terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os bem intencionados

COM MÚSICA




Aqui à tempos veio cá jantar uma amiga em vias de mudar de casa.
Quando lhe perguntámos se precisava de ajuda, respondeu que  agradecia mas tinha tudo sob controlo e acrescentou que já várias pessoas lhe tinham perguntado o mesmo.
Ao que o namorado (ups… não sei se lhe devia ter chamado isso… lol) comentou que gostava de saber, se tivesse aceite, quantas delas se chegariam efectivamente à frente…

É um facto que aparentemente muita gente acredita que “a intenção é que conta”…
Não a querendo subestimar, pois sem dúvida que ás vezes as coisas não correm propriamente como desejaríamos, também não consigo concordar a afirmação.

Se alguém nos pede ajuda, ou espontaneamente lha oferecemos, supõe-se que seja porque dela precisa. A simples intenção de o fazer não vai, convenhamos, adiantar grande coisa.
Notem que quem diz ajudar, diz “estar lá” para os outros de alguma forma. Como se costuma dizer “os amigos são para as ocasiões”, expressão um bocado vaga mas que todos entendemos. ;)

É muito fácil ser-se “amigo” numa festa, numa ida ao cinema, num jantar… Os momentos de descontracção e lazer não geram normalmente conflitos de interesse.
Alancar numa mudança, fazer uma visita ao hospital,  dar uma ajuda com um projecto ou simplesmente ouvir um desabafo, não trazem à partida grande satisfação pessoal.

Estender a mão implica sempre algum sacrifício da nossa parte.
Pode obrigar-nos a reorganizar os nossos planos, a ter de arranjar soluções alternativas para a nossa própria vida, a arranjar um tempo que muitas vezes já escasseia ou simplesmente a abdicar de coisas que nos apetecia muito mais fazer.

A questão é que as pessoas tendem a falar da boca para fora, sem ter em conta este tipo de considerações. Querem ser simpáticas, fazer boa figura, portanto propõem/acedem e só mais tarde se deparam com os mas… e aí é que a porca torce o rabo.
Nessa altura põem, consciente ou inconscientemente, numa balança o transtorno que a “boa acção” lhes irá causar versus o seu retorno e optam por ficar quietinhas e seguir calmamente com a sua vida.

Aquilo de que provavelmente não se darão conta é que, ao gorar as expectativas que criaram, estão a causar dano.
A maior parte de nós já está conformada com o facto de que, infelizmente, a única pessoa com quem realmente pode contar é consigo própria. Quando não surge ninguém para dar uma “mãozinha”, já ninguém se admira.
No entanto, se nos puxarem o tapete debaixo dos pés, acaba por ser muito pior a decepção  e eventual alteração de planos para colmatar o buraco, do que a ausência de candidatos.

Assim, antes de acedermos a fazer alguma coisa pelo próximo, todos deveríamos estar perfeitamente conscientes do que isso implica e certos de que estamos dispostos a fazê-lo. Mas sobretudo, como em tantas outras coisas, deveríamos manter as nossas “promessas”.
A intenção, afinal, não conta para grande coisa…

3 comentários:

  1. Sempre se disse que "De boas intenções está o Inferno cheio"...
    O que interessa é pô-las em prática.
    Quando (por acaso faz hoje 3 anos) foi preciso passar noites sem dormir na Estefânia e andar para trás e para a frente para o IPO para ajudar uma familia em frangalhos só estavam lá as mesmas 4 moçoilas.( fora a familia)Todas com as suas vidas mais ou menos complicadas mas nesse momento "descomplicaram-se".Quando é preciso as vidas complicadas "descomplicam-se" e assim se fazem coisas.
    Beijinhos
    Rita

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