quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Tempo



Durante a juventude, o tempo não é assunto em que muito pensemos. A partir do momento em que nos damos conta que provavelmente já teremos mais pelas costas do que pela frente, não só ganha bastante importância como passamos a considera-lo de forma totalmente diferente.
Ao tomarmos realmente consciência da nossa própria mortalidade, apercebemo-nos que o tempo que achamos que potencialmente ainda temos é “na melhor das hipóteses”. Passa assim de repente a fazer muito mais sentido o “vive cada dia como se fosse o último” do que quando ainda nos sentíamos imortais.

Quando a malta mais velha diz que já não tem “paciência” para isto ou para aquilo, julgo que o que quer geralmente dizer é que já não está disposta a gastar o seu precioso tempo com isso. Quando um bem se torna escasso tendemos a poupa-lo.
Quando somos novos vamos a todas, queremos fazer tudo, experimentar, testar… ao longo dos anos vamo-nos tornando mais selectivos.

Julgo que qualquer um de nós, a determinada altura, pensou “e se o tempo pudesse voltar para trás, se eu pudesse regressar à minha juventude…”, o que faríamos diferente?
Se soubesse o que sei hoje, teria garantidamente dado outro rumo à minha vida. Teria feito coisas que já não me sinto com ânimo ou sequer vontade de fazer. Teria tomado decisões muito diferentes de algumas que tomei, dado muito mais atenção a determinados aspectos e questões.
Then again, foi exactamente por não o saber que tive a experiência de vida que tive, que me conduziu ao que sou hoje. Somos o resultado das nossas vivências, dos nossos erros, dos nossos sucessos.

Contrariamente ao dinheiro por exemplo, o nosso tempo é finito, nunca cresce só encolhe, conforme vai passando vai restando sempre cada vez menos. É portanto fundamental que saibamos geri-lo, organiza-lo, destina-lo, da melhor forma possível, para que não seja esbanjado.
Também não é elástico, embora às vezes possa não parecer uma hora tem sempre sessenta minutos e um dia vinte e quatro horas … quando afirmamos não ter tempo para alguma coisa é simplesmente porque o utilizámos noutra. É tudo uma questão de escolhas e prioridades, embora nem sempre tenhamos noção disso.

Da mesma maneira que o que decidimos fazer com o nosso tempo é importante, também a forma como nos sentimos ao fazê-lo o é. Se fizermos alguma coisa supostamente agradável com um estado de espírito negativo, dificilmente a poderemos apreciar em pleno.  
Torna-se assim igualmente importante aprender a gerir os sentimentos, no sentido de cultivar e desenvolver os que são positivos, nos fazem sentir bem e afastar os que de alguma forma nos incomodam ou atormentam, para que o tempo de que dispomos seja vivido com qualidade e prazer.

Aos poucos vamos ganhando a noção de que, por muito que as quiséssemos imediatamente resolvidas, há coisas relativamente ás quais é mesmo preciso “dar tempo ao tempo”.
A vida não é um pacote “instantâneo” ao qual basta juntar água, nem uma planta cresce num dia, nem uma ferida se cura.

Por outro lado, há coisas que se desenvolvem e outras que atrofiam, golpes que deixam marcas e outros que desaparecem. O turbilhão de emoções que as vivências às vezes provocam, não nos permite aperceber no presente do verdadeiro impacto que terão na nossa vida, que só com o recuo conseguimos realmente avaliar.
Quantas vezes esquecemos coisas que pareciam na altura de uma importância vital ou pelo contrário continuamos, muitos anos volvidos, a sentir dor ao pensar noutras.

Uma coisa é certa, o tempo não pára nem volta para trás, mal ou bem o que está feito está feito. Quanto ao que não está, quem sabe se ainda haverá tempo de o fazer, mais vale portanto “não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje”… ;)




COM MÚSICA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Quanto mais conheço os homens...


“Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.”
Por muito que adore os últimos, não consigo subscrever esta afirmação.
A relação com os bichos é sem dúvida mais simples, mais fácil de compreender, mais fácil de gerir. A relação com os homens é no entanto, a meu ver, muito mais rica e vale a pena o esforço.

