terça-feira, 2 de março de 2010

Baldes de água fria

COM MÚSICA




Começo por pedir desculpa por esta longa ausência… é difícil arranjar ligação á net no deserto… ;)


O nosso relacionamento com os outros baseia-se em determinados pressupostos. Quando acabamos de conhecer alguém estes ainda não existem, tudo está ainda por descobrir, apesar de podermos eventualmente já possuir algum feed-back de terceiros.
No caso das relações de longa data, sejam de que tipo for, teoricamente “as medidas” já estão tiradas, os principais traços de carácter são claros para nós e agimos em conforme.

Todos temos defeitos e qualidades, características louváveis e outras menos agradáveis, mas sobretudo uma entidade com a qual os outros nos identificam.
Algumas pessoas escolhemos para fazer parte das nossas relações, outras nem por isso. É o caso da família, por exemplo, dos colegas de trabalho, das caras metade dos amigos, etc… Seja por escolha ou obra do destino que entraram nas nossas vidas, se lá estão, gostamos de saber com o que contar.
Olhamos para as pessoas e interagimos com elas com base neste conhecimento. Como tal, as nossas acções e reacções são diferentes consoante o individuo com o qual estivermos a lidar.

Para dar um exemplo concreto e muito simples; como todos sabemos, há quem não tenha qualquer noção de horas e quem seja de uma pontualidade britânica.
Se um dos primeiros chegar atrasado a algum evento é considerado normal, é espectável, ninguém irá estranhar.
Se, por outro lado, o mesmo acontecer com alguém que se enquadre na segunda categoria, irá certamente causar, senão preocupação, pelo menos espanto.
É tudo uma questão de expectativas…

Independentemente de qualquer juízo de valor sobre as características de cada um, esperamos que certas pessoas “sejam” de determinada maneira, simplesmente porque sempre nos deram a entender que assim eram.
Podemos não admirar ou sequer apreciar certos traços de carácter, considera-los negativos, dignos de crítica, condenáveis… mas gostamos de saber “com que linhas nos cozemos”.
Acontece que, volta não volta, levamos com desagradabilíssimos baldes de água fria.
De repente damo-nos conta de que o que parece não é, tomamos consciência de que vivemos uma ilusão… é, ás vezes, uma experiência chocante.

Imaginem, por exemplo, uma mulher que se deixe encantar por um D. Juan e com ele junte trapinhos. Por muito que acredite que este se tenha “reformado” por sua causa, se um dia descobrir que não foi bem assim, só se for muito ingénua é que ficará realmente surpreendida.
Imaginem agora que o cara metade em questão é um tipo certinho, sem evidência de instintos putanheiros, com um passado pacífico. Se por acaso vier a lume que andou alegremente a mijar fora do penico, deixará qualquer uma de cara à banda.
Dir-me-ão que o resultado final é o mesmo; um grande par de cornos… É um facto, mas aposto que não sabem ao mesmo.

Há dias li, algures num blog da nossa praça, que uma amiga da autora se apaixonou por um homossexual, estando absolutamente decidida a fazê-lo mudar de campo… Santa ingenuidade, diria eu, mas está no seu direito e pelo menos sabe o que a casa gasta. Imaginem que “consegue” e um dia chega a casa e dá com ele a apanhar o sabonete na banheira com um amigo … Não me parece bem a mesma coisa do que se for qualquer uma de nós a dar de caras com tal cenário.

Ou outro caso, de uma pessoa que namorou, viveu e mais tarde casou, com outra que não sabia ser toxicodependente. Imaginem o que terá sentido quando começou finalmente a somar dois e dois…

Se estes meus últimos exemplos são de carácter sentimental, eles existem em todas as cores, tamanhos e feitios. 
Podemos relacionar-nos com pessoas com qualquer característica … mas deveríamos pelo menos saber com o que contar. Há coisas que têm um impacto brutal nas nossas vidas, é bom que para elas estejamos preparados, certas descobertas podem abalar os nossos alicerces.

Mas, no meu entender, pior do que a necessidade de reajustarmos as nossas vidas em função do novo pressuposto, mais grave do que os eventuais danos que a nova realidade possa provocar… é a sensação de termos sido ludibriados, de nos terem atirado areia para os olhos ou, pior ainda, de não termos tido o discernimento de apreciar a situação tal como era na realidade.
A verdade é que, na maior parte dos casos, à posteriori nos perguntamos “mas como é que eu não me apercebi disto, estava ali mesmo à minha frente e eu não quis ver…”


1 comentário:

  1. "Há ilusões que se parecem com a luz do dia; quando acabam, tudo desaparece com elas."

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