quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Hey Ho Let Go


As emoções que nos provocam pessoas e “coisas”, quer sejam elas positivas ou negativas, afectam-nos sempre. Os sentimentos regulam a nossa vida, a forma como nos “sentimos”,  lá está, como a palavra o indica.
Sentimentos como o amor, a amizade, a compaixão, fazem-nos sentir bem, como o ódio, o ciúme, a inveja, fazem-nos sentir mal.
Ou seja, os sentimentos têm poder sobre nós, sobre as nossas vidas. Influenciam o nosso estado de espírito, puxam-nos para cima ou para baixo consoante as circunstâncias, impelem-nos inclusivamente a tomar esta ou aquela atitude.
Resumindo, só não nos toca o que nos é indiferente.

A vida encarrega-se constantemente de por e tirar coisas do nosso caminho.
As boas, as que nos são agradáveis, temos sempre receio de as perder. As más, as que de alguma forma nos fazem sofrer, queremos mais è vê-las pelas costas.
Aquilo de que não nos damos geralmente conta, é que somos muitas vezes nós próprios que as retemos, que lhes damos o poder de nos afectar.

Alimentar sentimentos relativamente a determinada situação liga-nos a ela, faz com que continue a ter presença emocional. Amar alguém que não quer saber de nós, odiar, desprezar, guardar rancor, são tudo sentimentos e como tal mexem connosco. A ideia, em prol do bem estar e da paz de espírito, é deixa-los ir, não nos agarrarmos a eles.

Ahhh, pois, e tal e coiso, muito mais fácil de dizer do que de fazer, dirão os do costume.
Ora alguém disse que era canja?! Se fosse uma coisa evidente nem valeria a pena dissertar sobre o assunto…
A realidade é que é possível controlar  sim, tal como na história do Velho Índio e dos dois lobos, nós é que escolhemos o que alimentamos. E se não houver cães não é preciso alimentar nenhum, a questão não se põe, é uma não-questão, um não problema.
Isto é válido relativamente a tudo, só a emoção nos prende, a indiferença é absolutamente libertadora.

Não, não estou a sugerir que descartemos toda e qualquer emoção transformando-nos em flat-liners, nem pouco mais ou menos, somente aquelas que não servem absolutamente para nada, que não cumprem qualquer propósito a não ser fazer-nos sofrer.

Quando eu era miúda tinha pânico de osgas, detestava-as, achava-as nojentas (e ainda acho um bocado, confesso), tinha imenso medo de ter algum "encontro" e tornava-me totalmente irracional na sua presença.
Uma noite, há muitos anos, os meus amigos sabendo desta fobia, fecharam-me num quarto com uma. A desgraçada estava na parede, lá bem perto do tecto, quietinha, sem fazer mal a ninguém, enquanto eu berrava insultos, guinchava e dava murros e pontapés na porta implorando que a abrissem para eu sair.
Nesse dia dei-me conta do ridículo que era nutrir “sentimentos” por um bicho sem qualquer importância na minha vida, com o qual o mais que podia acontecer era ter de partilhar pontualmente uma divisão. As osgas passaram a ser-me completamente indiferentes,

As relações humanas, familiares, amorosas, amigáveis, não funcionam sem emoções mas pode haver emoção sem haver relação. Mantemos laços emocionais com pessoas com quem já não temos qualquer relacionamento, tentamos, por alguma razão, manter o passado no presente, o que não é nada saudável.

Se não nos agarrarmos às emoções, se não ficarmos a remoer as questões, se deixarmos a coisa fluir, se nos deixarmos de mesquinhices e trivialidades, frequentemente nos daremos conta que determinada pessoa já não tem lugar na nossa vida, que tudo o que lhe diga respeito nos passou a ser perfeitamente indiferente.

Apesar disto poder parecer insensível é no entanto uma excelente bitola, uma forma de separar o trigo do joio, pois há também aqueles que, passe o tempo que passar, seja qual for a distância que nos separa ou a razão do afastamento, não conseguimos “esquecer”, não conseguimos ganhar distância emocional. Esses são os que realmente importam.

Alimentar sentimentos, só os que nos fazem sentir cheios por dentro, nunca os que nos corroem as entranhas. Esses é deixa-los ir, larga-los e usufruir do fabuloso poder libertador da indiferença.






COM MÚSICA

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A luz ao fundo do túnel



Todos passamos por fases na vida em que não conseguimos ver a luz ao fundo do túnel.
Por isto entenda-se visualizar solução para os problemas, antever como é que as situações se vão resolver, interiorizar que o sofrimento por que estamos a passar não passa disso mesmo, de uma fase má, que vai passar.
Isto aplica-se a tudo, desde questões sentimentais, como de saúde, financeiras ou qualquer outra coisa.

Há momentos em que a noção da realidade que nos rodeia tende a fazer-nos esquecer que por cima das nuvens o céu está azul e o sol brilha. Há alturas em que a vida assusta, por não conseguirmos ver saída para as situações. Há situações em que as estatísticas e as probabilidades estão nitidamente contra nós.

Aquilo que estou sempre a apregoar, que devemos dar valor àquilo que temos, em vez de almejarmos o que não temos, pode virar-se contra nós. Quando realmente vivemos a vida com esta postura, aquilo a que damos realmente valor, aquilo de que gostamos, gostamos imensamente, apreciarmo-lo de tal forma que a ideia de o perder é aterrorizadora.

Nestas alturas, para além do calor humano, do apoio e carinho dos que nos rodeiam, aquilo que mais nos pode ajudar, pessoalmente não tenho qualquer dúvida disto, é a FÉ.
Qualquer fé, não interessa… tem é de se acreditar, acreditar em alguma coisa.
Pessoalmente não sigo nenhuma religião, nenhuma doutrina, acredito no entanto, do fundo da minha alma, que se formos boas pessoas a vida é boa para nós.