Uma das coisas de que me apercebi nos últimos tempos, foi da sua real importância na minha vida.
Na fase “da caverna”, por que passei recentemente, senti necessidade de me afastar um pouco de tudo e de todos, de me virar mais para mim própria, de forma a recuperar coesão interior.
Quando comecei a sair dela dei-me conta da enorme falta que me tinha feito o calor humano.

Em tempos “acusaram-me” de ter medo de “ficar sozinha”. É bem verdade, não fora a parte do medo, não quero de forma alguma sentir-me só. Quero manter à minha volta uma rede de amor e carinho, de companheirismo, de partilha de vida, pois é uma enorme fonte de energia positiva.
Não tenho no entanto qualquer medo, pois se há coisa que podemos controlar na vida é a nossa relação com os outros.
Não quer isto dizer que esteja exclusivamente nas nossas mãos manter esta ou aquela pessoa ao nosso lado, há sempre quem nos escape por entre os dedos. É no entanto a nós que cabe gerir as relações humanas em geral e compreender o que delas esperamos.

Dei-me conta, ao fim de quase meio século, de que tinha uma ideia romântica e utópica sobre este assunto. Compreendi que acreditava que as coisas funcionavam só por querermos muito que assim fosse, que julgava que as relações se mantinham só por as pessoas gostarem umas das outras.

Descobri agora, num daqueles clics que se dão de vez em quando, que há muitíssimas mais “gradações de cor” nos seres humanos do que parece à primeira vista.
Há diferenças físicas que saltam à vista, é baixo, é magro, é ruivo, é preto… já outras poderão ser menos evidentes, é daltónico, é canhoto, é diabético.
O mesmo se passa com o “ser interior” de cada um, suspeito que com maior diversidade ainda, dado que intelecto e emotividade são mundos vastíssimos.

Retomando brevemente a ideia com a qual iniciei este post, chego hoje em dia tristemente à conclusão de que há, efectivamente, gente que “não presta”.
Não presta, no sentido em que passa por este mundo e, quando o abandona, faz falta a muito pouca gente. São pessoas com quem o contacto raramente traz algo de positivo, de construtivo, de significativo. É uma pena, mas ninguém pode nada por elas, cada um faz a cama em que se deita.

Dito isto, as relações humanas sendo tão preciosas, não são no entanto fáceis, não senhores, e a tal diversidade não ajuda. Sendo que, curiosamente, parecemos ter mais facilidade não só em identificar, como em aceitar e respeitar as diferenças físicas.
Se na juventude, sendo uma fase de experimentação, “tudo o que vem à rede, é peixe”, a partir de certa altura, tendemos a procurar desenvolver relacionamentos com quem tenha minimamente a ver connosco, o mesmo tipo de postura na vida, de forma a facilitar a harmonia, evitar conflitos e trocar energias positivas.

A questão é que cada ser humano é a soma de uma multitude de pequenas e grandes características em permanente mutação. Assim, as diferenças acabam frequentemente, mais cedo ou mais tarde, por gerar dificuldades de relacionamento.
Ou seja, antiguidade, proximidade, intimidade, não são de forma alguma garantia de sucesso numa relação.

Para conseguirmos manter relacionamentos saudáveis temos de começar por justamente aceitar e respeitar as diferenças.
Por ter a humildade de compreender que a “nossa maneira” não é “a única maneira” de ver e viver a vida.
Temos tendência a julgar os outros pela nossa bitola mas, se pensarmos bem, isso é de uma prepotência incrível, como se nos considerássemos um instrumento de medida infalível.
Na realidade talvez não devamos sequer julgar, mas simplesmente compreender se nos interessa confraternizar com essas diferenças.

Gostos em comum, ideias partilhadas, hábitos semelhantes, capacidades equivalentes, não fazem seres humanos iguais. Há uma quantidade infinita de diferenças entre nós, e ainda bem porque é preciso gente para tudo.
O que me parece realmente importante, aquilo que faz com que valha a pena investirmos numa relação, é que as pessoas se sintam bem umas com as outras, ao perto ou à distância, durante mais ou menos tempo, com maior ou menor frequência.

Pouca coisa chega aos calcanhares de uma boa relação com um bom ser humano.



COM MÚSICA