Neste ano que acabou cheguei a uma triste aceitação...
Digo "triste" simplesmente porque gostaria que assim não fosse, mas aceitar a realidade é sempre uma boa coisa.
Neste ano de 2007 consegui finalmente aceitar que não somos amigos das pessoas só porque queremos muito sê-lo.
Quem me conhece, e quem me tem lido, sabe a importância que atribuo à amizade e logo porque é que isto me custa. Mas o facto de o perceber e sobretudo aceitar trouxe-me sem dúvida muita paz de espírito.
Isto vem ao encontro do que tenho "apregoado", de que ás vezes algum sofrimento é saudável e ajuda-nos a evoluir.
Digo "triste" simplesmente porque gostaria que assim não fosse, mas aceitar a realidade é sempre uma boa coisa.
Neste ano de 2007 consegui finalmente aceitar que não somos amigos das pessoas só porque queremos muito sê-lo.
Quem me conhece, e quem me tem lido, sabe a importância que atribuo à amizade e logo porque é que isto me custa. Mas o facto de o perceber e sobretudo aceitar trouxe-me sem dúvida muita paz de espírito.
Isto vem ao encontro do que tenho "apregoado", de que ás vezes algum sofrimento é saudável e ajuda-nos a evoluir.
A realidade é que, tal como as relações amorosas, a amizade tem de ser bilateral. Tem também de ser constantemente trabalhada e está sujeita a um determinado número de regras sem as quais não pode ser considerada uma amizade.
O meu objectivo hoje não é discutir essas regras.
Embora algumas possam ser subjectivas e discutíveis, as noções principais são comuns a toda a gente.
As nossas relações na vida não se limitam aos amores e ás amizades... temos as relações familiares, as relações de trabalho, as pessoas com quem confraternizamos de vez em quando, estes podem ser ex-colegas de liceu, o grupo de jogo, da caça, da vela, da tropa, etc... pessoas de quem não nos podemos considerar propriamente amigas mas que apreciamos e com quem gostamos de conviver ocasionalmente. Enfim, não vou estar práqui a perder tempo a enumerar todo o tipo de relações que podemos ter com alguém...
Todas estas relações se podem entre cruzar. Há familiares com relações amorosas ou de amizade, colegas de trabalho que são amigos, ou amantes, ou familiares... And so on...
No meio desta confusão toda uma pessoa pode facilmente perder-se e confundir as coisas... Foi o que me aconteceu nos últimos quarenta e dois anos...
Simplesmente não conseguia aceitar que ás vezes não é possível ser-se amigo de quem se gostaria de ser...
A vantagem que as relações amorosas têm sobre as amizades é que, regra geral, as coisas são mais claras.
Talvez não logo no início, mas a partir de certa altura torna-se bastante óbvio que estamos perante uma relação amorosa.
Temos só uma (em princípio... LOL), sabemos qual é, sabemos em que estado está, sabemos a quantas andamos.
Se é unilateral chama-se "um ganda galo" e passa-se à frente com mais ou menos dificuldade, mas continua a ser obvio.
Percebe-se quando estas relações começam e percebe-se quando acabam...
E quanto à amizade? Onde começa uma amizade?
Era bom que fosse assim...
Quais são as provas da sua existência?
O que nos diz que acabou?
Na realidade ás vezes é difícil conseguirmos distinguir uma amizade de outro tipo de relação.
Não basta gostar muito de alguém para se ser seu amigo a amizade é uma coisa viva, uma coisa activa, que tem de se alimentar, para a qual se tem de trabalhar, de preencher os requisitos. Se assim não for não quer dizer que seja uma má relação, simplesmente que é "outro tipo" de relação...
O meu primeiro grande choque foi por volta dos dezanove, vinte anos...
Um ex-namorado meu, deveria mesmo dizer o meu primeiro namorado importante, com quem andei durante dois anos, o que nessas idades é uma eternidade, e de quem me tinha posteriormente tornado grande amiga, foi "proibido" de continuar a falar comigo...