Acredito que não seja possível amadurecer, irmo-nos tornando pessoas cada vez melhores, se não passarmos por situações difíceis, pois são elas que nos fazem crescer.
Acredito que as perdas, qualquer tipo de perda, daquelas que realmente doem, são tão inevitáveis como a própria morte e que temos de aprender a viver com essa consciência e aceitá-la pacífica e serenamente.
Acredito que a auto-compaixão só serve para nos deitar abaixo, para vermos o copo meio cheio, que se é para ter pena, que seja de quem está pior do que nós.
Acredito que nos momentos difíceis, não devemos olhar só para o nosso umbigo, que temos de interiorizar que se estamos a sofrer os outros também o podem estar, muitos estarão certamente pois os tempos não andam fáceis.
Acredito que não é lá porque se portam mal connosco que devemos retribuir. Que as más acções não são validadas por serem consequência de uma má acção sofrida anteriormente. Que assim o círculo vicioso nunca mais acaba.
Acredito que nos ajuda mais ajudar os outros com os seus próprios problemas, do que exigir compaixão e bater com a cabeça nas paredes. Que nos momentos em que sentimos que pouco ou nada podemos fazer por nós próprios, estender a mão a alguém nos faz sentir que não estamos de braços cruzados, que continuamos a fazer pela vida, mesmo que seja pela vida “em geral”.
Acredito que tudo aquilo que fazemos, de bom ou de mau, que nem boomerang, acaba por voltar a nós. Não obrigatoriamente pela mesma via, através das mesmas pessoas, mas garantidamente na mesma moeda.
Acredito que só com integridade, transparência, honestidade, franqueza e sobretudo muito amor, podemos realmente mudar o mundo. Que todos os males da humanidade se devem ao carácter egoísta e mesquinho da, infelizmente, maior parte dos homens.


Esta FÉ, é a única luz ao fundo do túnel em que realmente confio, é a força que que me permite afirmar, de lágrimas nos olhos e pesar no coração, que sou uma pessoa profundamente feliz.




COM MÚSICA

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A diabólica menopausa.


Nos últimos tempos dei por mim a ter crises de angústia absolutamente terríveis, ao ponto de acabarem por despertar a minha Úrsula Adormecida.
Não as conseguia atribuir a nada de concreto. Se vos dissesse que tudo está fantástico para estes lados, estaria a mentir. A verdade, no entanto, é que já esteve bem pior. Não, a minha vida actual não parecia de forma alguma justificar este descontrolo.
Assim, tendo perfeita consciência do poder da mente sobre o corpo e vice-versa, antes que a coisa descambasse, tentei perceber o que se poderia estar a passar.

Não foi muito difícil, bastou parar para pensar um bocadinho, aperceber-me de todos os outros sintomas; a filha do demo estava de volta!
A menopausa não vem logo para ficar. Não, começa a rondar discretamente, afasta-se, volta subitamente, dá umas dentadinhas, torna a soltar… parece um gato a brincar com a presa.

Há cerca de um ano estive no fundo do poço, há muito tempo que não me sentia tão mal. Enfim, como dizia o outro, estive à beira do abismo mas dei um passo em frente… ;)
Estou hoje em dia profundamente convencida que foi a cadela que me pôs naquele estado e determinadíssima a não a deixar repetir a proeza.

Entrei na pré-menopausa há sensivelmente ano e meio e logo comecei a investigar o assunto, pois gosto sempre de saber com o que contar.
Cada uma de nós tem direito às suas maleitas, embora haja algumas mais comuns, que nos afligem com maior ou menor intensidade. Descobri no entanto que há uma série de sintomas potencialmente associados que nunca me passaria pela cabeça relacionar.

Se não controlarmos a coisa de alguma maneira, sentimo-nos literalmente a enlouquecer.
Pelo que consegui averiguar, parece ser hoje bastante consensual que as compensações hormonais sejam de evitar, devido ao risco de cancro. Pessoalmente não estou minimamente inclinada para assumir esse risco.

Os pais e/ou a escola preparam-nos para as primeiras fases da nossa vida, ninguém o faz para as últimas, temos portanto de aprender sozinhos ou deixar-nos ir com a maré.
Pessoalmente prefiro sempre tomar os assuntos em mãos.

Uma coisa que reparei foi que, não havendo propriamente um tabu, há pelo menos um certo pudor em falar sobre o tema. Confesso que me faz alguma confusão, dado que a troca de informações e de experiências sempre ajuda a que consigamos compreender o que se passa.
Não sei se terão visto um filme canadiano, de 86, chamado “O declínio do império americano”?!
Trata, grosso modo, de um grupo de amigos que, ao longo de um fim-de-semana, vai discutindo abertamente a sua sexualidade. Na altura gostei imenso do filme que me marcou bastante. Teria então cerca de vinte e poucos anos e lembro-me de ter citado, mais do que uma vez, em concordância claro está, a seguinte afirmação de um dos personagens masculinos:
[...] A única certeza que nos resta é a capacidade de agir dos nossos corpos. Se gosto, tenho ponta. Se não tenho, não gosto. Esta é a única maneira de testar. Como as mulheres que nos dizem "Amo-te como no primeiro dia" e que estão secas como lixa, quando dantes ficavam completamente molhadas só com um beijo no pescoço. [...]
Pois, a falta de informação é no que dá… leiam lá a listinha de sintomas, vá.

Outra coisa, é a convicção de que a menopausa é um assunto nosso, das mulheres…
Meus amigos, se vivem connosco aguentem-se, também é problema vosso, sim, exactamente da mesma forma que são problema nosso todas as vossas indisposições e doenças, estamos juntos neste barco, não sacudam a água do capote.
A maioria dos homens fica às portas da morte à mínima constipação mas espera que enfrentemos as nossas maleitas como se fossemos tanques de combate…
Pois esta merda não é pêra doce meninos e não é coisa para durar dois dias, é bom que se façam à ideia. Sem a vossa compreensão, a vossa ajuda, o vosso apoio, não vai ser nada fácil de ultrapassar e se correr mal vai sobrar para todos, garanto-vos.

Já ouvi falar de menopausas que decorrem “sem espinhas”, tal como de partos feitos com uma perna às costas (não sei se em sentido próprio…lol), são no entanto excepções.
São coisas por que temos de passar, façamo-lo portanto da melhor forma possível, começando por usar o cérebro, não faz sentido transforma-las em bichos de sete cabeças.

Há sintomas físicos e sintomas psicológicos mas estão de tal forma interligados que mais parecem uma pescadinha de rabo na boca.
Se, logo para começar, encararmos a menopausa como o princípio do fim, se começarmos a achar que, por causa dela, estamos velhas, é meio caminho andado para termos o caldo entornado no que diz respeito à parte psicológica.
Para além disso, convém evitar os macaquinhos no sótão pois, sendo o cérebro o maior órgão sexual feminino, estes vão garantidamente acabar por dar cabo dessa parte da nossa vida, o que convenhamos era uma pena. ;)

Na minha opinião a primeira coisa a fazer é encarar o facto que estamos a passar por um mau bocado e termos isso em consideração no nosso dia a dia.
Se é verdade que a ela associamos imediatamente alguns sintomas, como sejam os malfadados “calores”, outros há que são menos óbvios. Convém assim que saibamos o que esperar desta travessia do deserto, termos a noção que não vamos ter só os dois ou três incómodos de que sempre ouvimos falar mas potencialmente muitíssimos mais. Estarmos preparadas para lidar com cada um deles da forma mais eficiente.

