segunda-feira, 14 de setembro de 2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A tatuagem



As opiniões divergem enormemente no que respeita a tatuagens.
Há quem as abomine, as considere tremendamente ordinárias, não consiga sequer entender como é que alguém, voluntariamente, se marca assim para a vida. Há quem as adore, as considere uma forma de arte, faça umas atrás das outras até cobrir o corpo com elas. Entre uns e outros,  mais de cinquenta tons de cinza... ;)

Pessoalmente gosto muito e andei anos a considerar fazer uma.
A primeira coisa que tatuei foi a assinatura do meu pai, na nuca. Achei original e gostei da ideia de ser “uma obra assinada”. lol
Demorei tanto tempo a decidir-me que, apesar de ter chegado a falar disso com ele, só a fiz cinco anos depois da sua morte.
Tenho pena, ele teria achado graça…




A escolha do sítio não foi no entanto fantástica, dado que uso geralmente o cabelo relativamente comprido, ficando portanto tapada, e que pessoalmente só a consigo ver ao espelho e ainda assim com dificuldade.
Fiquei portanto, muito rapidamente, com vontade de fazer outra.

Fazem-se tatuagens de todos os géneros e em todos os sítios do corpo.
Há quem opte por desenhos humorísticos (o meu pai costumava dizer, na brincadeira, que se fizesse uma tatuagem seria uma mosca debaixo do dedo grande do pé…lol), quem faça escolhas mais "artísticas" e quem prefira citações ou dizeres… Há quem se tatue para disfarçar cicatrizes, para homenagear alguém ou para se lembrar de algo. Há quem escolha sítios bem visíveis e quem se tatue onde não chega o sol.
Todas as opções relativamente a uma tatuagem são “pessoais e intransmissíveis”…  

Aquilo que geralmente mais confusão faz às pessoas é o seu carácter permanente, nunca ouvi ninguém criticar a colocação de uma tatuagem provisória. E como são no entanto potencialmente perigosas
É uma ideia que não me intimida, tenho várias outras marcas indeléveis, mais conhecidas por cicatrizes, cuja localização e forma não tive sequer a liberdade de escolher e que não me incomodam minimamente.
O “para sempre” é, para além disso, hoje em dia relativo, dado já se apagam tatuagens com bastante sucesso. Se bem que apesar de ser reconfortante a noção de que no limite é possível, fazer uma considerando apaga-la é como casar-se já a pensar no divórcio. ;)

Não encaro no entanto o assunto de ânimo leve, o que não falta por aí é gente arrependida das tatuagens que fez, não me imagino a fazer uma tatuagem de impulso.

Assim, durante seis anos, pensei e repensei os seguintes factores.
Localização
Para mim, uma tatuagem tem de ser “escondível”, tenho de ter a possibilidade de não a mostrar se não quiser. Para além disso, tem de ser num sítio em que não fique horrenda com as inevitáveis transformações do corpo ao longo dos anos.
Estética
Uma tatuagem é para mim um “adereço fixo”, é suposta embelezar harmoniosamente a parte do corpo quem que é colocada, como se de uma peça de bijutaria se tratasse.
Significado
Fartei-me de rir, com um Calimero a […] à abelha Maia, que vi no portfolio da casa de tatuagens onde fiz as minhas. No entanto, por muito que aprecie o sentido de humor, era  incapaz de fazer algo do género, para mim é necessário que tenha um forte significado.

Tive grandes hesitações relativamente ao sítio, passei muito tempo na net à procura de inspiração, fiz esboços e mais esboços  com variadíssimas hipóteses, até que um dia acordei com a certeza do que queria. Desenhei toscamente a coisa, cravei a mana para fazer um desenho decente e marquei para logo que possível.

Eis o seu significado para mim:
Espirais – símbolos aquáticos, representando os ciclos de vida, o crescimento/desenvolvimento/evolução, a mudança permanente. A consciência de que a nossa vontade tem a força das ondas. Um lembrete de que muitas vezes temos de persistir, de insistir, de repetir vezes sem conta até chegarmos ao resultado pretendido. O caminho da consciência exterior para o nosso eu interior, a essência do que somos.
Simbolo do infinito – de novo o ciclo da vida. A ausência de limites, uma infinidade de possibilidades, escolhas e decisões. “What goes around, comes around”, na vida recebemos o que damos. A consciência da nossa pequenez e total falta de importância no “grande cenário”. A noção de que existem “universos paralelos”, de que há pessoas que vivem realidades completamente diferentes da nossa.

Adoro a minha nova tatuagem… :)









COM MÚSICA

terça-feira, 26 de maio de 2015

Marcas d’água



As relações humanas são provavelmente, para mim pelo menos, a coisa mais importante na vida.
Não me imagino a viver sem amor e carinho, sem humor, sem apoio e entreajuda, sem troca de ideias ou partilha de experiências…
Tenho, talvez por isso, uma memória emocional de elefante.
As datas e os factos, os porquês e os detalhes, esfumam-se-me na mente mas dificilmente me esqueço de como alguém me fez sentir.
O instinto de sobrevivência e o absoluto prazer em ser feliz, levam-me a afastar de tudo o que me faz mal, atirando para trás das costas aqueles que me fizeram essencialmente sofrer.
Os outros, independentemente de eventuais quezílias que possa ter havido pelo caminho, transporto-os para sempre no coração, quer tenham sido namorados ou amigos, colegas ou professores, colaboradores ou vizinhos…

Assim, quando reencontro alguém que, de alguma forma, fez parte da minha vida, sinto-me como se o tempo não tivesse passado.
Se de um “mau” se tratar, afasto-me prudente e discretamente, reduzindo a interacção ao inevitável.
Se, pelo contrário, se tratar de alguém que tenha deixado uma marca positiva na minha vida, continuo a sentir a mesma empatia, a mesma cumplicidade, a mesma intimidade.
É aqui que a porca torce o rabo, pois raramente sou correspondida.
Neste tipo de situações sinto-me como um cachorrito acolhendo o dono depois de uma longa ausência, salto, gano e dou ao rabo, numa excitação, à espera de festas, à cata de reconhecimento e afecto, recebendo no entanto geralmente em troca um distanciamento reservado, uma indiferença polida. 

