segunda-feira, 2 de junho de 2014

O corte



Hoje vou escrever sobre cortes de cabelo, para a semana sobre unhas de gel e na seguinte discutirei vários métodos de depilação.
Nááá...
lol
Mas o tema de hoje mantém-se. ;)
A vida é feita de pequenas coisas, pelo que preciosas lições se podem retirar de questões aparentemente triviais. Vou portanto aproveitar a minha recente saga capilar para partilhar convosco algumas reflecções. 

Todos temos em casa espelhos deformantes, raramente conseguimos um olhar realmente isento sobre nós próprios. Quando o ego está em alta achamo-nos o máximo, se sofremos de falta de auto-estima começamos a comparar-nos com o Smeagol
A realidade é que as aparências são como os interruptores, umas vezes para baixo, outras vezes para cima. Até as mediáticas beldades têm momentos de fugir, nós é que geralmente não os vemos. 
Dizia Schopenhauer que "a mulher é um animal de cabelos compridos e ideias curtas" o que no meu caso foi uma realidade desde que me lembro de ser gente. 
Bem, pelo menos no que diz respeito aos cabelos. 
Assim, ne me prenant pas pour de la merde (pardon my french) era grosso modo esta a imagem que geralmente o meu espelho reflectia. 



As desgraçadas das maquinas fotográficas começaram no entanto, cada vez mais, a apresentar-me uma realidade bem diferente e bastante menos lisonjeira…


Parece-me fundamental irmos mantendo, ao longo da vida, uma boa noção daquilo que somos, dos nossos atributos, das nossas características, tanto físicas como intelectuais. Essa consciência é essencial para que possamos ir sempre melhorando o que for possível trabalhar. 
Uma das coisas relativamente às quais tendemos a fazer-nos desentendidos é a idade, ninguém gosta de se sentir a envelhecer. Arriscamo-nos no entanto a enfrentar o ridículo se nos recusarmos a assumi-la. 
Uma mulher madura mascarada de Pipi-das-meias-altas é patético. Assim o são aos meus olhos aquelas "Barbies enrugadas" (esta paga direitos de autor) que aparentam ter assaltado o roupeiro das filhas. 
Do mesmo modo, o look Lady Godiva não me parece de forma alguma adequado a aspirantes a velhas. Aliando essa conclusão a uma necessidade de mudança, de perder peso, em sentido próprio e figurado, decidi-me a fazer um corte de cabelo radical. Ou pelo menos julgava eu na altura mas tanta água iria ainda correr... lol
Foi assim com este visual que celebrei o meu quadragésimo nono aniversário. 


Fiquei bastante satisfeita, confesso. O peso que me saiu das costas contribuiu  para me levantar o moral e ajudar a recuperar forças para enfrentar esta vida, que não anda nada fácil. 
Gostei tanto que, pouco tempo depois, toda afoita voltei a cortar...
Foi o primeiro erro. 
Depois de passada a magia do cabeleireiro, o comprimento demasiado curto passou a devolver-me a seguinte imagem, assombrando o meu espírito com visões da tia-bisavó Mariquinhas num dia mau.


Tomei então a segunda decisão idiota do ano, decidindo alisar o cabelo. 
Alisar implicava corte, corte quer dizer encurtar, cabelo curto, como já expliquei, nunca foi a minha praia. Estava assim digamos que um pouco nervosa. 
Fiz então a terceira asneira (vou deixar de as contar porque foram umas atrás das outras) que foi confiar no cabeleireiro e deixar-lhe, até certo ponto, a liberdade do corte.
Tenho duas características que frequentemente não jogam nada a meu favor. A primeira é uma enorme vontade de agradar, a segunda uma dificuldade irracional em resistir a desafios. 
O cabeleireiro em questão sendo meu amigo, mais razões ainda tinha para querer agradar. Por outro lado, desafiou-me a confiar na sua tesoura, com o argumento (perfeitamente válido, convenhamos) de que o cabelo cresce.
Saí assim de lá com este visual. 