Tudo aquilo por que passamos deita abaixo, não mata mas moí terrivelmente. Temos assim de poupar forças para o conseguir suportar, não armar em super-mulheres, pedir apoio, aceitar ajuda, exigir a compreensão de quem nos rodeia.
Se estivermos derreadas, a porta estará aberta para todos os males psicológicos. Mesmo tendo todos os cuidados eles estão sempre à espreita, as #”$%&## das hormonas encarregam-se de os invocar. O melhor é não lhes darmos muita importância, não alimentarmos a coisa.

Dito isto, não há fórmulas mágicas, cada uma terá de encontrar a melhor forma de viver com os seus sintomas. Há pequenos truques que podem ajudar, o artigo para o qual pus o link é dos melhores que encontrei na net e dá-nos dicas para cada “aflição”.
Para além disso é uma fase em que precisamos de muitas muletas… pois então usemo-las.
Temos falta de memória?! É para isso que servem agendas e lembretes… A porcaria da angústia não nos larga o osso?! Xanax pá carola… Tá seco?! Passáí o KY Jelly…

E sobretudo não esquecer que nisto, como aliás em tudo na vida, o nosso melhor amigo é sempre o sentido de humor… ;)


COM MÚSICA

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Abre a pestana, as drogas não te lixam só a ti!!!


Nos últimos tempos o tema tem sido uma constante à minha volta e, assombrada pelas histórias de terror de amigos e conhecidos, como qualquer mãe, cruzo os dedos para que tal flagelo nunca me venha bater à porta.
Decidi assim, mais uma vez, escrever um post dirigido aos mais novos, pois se conseguir abrir a pestana a um que seja, já terá valido a pena.

Se não nos dermos ao trabalho de reflectir sobre o assunto, todos tendemos a pensar que o que fazemos a nós próprios é cá connosco e ninguém tem nada a ver com isso.
Não podia ser mais falso!!!

Pensem em alguém de quem realmente gostem, muito, do fundo do coração, uma daquelas pessoas por quem fariam qualquer coisa, sem a qual vos custaria terrivelmente viver… digam o nome dessa pessoa para dentro, fechem os olhos e imaginem-na, pensem nas coisas que apreciam nela, lembrem-se dos bons momentos que passaram juntos…
Agora imaginem que, por alguma razão, desistia de viver, se suicidava.
Como é que acham que isso vos faria sentir?!
Traídos, abandonados, desconsiderados, desprezados… uma coisa é certa, bem não seria com toda a certeza.

Contrariamente ao que julgamos, não somos donos de nós próprios, não podemos, ou não devemos, fazer o que nos dá na real gana, sem consideração pelos outros.
Só pode pôr e dispor da sua vida, sem pensar em mais ninguém, quem não tenha desenvolvido laços afectivos. Quem os tem fica a eles vinculado e tem a obrigação moral de os respeitar.
Só quem nunca tenha visto o terror da perda nos olhos de quem ama pode duvidar disto.

Tal como relativamente a qualquer outro tema, as opiniões divergem no que diz respeito ao consumo de substâncias potencialmente viciantes. A fronteira do aceitável, do que é ou não preocupante, varia de indivíduo para indivíduo.
Uma coisa é no entanto certa, a adolescência é uma fase perigosíssima no sentido em que todos somos muitíssimo influenciáveis e simultaneamente sujeitos a enormes picos emocionais.
Logo, consumir seja o que for, é mesmo estar a brincar com o fogo.

Todos conhecemos os “moedinhas” das zonas de estacionamento e sabemos a razão porque a maioria lá foi parar. Todos sabemos ao que se atribui grande parte da criminalidade. Mesmo quem tenha a sorte de não ter casos próximos de si, já assistiu à horrível degradação de uma que outra celebridade devido às drogas, à morte de tantas delas.

Não acredito que ninguém experimente alguma coisa convicto de que é o que lhe vai acontecer, se for o caso, só tem o que merece.
Não, todos julgam que é só mais uma experiência, que largam quando quiserem. Perguntem a qualquer fumador...
Não tenho conhecimento das estatísticas e não gosto de afirmar o que não sei,   suspeito no entanto seriamente que sejam mais os que, de alguma forma, se ficam pelo caminho, do que aqueles que conseguem recuperar uma vida “normal”.

Costuma dizer-se que cada um se deita na cama que faz. Infelizmente, nestes casos, toda a família lá vai parar, não há como escapar.
As drogas não dão só cabo da vossa vida, dão cabo de tudo o que estiver à vossa volta, sem dó nem piedade.
Dão cabo de pais e irmãos, de tios e avós, de qualquer um que tenha o azar de estar próximo e gostar de vocês. O amor deles será a sua perdição.
As drogas dão cabo das contas bancárias, das carreiras, da vida social, dos casamentos, da saúde física e mental… dos outros. Daqueles de quem vocês afirmam gostar. Daqueles que não têm culpa nenhuma da merda em que vocês se meteram…
E o pior é que vocês próprios dariam provavelmente tudo para não o ter feito, para nunca terem entrado nesse mundo…

Então, meus amigos, têm bom remédio, NÃO ENTREM!!!
Se estão à porta, dêm meia volta, JÁ.
Se têm um pé lá dentro, olhem bem, mas mesmo bem, para os olhos de quem vos ama e vão lá buscar força para fugir a sete pés.
Se ficarem, se forem em frente… assumam a enorme maldade que lhes estão a fazer!

O caminho da felicidade não passa nunca pelo alheamento da realidade, drugs don’t work, a vida é uma pega de caras, sejam homens, não ratos…

COM MÚSICA

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Não sou tua amiga, sou tua mãe...



Educar
[...] Oferecer a alguém o necessário para que consiga desenvolver plenamente a sua personalidade. Propagar ou transmitir conhecimento (instrução) a; oferecer ensino (educação) a; instruir..[...]

De cada vez que vou a uma reunião de pais, pergunto-me qual será o futuro da humanidade nas mãos das crianças de hoje.
Partindo do princípio que as escolas não mencionam as coisas só porque sim mas porque chegaram à conclusão que não são óbvias para toda a gente, bradam aos céus alguns dos conselhos que se ouvem.