Ele deixou de falar comigo...
Nunca mais "falou" comigo...
Até hoje...
Quer dizer, ele fala comigo (ainda o vejo volta não volta), diz-me bom dia, boa tarde, então qué feito... mas a nossa amizade, aquela que eu considerava uma grande amizade, acabou de um momento para o outro.
Ele não contestou a "ordem"... valores mais altos se impunham... era uma questão de prioridades... a nossa relação perdeu.
Eu pura e simplesmente não conseguia aceitar isso. Mas como é que era possível? Como é que tudo o que tínhamos em comum se podia desvanecer assim?
Primeiro fartei-me de insistir, depois desisti para fora mas continuei a achar para dentro que era só uma fase, que um amigo não desaparecia assim da nossa vida...
Vinte e tal anos depois percebo que desaparece mesmo.
Tive poucos anos depois outra machadada na amizade, de uma amiga daquelas amigas com A grande, daquelas com quem passamos metade do dia e a outra metade ao telefone, daquelas com quem partilhamos tudo. Mais uma vez valores mais altos se elevaram. A altura em que mais teria precisado dela coincidiu, por grande galo, com o início de uma relação...
A amizade morreu? Não sei, não sei o que lhe posso chamar hoje em dia... até porque já passaram mais de vinte anos e a relação dela já não está no início. Esmoreceu sem dúvida (a nossa relação, a deles não sei... LOLOLOLOLOLOLOL) ... nunca mais nos vimos diariamente e raramente passamos horas ao telefone...
Se calhar é a vida, se calhar tinha acabado por acontecer de qualquer maneira... mas não há dúvidas de que qualquer coisa quebrou naquele momento.
Tive também algumas "amizades YoYo"... daquelas que vão e vêm... Daquelas em que durante um certo período vemos regularmente a pessoa, com quem partilhamos a nossa vida, e noutras alturas nem sabemos se está viva.
Nestas últimas chamar-lhe amizade será talvez um over statement...
A vida muda, os interesses mudam, os hábitos mudam, ás vezes até são as próprias pessoas que se mudam....
Umas vão sobrevivendo com ups & downs, como os interruptores, outras nem por isso.Vai-se criando um afastamento e quando damos por nós já não há amizade, desvaneceu-se no tempo e no espaço...
Há também as pessoas de quem queremos muito ser amigos... de quem gostamos muito... com quem temos um daqueles outros tipos de relação que mencionei acima e com quem gostaríamos de ter uma verdadeira amizade.
Mas nem sempre isso é possível... O outro pode não querer ser nosso amigo, ou pura e simplesmente não saber como. Não basta um dos lados "puxar" por uma amizade... não basta um esforço unilateral... simplesmente não nos é possível ser amigos dessa pessoa, por razões que muitas vezes nos ultrapassam.
Em todas estas situações eu resisti...
Em todos os sentidos...
Recusei-me sempre a perder essa amizade, ou a não chegar a tê-la...
Não me dava conta de que isso é tão patético e inútil como insistir num amor que não é para ser...
Que não é porque "queríamos muito" que vamos conseguir...
Sempre "me chorei toda" por causa deste assunto.
Sempre me lamentei, tentei arranjar forma para que não fosse assim... e a realidade é que nunca resultou. As pessoas só são de facto amigas se ambas quiserem e fizerem por isso.
Hoje vivo finalmente em paz com essa ideia, compreendo e aceito que para além dos amigos há "os outros", que não são melhores nem piores (como dizia a minha querida professora de História da Arte) são simplesmente diferentes...
Aceitei este facto, cá dentro, da mesma maneira que consegui aceitar, ao fim de muitos anos, que por muito que quisesse nunca seria "um casal" com o meu "lançador de santolas"... ;)
O meu objectivo hoje não é discutir essas regras.