O expoente máximo desta sensação foram os meus 50 anos, durante uns tempos hesitei entre não fazer absolutamente nada, deixando passar a ocasião em branco ou celebra-los, de alguma forma diferente do habitual.
Cinquenta anos, meio século, bodas de ouro da vida… se há data gira para se festejar, na minha opinião, é mesmo essa e achei que se não o fizesse me iria arrepender.
Decidi assim seleccionar as 50 pessoas que, de alguma forma, em algum momento, cruzaram a minha vida, com quem me apetecia realmente partilhar esse marco.
Foi um exercício engraçado, mais difícil do que estava à espera… 50 pessoas é muito e é pouco, são demasiadas para o núcleo duro mas é extremamente limitativo quando alargamos o horizonte da escolha...
Adivinhem então quem esteve presente?! Grosso modo, aqueles com quem partilho actualmente a minha vida, os que são, hoje em dia, convidados para qualquer evento de relevo.
Os que tentei ir buscar ao passado baldaram-se ou, pior ainda, nem sequer se deram ao trabalho de responder ao convite.
Apesar da postura “cool” que tentei ostentar para o exterior, se vos dissesse que não doeu, estaria a mentir. As inúmeras ausências fizeram-me sentir pequenina, insignificante. Fizeram-me acima de tudo pensar que não tinha tido qualquer peso, qualquer importância, qualquer relevância, nas suas vidas.

Acredito que a auto comiseração seja uma tendência natural do ser humano, somos todos instintivamente Calimeros, se não lutarmos contra isso. Assim, de cada vez que me deparo com uma destas situações de afastamento emocional, penso que o “problema” é meu. Sinto que não deixo senão marcas d’água no coração dos outros, marcas que desaparecem com o tempo, não ficando senão uma muito ténue lembrança do que existiu entre nós.
A realidade é que a própria vida não passa de uma marca d'água, tudo é efémero,  a vida é hoje, é aqui, é agora e consciente ou inconscientemente é no que as pessoas investem, é ao presente e a tudo o que dele faz parte que se entregam.
Qualquer um de nós tem muito menos importância do que gosta de acreditar e as marcas que eventualmente deixamos nos outros têm muito mais a ver com eles próprios do que connosco. 





COM MÚSICA

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os filhos e o Facebook


Alguns putos não querem os pais como “amigos” no facebook.
Muita gente acha isso normalíssimo… eu não, acho que é sinal que algo está errado.
Todos, na minha opinião, temos direito aos nossos “jardins secretos”, acontece que o facebook é um “jardim público”.

Já aqui falei várias vezes sobre as redes sociais e afins, que continuo e continuarei a defender por considerar que trazem, apesar de tudo, mais coisas positivas do que negativas.
Há entanto, sem dúvida, muita gente completamente baralhada sobre o assunto.

A “barreira do computador” faz com que muitos tenham online comportamentos idiotas, imprudentes, inadequados, etc, esquecendo ou ignorando as regras básicas do convívio em sociedade.
Tendem, por outro lado, a esquecer-se que estar online é mais ou menos como estar no meio da rua e que tudo o que “postarem” pode, potencialmente, ser visto por qualquer um.

Dito isto, o que leva um filho a não querer que os pais tenham acesso à sua página?! Das duas uma, ou o seu comportamento ou o deles.
Ou seja, ou não querem que os pais vejam o que lá põem, por terem noção que poderá, na sua opinião, ser criticável, ou têm medo do que os próprios pais lá possam deixar.

No primeiro caso, ou têm pais particularmente rígidos ou postam de facto coisas que não deveriam, com os pais “a ver” ou sem eles.
Parece-me fundamental que tanto miúdos como graúdos, compreendam que as regras comportamentais da vida virtual são exactamente as mesmas que as da vida real e que não devemos fazer na nossa página nada que não fizéssemos noutro lado qualquer.
É mais do que evidente que a atitude de cada um muda consoante a pessoa que tem à frente ou o grupo onde está inserido no momento. Não falamos da mesma forma com avós e amigos, com professores e colegas, crianças e adultos, etc…
As redes sociais não são no entanto equiparáveis ao nosso quarto ou ao canto do recreio da escola, são “via pública”, é preciso ter noção disso.
Para uma audiência selecta existem os chats, as mensagens privadas, os emails… ou inclusivamente as próprias ferramentas de selecção do Facebook, que a maior parte desconhece ou não domina.

Suspeito no entanto que a segunda razão tenha em muitos casos tanto ou mais força do que a primeira. Há pais que não têm noção de como pode ser embaraçante para os filhos o seu comportamento online. Quem não foi já parar a uma página de exemplos disso?! 
Teoricamente, se tem têm conta no Facebook, estes já não serão propriamente crianças pequenas e, como todos sabemos, não há quem se embarace com mais facilidade do que os adolescentes.
Se acharem que os pais possam vir a ter uma presença invasiva, mais facilmente farão um pacto com o diabo do que aceitarão a sua amizade.
Fazer like a tudo o que colocam online ou encher-lhes a página de merdas não é ok, fá-los parecer meninos da mamã (ou do papá). Dar-lhes descascas públicas relativamente a algum post, também raramente é boa ideia, se temos alguma coisa a dizer, façamo-lo em privado sem os humilhar. Ir cuscar quem são os seus amigos e tentar sacar nabos da púcara ou, pior ainda, pedir-lhes amizade, é no mínimo controlador.
Enfim… não são só os filhos que se "portam mal”, há mil e uma coisas que os pais podem fazer que justificam que eles nos queiram à distância.

Voltamos assim à mesma conversa de sempre, a vida online não é diferente da vida real, as regras são as mesmas, o bom senso deve imperar e cá estamos para aprender uns com os outros. É nisto que se baseiam os relacionamentos saudáveis. ;)

COM MÚSICA

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Don’t worry, be happy



Há pessoas que são naturalmente “cool”, que parecem saltar levemente de nenúfar em nenúfar, sem aparentemente se preocuparem com grande coisa. Confesso que tenho uma certa inveja, a maior parte de nós tende a preocupar-se com alguma regularidade.
Preocupamo-nos connosco e com os outros, com o mundo que nos rodeia e com o estado do mundo em geral, com questões de dinheiro, de trabalho, de saúde, de relacionamentos… motivos para preocupação geralmente não faltam.