Os filhos não vêm com manual de instruções, cada caso é um caso e não tenho qualquer dúvida que vários caminhos levem a Roma. Convém é que exista, para que não reine a lei da selva, pois as crianças não se auto-educam.
Não sou sumidade na matéria, só uma mãe que retira genuíno gozo do papel e se aplica na tarefa. Haverá quem não concorde comigo, quem abrace outras teorias e práticas, o que compreendo e respeito.

Na minha opinião, há duas coisas fundamentais para o sucesso de uma educação; amor infinito e um pulso de ferro.
Não há formulas mágicas nem truques infalíveis e por muito que se possa estudar sobre o assunto, para educar temos de usar o bom senso e tocar de ouvido.
Se funcionarmos por experimentação e formos rectificando os erros, a coisa deverá correr mais ou menos bem. 
Convém no entanto que tenhamos noção que, muitas vezes, educar custa-nos bastante mais a nós do que a eles e que, façamos o que fizermos, iremos inevitavelmente falhar algures, não há pais perfeitos.

Nada me convence que as crianças não se começam a educar desde o dia em que nascem e faz-me alguma confusão o precioso tempo que perdem os pais que acham que só o podem fazer a partir de determinada idade.
A partir do momento em que começa a haver reciprocidade na comunicação verbal, então, passamos a ter mais uma preciosa ferramenta ao nosso serviço.

Uma das coisas que considero importante para que se gere uma sensação de estabilidade, são os horários e as rotinas. As crianças precisam de comer com calma e sem stress, de estudar, de tempo para a brincadeira, das suas horas de sono, etc. Se tudo isto não for devidamente organizado, facilmente as coisas descambam e não acho que as crianças digiram bem o caos.

Outra, são as regras. As sociedades em que vivemos, sejam elas quais forem, estão sempre repletas de regras. É bom que os miúdos percebam desde cedo o que isso quer dizer e aprendam a cumpri-las, a respeita-las, ou até mesmo eventualmente a quebra-las, desde que com a noção de que o estão a fazer.
Só assim se conseguirão integrar.
Haverá alguém melhor do que nós, que temos por eles um amor incondicional, com quem testarem tudo isto?!

Acredito numa educação cuidadosa e firme mas não austera e rígida.
Pessoalmente sou uma mãe brincalhona e informal e considero a cumplicidade e o companheirismo muito importantes e valiosos. Não tolero no entanto qualquer tipo de abusos, sendo bastante implacável relativamente a respostas tortas, insultos ou faltas de respeito. Quanto a este último, não só pelos mais velhos mas por qualquer ser vivo.

Se formos déspotas e prepotentes, só estaremos a mandar, não a educar. Se formos manipuláveis e permissivos, perderemos a autoridade necessária para o fazer. Como em tudo o resto, no meio é que está a virtude.
Não sou assim apologista de porque sins e porque nãos
Na minha opinião, as nossas decisões podem ser contestadas e postas em causa, sim, desde que civilizadamente e não através de birra. 
Caso seja possível devem-lhes ser explicadas e, no caso de contra-argumentarem convincentemente, revistas e eventualmente alteradas. Não tenhamos a presunção de achar que estamos sempre certos.
Da mesma forma, somos humanos, falhamos, metemos a pata na poça, somos injustos, etc… nesses casos não há nada como pedir desculpa, sinceras e humildes desculpas.

Não acredito em tabus e, as crianças tendo uma enorme curiosidade natural, acho óptimo que se sintam à vontade para nos perguntarem tudo que quiserem e que lhes respondamos sem embaraço ou preconceito.
Nem sempre é fácil adaptar as respostas à sua idade e às vezes nem sequer conseguimos arranjar uma que possam efectivamente compreender. Não vejo qualquer inconveniente em explicar-lhes isso mesmo, que são novas demais, que voltaremos eventualmente a falar sobre o assunto mais tarde.
Da mesma forma, acontece nós próprios não as sabermos, em cujo caso reconhecê-lo me parece a melhor solução, ninguém é suposto saber tudo. Todos conhecemos pessoas que, quando não sabem, inventam. Se for alguém em quem confiamos, acreditaremos, assumiremos o embuste como conhecimento. Caso o tema nos interesse e esteja ao alcance da nossa própria compreensão, é até uma excelente oportunidade para aprendermos e de seguida o transmitirmos. 

Quando são bebés temos de fazer absolutamente tudo por eles. Conforme vão crescendo, à medida das suas capacidades e respeitando o seu tempo de ser criança, acho que lhes devemos ir exigindo cada vez mais independência e colaboração.
É bom que se vão habituando lenta e suavemente a que a vida não é um mar de rosas e que nos sai do pelo. Sair tudo do nosso quando já podem participar com a sua quota-parte não me parece, nem justo, nem formativo.

Acho muito importante que estejamos disponíveis, para os ajudar sempre que possível. Ás vezes era sem dúvida mais fácil fazermos nós as coisas por eles, dava-nos menos trabalho, mexia-nos menos com os nervos. No entanto, quem precisa de aprender, de praticar, não somos nós, não devemos assim dar-lhes o peixe mas ensina-los a pescar.

Transmitir-lhes a noção de que, apesar de serem a coisa mais importante da nossa vida, não são a única, também me parece essencial. O ser humano è naturalmente egoísta e, se o deixarmos, tende a ver-se como o centro do universo. Convém cortar esse mal pela raiz desde cedo. Sacrifícios sim senhor, mas os que fazem sentido, os que cumprem algum propósito para além do “querer” da criancinha.

O que nos leva à questão das “liberdades individuais” de que tanto se fala hoje em dia. Sempre ouvi dizer que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros. Seres humanos em fase de formação, que ainda vêem a vida a preto e branco devem, na minha opinião, ter as escolhas reguladas pelo bom senso paternal. Quando forem adultos e independentes, logo poderão fazer o que bem entenderem, até lá, no que me diz respeito, estarão sempre em “liberdade condicional”. lol

Em tudo o que fazem acho que lhes devemos sempre exigir o máximo, não que sejam os melhores mas que dêem o seu melhor. Pouco ou nada se faz sem esforço, sem empenho, sem força de vontade. Na minha opinião todos devemos ser tão bons, em tudo o que fazemos, quanto aquilo que conseguimos ser, nem mais, nem menos.

Acho perfeitamente possível passar-lhes noções que nós próprios só descobrimos tarde na vida e tanto jeito nos teria dado interiorizar precocemente. Não são necessárias palestras, não fazem sentido grandes dissertações, eles compreendem bem melhor os exemplos práticos, as demonstrações com base em exemplos concretos do dia a dia.

