quinta-feira, 24 de abril de 2008

O sindroma de Calimero

" - Mestre, como faço para me tornar um sábio?
- Boas escolhas.
- Mas como fazer boas escolhas?
- Experiência - diz o mestre.
- E como adquirir experiência, mestre?
- Más escolhas... "

Todos fazemos "más escolhas" de vez em quando... no entanto alguns não parecem "adquirir" grande experiência... Porquê?
Para se "aprender com os erros" é preciso reconhecer que os fazemos.
Ora certas pessoas parecem achar que a vida "lhes acontece", que não têm qualquer responsabilidade, qualquer controle sobre ela.
Vão lidando com as coisas conforme elas vão acontecendo.
Quando estas correm mal acham-se umas vítimas... é aquilo a que chamo o Síndroma de Calimero.



É uma injustiça...

Para podermos de facto aprender temos de fazer uma série coisas que não são agradáveis: reconhecer os erros como tais, assumir responsabilidades pelos desfechos indesejados, dar o braço a torcer (quanto mais não seja perante nós próprios) e eventualmente até pedir desculpa assumindo assim publicamente a falha... Ninguém gosta...

Os Calimeros nunca têm culpa de nada, arranjam sempre justificações para a merda que fazem. Quando se lhes aponta alguma coisa está-se sempre a cometer uma terrível injustiça.
É evidente que a culpa foi do tempo, do trânsito, do governo, da crise, do cão, da vizinha, do pai, do filho ou até provavelmente do Espírito Santo...
Até conseguem ás vezes reconhecer que alguns actos seus (ou falta deles) possam ter dado maus resultados... mas não têm culpa coitados, é da sua natureza... são naturalmente atrasados, desorganizados, esquecidos, distraidos, infiéis, violentos... seja lá o que for, mas a culpa não é deles, não lhes podemos levar a mal, o que podem eles fazer a esse respeito?!

Uma mulher leva sistematicamente pancada do marido, de quem é a culpa?
Do marido, claro, que lhe dá porrada...
Ou será que não há aqui alguma "cumplicidade" da vítima?!
Se esta encarar a coisa como uma fatalidade as coisas nunca ão de mudar.
Se tomar a sua vida em mãos, assumir e reconhecer que errou ao casar-se com uma pessoa violenta, mesmo que não o soubesse antes, é o primeiro passo para se livrar da situação.

É fácil? Com certeza que não.
Ninguém nasce ensinado, a vida aprende-se e aprende-se errando. Mas se não reconhecer-mos os erros como tais não há razão para que não continuemos a repeti-los "add eternum".
Que desperdício...

Não somos obviamente os únicos a errar, os outros também falham, ás vezes há que partilhar responsabilidades. Mas quanto aos outros não há de facto grande coisa a fazer...
No outro dia descobri uma citação à qual, como devem supor, achei imensa graça:
"God grant me the serenity to accept the people I cannot change, the courage to change the one I can, and the wisdom to know it's me." Autor desconhecido

Outro exemplo flagrante do que tenho estado a dizer são as separações.
Quantas vezes as pessoas não consideram o facto de alguém se querer separar delas uma total injustiça?!
Elas fizeram tudo certo, têm falhas pois com certeza, quem não as tem, mas não fizeram nada que justifique uma separação...
Talvez não terem tido a coragem de mudar aquilo que podiam ter mudado?
Talvez não terem assumido qualquer responsabilidade no degradar da relação?

Nem todos os erros são cometidos com más intenções, antes pelo contrário, mas não deixam por isso de ser erros na mesma.
O meu filho é um pisco a comer... é daquelas crianças que de frente parece que está de lado e de lado não se vê... ;)
Quando começou a comer pior stressei que nem uma doida... que mãe é que não se preocupa quando a sua cria não se está a alimentar convenientemente?
Tentei obriga-lo, força-lo e o resultado foi que ganhou aversão à comida, as refeições tornaram-se um tormento.
Quando me dei conta disto assumi um "mea culpa" e tentei corrigir a minha atitude, já sem grande sucesso confesso.
Resta-me esperar que com a adolescência isto passe, como é comum acontecer.
Lamentar-me da minha triste sorte não iria certamente servir para nada a não ser prolongar o suplício e cometer o mesmo erro se tivesse outro filho.

A realidade é que, de uma maneira ou de outra, a maior parte das coisas que "nos acontecem" são responsabilidade nossa sim. São consequência dos nossos actos ou da falta deles. E se o resultado não é positivo, reconhecermos que metemos o pé na argola é o que nos vai fazer evoluir. Somos seres moldáveis, transformáveis, pelas circunstancias, pelo meio ambiente, pelas experiências, e sobretudo pela nossa própria vontade.
Se acreditarmos que podemos mudar a nossa vida, torna-la mais fácil, mais agradável, melhor, corrigindo aquilo que temos vindo a fazer mal, muito mais facilmente seremos felizes...

Digo eu, sei lá de que...
LOL






3 comentários:

  1. Este post não será por mero acaso inspirado num senhor gaijo cujo agudo nome por recato omitirei, de quem nunca é a culpa quando leva os parceiros de "tarot" ao fundo da fossa das Marianas, sem batiscafo nem máscara de mergulho?

    É ele, não é?

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  2. Oh... a quantidade de gente que conhecemos que eu enquadraria na categoria dos Calimeros... LOL

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  3. aplicação ao futebol:

    http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?Session=&CpContentId=316505

    (os § 3 e 4 são masturbação intelecutal do jornalista, esqueçam; basta ler o início)

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