quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Encruzilhadas

COM MÚSICA



Todos os dias fazemos escolhas, optamos por isto ou por aquilo… referem-se normalmente a pequenas coisas, o que vestir, o que fazer para o jantar, que caminho seguir para evitar o trânsito.
Volta não volta, no entanto, somos confrontados com decisões que poderão mudar radicalmente o curso da nossa vida.
São momentos tão cruciais como terríveis.

A dura tarefa é facilitada quando a decisão depende maioritariamente do raciocínio lógico, bastando assim uma análise cuidada da situação para se poder chegar a conclusões.
A coisa muda completamente de figura quando estão envolvidas emoções.
Nesses casos, encontrar o tal equilíbrio entre a razão e a emoção, fundamental para que possamos efectivamente ser felizes, não só se transforma numa tarefa titânica como gera normalmente muitíssimo sofrimento.

Nessas alturas desejamos que existissem bolas de cristal, que nos pudessem dar uma ante-visão dos resultados e consequências de cada uma das opções. Gostaríamos de poder de alguma forma tirar uma prova dos nove, de ter acesso a algum método de decisão infalível. 
Infelizmente, a não ser que ponhamos o nosso futuro nas mãos de cartomantes e videntes, nada disso será possível.

Opostamente ao nosso desejo e para mal dos nossos pecados, aquilo com que temos de lidar é com pontos de interrogação, dúvidas, incertezas, dilemas. Sentimo-nos em terreno pantanoso, a tentar andar por cima de areias movediças, com uma sensação de “loose, loose, situation”… para onde quer que olhemos só conseguimos visualizar a perda, aquilo de que iremos abdicar se optarmos pelo outro caminho.

Não há soluções fáceis, não há receitas milagrosas, não há truques que ajudem a ultrapassar as situações saltando levemente de nenúfar em nenúfar… estes momentos são sempre barra pesada e não há nada a fazer quanto a isso. A única coisa que poderemos tentar é não perder a cabeça, por forma a minimizar eventuais estragos.

A indecisão dilacera, e a dor às vezes é tão grande, parece-nos tão insuportável, que só queremos desesperadamente que passe, precipitando assim impetuosamente as decisões. Comparando com o lado físico, dói-nos tanto o dente, que só queremos tomar um analgésico, estando-nos nesse momento nas tintas para se este nos pode provocar uma úlcera no estômago.
A realidade é que o melhor conselheiro é geralmente o tempo.
Se tomarmos decisões simplesmente para tentar fugir ao sofrimento, à angústia, à ansiedade, que as situações não definidas provocam, o mais provável é que passemos algum tempo a andar para trás e para a frente.
Só conseguiremos viver em paz com o caminho escolhido quando se tiver dado um clic e os clics não obedecem a prazos.

Por outro lado, havendo emoção à mistura, esta tentará sempre falar mais alto. Quando o coração se põe a bater com força parece que o barulho nos impede de pensar.
Nessas alturas só conseguimos considerar o aqui e agora, não querendo sequer pensar na hipótese de nos poder sair o tiro pela culatra.

Há quem viva bem assim, navegando ao sabor das emoções. 
Acontece no entanto frequentemente que o que hoje nos parece tão bom se transforme amanhã num belo pesadelo. Os indícios normalmente até estão lá desde o início e tudo, nós é que preferimos não os ver. É impressionante como escolhemos calar as dicas da intuição quando estas não nos agradam.

Por outro lado, a partir de certa altura, damo-nos conta de que a nossa vida não é só nossa, parte dela pertence aos que partilham o nosso caminho. As nossas decisões, sejam elas quais forem, irão assim ter um impacto directo nas suas vidas.
O mundo é um grande emaranhado de relações inter-pessoais.
Viver em função dos outros, sejam eles quem forem, é na minha opinião um erro.
Não os ter em consideração, também.
Como tal, impõe-se uma noção de responsabilidade e o recurso a toda a sensatez que consigamos encontrar dentro de nós.  

Se formos completamente verdadeiros, com nós próprios e com os outros, por muito que isso nos possa custar, as coisas serão na realidade mais fáceis. Estas questões já são suficientemente difíceis de destrinçar, de encarar, sem que tenhamos de acrescentar factores externos que as venham complicar mais ainda. Se chamarmos os bois pelos nomes, se pegarmos o touro pelos cornos, se não taparmos o sol com a peneira, chegaremos muito mais facilmente a conclusões.

Costuma-se dizer que só nos arrependemos daquilo que não fazemos…  subscrevo… só me parece no entanto válido para as decisões tomadas com base na cobardia, no medo de enfrentar um futuro desconhecido que, por alguma razão, na altura nos assusta.
De resto, certezas nunca as teremos, e há que viver com as consequências das nossas escolhas. 
Se as tivermos feito em consciência, dando ouvidos tanto à razão como ao coração, abraçaremos em paz o caminho que escolhemos e conseguiremos olhar com serenidade e sem arrependimento ou azedume para o que não seguimos.