Finalmente, como não podia deixar de ser, dar o exemplo é essencial. Haja coerência, se não praticarmos o que apregoamos, como iremos convence-los que lhes possa trazer algum benefício na vida?!




COM MÚSICA

sábado, 4 de outubro de 2014

Sapos




 
Pessoalmente sou acérrima defensora da sinceridade, frontalidade, transparência. Acho a vida muito mais fácil quando percebemos exactamente o que temos à frente, com o que estamos a lidar, sem necessidade de interpretação ou, nalguns casos, de capacidades divinatórias mesmo.
Sou no entanto também grande apologista da utilização do cérebro e consequente controlo dos impulsos.

Todos passamos pontualmente  por situações em que nos sentimos compelidos a "espingardar" quando na realidade, por uma razão ou por outra, o melhor que  temos a fazer é mesmo meter a viola no saco e ficar caladinhos. Passo a exemplificar...

Trato dos pedidos de informação e reservas de uma casa de férias da família, que tem vindo a ser pontualmente arrendada para ajudar a suportar os custos.
Frequentemente as pessoas pedem "favores", que se abram excepções às regras, que se facilite isto ou aquilo. Vai do clássico pedido de desconto, à flexibilidade nos horários de entrada e saída ou à autorização para levarem o cãozinho. 
De cada vez, oiço os seu argumentos, tento pôr-me no seu lugar, compreender as suas razões e, sempre que possível e dentro dos limites do razoável, acedo aos seus pedidos.
Já mais do que uma vez, devido a algum problema ou imprevisto, teria sido agradável ter a mesma simpatia do outro lado. Aquilo com que me tenho deparado nessas alturas é no entanto bem diferente. A compreensão e as cedências parecem ser vias de sentido único.
Sobretudo relativamente àqueles para quem tive alguma atenção especial, esta postura provoca-me um enorme sentimento de revolta.
De que me adiantaria no entanto puxar a brasa à nossa sardinha?! A empatia, ou se sente ou não se sente e a triste realidade è que a maioria  das pessoas só tem em consideração o seu próprio umbigo. 

Outro exemplo, fiz uma vez um trabalho para um amigo, digamos que de feitio um pouco intempestivo... 
Desde o início que não foram propriamente fáceis o diálogo e a comunicação mas houve uma reunião que ultrapassou todos os limites do razoável. A virulência e agressividade foram escalando de tal forma que, de cada vez que precisava de falar, tinha antes de contar até dez, para garantir que não dizia nada de que me fosse arrepender mais tarde. 
Quando se foi embora, chorei de raiva e de seguida mudei de registo e obriguei-me a pensar noutra coisa. Era isso ou partir a loiça toda da nossa relação, o que não estava disposta a fazer, pois na minha forma de estar na vida não se trata ninguém daquela forma.

Finalmente, há tempos, fui injustamente acusada de ter tido uma atitude que, não só não tive, como antes pelo contrário. Fui por isso apelidada de ingénua, de totó, e ainda hoje sou gozada e achincalhada. 
O sentimento de injustiça é, sem dúvida, dos que mais me afectam, pelo que me senti obviamente impelida a repor a verdade dos factos. 
Ao preparar a resposta dei-me no entanto conta de que este era mais um sapo que teria de engolir. Para poder "limpar" o meu nome teria de apontar o dedo a terceiros, "gabar-me" de atitudes louváveis que tinha tido e apontar umas "verdades" inconvenientes... e tudo isto com a convicção de que não iam acreditar de qualquer das formas. 
Mais valeu estar calada. 

Muitas são as situações em que é mesmo a melhor coisa a fazer, calar e engolir em seco.
Temos enraizadas em nós noções de honra, de justiça, de reposição de verdades mas, no fundo, o que realmente interessa é o resultado final das nossas atitudes, das nossas reacções. 
Quando penso em tudo isto vêm-me sempre à cabeça os, na minha opinião ridículos, duelos, a quantidade de gente que limpou a honra perdendo a vida, e pergunto-me como é que alguém pode achar que vale a pena.


COM MÚSICA

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ó vizinha, dá-me salsa?!




Um destes dias os nossos convidados para o almoço entraram-nos em casa a perguntar; “Como é que vocês se dão com os vossos vizinhos tal tal? É que estamos a pensar fazer uma queixa…”
Depois de lhes assegurarmos que dávamos muito bem obrigados e sugerirmos que estivessem quietinhos, continuaram a refilar. Que não podia ser, que as pessoas não podiam fazer o que lhes dava na real gana, que eles faziam queixa de tudo, eram odiados por todos os vizinhos mas funcionava muito bem.

Primeiro chocou-me a ideia daqueles dois serem odiados por fosse quem fosse. Não conheço sinceramente melhores pessoas, mais atenciosas, disponíveis, prestáveis, sempre dispostos a estender a mão ao próximo. Pessoalmente não conheço ninguém que não os adore.
Depois pus-me no lugar dos vizinhos deles e, se de facto é a postura que adoptam, compreendi que possa haver quem não tenha propriamente a mesma opinião… lol

A conversa transitou entretanto para outro tema qualquer e não voltámos a discutir o assunto. Fiquei no entanto a remoê-lo durante algum tempo, ao ponto de me inspirar este post…

Vivemos num pequeno caracol com trinta casas, das quais dois terços são praticamente iguais, só diferindo em tamanho. Chamo-lhe caracol porque é o que parece visto de cima, tendo de se sair por onde se entrou, o que faz com que seja uma rua muito calma e recatada praticamente só por cá circulando moradores e respectivos colaboradores e visitas.

Se me perguntarem se aquilo que os irritou a eles não me incomoda a mim, tenho de confessar que sim. Como em qualquer outro sítio onde vivesse, há praticas que me chateiam, coisas que agridem o meu sentido estético, episódios pontuais que não me agradam.
Daí a “fazer queixa” dos mesmos…

Quando as nossas visitas juntaram numa mesma frase a afirmação de que eram odiados à de que corria tudo muito bem, confesso que fiquei baralhada, pois a mim parece-me sintoma de que algo corre infelizmente bastante mal.
Eu pelo menos atribuo uma enorme importância ao ambiente em que vivo, acho fundamental sentirmos harmonia à nossa volta e não animosidade.
Gosto de trocar dois dedos de conversa com os vizinhos quando nos cruzamos na rua, de me sentir à vontade para lhes cravar isto ou aquilo e vice-versa, de lhes poder deixar a chave de nossa casa se for necessário, etc…
A minha irmã é muito amiga dos vizinhos do lado, fazem jantaradas, passam férias juntos, confesso que tenho uma pontinha de inveja, gostava de ter uma coisa do género aqui na zona. lol

Se pensarmos bem, todos temos coisas a apontar, todos de alguma forma temos  telhados de vidro (no nosso caso até em sentido próprio…lolololol), duvido que alguém possa afirmar, em consciência, que jamais incomodou o próximo.
Resumindo, acho fundamental esforçarmo-nos por ter para com os outros a paciência e tolerância que gostaríamos e esperamos que tenham para connosco.

