quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Paroles, paroles, paroles...

COM MÚSICA

Como seres humanos que somos, a nossa comunicação faz-se fundamentalmente através de palavras… palavras ditas, palavras escritas…
A sua utilização deve, no meu entender, ser criteriosa… o poder das palavras é imenso e pode ter tanto impacto nos outros como as acções própriamente ditas.


Conheço muito boa gente que magoa, ofende, agride frequentemente o próximo devido à falta de controle das mesmas. O que dizer e quando o fazer, a escolha das palavras, o ton que se lhes imprime são decisões que não devem ser encaradas de ânimo leve.
Infelizmente, ás vezes nada disto é tomado em conta e as coisas saem-nos da boca ou das mãos, sem qualquer auto-sensura.

O stress, o cansaço, o alcool, no geral as situações que de alguma forma nos fragilizam, parecem ser factores inibidores desse controle. Não desculpam as atitudes, mas justificam-nas.
Há no entanto também pessoas que simplesmente não parecem ter noção do impacto do que dizem… e do que não dizem.

Para além das regras de boas maneiras, do respeito e consideração que devemos ao próximo, da adaptação da linguagem ao meio a que se destina… deveria também estar presente o bom senso. Esse, muitas vezes leva falta…


Liberdade de expressão não quer dizer carta branca para a agressão.
As opiniões não prevalecem por se falar mais alto, por se utilizar palavras mais fortes, por se menosprezar, ou mesmo enxovalhar, o interlocutor…
Da mesma forma também não é assim que se “ganham” discussões… quanto muito perde-se um adversário e fica-se na pratica a falar sosinho.

Há pessoas que dão conselhos como quem dá ordens.
Costuma-se dizer que “conselhos e na bilha, só se dá a quem pede”… lol … eu não subscrevo, acho legítimo dar conselhos não requisitados no intuito de ajudar alguém, desde que com a devida moderação.
Frases começadas por “tens que”… não só me parecem contraproducentes por o ser humano ter por excelência espírito de contradição, como me levam a perguntar como se pode ter a presunção de saber o que é melhor para os outros…

Todos temos os nossos gostos, as nossas preferências, a nossa forma de ver e levar a vida… mas quem somos nós para os tentar impôr a terceiros? Quem nos declarou detentores da verdade absoluta? Quem nos garante de que estamos certos, se é que isso quer dizer alguma coisa?
Há pessoas intolerantes e prepotentes que crucificam o próximo devido às suas diferenças, que agridem verbalmente quem não vive segundo os mesmos padrões.

Da mesma forma há quem só se saiba exprimir com agressividade. Há quem não saiba falar com brandura, com moderação, utilizando palavras comedidas. Têm sempre de utilizar superlativos, em tom de voz imperativo como se temessem ser refutados. Isto quer se trate de uma questão de vida ou de morte ou de alguma frivolidade. Estas pessoas começam a falar como se já estivessem a contestar alguma coisa.

Há os irritantes, também, aqueles que perdem constantemente a razão, não pela essência mas pela forma do seu discurso. Acredito que não tenham consciência de que o fazem mas, os que têm esta característica, fazem-no constantemente. Parece que fazem de propósito para, como se costuma dizer (and pardon my french) nos puxar os pelinhos do cu. Escolhem sempre a palavra errada, a expressão errada, o exemplo errado, o momento errado, o tom de voz errado… em vez de nos por em disposição de concordar com eles vão-nos fazer reagir exactamente ao contrário. Jogam com os nossos nervos ao ponto de já nem sequer os conseguirmos ouvir quanto mais dar-lhes razão.

Também não entendo qual o objectivo da arrogância. Não sei se alguém se sente de facto diminuido ou rebaixado por atitudes arrogantes. Não me parece que estimule a admiração ou o respeito pelo individuo em questão. Na minha opinião só cria mau estar e ressentimento.