Embora algumas possam ser subjectivas e discutíveis, as noções principais são comuns a toda a gente.
As nossas relações na vida não se limitam aos amores e ás amizades... temos as relações familiares, as relações de trabalho, as pessoas com quem confraternizamos de vez em quando, estes podem ser ex-colegas de liceu, o grupo de jogo, da caça, da vela, da tropa, etc... pessoas de quem não nos podemos considerar propriamente amigas mas que apreciamos e com quem gostamos de conviver ocasionalmente. Enfim, não vou estar práqui a perder tempo a enumerar todo o tipo de relações que podemos ter com alguém...
Todas estas relações se podem entre cruzar. Há familiares com relações amorosas ou de amizade, colegas de trabalho que são amigos, ou amantes, ou familiares... And so on...
No meio desta confusão toda uma pessoa pode facilmente perder-se e confundir as coisas... Foi o que me aconteceu nos últimos quarenta e dois anos...
Simplesmente não conseguia aceitar que ás vezes não é possível ser-se amigo de quem se gostaria de ser...
A vantagem que as relações amorosas têm sobre as amizades é que, regra geral, as coisas são mais claras.
Talvez não logo no início, mas a partir de certa altura torna-se bastante óbvio que estamos perante uma relação amorosa.
Temos só uma (em princípio... LOL), sabemos qual é, sabemos em que estado está, sabemos a quantas andamos.
Se é unilateral chama-se "um ganda galo" e passa-se à frente com mais ou menos dificuldade, mas continua a ser obvio.
Percebe-se quando estas relações começam e percebe-se quando acabam...
E quanto à amizade? Onde começa uma amizade?
Era bom que fosse assim...
Quais são as provas da sua existência?
O que nos diz que acabou?
Na realidade ás vezes é difícil conseguirmos distinguir uma amizade de outro tipo de relação.
Não basta gostar muito de alguém para se ser seu amigo a amizade é uma coisa viva, uma coisa activa, que tem de se alimentar, para a qual se tem de trabalhar, de preencher os requisitos. Se assim não for não quer dizer que seja uma má relação, simplesmente que é "outro tipo" de relação...
O meu primeiro grande choque foi por volta dos dezanove, vinte anos...
Um ex-namorado meu, deveria mesmo dizer o meu primeiro namorado importante, com quem andei durante dois anos, o que nessas idades é uma eternidade, e de quem me tinha posteriormente tornado grande amiga, foi "proibido" de continuar a falar comigo...
Ele deixou de falar comigo...
Nunca mais "falou" comigo...
Até hoje...
Quer dizer, ele fala comigo (ainda o vejo volta não volta), diz-me bom dia, boa tarde, então qué feito... mas a nossa amizade, aquela que eu considerava uma grande amizade, acabou de um momento para o outro.
Ele não contestou a "ordem"... valores mais altos se impunham... era uma questão de prioridades... a nossa relação perdeu.
Eu pura e simplesmente não conseguia aceitar isso. Mas como é que era possível? Como é que tudo o que tínhamos em comum se podia desvanecer assim?
Primeiro fartei-me de insistir, depois desisti para fora mas continuei a achar para dentro que era só uma fase, que um amigo não desaparecia assim da nossa vida...
Vinte e tal anos depois percebo que desaparece mesmo.
Tive poucos anos depois outra machadada na amizade, de uma amiga daquelas amigas com A grande, daquelas com quem passamos metade do dia e a outra metade ao telefone, daquelas com quem partilhamos tudo. Mais uma vez valores mais altos se elevaram. A altura em que mais teria precisado dela coincidiu, por grande galo, com o início de uma relação...
A amizade morreu? Não sei, não sei o que lhe posso chamar hoje em dia... até porque já passaram mais de vinte anos e a relação dela já não está no início. Esmoreceu sem dúvida (a nossa relação, a deles não sei... LOLOLOLOLOLOLOL) ... nunca mais nos vimos diariamente e raramente passamos horas ao telefone...