Queixas, reservo-as para se surgir alguma questão realmente grave, nos entretantos prefiro uma boa vizinhança… :)







COM MÚSICA
(Sim, sim... mas foi a única música gira 
que encontrei sobre vizinhanças, ok? lol)
Pete Seeger - Little Boxes

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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sem stress…


Na semana passada tive de ir fazer uns exames e aproveitei para a seguir passar no Ikea. Cada vez mais me sinto uma pacóvia quando me desloco à metrópole, percebi finalmente porquê.

No consultório, as senhas de vez encravaram na máquina, o que gerou uma relativa confusão no atendimento. Algumas pessoas desatinaram com a senhora que estava ao balcão, esta reagiu de forma ríspida e desagradável. Num instante se criou ali um ambiente pesado, sem grande razão de ser dado que na realidade ninguém acabou por perder nem tempo nem vez.
Na caixa do Ikea abandonei o carrinho durante uns segundos para ir buscar um saco para as compras e não uma mas duas famílias me passaram à frente. Pressenti que tentar recuperar o meu lugar na fila iria provocar um verdadeiro pé de vento, fiquei-me.
Finalmente, no estacionamento, um senhor por pouco não me abalroou em marcha atrás por ter surgido outro carro, também ele a galar o lugar de onde estava a retirar o meu. Notem que havia outros alguns metros mais à frente. Quando passei por ele ainda vociferou na minha direcção.

No regresso a casa vinha a pensar no assunto e dei-me conta que levo uma vida com muito pouco, para não dizer praticamente nenhum stress.
Tenho problemas e preocupações, lido com dificuldades e contrariedades, sinto dor e tristeza, às vezes ansiedade ou angústia… mas a realidade é que o stress raramente “me assiste”.
Sempre funcionei muitíssimo mal sob pressão, como tal sempre fugi dela como da peste e tento erradica-la da minha vida em tudo o que me é possível. 
Isto não se faz sem custos, sem abdicar de determinadas coisas, muitas delas directamente ligadas ao lado material. Permite-me no entanto, em certa medida, escapar a esta calamidade da vida moderna. 

Durante a vida académica, por exemplo, é comum trabalhos e estudo serem deixados para a última hora. A maior parte dos meus coleguinhas adiava o inevitável até aos limites, alguns deles afirmando inclusivamente ser muito mais produtivos desta forma. Eu sempre tive a atitude contrária, despachando logo o que houvesse a despachar, para poder relaxar a seguir.
O facto de ser naturalmente responsável e organizada permite-me adoptar quase que inconscientemente esta postura. Não deixa no entanto de ser necessário um trabalho consciente, quando as coisas não dependem de nós, no sentido de aprender a evitar tensões desnecessárias.

Assim, quando tenho de estar em algum lado a uma hora certa, por exemplo, dou um desconto para imprevistos e saio um bocado antes do que estimo ser necessário para lá chegar. Quando planeio e organizo o meu dia-a-dia, faço-o de forma realista, não tentando meter o Rossio na Rua da Betesga.
Tenho também vindo a aprender a não assumir os atrasos alheios, se a responsabilidade não é minha, descontraio, relaxo, o mesmo se passando quando fiz ou estou a fazer tudo o que esteja ao meu alcance para tratar de determinada situação, mesmo que ainda não esteja resolvida.
Basicamente cheguei à conclusão que preocupar-me não resolve absolutamente nada e stressar ainda menos. No que me respeita só serve mesmo para me diminuir as capacidades, provocando inevitavelmente desfechos negativos. Para além disso sinto nitidamente que me envenena, me corrói a qualidade de vida de uma forma inaceitável.

Mas, mais uma vez nenhum homem sendo uma ilha, não basta tentarmos cortar no nosso stressezinho pessoal. Se quisermos realmente um mundo melhor, é preciso que também nos coibamos de o mandar para cima dos outros.
É essa nuvem negra, essa tensão, que se sente na rua, no trânsito, no atendimento em geral, que me incomoda quando me desloco hoje em dia a Lisboa e me faz sentir como se vivesse na província. Aqui não se sente de todo com o mesmo peso, e notem que não vivo propriamente no Alentejo profundo, demoro menos tempo da minha casa ao Marquês do que alguém que more nos Olivais…

Já devem conhecer a definição de segundo; o tempo que demora entre o sinal passar para verde e o fdp que está atrás de nós começar a buzinar… ;)
Ouvi sensivelmente as mesmas buzinadelas desde que cá estou, há nove anos, do que num só dia mais complicado na capital. Simplesmente não se usa, não é hábito, não é comum.
Assim, eu que era uma buzinadora de primeira, deixei também de o fazer. Apito para alertar sobre algum perigo e, confesso, volta não volta com uns palavrões à mistura, como sinal de protesto se alguém faz asneira da grossa. Não enterro a mão na buzina para apressar as pessoas.

Na vida profissional,  é sempre tudo “para ontem”. No entanto, quantas vezes não exigem prazos que obrigam a trabalhar à noite, ao fim de semana, para depois ficar tudo não sei quanto tempo em águas de bacalhau… “para ontem”, tirando raras excepções, casos de força maior, é um timming absolutamente obsceno, se era para ontem tratassem do assunto anteontem.
Pessoalmente, tento sempre não pressionar ninguém quando não estou efectivamente com pressa. É muito curioso sentir o misto de espanto e alívio, quando alguém se está a desfazer em desculpas devido a alguma demora, e lhes respondemos sinceramente “não tem problema, esteja à vontade”. Até parece que ouvimos o chiar da descompressão… lol

A vida actual parece uma corrida contra o tempo, andamos sempre a mil. Não tem no entanto de ser sempre assim, muitas vezes fazemo-lo porque não trocamos de mudança, de registo. Corremos e pressionamos os outros a fazê-lo por “defeito”, porque é aquilo a que estamos habituados. 
Basta no entanto que cada um de nós abra os olhos e desacelere um bocado, que lute activa e conscientemente contra este estado das coisas, para que tudo mude. 
Infelizmente, como em tantas outras coisas, a maioria encolhe os ombros e decreta que não há nada a fazer.

