quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Os pré-Sentimentos

COM MÚSICA

Aqui à tempos uma psicóloga disse-me “Cristina, não se pré-ocupe tanto… ocupe-se. Vá lidando com as coisas conforme elas se lhe forem de facto deparando…”Recentemente dei-me conta de que é de facto impressionante a quantidade de emoções negativas por que passamos “inutilmente”.
Passamos a vida a projectar-nos para cenários que geramos nas nossas cabeças e que muitas vezes não condizem mínimamente com a realidade.
Por exemplo, quantas vezes não tivemos já sentimentos de cólera, revolta, ressentimento, sei lá eu, em relação a alguém, por “julgarmos” que essa pessoa disse, pensou, fez, alguma coisa?
Contam-nos qualquer coisa, interpretamos mal uma atitude e lá começamos nós a embandeirar em arco antes mesmo de nos apercebermos de que foi um mal entendido.
Mais tarde, depois de esclarecida a situação, sentimo-nos desgastados e completamente idiotas...
Ás vezes nem é preciso que achemos que alguém fez alguma coisa, partimos simplesmente do princípio que vai fazer…
Faz-me lembrar a anedocta do macacaco:
Um tipo tem um furo à noite, no meio do nada, e vê lá ao longe uma luz acesa numa casa. Decide ir até lá pedir um macaco emprestado. Pelo caminho começa a pensar... Porra, não me apetece nada ir incomodar as pessoas a esta hora. Bem, eles têm a luz acesa. Se calhar esqueceram-se e estão a dormir. Vou acorda-los. Se os acordo é uma chatice, ainda são capazes de acordar mal dispostos. Ainda desatinam comigo por estar a tocar à porta. Mas porra, estou no meio de nenhures e não tenho macaco, o que é que eles querem que faça? Também não é caso para ser desagradável, temos de ser uns para os outros... e vai andando nestes pensamentos, até que chega finalmente à casa, toca à campainha, atende uma velhinha amorosa e ele diz-lhe: Sabe que mais? Meta o macaco no cu!Outra típica é quando não nos apetece fazer alguma coisa… Ir a um jantar, a uma festa, ou mesmo trabalhar. Quantas vezes não estamos confortávelmente em casa e a ideia de levantar o cu do sofá nos provoca logo suspiros de sofrimento… Vai ser uma seca, não me apetece nada ir… não me apetece aturar fulano ou sicrano…
Depois, na maioria das vezes até acabamos por passar um bom bocado.
Em dez anos de aulas foram raras as vezes em que não suspirei vinte vezes antes de ir ter com um aluno… Contam-se no entanto pelos dedos de uma mão as vezes em que de facto apanhei seca a dar uma aula.Outra mania é a de sofrer por antecipação. Se sabemos que temos de enfrentar alguma coisa que nos assusta, antes mesmo de o fazermos já estamos a carpir e a angústiar-nos.
Ainda me lembro da noite que passei (quase toda ela acordada, ás voltas na cama) na vespera da minha primeira “viagem” de metro sosinha para o liceu. Apesar de ter feito várias vezes o caminho com a minha mãe, que me ia explicando “tudo” pelo caminho (dificílimo, ir da Av. de Roma para a Rotunda) tinha pânico de me enganar algures, de me perder… Inútil será dizer que a coisa se passou completamente “sem espinhas”.As referidas pré-ocupações são outro caso. A tendência é preocupamo-nos com tudo o que foge ao nosso controle. Alguém está atrasado, com certeza aconteceu alguma coisa… A criança está com febre, ai meu Deus e se é alguma coisa grave… Os medos para além de paralisarem, fazem-nos passar por montanhas russas de emoções negativas relativamente a coisas que na grande maioria das vezes nem chegam a acontecer.
Enfim, podia agora estar aqui a tarde toda a dar exemplos… A realidade é que poupavamos muitas rugas se nos limitássemos a uma atitude de acção/reacção.
Espeto um espinho no pé, uivo de dor… Mas não vale a pena ficar ansiosamente a olhar para a água da piscina antes de saltar a questionar-me se estará fria… lol
Se a nossa imaginação é uma ferramenta potêntíssima, que nos pode ajudar muito na vida, faz igualmente com que nos coloquemos em situações que muito possívelmente nunca virão a ser reais e a sofrer antecipadamente por elas.

Isto é controlável. É difícil, mas é controlável. Requer muito treino, muita consciência do problema e sobretudo muita persistência, mas chega-se lá.
Grão a grão enche a galinha o papo.
Talvez um dia já só nos incomodem as situações presentes e consigamos abstrair-nos das hipotéticas.




2 comentários:

  1. Olá Cristina
    Cheguei aqui vindo do site dos Anciens du Lycée Françias ... Gostei deste post e do teu blog. Realmente sofrer por antecipação é sempre uma péssima ideia ...
    Fica bem!
    Fernando

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  2. acho que vou deixar de ter o blog...eu penso , tu escreves.
    Amazing!
    Mas sabes que eu por exemplo sempre fui mto lançada e destemida e depois de alguns acontecimentos mas problemáticos tornei-me amedrontada..
    Pode ser que recupere.
    Tb já sofri muito por antecipaçao...its human nature e sobretudo medo de rejeiçao...
    bjs cat!

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