sexta-feira, 15 de março de 2013

Querido CV



(Auto-retrato... lol)


Faz hoje nove anos (!!!) que o meu pai nos deixou…
Desde então tenho sido muito mais feliz.
Ahhh, mas suponho que não tenha nada a ver uma coisa com a outra?! - perguntar-me-ão vocês, num misto de espanto e choque.
Tem, tem! ;)

Então?! Que raio de afirmação é essa?!
Odiava o meu pai? Tínhamos uma relação péssima? Estou bem melhor sem ele?
Nada disso, antes pelo contrário, tive o “melhor pai do mundo”.
Dificilmente consigo imaginar uma relação que pudesse ter sido mais forte, com mais amor, companheirismo, cumplicidade. Sempre adorei o meu pai.
Estava longe de ser perfeito mas era, sem qualquer sombra de dúvida, um excelente ser humano.
Talvez justamente por tudo isto a sua morte me tenha permitido aprender tanto.

Através dela descobri que a mais profunda dor, não só não mata, como acaba eventualmente por passar. Nos primeiros tempos é-nos difícil acreditar nisto, ficamos de tal forma destroçados, que não conseguimos sequer vislumbrar uma hipótese de alívio. Sentimo-nos condenados a continuar a viver com um coração que não pára de sangrar.
No entanto, um dia, damo-nos conta que na realidade já não dói, que já só resta uma imensa saudade e que até é possível viver bem com ela.

Por outro lado, essa mesma dor que nos corrói, permite-nos relativizar tudo e dar valor ao que realmente importa. Uma vez passada, basta que não larguemos mão dessa noção para que passemos a realmente apreciar o que de bom temos na vida. Se, quando nos sentirmos a descarrilar, a permitir que questões acessórias nos perturbem por aí além, nos relembrarmos disso, todas as dificuldades do caminho nos pesarão menos.

Grande parte da minha vida, julgo que da de todos nós, se rege por aquilo em que acredito, que não preciso de forma alguma de ver provado.
Quando me confrontei com aquele corpo inerte, tive a certeza absoluta de que não passava de um invólucro, que ele já não estava lá.
Não tendo qualquer tipo de crença religiosa, não tenho nenhuma teoria sobre para onde possa ter ido, só sei que aquilo que ali estava não era garantidamente o meu pai.
Por outro lado, apesar de já não poder comunicar com ele, continuo a senti-lo como se estivesse ao meu lado, acredito portanto que continue a existir algures.

Só sonhei com ele uma única vez desde que se foi, sonhei que me telefonava. Eu perguntava-lhe se afinal não tinha morrido e ele respondia que sim, mas que tinha decidido ligar só para me dizer que estava tudo bem.
Todos os dias passo por ele, pela fotografia que tenho no meu quarto, de onde sorri para mim e me “diz” que a morte não tem importância nenhuma.

Se me faz falta? Se a sua ausência me custa? Se preferia tê-lo comigo?
Sem sombra de dúvida.
No entanto, através da sua partida, interiorizei o ciclo da vida e aceitei, do fundo do meu ser, o fim da mesma tal como a conhecemos.
Tomando, por outro lado, real consciência da sua efemeridade, passei a gozar cada segundo que por cá andamos e a dar realmente valor ao tempo que partilhamos com os outros. 
Ao  aceitar a morte ganhei uma imensa paz e serenidade e passei garantidamente a apreciar muito mais a vida.


COM MÚSICA