Muitas pessoas têm tendência a “mandar” em vez de pedir. Mesmo que se trate de um subalterno, de alguém que nos “deve” obediência, que irá fazer o que lhe pedimos quer queira quer não, pedir não custa, adoça as relações, faz com que o outro tenha de facto vontade de colaborar. Até as crianças conseguem compreender que “if they ask nicely” muito mais fácilmente levam a água aos seus moínhos…

O que nos leva ás chamadas regras da boa educação… Se faz favor, muito obrigado, bom dia, boa tarde, são expressões que parecem estar a caír em desuso… Mas o que grande parte das pessoas parece não compreender é que as “boas maneiras” são justamente isso… boas. Facilitam o relacionamento entre as pessoas, geram simpatia, boa vontade.



A ausência de palavras pode ser tão “grave” como a sua utilização “incorrecta”… há situações em que uma palavra é esperada, é desejável, é reparadora.
Muita gente parece ter uma verdadeira aversão a pedir desculpa, a reconhecer erros, a dar uma palavrinha encorajadora, a discutir os assuntos...

Se pisarmos alguém na rua ou lhe dermos um empurrão e seguirmos caminho sem dizer nada, a pessoa em questão vai sentir a agressão de uma forma muito mais violenta. Se mostrarmos preocupação e arrependimento pelo nosso acto é quase como se aplicassemos um curativo. A dôr física pode não desaparecer, mas a psicológica não vem ao de cima.
O mesmo se passa relativamente qualquer caso em que o reconhecimento de um erro e respectivo pedido de desculpas fosse espectável. A sua ausência gera ás vezes mais dor do que o acto em si e sobretudo doi garantidamente durante mais tempo.

Da mesma forma, em determinadas situações, uma palavrinha de apoio de quem está próximo é esperada. Muitas vezes não servirá para nada, não irá de todo resolver a situação, mas aconchegar-nos-à a alma. Se a acção não tem grande efeito nesses casos a omissão já o pode ter, pode ser sentida como abandono, indiferença, como desprezo pelos nossos sentimentos.

Costuma-se dizer que “a falar é que a gente se entende”… mas há sempre quem ache que não há necessidade, que já percebeu tudo. Ter a presunção de perceber o que se passa na cabeça alheia dá azo a mal entendidos, a erros de interpretação. Não pôr as cartas na mesa e discutir os assuntos aberta e civilizadamente faz com que muitas vezes se continue a agir com presupostos errados, possivelmente agravando o problema já existente.

Infelizmente as vítimas mais frequentes das deficiências no discurso são os que estão mais próximos. Com estes não há cerimónias, as tendências não são controladas, não são tidas à redea curta. Aqueles que no fundo deveriamos tratar com mais respeito e consideração são os que acabam por sofrer mais com isso.

Estas pessoas não são (obrigatóriamente) más pessoas, pessoas insensíveis… consigo enquadrar em qualquer das “categorias” que mencionei algumas das “melhores” pessoas que conheço… parecem simplesmente não se aperceber da consequência das suas palavras ou do seu silêncio. Parecem não se dar conta de que não podemos dizer o que queremos, quando queremos, como queremos.


Sou “guilty as charged” de algumas das “acusações” que acabo de fazer, umas vezes consciente outras involuntáriamente. Isso não faz com que as considere correctas ou as apoie.
Ninguém é perfeito… mas se tomamos consciência de que alguma coisa está mal, de que não contribui para o nosso bem estar nem dos outros temos, na minha opinião, que a combater.
Declarei guerra ás deficiências de comunicação, que considero graves para o bem estar geral. Já ganhei umas batalhas, não ganhei a guerra…
A vida é um jogo que temos de jogar quer queiramos quer não, mais vale aprender as regras e fazê-lo com prazer e sobretudo inteligência.

3 comentários:

  1. ..."A vida é um jogo que temos de jogar quer queiramos quer não, mais vale aprender as regras e fazê-lo com prazer e sobretudo inteligência."
    Prazer inteleigência e MUITO AMOR....Estou virada para aqui...

    Como sempre adorei...

    Beijinhos Grandes.
    Rita

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  2. Gostei muiiiito! Muito bem pensado.

    Grandes beijas

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  3. Bem.........muita gente deveria ler este teu post. Talvez a crueldade (vou crer que não intencional) com que se fala, se escreve,com que nos dirigimos a outros, fosse minimizada.
    É fácil falar sem pensar. O contrário é que é dificil!
    Mais uma vez, muito bem escrito.
    Bjs

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