Cheguei à conclusão de que temos muito mais "medos" do que julgamos.
Estes são, na minha opinião, uma das grandes causas das nossas angústias, ansiedades, inseguranças, etc...
Viver é um bocado como andar na selva... Sabemos que há perigo à espreita, sabemos que corremos riscos, mas há que ir andando...
Não vou defender aquele que corre descalço selva a dentro, gritando, yéééééééééééééé... com as mãos no ar, porque acho que é doido...
Conheço alguns assim que se têm safo, mas acredito que tenham um Anjo da Guarda digno do maior super-herói...
Na minha opinião é pura inconsciência e não subscrevo.
Um pouco de medo é talvez um pouco de respeito por nós próprios e pelos outros.
Imaginem que o idiota ao vosso lado atraí um bando de leões com os seus gritinhos histéricos, não tem graça...
Há que se proteger, sem dúvida, levar umas botas altas, ir vestido em conformidade, pôr um repelente de insectos, levar chapéu, não atrair a atenção dos predadores... enfim, não tentar o destino.
A realidade é que, grande parte de nós e em relação a vários campos das nossas vidas, temos tendência para nem sequer sair da cubata. O medo é tanto que paralisamos. Alguns conseguem viver com isso. Não acredito que bem, porque assim a vida lhes vai passando ao lado. Tanto medo, tanto medo, que quando (ou se) finalmente se arriscarem a pôr a cabeça de fora já é noite, já não vêm nada...
Os outros vão andando, mas muitas vezes todos borradinhos... não é nada agradável...
Deixando-me agora de metáforas (mana, odeio-te por me teres contado aquela história...), vou passar a dar alguns exemplos concretos.
Os medos de que falo são medos do dia a dia. Medos muitas vezes perfeitamente justificados (apesar de tudo andar na selva É perigoso) mas que, se os deixarmos controlar-nos dão no que costumamos denominar por MERDA.
Exemplo nº1:
Quando viemos para Sintra trouxemos connosco os nossos dois gatos. Ao fim de mês e meio já não tinhamos nenhum, piraram-se os dois, nunca mais lhes pusemos a vista em cima. Pus anúncios, colei papeis por todo o lado, perguntei nas redondezas, nada...
Uns tempos depois arranjei duas outras gatas.
E então o que senti? Hum??? Medo! Pois claro, um medo do caraças de ficar sem estas também... E um medo perfeitamente justificado. As janelas e as portas dão para a rua, se elas quiserem dão de frosques... Então o que fazer?
Fecha-las em casa, não as deixar ir para o jardim, pôr-lhes uma trela... não me parece.
Deixar de ter medo.
Passar a ver a hipótese de um dia destes uma delas não voltar para casa, como uma possibilidade. Tomar medidas para atenuar as hipóteses de isso acontecer, torcer os dedos e seguir em frente.
Exemplo nº2:
Nas nossas relações ás vezes temos tendência para ter um bocado de medo da reacção do outro. E não estou só a pensar em relações amorosas, isto é valido também para amizades, família, patrão/empregado, etc...
Ás vezes coibimo-nos de dizer ou fazer aquilo que na nossa opinião seria a coisa certa, por medo de um conflito, de uma ruptura, de um desgosto... Deixamos as coisas azedar por medo de pôr pontos nos iis.
A verdade é que, se não agirmos de acordo com aquilo em que acreditamos, o não fazer/dizer alguma coisa por medo da reacção do outro, muitas vezes só contribui para uma morte lenta da relação.
Exemplo nº3:
Desde que me lembro de ser gente, e não faço ideia do porquê disto, que vivi em pânico de que os meus pais morressem. Foi uma ideia que sempre me atormentou terrivelmente. Piorou muito sensivelmente depois do primeiro enfarte do meu pai... Depois disso, de cada vez que o telefone tocava fora de horas, de cada vez que alguma pessoa, das potencialmente portadoras das más notícias, me ligava com uma voz "mais esquisita", o meu coração disparava, tinha verdadeiros ataques de taquicardia.
Entretanto ele teve o segundo enfarte e eu pensei que era mesmo o fim... Fiz uma viagem para o Algarve para o trazer para Santa Marta, devido ao seu estado grave, a pensar que ia morrer ao meu lado no regresso. Resignei-me.
Mas ele safou-se... e entretanto alguma coisa tinha mudado dentro de mim. Sabia que era inevitável, que ele ia mesmo morrer um dia e deixei de ter medo.
Passei os anos que se seguiram, dando graças por cada dia que passava com ele, até ao dia em que recebi mesmo o tal telefonema, sem medo. E estes foram muito mais serenos do que os anteriores.
Não foi a minha falta de medo que o matou, com certeza, da mesma maneira que não foi o meu medo que o salvou das primeiras vezes...
