terça-feira, 12 de outubro de 2010

Marreca? Qual marreca?!

COM MÚSICA

Há pessoas que parecem viver em realidades alternativas, a imagem que têm de si próprias e dos seus actos não condizendo com o que o resto do mundo observa.

Fazem-me lembrar aquela cena do Frankenstein Jr. em que este diz para o Igor:
- Sabes, sou um brilhante cirurgião, talvez te possa ajudar com essa marreca…
- Qual marreca?!


Para que consigamos dar a volta àqueles traços de carácter que não trazem bem nenhum ás relações humanas, temos de os identificar em nós e assumir como indesejáveis.
Curiosamente, certas pessoas conseguem eximiamente reconhece-los nos outros, parecendo no entanto incapazes de os detectar em sem si próprios.

Há muitos e longos anos uma pessoa, em pós divórcio, disse-me estar extremamente preocupada com os filhos, pois a mãe “é uma mentirosa compulsiva, sem a mínima noção da realidade… mente sem razão, sem objectivo… afirma ter almoçado com A tendo almoçado com B quando, qualquer das situações sendo perfeitamente inócua, não haveria teoricamente qualquer razão para mentir sobre o assunto… não se pode acreditar em nada do que diz, com o perigo inerente que isso acarreta, fazendo lembrar a história do pastor e do lobo…”
Durante o decorrer conversa, na realidade mais um monólogo, o queixo ia-se-me descaindo até quase assentar nos joelhos… É que essa pessoa esteve a descrever-se detalhadamente a si própria sem visivelmente ter a mínima noção disso.

São igualmente muito desprovidas de isenção no que diz respeito a factos, distorcendo-os da forma que menos incómodo lhes cause, tendo só em consideração o seu ponto de vista e chegando inclusivamente a negar que certas coisas tenham acontecido. O que nos outros é a seus olhos condenável, no que lhes diz respeito, é geralmente perfeitamente explicável e justificado.

Não tenho conhecimentos de psicologia para conseguir compreender o que vem primeiro, o ovo ou a galinha…
Pergunto-me se começam por bloquear a autocensura para poderem fazer/dizer as coisas sem problemas de consciência ou se agem primeiro negando de seguida interiormente que o fizeram.

Não faço ideia se esta condição terá direito ao rótulo de “patologia psicológica“ mas faz-me pensar na anorexia, em que a imagem que a pessoa vê reflectida no espelho não condiz com a visão do resto do mundo.


De qualquer forma, estes individuos têm nitidamente sérios problemas de discernimento , tornando muito complicado o relacionamento com eles.
Hoje em dia chego à conclusão de que o confronto não é solução, não muda nada, não resolve nada, antes pelo contrário.
Convém ter em conta que costumam ter uma visão bastante lisonjeira de si próprios, aos seus olhos são “lindos” enquanto que os outros são “feios, porcos e maus”…
Tentar chama-los à razão será tão frustrante como tentar partilhar as cores do arco íris com um cego. Talvez até pior, porque além de frustrante é igualmente inglório pois irão certamente voltar-se contra nós.

Todos conhecemos ao longo da vida várias pessoas que se enquadram na descrição que acabo de fazer. Pessoalmente não conheço uma única que tenha acabado por “ver a luz”…

Resta-nos ter presentes as suas características e tentar, dentro da medida do possível, não nos deixar lesar por elas.
Parece-me um caso flagrante de ter a serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar. ;)

5 comentários:

  1. Sei que não era esse o sentido que lhe quiseste dar, mas este até podia ser um "post" político sobre o nosso primeiro: "Défice? Qual défice?".

    ;-)

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  2. Não podia estar mais de acordo com este post que acho uma análise brilhante ao egocentrismo com que cada vez nos deparamos mais.

    De facto, tenho conhecido muita gente assim, infelizmente. Confesso que muitas vezes me questiono se eu própria não serei assim. O que é um facto é que sou extraordinariamente reflexiva e aceito o que os outros me dizem a ponto de tentar 'desmontar' a minha personalidade e reconstruí-la - da mesma forma ou não.

    É difícil passarmos, de forma inócua, por pessoas com quem, inevitavelmente, nos cruzamos algures no nosso percurso de vida.

    E, o que mais lamento, é que eu também nunca conheci ninguém assim "que tenha acabado por ver a luz". Talvez a sua forma de estar já seja indício disso mesmo. Como saber? Às vezes só depois de já termos sido lesadas...

    "Parece-me um caso flagrante de ter a serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar." Concordo plenamente! Mas às vezes não deixa de doer.

    Abraço!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olha que tema tão giro e sempre tão actual.

    Nada tenho a contrariar o que dizes, apenas que, da minha observação vou um bocadinho mais longe e acho que esta “patologia” todos ou quase todos a temos só que em concentrações diferentes de ser para ser.

    E para aqueles que a têm em concentração elevadas nuns casos os efeitos podem ser muito corrosivos e noutros apenas inócuos.

    PS - Se ofendi alguém… nesse caso, se quiser, considere-se fora dos “quase todos “…

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