COM MÚSICA

Platters - Sixteen Tons


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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Here’s looking at you, kid


Não sou daquelas mulheres que se babam com bebés, derreto-me com gatinhos e com cãezinhos, com humanozinhos nem por isso… Começo a achar graça às pessoas quando passam a ser gente, a responder, a dar luta. Mesmo então não gosto de qualquer uma, gosto mais de algumas crianças do que de outras, tal como se passa relativamente aos adultos.
Uma coisa é certa, gosto de pessoas e quando gosto, gosto muito, invisto, entrego-me.

Tive, durante muitos anos, um enorme desgosto… não suportava os filhos de duas das pessoas de quem mais gosto neste mundo, eram invasivos, malcriados, birrentos, intragáveis...
Os pais tinham noção disso mas não conseguiam fazer nada a esse respeito.
Até que um dia, em desespero de causa, decidiram arregaçar as mangas e meter-se num curso de “competências parentais”… Inútil será dizer que foram gozados até à medula por todos nós, que lhes perguntávamos porque tinham de pagar para ouvir o que lhes andávamos a dizer há anos.
Começo, por isso, por fazer aqui um oficial pedido de desculpas, resultou, conseguiram transformar três pequenos monstrinhos em adolescentes encantadores, sem excepções. Tiro-lhes humildemente o chapéu.

Mas a surpresa não se iria ficar por aí… quem havia de dizer que eu, a megera, a aterrorizadora de criancinhas, se iria deixar encantar por um deles?!
Já nem sei bem como tudo começou… foi acontecendo. Quando me apercebi que já não me mexiam com os nervos, passei a conseguir estar descontraidamente na sua presença. Dei-me conta que, em mais do que um sentido, se tinham tornado melhores seres humanos que eu era quando tinha a sua idade. As coisas foram seguindo o seu curso natural e, tendo mandado abaixo a barreira que os separava de mim, fomos começando aos poucos a interagir.

Os putos que nos rodeiam são geralmente os filhos destes ou daqueles, não passam no fundo de apêndices de algum agregado familiar, com quem mantemos uma interacção superficial.
Mas, de vez em quando,  algum  nos dá o privilégio de se transformar, para nós, num indivíduo per se, com quem criamos um relacionamento de um para um, independentemente de tudo o resto. Foi o que aconteceu com uma das miúdas.

Ela não é melhor nem pior do que os outros dois, simplesmente investiu nisso ou talvez seja a mais parecida comigo, a que sente mais empatia. A realidade é que ás tantas demos por nós a ter conversas dignas desse nome, a trocar mails, a partilhar ideias, a fazer coisas juntas…
Céus, como é gratificante fazê-lo com um espírito livre, que ainda não foi moldado pela sociedade, com alguém que ainda não sabendo grande coisa sobre a vida já tem maturidade suficiente para se colocar um montão de perguntas, para por em questão uma série de coisas. Numa idade em que tudo  parece ser a preto e branco acho fascinante introduzi-la aos tons de cinzento, encarar um ser humano em bruto e apresentar-lhe instrumentos para se moldar, para se transformar na obra prima da sua própria vida.

A certa altura falou em modelos, não quero ser modelo de ninguém, não acredito em modelos, acredito em posturas perante a vida. Acredito em vivermos de acordo com os nossos próprios princípios, as nossas convicções, aquilo que para nós faz sentido, interiorizando e aceitando que todos somos diferentes e as nossas escolhas não são mais válidas do que as dos outros. O nosso ser está em permanente evolução, aquilo em que acreditamos hoje pode já não fazer sentido amanhã e quantas vezes não decidimos  que não queremos continuar a percorrer o caminho que seguíamos. Não acredito em seguir as passadas dos outros, cada um de nós deve cometer os seus próprios erros, chegar às suas próprias conclusões.
A amizade, em qualquer idade, ajuda-nos a fazê-lo.

Para a Cat, 
a minha pequena grande amiga






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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Coito



Nunca percebi de onde que raio saiu a expressão "estar no coito" que utilizávamos quando jogávamos à apanhada em miúdos... 

Já lá vão dez anos que nos convidam consecutivamente para passar cerca de uma semana em Porto Covo em inícios de Agosto. Acabei de me dar conta que esses dias são o meu coito anual.
(ok, vá, mandem brasa que eu aguento... mas pelo menos sejam originais...) ;)

Todos os anos parto de casa carregando o peso de uma existência complicada, que vou largando pelo caminho. Quando lá chego sinto-me como se de facto, nesse coito, nada de mal me pudesse acontecer, a vida real não me pudesse apanhar.

Ao longo dos tempos tem aumentado a minha capacidade de me distanciar pontualmente de chatices e preocupações. Há muito que cheguei à conclusão que, enquanto fingimos que está tudo bem, tudo parece efectivamente estar bem. Durante aqueles dias, mais do que em qualquer outra altura, ponho em prática esta ideia.

Dir-me-ão que é justamente esse o conceito de férias mas para mim estas são diferentes de quaisquer outras.
Não se trata só de estar de papo para o ar num dolce fare niente, de me afastar de casa, da rotina do dia a dia ou de fazer uma pausa na resolução de problemas.

Em Porto Covo estou geralmente rodeada da maior parte da família e amigos que me são mais queridos, pessoas que vejo regularmente durante o ano. Poder também com eles partilhar os pequenos prazeres das férias  faz-me sentir bafejada pela sorte.
Mas no que toca a gente, reencontro também muitas caras menos frequentes mas não por isso menos agradáveis, que se têm vindo a transformar no núcleo duro da praia dos Aivados...

De ano para ano, vai-se fazendo história, vão-se partilhando memórias de anos anteriores e criando novas. Constatamos o sempre inacreditável crescimento das crianças, divertimo-nos ás custas do envelhecimento dos crescidos, desenvolvemos novos laços com os mesmos seres. Vão surgindo tradições, sentimos que pertencemos a algo, que mesmo não sendo palpável ou traduzível por palavras, não deixa por isso de existir. E quando falta alguém, faz falta.

Sabem-me pela vida os raios de sol que absorvo de manhã à noite, os grãos de areia no corpo, os passeios à beira mar, a visão das "focas" na água ao por do sol, a reinação do caminho para a praia de jipe... mas não há nada que se compare ao calor humano que se faz sentir, ao companheirismo, ao sentido de humor generalizado, à descomplicação daquela gente, num ambiente "amigos de Alex".

Volto revitalizada, cheia de energia positiva para me ajudar a enfrentar o mundo cão. Bem hajam!








