terça-feira, 16 de novembro de 2010

Gatos escaldados

COM MÚSICA


No outro dia, numa série, apareceu um actor que já tinha visto várias vezes e tive a curiosidade de ir investigar…
Tommy Flannagan  tem duas cicatrizes na cara que dificilmente passarão despercebidas. Este Glasgow Smile  foi-lhe feito durante um assalto em que quase perdeu a vida. 
Depois desta desfiguração o rapaz tinha várias hipóteses… ficar fechado em casa, passar a usar burka ou, porque não, ir tentar a sorte como actor em Hollywood. ;)
Jà entrou entretanto em 42 filmes e séries, entre os quais o Braveheart e o Gladiator, e suspeito seriamente que o facto de nunca ter tido nenhum papel de relevo se deva mais provavelmente a uma certa ausência de talento do que à sua cara.

Ninguém está livre de passar por acontecimentos dramáticos. Ousaria mesmo dizer que, em diversas medidas, todos passamos por um que outro durante a vida.
Ás vezes são situações  tão extremas que nos perguntamos como será possível alguém sair delas mantendo alguma sanidade mental.
Conheço, pessoalmente, casos de mulheres maltratadas pelos maridos, de suicídios de entes queridos, de violações, de crianças molestadas sexualmente, de pessoas que perderam filhos, de filhos que perderam os pais durante a infância, um dos quais assassinado à sua frente…
Se conhecessem qualquer uma destas pessoas de quem vos falo, provavelmente nunca suspeitariam do que lhes tinha acontecido. São pessoas normais, sãs, aparentemente felizes. Qualquer uma delas acabou por me contar a sua história porque simplesmente veio a propósito e não para se vitimizar ou justificar fosse o que fosse.

Terão sido fáceis de ultrapassar, estas situações?!
Suspeito seriamente que não, deve ter sido um árduo e longo caminho. As cicatrizes, apesar de não serem visíveis a olho nu, devem ser profundas e nunca irão desaparecer.
A realidade é que, de uma forma ou de outra, conseguiram ultrapassar os seus martírios e aproveitar o que a vida tem de bom para dar.

No meio das minhas pesquisas dei de caras com esta citação, que lhes assenta que nem uma luva:
“No experience is a cause of success or failure. We do not suffer from the shock of our experiences, so-called trauma - but we make out of them just what suits our purposes.”
Alfred Adler

No outro dia estive a ver uma conferência muito interessante no Ted Talks, de um tal de Dan Gilbert, que vos aconselho vivamente.
Entre outras coisas, ele pergunta o que preferíamos, se ganhar a lotaria ou ficar paraplégicos, sublinhando o facto de que, provavelmente, todos escolheríamos a primeira opção.
Contou então que, um estudo demonstrou que, um ano depois de terem ganho a lotaria ou terem ficado paraplégicas, havia uma equivalência de pessoas felizes em ambos os grupos.

Há outro tipo de pessoas, para quem qualquer experiência menos agradável, mais difícil de gerir, serve de desculpa para não serem felizes. Pessoas que, em vez de tentarem dar a volta por cima, preferem passar a vida a carpir os seus dramas.
Não os aproveitam para aprender; a apreciar a “bonança” entre tempestades, a dar valor ao que de bom têm na vida, a lidar com os outros, a saber proteger-se, a fortalecer-se.
Muitos gostam de lhes chamar traumas, ficam traumatizados  por dá cá aquela palha. A questão é que esses traumas só costumam dar ares de sua graça quando a coisa dá para o torto e precisam de um bode expiatório para justificar as suas atitudes.
São pessoas que, em vez de erguer a cabeça e fazer-se à vida, se encolhem no seu pequeno ninho de autocomiseração, encarando o mundo como seu inimigo.

Quero ressalvar que estou consciente de que verdadeiros traumas existem e são problemas extremamente sérios e difíceis de ultrapassar. Acho simplesmente que se faz um uso abusivo da palavra.

Diz-se que “gato escaldado de água fria tem medo”… mas convém não esquecer que bichano é animal irracional… digo eu, sei lá… ;)

2 comentários:

  1. Eu sei que me vais dizer que eu não percebi o que querias dizer, etc e tal... maaaassss... usando um exemplo mais acutilante, acredito piamente que há pessoas cegas que são tão felizes como pessoas que ganharam o euromilhões... mas eu preferia SEMPRE ser feliz e ver do que ser feliz e não ver...

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  2. É... "mais vale ser rico e ter saúde do que ser pobre e sem ela"...
    Grunho!
    ;)

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