Esta não passa no fundo de uma espécie de medo, preocuparmo-nos com algo é temer um potencial desfecho negativo da questão.
Consome-nos, gera angústia, ansiedade, mau estar, sofremos por antecipação, frequentemente com coisas que nem sequer chegam a acontecer. Como se costuma dizer “até ao lavar dos cestos é vindima” e quantas vezes as situações não têm desfechos bem diferentes dos previstos.

Por outro lado, dá ideia que as pessoas acham que preocuparem-se é sinónimo de gostar,  demonstrar empatia, interesse pelos outros ou pelas situações. Como se o facto de sofrermos, só por si, mudasse alguma coisa, como se fosse de alguma forma ajudar.
A realidade é que, relativamente a grande parte das coisas que normalmente nos preocupam, não há geralmente grande coisa que possamos fazer.

Não deveríamos deixar que as preocupações passassem de sinais de alerta, sendo rapidamente descartadas.
Das duas uma, ou está ao nosso alcance fazer alguma coisa, em cujo caso devemos arregaçar as mangas cruzando os dedos para que corra tudo bem, ou foge completamente ao nosso controle e a nossa preocupação não servirá absolutamente para nada.
Basta pensarmos para concluirmos que preocuparmo-nos é das ocupações da mente mais inúteis e contraproducentes.

Tal como tantas outras coisas na vida, é sem dúvida muito mais fácil dizer do que fazer.
Não só consideramos as preocupações naturais, estando completamente habituados a tê-las e a que os outros as tenham à nossa volta como, se não a demonstrarmos perante determinadas situações, seremos considerados insensíveis, inconscientes, etc…

Sou pessoalmente uma pessoa tendencialmente preocupada sofrendo imenso com isso.
Sou, felizmente, por outro lado, extremamente aberta à lógica e à razão, acreditando que está nas nossas mãos mudar, até o que “sempre foi assim”, e que o devemos fazer ao longo de toda a vida, por forma a ir ganhando cada vez mais serenidade e paz de espírito.

Quando me apercebi que as preocupações nos tiram qualidade de vida, em troca de absolutamente nada, comecei uma árdua campanha. A luta não tem sido fácil mas tenho ganho várias batalhas e tenho fé de poder ganhar a guerra.
Que nem testemunhas de Jeová, continuam a bater-me à porta, como sempre fizeram, mas agora já aprendi que é ok dizer não, que não preciso de as ouvir, de lhes prestar atenção, de gastar com elas o meu precioso tempo.

Comecei por tentar banir a palavra do meu vocabulário, é um truque que uso frequentemente como guia para aquilo em que acredito. Fiz o mesmo com as palavras “sempre” e “nunca”, por exemplo, ou com a afirmação “tens que…”. Se modelarmos o nosso discurso estaremos simultaneamente a moldar a nossa mente.

Funciona igualmente bem substituir “preocupação” por “miúfa” ou equivalente... lol ... é muito mais nobre, muito mais digno, estar-se preocupado do que completamente acagaçado, ninguém gosta de se assumir como mariquinhas, para além de que põe logo as coisas em perspectiva.

Depois, quando alguma preocupação me assalta, tento sempre compreender se está nas minhas mãos fazer alguma coisa.
Como em tudo, o grande desafio está na “sabedoria para perceber a diferença”.
Se chego à conclusão que não, compenetro-me de que  o meu sofrimento não servindo qualquer propósito o melhor mesmo é po-lo para trás das costas.
Senão, meto mãos à obra, “esperando o melhor e preparando-me para o pior”.

A questão do tempo é também essencial, a maior parte das coisas não se resolvendo do pé para a mão, estando sujeitas a timings e compassos de espera.
Há assim que viver o aqui e agora, tirar folga do que nos preocupa e respirar fundo. Mudar a cabeça para outro lado, naqueles momentos em que não há nada a fazer, por forma a poupar forças.

Preocuparmo-nos com dinheiro não nos torna ricos, preocuparmo-nos com a saúde não nos torna saudáveis… só infelizes.
Don’t worry, be happy! ;)

COM MÚSICA

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Brasas e sardinhas


Teoricamente, quando há mal-entendidos, desentendimentos, atritos, entre as pessoas e estas falam entre si sobre o assunto, o objectivo é tentar resolver as questões.
Não só nem sempre é o caso como inclusivamente, às vezes, ainda acaba por piorar as situações.

Pormo-nos à defesa é um instinto natural. Se nos sentimos atacados, agredidos, a tendência é sempre de puxarmos a brasa à nossa sardinha.
Ao fazê-lo, dificilmente teremos no entanto em consideração o ponto de vista do outro, transformando-se frequentemente um diálogo em dois monólogos.

Por outro lado, muitos achando que a melhor defesa é o ataque, não é invulgar que respondam a críticas ou acusações com outras de volta, transformando assim a conversa num concurso para averiguar quem tem mais defeitos ou culpas no cartório.

Um dos erros crassos que cometemos é assumir coisas.
Estamos habituados a fazer deduções no seguimento da análise dos factos. Raramente nos perguntamos no entanto se estaremos efectivamente em posse de todos os dados.

Para podermos compreender uma atitude precisamos de saber o que a motivou, sendo de uma enorme presunção partirmos do princípio que, somando dois e dois, lá conseguimos sempre chegar sozinhos.

Por outro lado, o hábito de auto-análise não sendo propriamente comum, as pessoas muito mais facilmente apontam o dedo ao próximo do que se perguntam se elas próprias terão agido correctamente.

Se em vez de cada um puxar a brasa à sua sardinha as pusermos todas na mesma grelha e as assarmos em conjunto, teremos garantidamente resultados muito mais gratificantes.

Tenho assim vindo a chegar à conclusão que, bastante mais importante do que afirmar, é perguntar, o que cumpre mais do que um propósito.
Primeiro, demonstra que estamos interessados em compreender o outro lado, o que já de si denota de pré-disposição para a concórdia. Depois, ajuda ambas as partes a compreender melhor as situações.

