço, não vale a pena o trabalho, não vale a pena o tempo, não vale a pena o desgaste.

“À primeira todos caem, à segunda cai quem quer…” a quantidade de vezes que já caí e continuo a insistir?! Só tenho o que mereço… lol


domingo, 23 de maio de 2010

E viveram felizes para sempre...

COM MÚSICA

Para sempre?!
Bem… o amor é eterno, enquanto dura… ;)

Eu pessoalmente não acredito muito em sempres nem nuncas.
Na vida nada é garantido, ao longo do percurso muita coisa pode acontecer.

Durante a adolescência, não se pensa muito nestas questões. Vive-se o momento, a maior parte das vezes ardentemente, tanto física como emocionalmente. A vida é geralmente simples, sem grandes compromissos ou responsabilidades. Por muita importância que possam ter, os namoros são uma coisa acessória, não fazem parte integrante do nosso dia a dia. A nossa casa é a casa dos pais, são eles que mandam, as grandes decisões são eles que as tomam, nós limitamo-nos a contesta-las volta não volta. Ficamos felizes se pudermos passar uma noite com o ser amado, achamos normalíssima a raridade com que isso acontece.

Conforme vamos ficando crescidinhos o caso muda de figura, mais tarde ou mais cedo surge a questão do juntar trapinhos



Nos primeiros tempos das nossas vidas de adultos, isso tende a traduzir-se em casamento, com ou sem papel passado, mas na versão clássica da coisa.
Se há alguns sortudos que se ficam por aí, a maior parte irá passar por um que outro flop.
E com os insucessos vem a insegurança, o receio de arriscar, gato escaldado, como se costuma dizer…
O resultado é que se passa a utilizar mais a cabeça, o que não é obrigatoriamente mau. ;)

No início de um envolvimento amoroso, tal como na adolescência, simplesmente não se pensa.
No entanto, a partir de certa altura, começa a tornar-se evidente se a coisa está destinada ao sucesso ou ao fracasso.
No segundo caso, mais cedo ou mais tarde, irá morrer naturalmente.
No primeiro é então preciso definir o que queremos exactamente da relação e as opções são muitas.

Todos conhecemos variadíssimos casos de aparente sucesso.
Desde casamentos tradicionais a casais que vivem em países diferentes. Pessoas que optam simplesmente por ter cada um a sua casa e encontrar-se de vez em quando. Até casos em que os membros de um casal mantêm uma condição de semi-celibato continuando a ter relações extra-conjugais assumidas.
Cada um sabe de si…
A realidade é que o conceito de casal já não é o que era.

Livres do estigma social, as pessoas decidem da sua vida conforme as suas necessidades e o que faz mais sentido para elas. Basicamente, hoje em dia, juntar ou não trapinhos tem mais a ver com o lado pratico da coisa do que com o que sentem um pelo outro.

Depois do se põe-se a questão do quando… e aqui muitos vacilam, esperam por um sinal divino de que seja a decisão acertada, procuram certezas que nunca irão ter.
Se largar tudo e partir cegamente para uma vida a dois ao primeiro batimento cardíaco acelerado é, na minha opinião, uma atitude um bocado kamikaze, o esperar demasiado é uma perca de tempo. Se a coisa parece ter pernas para andar é fazer-se ao caminho.

Ai, mas e se a coisa dá para o torto?!
A coisa pode sempre dar para o torto… a coisa pode dar para o torto ao fim de muitos anos.
É uma questão de nos protegermos, de não nos iludirmos com contos de fadas e mantermos os pés na terra. Quem não arrisca não petisca, cada um terá de ter em conta o que está a por na mesa e se está realmente disposto a fazê-lo. Cada um aposta naquilo em que acredita, no que o seu instinto lhe sugere. Cada um se envolve e se entrega na medida do que é capaz.
E a mais não é obrigado… ;)