quarta-feira, 29 de junho de 2016

Homem não chora

Homem não chora…
Mentira!
Apesar de muitos animais terem formas várias de exprimir as suas emoções, ao que apurei, o bicho homem é o único que efectivamente chora.
Se bem que há quem defenda que elefantes, cães e primatas também têm capacidade de o fazer…

A nossa sociedade não é no entanto grande apreciadora do choro, que encara geralmente como um embaraçoso sinal de fraqueza, que desde a infância tenta reprimir.
Do carinhoso “sê corajoso meu querido, não chores” ao mais violento chavão “um homem não chora, pá!”, tenta-se incutir nas crianças a ideia que devem tentar evitar chorar, noção essa que nos vai acompanhando ao longo da vida.

Choramos pelas mais variadas razões.
A dor, física ou psicológica, será talvez a mais comum. No entanto, muitas outras emoções nos podem fazer chorar; a aflição, a tensão, a revolta, a frustração, a vergonha e até mesmo algumas positivas como a sensação de alívio, por exemplo.

Tanta gente fica genuinamente perturbada com o choro alheio, que há quem disso se aproveite, usando-o para tentar levar a água ao seu moinho.
É um estratagema comum das crianças e um clássico muito usado por algumas fêmeas manhosas. 

É sabido que o choro é uma ferramenta de comunicação, um sinal de aflição que transmite uma necessidade de apoio, de ajuda.
É no entanto também uma valiosíssima válvula de escape, na minha opinião de má fama e terrivelmente subvalorizada.

Quantas vezes não nos sentimos francamente melhor depois de uma boa crise de choro?! Como se as lágrimas e os soluços expelissem cá para fora algo que nos estava a sufocar…
Aliás, parece que estudos sugerem que chorar limpa realmente químicos negativos do nosso sistema.
Para além disso parece que nos clarifica a visão. Depois de nos acalmarmos, ganhamos frequentemente nova perspectiva sobre as questões, como se a tensão nos estivesse a turvar o pensamento.

Por outro lado, chorar à frente de terceiros não é vergonha nenhuma.
É frequentemente o que despoleta desabafos que retínhamos dentro de nós, nos permite largar lastro e às vezes até conseguir a ajuda que, no nosso estado “controlado”, não queríamos pedir.
Quanto mais não seja, gera empatia, estimula o contacto físico, a oferta daquele ombro, quantas vezes mais do que suficiente para nos sentirmos logo melhor.

Ninguém consegue ser forte o tempo todo, todos temos momentos de fraqueza, de desalento.
Às vezes são pontuais mas outras vezes são fases. Há travessias do deserto muito longas, muito cansativas, muito duras.
Por muito optimistas que sejamos, por muito que mantenhamos, no geral, um espírito positivo, não é espectável que nos sintamos sempre bem, é normal vacilarmos de vez em quando.

Alturas há, inclusivamente, em que tudo nos põe de lagriminha ao canto do olho. Parece que tudo o que nos acontece, tudo o que nos fazem, nos dizem, bate com mais força.
Há mil razões pelas quais isto pode acontecer, desde alterações hormonais (na gravidez ou na menopausa, por exemplo) a problemas de saúde, cansaço, períodos da vida mais conturbados, etc…
Isto não é no entanto um sinal de fraqueza mas de fragilidade. É um sinal de alerta, mas não obrigatoriamente de alarme, que nos diz que estamos a passar por um período mais sensível e como tal nos devemos proteger, não nos expor desnecessariamente.

Há que desdramatizar os picos negativos dos electrocardiogramas, eles fazem parte da vida, tanto como os altos.
Há que interiorizar e aceitar que, quer queiremos quer não, temos de passar por eles.
Há que continuar a ser felizes por detrás das lágrimas, mesmo que no momento não consigamos sentir o calor dessa felicidade. Todos sabemos que por cima das nuvens o céu está azul e o sol brilha.

O que não é saudável, é perigoso mesmo, é abandonarmo-nos a estados de espírito negativos, acomodarmo-nos neles, por risco de cairmos em depressão ou de entrarmos em desespero, estados dos quais o retorno é muitíssimo difícil.
Há que saber não só aceitar os downs como parte integrante da vida como também reagir-lhes, tal como o cavaleiro que cai do cavalo deve voltar o mais rapidamente possível para a sela.





A capacidade de chorar pode aliás salvar-nos a vida… quem não se lembra do fabuloso Breakdown do Alfred Hitchcock?! ;)



COM MÚSICA

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