Ao pedirmos a alguém que nos explique alguma coisa, ou inclusivamente que sugira soluções, estamos simultaneamente a obriga-lo a realmente pensar sobre o assunto.
Para que consiga fazê-lo, terá de ganhar algum recuo, de se desprender um pouco de eventuais factores emocionais.
Isto irá permitir que ele próprio clarifique a sua postura e até eventualmente a passe a ver com outros olhos.

Se for caso de assumir ou partilhar “culpas”, estará assim muito mais inclinado a fazê-lo do que se tiver sido “encostado à parede”.
Se, por outro lado, chegar à conclusão que continua a achar que tem razão, mais fácilmente nos conseguirá transmitir porquê.

It’s a win, win, situation… ;)



COM MÚSICA

segunda-feira, 30 de março de 2015

O passado não existe



As circunstâncias da vida fazem com que as pessoas que nos rodeiam vão variando. Aproximamo-nos de umas, afastamo-nos de outras, o núcleo duro vai mudando. Sejam amores, familiares ou amigos, as caras que aparecem nas fotos, ao longo dos anos, vão sendo diferentes.
Presenças constantes em determinados períodos transformam-se, por razões diversas, em ausências absolutas e, tal como relativamente a tantas outras coisas na vida, frequentemente só à posteriori realmente compreendemos a sua importância aos nossos olhos. Assim, tanto nos podemos dar conta que na realidade não nos fazem grande falta, como sentirmos uma enorme dificuldade em "let go".

Quando retiram alguma coisa de dentro de nós, os orgãos reorganisam-se, ocupando o lugar agora vazio. Seria a meu ver expectável que o mesmo acontecesse com as pessoas. 
Relativamente a algumas perdura no entanto a presença da sua ausência. Como dizia o Brassens "... jamais au grand jamais, son trou dans l'eau ne se refermait..." 
Perdi, há uns anos, uma destas pessoas. 

Há amigos e Amigos e este pertencia, no meu coração, à segunda categoria, mantendo até hoje uma sensação de amputação emocional.
Tantas vezes me tenho perguntado como será possível que aquilo que tínhamos tenha desaparecido, até que recentemente me assaltou a ideia de que tudo pudesse não ter acontecido a não ser na minha cabeça. 
Não os factos propriamente ditos, que ainda não estou louca, mas os laços que julgava unirem-nos.

Não sei se será efectivamente o caso mas, a empatia que nos ligava, a percepção e aceitação do outro tal como era, a cumplicidade e o companheirismo, o apoio mútuo, etc, podem na realidade não ter passado de frutos da minha imaginação.
Tenho-me perguntado repetidamente como é que alguém muda tanto em tão pouco tempo, calhando não estou a fazer a pergunta certa. 
E se não tiver mudado, se sempre tiver sido como é hoje?! 

As relações humanas são fruto das circunstâncias e feitas de acções e reacções, todas elas sujeitas a interpretação. E se a minha estivesse errada?!
É, sem dúvida,  muito mais fácil pensar que as coisas tenham mudado, do que considerar a hipótese de nunca terem na realidade existido, pelo menos tal como as encarávamos na altura.
Cada um acredita naquilo em que quer acreditar e vive em conforme. Não existe uma realidade, existem várias, uma para cada um de nós.

O Jack Nicholson descobriu, já perto dos quarenta anos, que aquela que julgava ser sua mãe era na realidade a sua avó, sendo mãe aquela que julgava ser sua irmã. Apesar de ser esta a sua relação parental com estas duas senhoras, durante mais de metade da sua vida, para ele foi outra.
A ideia aqui não é discutir o impacto que este facto possa ter tido ou deixado de ter na sua vida mas aperceber-mo-nos de que o presente alterou o passado. Quando pensar "mãe" já não vai ver a mesma cara.

Todos teremos certamente a experiência de partilhar memórias com outra(s) pessoa(s) e chegarmos à conclusão que não são as mesmas, apesar de terem sido vividas em conjunto. 
A percepção do passado é diferente de indivíduo para indivíduo. Isto não se deve  exclusivamente á distância temporal e dissipar da memória, cada um de nós vive as coisas à sua maneira.

Chego assim à conclusão que o passado não existe.
Julgamos ser ponto assente porque ficou para trás, porque efectivamente já é "passado", como se por isso não pudesse ser re-escrito. 
Existem sem dúvida cronologias, acontecimentos e factos, mas a sua percepção sob outra luz pode ser diferente,  alterando-se assim o passado no futuro.

Não vem mais vinho para esta mesa... lol

 COM MÚSICA

domingo, 8 de março de 2015

A mudança que queremos ver no mundo...

Tivemos recentemente cá em casa um mini-drama, em que o meu filho me disse que não estava feliz.
Nunca, até á data, tinham desta forma soado os sinais de alarme a seu respeito...
Estou convencida que, consciente ou inconscientemente, ele tinha noção da bomba que iria ser a sua afirmação, dado que estou sempre com conversas sobre a felicidade.

Cá em casa, todos temos de ser felizes, incluindo a cadela, os gatos e a cobra... lol... é o nosso lema, o nosso credo, a nossa missão, a nossa razão de ser... abraçar a felicidade e distribui-la à nossa volta.
Se a de algum dos membros da família estiver por alguma razão vacilante, todos contribuímos para que regresse ao bom caminho.

Depois de pensar um bocadinho sobre o assunto e o discutir com a cara metade, chegámos à conclusão de que não havia na realidade razão para preocupações.
Uma pessoa que canta no duche, está sempre a dizer piadas e leva a vida com energia e boa disposição, não é uma pessoa infeliz.
Sabendo muito bem a mãe que tem, utilizou no entanto a palavrinha mágica, que sabia ir mexer comigo, para me alertar para uma situação que não lhe agradava.

Apesar de tudo o que para aqui debito e da minha "filosofia de vida" baseada na felicidade, eu não sou uma pessoa fácil, tenho perfeita consciência disso.
Tento repetida e persistentemente por em pratica tudo o que apregoo, perdoo-me quando falho, penso que para a próxima farei melhor e não desisto.
Isto não impede que tenha um feitio desgraçado, que volta não volta foge das catacumbas onde o tento manter prisioneiro, que nem dragão da Daenerys, criando um tornado à minha volta, que leva tudo à frente.
Todos temos características que não nos ajudam nada na vida, esta é uma das minhas, o que não implica que encolha os ombros e diga "eu sou assim".