Céus, o tamanho do meu nariz, credo. Dizem que nariz, orelhas e pés não param de crescer ao longo da vida, se assim fôr não tarda mudo o nome para Cyrano. Passons...
Não ficou mal, convenhamos que não ficou mal de todo. 
Não tem nada a ver comigo, com a minha personalidade, não sou uma pessoa certinha, arrumadinha, compostinha... sou esgrouviada, selvagem, rebelde, irreverente... mas não ficou mal, acho que conseguia viver uns tempos dentro daquela cabeça. 
Isto, claro está, se fosse gaja...
Fazia a depilação, pintava as unhas, pegava na escova e no secador e montava aquela bolinha impecável à volta do crânio. Acontece que me dá a volta à tripa perder o meu precioso tempo neste tipo de actividades. 
Assim, sem mais trabalho do que lavar o cabelo e deixar secar ao ar, fiquei então com este aspecto. 


Lindaaa... parece que fui lambida por uma vaca!
As coisas não me estavam nitidamente a correr de feição e, para quem tencionava elevar o moral, digamos que o tiro saiu pela culatra. Comecei a ver a minha vida a andar para trás. 
Decidi voltar ao local do crime e pedir-lhe para dar um jeito à coisa. Passei largas horas na net, a estudar cortes, e muni-me de fotografias exemplificativas, tendo o cuidado de lhes apagar as carinhas para não baralhar, pois um coirão como eu nunca poderia ficar com a pinta daquelas brasas. 


Não, não era nada disto em que estava a pensar, não. Ele próprio não ficou satisfeito. Saí de lá em choque, frustrada, revoltada, a considerar como iria fazer para encarar aquela cara de cu de cada vez que lavasse os dentes. 
Estava atordoada, baralhada, as várias senhoras que passaram pelo salão enquanto lá estive saíram com cortes que lhes ficavam a matar. Entrei numa de "porquê eu?!"...
Cheguei então à conclusão que cortar cabelos é como fazer sexo com alguém. Pessoalmente acredito que não há bons nem maus amantes, há química, entendimento, pessoas que se encaixam, que compreendem o que o outro quer, do que gosta... É pessoal e intransmissível e é ridículo zangarmo-nos quando não funciona.
Assim, consciente que daqui para a frente não poderemos ser mais do que amigos (lol) e aproveitando o facto de ter ido para fora, pus-lhe descaradamente os cornos e lá se foram mais uns quantos centímetros de cabelo. 


E pronto, é este o meu new look no fim de toda esta saga…
Sim, parece que acabei de ter alta do asilo, onde andei a levar electro-choques.
Perante os consecutivos ataques da tesoura foi o melhor que se arranjou e pelo menos agora o invólucro tem a ver com o que se passa lá dentro.
As reacções têm sido diversas, à maioria parece agradar, outros fazem um sorriso amarelo e dizem diplomaticamente "estás tão diferente".
"Opinions are like assholes, everyone has one." ;)
Mas o que realmente importa é que me sinta bem na minha pele.

Foi um longo caminho para aqui chegar. Algumas das pessoas que acompanharam este mini-drama não compreendiam porque continuava a insistir, sobretudo porque quem me conhece sabe que não ligo muito a estas coisas. A realidade é que senti nitidamente uma perda de identidade, não me identificava de todo com a imagem que reflectia. Estou agora fisicamente muitíssimo diferente do que sempre fui, mas sinto-me eu, e isso é o que realmente importa não se estou bonita ou feia pois qualquer um de nós vai alternando entre os dois, independentemente do corte de cabelo. 




COM MÚSICA

2 comentários:

  1. Querida Cristina: muito Obrigada por partilhares estas experiências. O meu lado feminino identificou-se e revi-me totalmente na busca de um corte de cabelo em que me revisse, acompanhando a idade. No meu caso, tenho desde os 30 (agora tenho 46, going on my 47) duas enormes madeixas brancas a contornar o rosto. Quando apanho o cabelo pareço a Cruela (não fosse ser muito mais cheia e simpática, acho eu..)Mudar para ficar eu própria tem sido o meu desafio. A minha última cretinice foi cortar a franja, com o objectivo de aliviar as tais madeixas e manter um look leve e menos tia. Já devia saber que tenho muito volume de cabelo e que a coisa não iria correr bem...Não correu. Vejo-me obrigada diariamente a esticar com a placa a dita cuja (franja). Damn...uma perda de tempo... Obrigada por este texto. Confortou-me!

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