Se calhar é a vida, se calhar tinha acabado por acontecer de qualquer maneira... mas não há dúvidas de que qualquer coisa quebrou naquele momento.
Tive também algumas "amizades YoYo"... daquelas que vão e vêm... Daquelas em que durante um certo período vemos regularmente a pessoa, com quem partilhamos a nossa vida, e noutras alturas nem sabemos se está viva.
Nestas últimas chamar-lhe amizade será talvez um over statement...
A vida muda, os interesses mudam, os hábitos mudam, ás vezes até são as próprias pessoas que se mudam....
Umas vão sobrevivendo com ups & downs, como os interruptores, outras nem por isso.Vai-se criando um afastamento e quando damos por nós já não há amizade, desvaneceu-se no tempo e no espaço...
Há também as pessoas de quem queremos muito ser amigos... de quem gostamos muito... com quem temos um daqueles outros tipos de relação que mencionei acima e com quem gostaríamos de ter uma verdadeira amizade.
Mas nem sempre isso é possível... O outro pode não querer ser nosso amigo, ou pura e simplesmente não saber como. Não basta um dos lados "puxar" por uma amizade... não basta um esforço unilateral... simplesmente não nos é possível ser amigos dessa pessoa, por razões que muitas vezes nos ultrapassam.
Em todas estas situações eu resisti...
Em todos os sentidos...
Recusei-me sempre a perder essa amizade, ou a não chegar a tê-la...
Não me dava conta de que isso é tão patético e inútil como insistir num amor que não é para ser...
Que não é porque "queríamos muito" que vamos conseguir...
Sempre "me chorei toda" por causa deste assunto.
Sempre me lamentei, tentei arranjar forma para que não fosse assim... e a realidade é que nunca resultou. As pessoas só são de facto amigas se ambas quiserem e fizerem por isso.
Hoje vivo finalmente em paz com essa ideia, compreendo e aceito que para além dos amigos há "os outros", que não são melhores nem piores (como dizia a minha querida professora de História da Arte) são simplesmente diferentes...
Aceitei este facto, cá dentro, da mesma maneira que consegui aceitar, ao fim de muitos anos, que por muito que quisesse nunca seria "um casal" com o meu "lançador de santolas"... ;)
“Life is partly what we make it, and partly what it is made by the friends we choose.” - Tenessee Williams
ResponderEliminarComo quem diz, os amigos vão e vêem, mas as nossas vidas ficam sempre mais ricas por eles.
Parabéns!
ResponderEliminarCada vez que aceitas uma realidade ficas um pouco mais livre.
Tal como uma santola fica um pouco mais livre quando mergulha na suave água fresca do mar em vez de mergulhar na panela ardente do inferno.
Love
@paulo: tens razão paulo, morrer na suave e poluída água fresca do mar é de facto melhor do mergulhar na panela ardente. :-)
ResponderEliminarFónixxxx o que eu tenho 'perdido' deixo de cá vir durante um mês e quando entro já há não sei qtos posts para ler... ;)
ResponderEliminarFixe...
O que é ser-se amigo?
Onde é que a amizade começa e onde acaba?
Na minha opinião a amizade nunca acaba, mas vai-se transformando ao longo do tempo pelas circunstancias da vida. Acho que as gaijas são mais dependentes, mais 'diarias', e mais exigentes nas amizades, os homens não exigem tanto da amizade: são amigos e ponto, estão 6 meses sem se falar mas once a friend always a friend...
Eu pessoalmente penso que a amizade é uma rua com dois sentidos, se não nada diferencia a relação de amizade com a relação que estabelecemos com a senhora do café da esquina...
Mas também acho que podemos deixar de andar na rua durante muitos anos que a rua se mantém lá, e mantém-se com dois sentidos sempre, se deixa de ter dois sentidos transforma-se noutro tipo de relação...