Neste caso, a suposta infelicidade do meu rebento, tinha a ver com a forma leonina como tenho andado em cima dele, nos últimos tempos, relativamente à escola.
Nos primeiros anos do liceu eu era excelente aluna. Tenho dois dedos de testa, tive bons professores, a coisa corria muito bem. Até que foi preciso começar a estudar a sério, a empinar, a gerir e organizar o estudo e trabalhos das várias disciplinas.
Era tarde demais, não tinha o habito, não sabia como, não me senti capaz... e desisti por isso de abraçar uma que outra profissão que, estou hoje em dia convencida, me poderia ter assentado que nem uma luva.

Raios me partam se vou deixar que aconteça o mesmo ao meu filho!
Não lhe peço nunca mais do que aquilo que sei que pode dar, só o seu máximo em tudo.
Não espero que ganhe o corta mato da escola ou que venha a falar fluentemente francês (snif) pois são capacidades ou apetências que não tem.
Não há no entanto absolutamente nenhuma razão para que alguém que gosta de matemática, que tem facilidade em domina-la e que tem (pelo menos neste ponto do campeonato) intenções de seguir uma via em que esta é fundamental, tenha negativa nessa cadeira, por exemplo.

Dito isto, há formas e formas de fazer as coisas e calhando virar ogre não é de facto das melhores... ;)
A palavrinha mágica, a declaração de infelicidade foi, no fundo, uma forma de gritar "estás a fazer tudo mal, minha... por aí não vamos lá. A única coisa que estás de facto a conseguir è stressar-me pa caraças... "
Ele lá sabe, nem que seja intuitivamente, que ás vezes as pessoas precisam de levar um estaladão na cara para abrir os olhos.

Parar para pensar, por as coisas em questão, em perspectiva, dar a mão à palmatória, compreender que já é mais do que tempo de arrepiar caminho e optar por outro menos tortuoso, é pontualmente fundamental na vida.
Passei os últimos doze anos a validar os berros que damos aos putos, por ser o que a maior parte de nós faz. Olhamos para o lado, pensamos "não sou a única, é ok..."
Mas não é... não é porque os outros agem mal, que devemos fazer o mesmo.
E não é porque sempre agimos de determinada maneira que temos de continuar fazê-lo, se chegarmos à conclusão que está errada.

"Sê a diferença que queres ver no mundo"...
Pessoalmente não quero de todo um mundo de filme neo-realista italiano, em que tudo berra, tudo grita.
As mensagens passam muito melhor pacificamente, num ambiente em que as pessoas não se sintam agredidas.

Apesar de tudo isto, sou uma mãe especialmente fixe em muitas outras coisas e dei-me conta, na longa conversa que tivemos, que ele me conseguia apontar umas quantas de que não gostava nada mas era incapaz de me dizer uma em que achasse que eu era boa, apesar de reconhecer que existiam várias.

Já se perguntava a Julia Roberts, no Pretty Woman "porquê que as coisas más a nosso respeito são sempre tão mais fáceis de acreditar!?"
Da mesma forma, mais facilmente recordamos os erros dos outros, aquilo em que nos magoaram, nos agrediram, nos lesaram, do que as coisas que fizeram connosco ou por nós, que tenham gerado sentimentos positivos.

Propus-lhe assim que tomasse nota num livrinho, de tudo o que eu fizesse nos próximos temos, que o chateasse ou lhe agradasse, e que o discutíssemos regularmente, para em conjunto analisarmos a esperada evolução da metamorfose da minha pessoa, de Gollum  para Smigel... lol

Qual não é o meu espanto quando, ao  fazê-lo ao fim de uns tempos,  verificamos que só lá tem coisas agradáveis escritas...

Ele há dias bons... :)))

COM MÚSICA











quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Mountain View, California



O contacto com pessoas de todos os tipos, com ideias, crenças, vivências, realidades, diversas é, na minha opinião, extremamente positivo para o nosso desenvolvimento pessoal.
Parece-me fundamental a noção de que todos somos diferentes, não sendo por isso obrigatoriamente melhores nem piores uns do que os outros. É por outro lado pela comparação que vamos compreendendo o que somos e o que queremos ser.

Não sei no entanto se será da velhice (lol) mas a realidade é que cada vez mais procuro rodear-me de pessoas parecidas comigo. Por parecidas entenda-se com a mesma postura perante a vida, a mesma visão, o mesmo tipo de ideais, de princípios, de atitudes.
Acredito que seja uma coisa natural a partir de certa altura. A noção do tempo a esvair-se-nos por entre os dedos transforma-o no nosso bem mais valioso. O relacionamento com gente muito diferente de nós pode eventualmente ser interessante, em pequenas doses, mas torna-se à la longue cansativo e frequentemente pouco gratificante.

Todos tendemos a medir os outros pela nossa bitola, se estas forem muito diferentes, se não estivermos no mesmo comprimento de onda, estaremos em permanente risco de atritos, conflitos, mal entendidos. Teremos de constantemente nos explicarmos, justificarmos, desculparmos, correndo mesmo assim o risco de não sermos compreendidos. 
Quando se encara e leva a vida de forma semelhante, quando se “fala a mesma língua”, tudo se torna muito mais fácil, mais simples, mais leve, mais agradável. O entendimento mútuo é o que faz de uma relação um valor seguro.
Nada disto impede que surjam os naturais problemas dos relacionamentos humanos, simplesmente faz com que se resolvam com muito mais facilidade, mais naturalidade e sobretudo sem deixar sequelas.