Simplesmente é assim e o medo não serve para nada...
Exemplo nº4:
Quando era miúda tinha um medo/nojo/repugnância o que lhe queiram chamar, de osgas terrível. Uma noite, nas Açoteias, entrámos no quarto e estava uma na parede. Quem estava comigo, que já nem me lembro de quem era (sorte a deles/as), viu o pânico nos meus olhos e não achou nada mais divertido que sair e trancar-me lá dentro. Ia-me passando... Gritei, dei murros na porta, ameacei, pedi, implorei, não me lembro se chorei... até que me abriram a porta...
Nesse dia decidi que ninguém voltaria a ter o poder de me pôr nesse estado por causa de um bicho. Controlei-me. Tomei as minhas reacções em mãos. Tive um que outro encontro imediato com esses seres. Hoje em dia durmo num quarto com eles se for preciso...
Exemplo nº5:
Vamos para o aeroporto, já em cima da hora e está uma bicha (he, he) terrível na segunda circular... Fico em pulgas, cheia de medo de perder o avião... Será que se eu tiver medo o avião espera por mim?
I rest my case...
Podia estar aqui a noite toda a dar exemplos, mas acho que já chega.
Onde queria chegar é a que, se formos conseguindo (o que, na minha experiência, se faz muito lentamente, passo a passo...) controlar os nossos medos, sobretudo os que não são úteis, que não nos protegem de nada, nem a nós nem aos outros, vivemos com muito mais serenidade.
Falei e disse... : )
Bjs
C
PS: Dedico este post a alguém que se vai identificar e que eu gostava muito que perdesse o medo e se atirasse a ser o homem fantástico e feliz que eu sei que pode ser...
sábado, 10 de fevereiro de 2007
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Crizinha, obrigado pela dedicatória.
ResponderEliminarAchei muito giro o teu blog.
beijinhos!
Ois Cris
ResponderEliminarOlha a propósito de ter medo de perder o avião numa bicha na 2a circular, estava um dia num táxi com o meu avô, iamos a Londres, e claro já estavamos atrasados: eu em panico, olhava para o relógio de minuto a minuto; o meu avô relaxadissimo ao meu lado como se tivessemos a 2a circular só para nós. Ás tantas ele olha para mim, vertifica a minha ansiedade e diz (altamente tranquilo): "Ocorre-lhe fazer alguma coisa?"... Obviamente que NÃO... resolvi aproveitar a viagem na 2a circular a conversar com o meu avô, conversa essa que ainda hoje passados 20 anos me lembro e que guardo como uma optima recordação dele. Se continuasse com medo de perder o avião, não teria tido esta oportunidade de disfrutar da companhia dele.
One more thing: (frase feita mas que vem a proposito): o corajoso não é aquele que não tem medo, o corajoso é aquele que enfrenta o medo!
Tenho dito!
Mais uma coisa: NUNO: raramente uso acentos: pq não sei onde os por! E não digas para os por no C#$%&!
CU
Faço minhas as palavras de Franklin D. Roosevelt:
ResponderEliminarThe only thing we have to fear, is fear itself
Olá Cricri,
ResponderEliminarObrigado por continuares a Blogar.
Obrigado também pela coragem e lucidez de partilhar sentimentos pessoais.
Eu também tenho muitos medos.
Exemplo 1:
Quando a Xaninha está em Troia com os miudos, tenho medo à noite em casa que apareça um ladrão.
Exemplo 2: Tenho medo de me cortar com facas. E de agulhas.
Exemplo 3: Durante os sonhos, tenho medo da falta de controlo das situações.
Exemplo 4: Tenho medo das alturas.
Exemplo 5: Por vezes tenho medo de andar de carro (sobretudo quando vai outro caramelo a guiar a abrir).
Exemplo 6: Tenho medo da morte.
Exemplo 7: Quando estou a jogar, não tenho medo.
Exemplo 8: Também tenho medo que aconteça alguma coisa de mal às pessoas de quem eu gosto.
Exemplo 9: Tenho medo que alguém precise de ajuda e não peça.
Exemplo 10: Por vezes tenho medo de andar de avião.
Exemplo 11: Tive um pouco de medo durante o mini tremor de terra desta semana.
O que me conforta, é que quando observo cada um dos medos, reparo que ele é passageiro. E aí ele vai ficando mais fraquinho.
Adoro-te,
Paulo
Paulinho... tens medo que apareça um ladrão?! E que não estejam lá a tua mulher e filhos para te proteger? LOL Deves...
ResponderEliminarÉs um querido. Também te adoro!!!
"Quite an experience to live in fear, isn't it?
ResponderEliminarThat's what it is, to be a slave"
- Blade Runner