COM MÚSICA

terça-feira, 15 de julho de 2014

Mataspeaks sobre o Livro das Caras, inspirando Sopa de Ideias…


Disclaimer : 
para que conste, esta foto ESTÁ JÁ ONLINE no perfil do blog em questão, 
não devassei a privacidade de ninguém, simplesmente a utilizei com intuitos humorísticos.


Recentemente, um amigo escreveu sobre o livro das caras, no seu blog de linha gráfica mais do que duvidosa… prometi-lhe resposta, aqui vai ela.

Que malta mais “básica” tenha esse tipo de postura,  ainda é como o outro. Agora que uma das pessoas que em maior conta tenho assuma uma visão tão obtusa dos nossos tempos irrita-me, pois irrita… lol
Quer queiramos quer não, quer gostemos quer não, quer aceitemos quer não, a internet chegou para ficar (pelo menos até ao apagão apocalíptico) e grande parte da nossa vida, tanto social como profissional passa já, diria que quase inevitavelmente, por ela!
Perante este facto temos assim à primeira vista duas opções, resistir ou adaptar-nos. À segunda hipótese julgo que costumem chamar evolução…

Nem tudo são rosas no que respeita à Net, tens toda a razão. Dá azo, sim, a abusos e perda de privacidade e não deve de facto estar “acima de toda a suspeita e fora de todo o controlo”. Concordamos nesse ponto.
Daí a dizer que “o Facebook é um planta infestante, uma praga de jacintos-de-água asfixiando valores sociais que demorámos séculos a implantar”… pode ser muito poético mas... vai-te catar, ó meu.

Os utilizadores do Facebook, da Internet em geral, dos telefones, dos automóveis, da roda, são pessoas e como tal utilizam essas mesmas ferramentas de acordo com as suas personalidades. 
Alguns fazem-no de forma duvidosa… culpemos a roda pelo atropelamento.

Certo, tudo tem um lado negro que convém, dentro da medida do possível, minimizar.
No que diz respeito aos automóveis, por exemplo, que concordarás até foram uma invenção fixolas para apareceres por cá de vez em quando, senão tinhas de vir de burro, foi sendo necessário criar regras, aplicar medidas de segurança, etc.

Idiotas, pessoas opinativas e imunes à contra-argumentação, gente frívola, malta que diz uma coisa e faz outra, show-off, sempre houve e sempre há de haver.
Mas não precisamos de comer com elas, sabes… no mundo virtual, tal como no real, há forma de as evitar, só implica darmo-nos ao trabalho de aprender a dominar as ferramentas.
O grande problema, que gera comentários ou posts como o teu, é que poucos se dão realmente ao trabalho de o fazer, acabando por provocar os efeitos de um automobilista ao volante de um carro sem carta de condução. Essa é que é essa… culpem a roda.

Falando concretamente no Facebook, mesmo se, por razões diversas, ás vezes nos sentimos na obrigação de aceitar “amizades” que não nos dizem nem as horas, não temos por isso de levar com o que postam, se chegarmos à conclusão de que não tem geralmente interesse nenhum.
Há um bitãozinho que diz “manda este gajo para o raio que o parta que não estou para o aturar”… e plin, nunca mais nos aparece a trampa que posta e ele nem sequer chega a saber disso.
Fantástico, hein?! Vai lá fazer isso com o telejornal…

A publicidade comes com ela, sim… mas não comes em todo o lado?! Na rua, nos autocarros, nas revistas, nos jornais, na televisão, na radio…
Infelizmente, nesta era de sociedade de consumo temos de aprender a ter visão de raio X, para conseguirmos ver o prédio bonito através do anúncio da Tampax.

Algumas pessoas utilizam mais a internet do que outras. 
Soube de fonte fidedigna que a minha cara metade raramente utilizava o telefone durante a adolescência, a minha mãe teve de por um cadeado no nosso!!!
Verdade, verdadinha… era a password daquela altura e tinha este aspecto.


As “addictions” existem em todos os campos, das drogas aos SMS, da comida ao jogo, do  tabaco ao coleccionismo… Há que tentar geri-las e controla-las com bom senso e, no caso das crianças , com educação.
Não é para isso que servem os pais, para preparar os filhos para o mundo em que vivem?
Alguém está de telefone à mesa?! Se for um adulto, supostamente integrado na sociedade, lamentamo-lo. Se for uma criança, proibimo-lo. Não?!
As regras de boa educação, de respeito e consideração pelo próximo, são coisas boas, coisas importantes. Não são supostas ir para o lixo juntamente com as diskettes velhas só porque agora existem “Clouds”…

Há quem plante quintas virtuais no Facebook. Há quem tire uma tarde para jogar Die Macher. Cada um não é livre de utilizar o seu tempo no que bem entender?
Há quem o perca a cuscar as fotos dos casamentos e das inaugurações, a tentar perceber quem é que “anda com quem”, a engatar virtualmente. Achas que não faziam o mesmo, por outros meios, noutros tempos?!

O Facebook, bem utilizado, não é de todo um entrave ás relações sociais de carne e osso mas sim uma ajuda, uma ferramenta.
Já defendi esta noção num post anterior, a Ana Roque (que, sem ser tão directa, julgo que também te estivesse de certa forma a responder…lol) fá-lo de outra maneira, mas que vai também ao mesmo encontro, neste aqui.

Para além disso tem muitas outras funções…
Tenho imensa pena que não lhe consigas ver nenhum interesse pelo que, para te ajudar, passo de seguida a “partilhar” (faz like!!!) alguns exemplos de coisas que publiquei no meu perfil ao longo dos tempos e que acredito até pudesses apreciar. 
Outros "amigos" teus postarão outras, de outros géneros, noutras ondas, as suas, que também te poderão eventualmente interessar.
É uma questão de seleccionares, como em tudo na vida.

Exposição fotográfica
(alguns partilham as fotos de que se orgulham nos blogs, outros fazem-no no facecoiso...)





Ajuda e/ou divulgação
(própria ou de terceiros, dar uma mãozinha não custa nada...)





Lembretes (como diz a Ana) que considero importantes




Humor
(qual é o interesse da vida sem rir...)
  





E também alguns links...

Fotografias
Questões humanitárias
Publicidade (mas da boa)
Creatividade e tecnologia
Truques
Humor

Eu cá vejo imenso interesse no Facebook, e agora adeus, que tenho de lá ir  fazer share deste post... ;)

Wheels keep turning
Somethin’s burning
Don’t like it but I guess I’m learning

COM MÚSICA