A tão controversa internet é uma excelente ferramenta de triagem.
Se estivermos minimamente atentos ao que por lá (cá) lemos, nas redes sociais, nos blogs, nos fórums, etc… teremos frequentemente uma noção mais exacta da verdadeira natureza dos outros do que se os encontrarmos cara a cara.
Presencialmente tende-se a fazer uma certa cerimónia, a ajustar-se a quem se tem pela frente. Curiosa e paradoxalmente, as pessoas parecem sentir-se mais à vontade para agir como lhes dita a alma no vasto mundo cibernético, em que nem sequer têm noção de quem os estará a “ouvir” do outro lado.
A realidade é que esta magnifica ferramenta de comunicação dos tempos modernos, com as suas vantagens e desvantagens, como tudo na vida, nos permite, com uma enorme naturalidade, ir separando o trigo do joio.

Dei o título a este post por piada e porque vinha a propósito.
A partir de certa altura, começaram a aparecer-me nas ferramentas de análise de tráfego (Analytics, Sitemeter e afins), várias visitas prolongadas, com origem em Mountain View, California.
Foi fácil dar por elas porque este blog não tem muitos visitantes e menos ainda que efectivamente leiam o que escrevo, a maior parte deve cá cair por engano e vai-se logo embora.  Chamou-me portanto obviamente a atenção alguém, ainda por cima de outro país, que aparentemente o andou a ler de ponta a ponta.
Yeah… Big brother is watching you… lol
Mountain View, a menos que tenhas perdido uma aposta ou coisa do género, cujo castigo seja ler a minha sopa, deves ser cá dos meus… quando cá vieres dá-me um toque, bora beber um café. ;)

Da mesma forma, estou profundamente convencida que anda por aí um bom amigo em potência. Somos amiguinhos no Facebook porque sim, porque ambos lá temos bastantes, alguns dos quais em comum. Porque em tempos trocámos umas palavras, já nem me lembro se por escrito se ao telefone, sobre a divulgação da associação que gere na rede do LF.
Há seis anos que me aparece regularmente no feed o que posta e tudo ou quase tudo mexe comigo, de uma forma ou de outra. Gosto não só do que diz mas também de como o diz. Gosto do que transmite, do que transparece da sua personalidade, do que adivinho ser a sua mente.
Recentemente, dei-me conta que me andava a pinar (salve seja!!!) no Pinterest. Fui cuscar os boards dele e muitos deles poderiam perfeitamente ser meus… os das miúdas giras e boas dispenso. ;)
Raios me partam se não nos vamos conhecer ao vivo e a cores um dia destes… just you wait, 'enry'iggins… lol

Os exemplos acima são de malta que não conheço pessoalmente, mas até com os outros isto “funciona”… graças ao que se vai passando online, tenho vindo a interessar-me e a consequentemente  aprofundar relações com pessoas que, me dou conta agora, mal conhecia, .

A empatia transmite-se bem via http… e a antipatia também.


COM MÚSICA

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Cheques sem cobertura

WTF?!

As palavras, tal como os cheques, têm de ter provisão.
Depois de lhe dar um valente enxerto de porrada o marido agarra-se à mulher, pedindo desculpa, dizendo que a ama, que não tornará a fazer… pelo menos até à próxima. Mmmm... pois.

Deparo-me recorrentemente, no Facebook e no Pinterest , com a frase que coloquei em cabeçalho deste post. Deixa-me sempre a reflectir  sobre como certas pessoas encaram a vida e as relações com os outros de uma forma, para mim, totalmente absurda.

“Pedir desculpa nem sempre quer dizer que estejamos errados e a outra pessoa certa. Quer dizer que valorizamos mais a nossa amizade do que o nosso ego.”

Hein? Desculpe?!
Estarei a ver mal as coisas ou os pedidos de desculpa são esperados quando, de alguma forma, lesamos ou magoamos alguém?!
Estar certo ou errado? Como assim, certo e errado?!

Na minha opinião, quem divulga a frase acima, valoriza garantidamente mais o seu ego do que qualquer outra coisa.
Considera que desculpar-se é dar o braço a torcer, humilhar-se, atirar a toalha ao chão, como se de um combate se tratasse… pronto, leva lá a bicicleta.
Pede desculpas não por sentir genuinamente que deve mas por achar que tem que, para por uma pedra sobre o assunto, para o mandar para trás das costas. Como se assim pudesse apagar o sucedido, fazer “reset” e seguir em frente como se nada fosse. Julga que ao fazê-lo toda a dor desaparece, como por milagre.

Um pedido de desculpas que não seja sentido, que não venha do fundo do coração, não só não serve absolutamente para nada, como nem sequer deveria, quanto a mim, ser feito.
Até podemos achar que tínhamos a tal “razão”, podemos inclusivamente continuar a defendê-la, as desculpas que pedimos podem ser por não termos tido outra opção senão magoar. Mas ou lamentamos realmente, se não os nossos actos, pelo menos as suas consequências, ou mais vale estar calado, pois pedir desculpa nestes casos só piora a situação.

Só devemos “pagar” aquilo que consideramos que devemos mas se passarmos um cheque a descoberto estamos a ser desonestos.
“Fogo, desculpa lá, pronto…”
“Já passou tanto tempo e ainda não desculpaste isso…”?!
Pagar com uma nota falsa só reforça o dano e o tempo não apaga estas “dívidas”, neste caso a situação não prescreve, o não pagamento mantém as feridas abertas ad aeternum.

Pedir desculpa, mesmo quando sinceramente, não é uma fórmula mágica que resolva tudo de um momento para o outro. Pedirmos desculpa não apaga o que aconteceu, não o torna ok aos olhos do outro. Simplesmente permite que comece a sarar e, com tempo, deixe de doer. É o que lhe abre o coração para a aceitação das nossas fraquezas, o que lhe permite ter consciência do facto que todos somos humanos e como tal todos erramos. É o que inspira a confiança de que tudo faremos para que não se repita.

Neste post coloquei uma imagem com uma frase com a qual não concordo de forma alguma e uma música que diz o contrário daquilo que penso... nunca é tarde demais para se pedir desculpa pois fazê-lo, cedo ou tarde, não implica de forma alguma que as coisas voltem ao que eram.
Pedir desculpa é um acto independente, pedir genuinamente desculpa é um acto libertador, para quem pede e para quem recebe o pedido. Pedir desculpa é afirmar a nossa humanidade e empatia para com outro ser humano.


Muitos não têm infelizmente noção do poder que têm as palavras, as que dizemos e as que calamos.


