quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Quanto mais conheço os homens...


“Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.”
Por muito que adore os últimos, não consigo subscrever esta afirmação.
A relação com os bichos é sem dúvida mais simples, mais fácil de compreender, mais fácil de gerir. A relação com os homens é no entanto, a meu ver, muito mais rica e vale a pena o esforço.

Uma das coisas de que me apercebi nos últimos tempos, foi da sua real importância na minha vida.
Na fase “da caverna”, por que passei recentemente, senti necessidade de me afastar um pouco de tudo e de todos, de me virar mais para mim própria, de forma a recuperar coesão interior.
Quando comecei a sair dela dei-me conta da enorme falta que me tinha feito o calor humano.

Em tempos “acusaram-me” de ter medo de “ficar sozinha”. É bem verdade, não fora a parte do medo, não quero de forma alguma sentir-me só. Quero manter à minha volta uma rede de amor e carinho, de companheirismo, de partilha de vida, pois é uma enorme fonte de energia positiva.
Não tenho no entanto qualquer medo, pois se há coisa que podemos controlar na vida é a nossa relação com os outros.
Não quer isto dizer que esteja exclusivamente nas nossas mãos manter esta ou aquela pessoa ao nosso lado, há sempre quem nos escape por entre os dedos. É no entanto a nós que cabe gerir as relações humanas em geral e compreender o que delas esperamos.

Dei-me conta, ao fim de quase meio século, de que tinha uma ideia romântica e utópica sobre este assunto. Compreendi que acreditava que as coisas funcionavam só por querermos muito que assim fosse, que julgava que as relações se mantinham só por as pessoas gostarem umas das outras.

Descobri agora, num daqueles clics que se dão de vez em quando, que há muitíssimas mais “gradações de cor” nos seres humanos do que parece à primeira vista.
Há diferenças físicas que saltam à vista, é baixo, é magro, é ruivo, é preto… já outras poderão ser menos evidentes, é daltónico, é canhoto, é diabético.
O mesmo se passa com o “ser interior” de cada um, suspeito que com maior diversidade ainda, dado que intelecto e emotividade são mundos vastíssimos.

Retomando brevemente a ideia com a qual iniciei este post, chego hoje em dia tristemente à conclusão de que há, efectivamente, gente que “não presta”.
Não presta, no sentido em que passa por este mundo e, quando o abandona, faz falta a muito pouca gente. São pessoas com quem o contacto raramente traz algo de positivo, de construtivo, de significativo. É uma pena, mas ninguém pode nada por elas, cada um faz a cama em que se deita.

Dito isto, as relações humanas sendo tão preciosas, não são no entanto fáceis, não senhores, e a tal diversidade não ajuda. Sendo que, curiosamente, parecemos ter mais facilidade não só em identificar, como em aceitar e respeitar as diferenças físicas.
Se na juventude, sendo uma fase de experimentação, “tudo o que vem à rede, é peixe”, a partir de certa altura, tendemos a procurar desenvolver relacionamentos com quem tenha minimamente a ver connosco, o mesmo tipo de postura na vida, de forma a facilitar a harmonia, evitar conflitos e trocar energias positivas.

A questão é que cada ser humano é a soma de uma multitude de pequenas e grandes características em permanente mutação. Assim, as diferenças acabam frequentemente, mais cedo ou mais tarde, por gerar dificuldades de relacionamento.
Ou seja, antiguidade, proximidade, intimidade, não são de forma alguma garantia de sucesso numa relação.

Para conseguirmos manter relacionamentos saudáveis temos de começar por justamente aceitar e respeitar as diferenças.
Por ter a humildade de compreender que a “nossa maneira” não é “a única maneira” de ver e viver a vida.
Temos tendência a julgar os outros pela nossa bitola mas, se pensarmos bem, isso é de uma prepotência incrível, como se nos considerássemos um instrumento de medida infalível.
Na realidade talvez não devamos sequer julgar, mas simplesmente compreender se nos interessa confraternizar com essas diferenças.

Gostos em comum, ideias partilhadas, hábitos semelhantes, capacidades equivalentes, não fazem seres humanos iguais. Há uma quantidade infinita de diferenças entre nós, e ainda bem porque é preciso gente para tudo.
O que me parece realmente importante, aquilo que faz com que valha a pena investirmos numa relação, é que as pessoas se sintam bem umas com as outras, ao perto ou à distância, durante mais ou menos tempo, com maior ou menor frequência.

Pouca coisa chega aos calcanhares de uma boa relação com um bom ser humano.



COM MÚSICA

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