COM MÚSICA

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Meio Século





No Sábado passado fiz cinquenta anos!
Qual é a diferença entre fazer 49, 50 ou 51, perguntar-me-ão vocês… teoricamente muito pouca, evidentemente. No entanto, talvez por vivermos num mundo “decimal”, a realidade é que a passagem de uma década para outra mexe sempre connosco. Tipicamente nestas alturas fazemos pontos da situação, analisamos o que foi, imaginamos e planeamos o que pode vir a ser.

Quando estamos à espera de bebé, parece que de repente vemos grávidas por todo o lado. Reparamos muito mais nas crianças que nos rodeiam. Pomo-nos a galar os carrinhos que passam por nós. Tornamo-nos muito mais atentas às conversas sobre o tema.
Se pensamos comprar determinado carro, reparamos de repente que há montes deles em circulação. Se alguém que conhecemos tem um igual, observamos todos os detalhes com muito mais atenção, fazemos perguntas, lemos avaliações, fazemos comparações.

Quando caminhamos para velhos, é igual.
Parece que subitamente o mundo está cheio deles e passamos a vê-los com outros olhos. Interessamo-nos por questões que dantes considerávamos não nos dizer respeito. Artigos sobre temas relacionados, pelos quais anteriormente passávamos como cão por vinha vindimada, despertam-nos agora curiosidade. A análise da forma como os outros enfrentam a idade torna-se um exercício interessante.

Cinquenta anos é ser-se “velho”?!
Claro que não, de forma alguma, só mesmo aos olhos dos putos. lol
Pelo que consegui averiguar, actualmente a esperança de vida das mulheres, em Portugal, é de cerca de 82 anos. Isto quer dizer que aos cinquenta ainda têm potencialmente pela frente quase outros tantos. Se forem da laia do Manuel de Oliveira poderão mesmo duplica-los e ainda continuar por aí fora alegremente… ;) Sendo que a ciência e a medicina evoluíram de tal forma que tudo isto se passa com cada vez mais qualidade de vida.

Agora, novos já não somos, não… isso, só os muito mais velhos é que afirmam. lol
É mais ou menos por esta altura que a máquina começa a dar sinais de desgaste. Corpo e mente começam a baixar a performance, a perder a fiabilidade. De repente precisávamos de braços mais compridos, temos mais cerâmica na boca do que marfim e se nos sentarmos no chão mais de dez minutos é preciso chamar uma grua. Não vivemos sem agendas e lembretes. A máquina fotográfica deixa de ser amiguinha. O tema da morte passa a ser assunto de reflexão.

Há quem se deprima muito com tudo isto, quem tente desesperadamente remar contra a maré, agarrar-se com unhas e dentes a uma aparência e um estilo de vida que já não são nitidamente os seus.
O sentimento de perda é uma coisa complicada.
Encarar a idade como tal parece-me no entanto muito redutor, é ver o copo meio vazio.
Sempre acreditei que quando se fecha uma porta se abre uma janela. Como dizia a minha professora de história da arte, quando mudávamos de período, “não é melhor, nem pior… é diferente”.
A maior parte das pessoas só aprecia o que gostaria de ter ou eventualmente perdeu, não dá realmente valor àquilo que tem. Compara-se constantemente com os outros, mas sobretudo com os que, na sua opinião, estão melhor, em melhor forma, mais bonitos, mais elegantes, mais saudáveis, mais novos. Vê-se através dos olhos alheios, dá uma importância disparatada ao que os outros pensam…

Assim é de facto complicado não stressar com a idade.
Por um lado, cada vez mais aqueles que nos rodeiam irão ser mais novos que nós. Haverá cada vez mais gente a achar que estamos velhos e por velhos entenda-se muito pior do que estamos na realidade. lol
Por outro, se nos agarrarmos ao que ficou para trás, dificilmente conseguiremos realmente curtir o que temos pela frente. Se nos considerarmos no início do fim, para muitos de nós, irá ser um fim terrivelmente longo, uma verdadeira chatice. ;)

O convívio com gente de várias idades, géneros, opiniões, etc, é, na minha opinião, do mais salutar que há. Abre horizontes, fornece matéria para reflexão, mantém-nos actualizados e ligados à realidade.
O convívio regular com malta da nossa faixa etária é, na minha opinião, fundamental. É o que faz com que não sintamos tanto o peso da idade, darmo-nos conta que é realmente o curso natural da vida, que é quase igual para todos e sobretudo que ainda temos imenso para dar e receber.

O nosso grupinho do Tarot já perfaz uma idade somada próxima dos trezentos anos… hehe… as nossas quintas-feiras são uma galhofa, estamos todos sensivelmente no mesmo estado e não nos coibimos de gozar com o assunto. Não há melhor remédio do que o sentido de humor e não nos levarmos demasiado a sério. Estamos no entanto todos no mesmo barco e compreendemos bem como os outros se sentem, pelo que estão a passar, o que é muito reconfortante.
Não consigo sequer imaginar como se possam sentir os velhos jarretas e as barbies enrrugadas, pela “night” fora, a tentar “enturmar” com putos que quase poderiam ser seus netos.

Acreditem se quiserem mas não trocava os meus cinquenta anos pelos vinte de ninguém. :)


COM MÚSICA

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

domingo, 11 de janeiro de 2015

Merci Charlie





Tendo passado as primeiras décadas da minha vida num meio essencialmente francófono, mantenho até hoje uma forte ligação com os velhos franco-belgas através da música, por um lado, e da BD por outro.
Ainda há poucos dias nos estivemos a rir com minha velha camisa de noite com desenhos do Wolinsky... Qual não foi o choque quando soube que era uma das vítimas do ataque em Paris.
Talvez por isto tenha dedicado mais tempo do que o que seria para mim natural a ler o que vai "saindo" sobre o assunto. Matéria não falta, está por todo o lado, parece que toda a gente tem alguma coisa a dizer.
Também eu tenho evidentemente a minha opinião mas que não interessa agora para nada, pois não foi ela que me inspirou este post. Li várias criticas ao facto de se estar a dar bastante mais importância a esta tragédia do que a outras que aconteceram pela mesma altura, algumas delas com muitíssimas mais vítimas.
É no entanto efectivamente do Charlie que todos mais falam. Falam chefes de estado e representantes de organizações várias, falam jornalistas e bloggers, fanáticos religiosos e hackers, católicos, judeus e muçulmanos, falam vocês e falo eu...
Subscrevo que a vida de um cartoonista famoso não valha mais do que a do empregado da redacção, da mesma forma que a da menina de cinco anos, atirada da ponte pelo seu próprio pai, não vale mais do que a de qualquer uma das vitimas dos ataques na Nigéria... Tenho lido discursos bem elaborados e claros e outros em que metem completamente os pés pelas mãos. Tenho lido opiniões inteligentes e sensatas e outras completamente imbecis. Tenho lido artigos de jornais e comentários no Facebook.
Não acho que as notícias sobre o Charlie eclipsem nenhuma das outras, antes pelo contrario, talvez lhes dêem mais peso ainda. Todas elas nos fazem gritantemente ver como tudo está podre, como tanta coisa tem realmente de mudar se quisermos manter a humanidade.
Começo no entanto a achar que o importante não é tanto que todos sejamos (ou sigamos) Charlie ou que alguns sejam Charlie e outros não ou se somos Charlies ou Ahmeds... não, o que me parece realmente importante é haver tanta, mas tanta, gente a pensar, a perguntar-se genuinamente qual é a sua opinião, a sua postura relativamente ao assunto. Sinto que este ataque abanou muita gente, acordou muita gente. Que foi uma espécie de gota de água relativamente a uma situação mundial, um estado das coisas, que não é aceitável, que não é mais comportável. Posso estar enganada (espero que não) mas tenho a sensação que o mundo, de alguma forma, mudou, depois do ataque ao Charlie Hebdo...

COM MÚSICA

domingo, 4 de janeiro de 2015

Just don't let the music die...



Ontem estive a ver o filme do meu casamento, com os filhotes de dois amigos que se conheceram nesse dia. Ficaram entusiasmados com a ideia de conhecer uns pais 22 anos mais novos e ainda sem qualquer laço entre eles...

Não tenho por hábito rever filmes. Alguns nem sequer os vejo, acreditem ou não. Tenho cerca de uma dúzia de cassetes com filmagens dos primeiros anos do meu filho e algumas delas nunca sequer as liguei à televisão.
Há, no entanto, regularmente alguém que pega num dos nos álbuns que tenho espalhados pela casa e revemos imagens do passado. De vez em quando, por alguma razão, remexo nas fotos que tenho no computador e perco-me em visões de outros tempos, de outras vidas, de outras caras.
Todos estamos habituados a ver fotografias antigas, nossas e dos outros... Todos conhecemos a sensação de nos confrontarmos com um "céus, como o tempo passou"...
Nada tem no entanto o impacto da imagem animada e sonorizada...

Em termos de filmes comerciais, sou daquelas espectadoras que se entregam totalmente àquilo a que estão a assistir. Há quem dê atenção ao detalhe, à música, à fotografia, aos erros de racord... eu vivo o que estou a ver, entro no filme e sinto o que estão a sentir.
Talvez seja por isso que, instintivamente, não procuro visionamentos de outros tempos. Acredito que a vida é hoje, aqui e agora, o passado serve-me para ir moldando o futuro. Não me interessa lá voltar...

Ontem revi muita gente. Alguns não via há muito tempo pois já não andam por cá, foi bom voltar a passar uns momentos na sua companhia. Outros, tais como os amigos que referi, eram pessoas, em variadíssimos aspectos, muito diferentes das que são agora. E eu... bem, não sei bem quem era... revivi aqueles momentos como se lá estivesse outra vez, mas não me consigo rever naquela pele. A realidade é que nenhuma das pessoas que aparecem naquele filme ainda existe.

Muita água correu desde então...  Todos aqueles jovens já são hoje em dias pais. Nós, os mais crescidinhos, só não estamos em vias de ser avós porque cada vez se tem filhos mais tarde, temos no entanto a idade dos "velhos" da altura. Tenho agora a idade que tinha a minha mãe quando me casei.

Olhando para eles compreendemos que, expectavelmente, nos anos a vir, já não vai haver muito mais mudanças significativas. A maior parte dos grandes marcos da vida já ficaram para trás, para nós. Uniões e separações, filhos, mudanças de casa, de emprego, de objectivos, são coisas essencialmente da juventude. Não quer dizer que não venha a acontecer, uma que outra, a cada um de nós, mas não mais viveremos o turbilhão das primeiras décadas.

Acredito assim que, apesar de passar a correr sem que compreendamos onde foi parar o tempo, o último troço das nossas vidas, sem grandes estímulos externos, possa não parecer muito empolgante.
Os actores principais dos grandes filmes começam a pertencer às gerações abaixo. Deixa de ser tanto "eu isto", "nós aquilo", para ser mais "o meu filho isto", "a minha sobrinha aquilo".
A certa altura temos de nos compenetrar que já somos "clássicos" (lol), que o que nos espera daqui para a frente são sobretudo papeis secundários.

Esta é uma ideia que põe muita gente fora de si, que deprime ou revolta, consoante os feitios. Que a faz desistir de continuar sempre a tentar evoluir e melhorar. Que a impele a tentar levar um estilo de vida que já não é nitidamente para "a sua idade". Que agarra de tal forma alguns ao passado que se tornam seres de aparência alienígena.

A viagem, cá mais para o fim, é mais calma, menos tumultuosa, mas nem por isso menos fascinante.
Os desafios vêm cada vez menos de fora e mais de dentro. Se tudo tiver corrido bem, teremos reunido matéria-prima da qual retirar agora muito sumo. Passámos anos a "fazer" uma vida, é agora altura de a vivermos.

Pois os mais novos olham para nós como se estivéssemos a ficar fora de prazo, como nós olhávamos para os nossos pais e tios…
Mal sabem eles, jovens tontos, que ainda agora estamos a começar, que a grande aventura, o maior dos desafios, é mesmo envelhecer em beleza, em paz, serenidade e sensatez...

De nós depende não deixar morrer a música...





COM MÚSICA