segunda-feira, 20 de abril de 2009

"Estar vivo é o contrário de estar morto..."

COM MÚSICA


Morreu ontem outro membro do nosso sitezinho… neste caso uma membra.
Já é a segunda morte, desde que o site nasceu, em Junho… Isto para falar em “membros”, porque ex-alunos e professores, não inscritos, já tive de acrescentar vários ao memorial. Em dez meses…

Não conhecia a rapariga que nos deixou ontem, apesar de ter a minha idade. Conheço superficialmente um dos irmãos.
Segundo a pessoa que me informou: “Foi de repente. Há um mês teve uma dor no peito, foi ao hospital e ficou, com um diagnóstico de cancro no pulmão e metástases espalhadas pelo corpo todo. Nunca fumou, fazia uma vida saudável e não teve qualquer sintoma.”
Ainda há pouco tempo participava activamente no site, ia aos jantares, fazia parte de alguns grupos. Agora é um nome no memorial, uma página, a que não sei o que fazer… como já não o sabia relativamente ao caso anterior…
E pronto… foi-se, assim, sem pré-aviso, sem hipótese de luta.
Felizmente não deixou filhos, que tendo-os seriam provavelmente pequenos.
Estou genuinamente chocada.

Chocada estou também com a história da Marta… uma adorável menina de 4 anos a lutar contra uma leucemia. Precisa desesperadamente de um transplante de medula e ninguém na família é compatível.
Há apelos por todo o lado, muita gente a tentar ajudar. Já recebi mails de várias pessoas, pessoas que conheço pessoalmente e que também a conhecem a ela.
Quando as coisas estão assim próximas parece que ainda custam mais…
Dedicaram-lhe uma página no Facebook, na esperança de angariar potenciais doadores. Também eu reencaminhei o mail e coloquei apelos no site do Liceu…
Sinto-me frustrada porque tenho menos de 50 kg, não posso candidatar-me. Muitos sentem o mesmo por terem mais de 45 anos.
Soube no entanto, viver e aprender, que as hipóteses de compatibilidade com alguém que não seja da família são praticamente nulas. Estão pessoas inscritas há anos na base de dados nacional de doadores de medula, que está aparentemente ligada ao resto do mundo, sem que nunca tenham sido chamadas.
Não consigo sequer começar a imaginar a dôr daqueles pais, o desespero, a sensação de impotência…

Há pouco tempo um grande amigo meu esteve envolvido numa situação de conflito armado.
Sim, há quem viva, em pleno século XXI, em zonas assim… Quem tenha de lidar com campos de refugiados, com a miséria humana, com a fome, com a doença, os estropiamentos, as violações, a violencia, o homem na sua forma mais primitiva e cruel… Quem ponha de facto a sua própria vida em risco numa tentativa de melhorar a face do mundo.
Dito isto tendo conseguido saír ileso, apesar das condições adversas e dos riscos que correu, por pouco não morreu, devido a um amigo que manejou uma arma irresponsávelmente.
O tiro apanhou-o de raspão no braço, podia te-lo apanhado em cheio na cabeça.
E assim, no espaço de um segundo, por pouco não ficámos sem ele. Sobreviveu a tanta coisa e podia-se ter ficado por uma estupidez destas.
Quando soube, tremi retrospectivamente…

Compreendo que este post vos esteja a parecer um pouco tetrico… é um facto que estes três acontecimentos recentes mexeram bastante comigo… e é verdade que estou triste, estas coisas, mesmo não tendo directamente a ver comigo deitam-me um bocado abaixo.

Mas o que estou a tentar transmitir é que para morrermos basta estarmos vivos.
Não há garantias… não há pré-avisos… Ás vezes podemos dar luta à morte, outras vezes nem por isso. Nunca sabemos, ao despedirmo-nos de uma pessoa se a voltaremos a ver. Não sabemos o que será o amanhã e quem estará por cá para o partilhar connosco, ou mesmo se nós próprios cá estaremos.

Não deixem para amanhã o que podem fazer hoje. Sejam pessoas decentes agora. Tratem bem o próximo. Ponham-se de bem convosco e com os outros, com quem é de facto importante para vocês. Não sejam fortes , digam o que sentem, não deixem ninguém na ignorância de saber que é amado. Aproveitem quem têm ao vosso lado como se não houvesse amanhã, porque pode de facto não haver. Entreguem-se, dêem, não desperdicem um minuto de qualidade de vida.

E sobretudo, tomem consciência de que as nossas maleitas não são nada comparadas com a dor que certas pessoas estarão a sentir neste preciso momento. Aproveitem esse pensamento para ser felizes, agora, já.
Pois todos nós iremos, tarde ou cedo, fatalmente, passar por situações realmente duras, dolorosas, difíceis de ultrapassar.
Mas enquanto o pau vai e vem…

4 comentários:

  1. Deixa-me dizer uma coisa...

    Não acredito no destino. O destino acontece todos os dias, forjado por nós próprios, de um modo activo ou passivo. E quando li este post lembrei-me logo de um velho provérbio árabe ( do filósofo Rumi, creio ) que diz assim:

    " O nascimento é o mensageiro da morte"

    É verdade, é terrívelmente verdade. Nada mais deixamos nos outros senão recordações... boas os más. Essas são as nossas marcas no mundo, e quase sempre pecamos por defeito, por falta de ousadia em querer assumir tudo o que somos, tudo o que temos capacidade para Ser...

    Concordo contigo. Mais vale o arrependimento de uma atitude mais impensada... do que o arrependimento de nunca ter tentado...

    Falta de coragem ?
    Comodismo?
    Sei lá. Um pouco de tudo, talvez.

    Será preciso morrer para recordar o prazer que era sentir-mo-no VIVOS ?

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  2. Eu cá, vou viver até morrer.
    Isto era só para parafrasear o teu títalo. E também para te dizer que não existe segurança. Nem garantias. De nada. Por vezes, sinto que tenho vivido dentro de uma bolha, e que nada de mais grave me tem acontecido por puro acaso. E o acaso faz bem as coisas.
    Todos os dias, os telejornais do Rio de Janeiro anunciam mortos por "bala perdida". Mas os turistas continuam a desembarcar no aeroporto do Galeão. Sabemos que fumar mata; mas continuamos a fumar, a comer merda, a tomar banho em águas poluídas, a circular na IC19, a assistir ao espectáculo da política nacional e internacional... E continuamos porque acreditamos na imortalidade, mais curta de dia para dia, é certo, sem a qual viveríamos fechados num quarto escuro, alimentados a soro, para não correr riscos. Sem falar do perigo de escorregar na banheira!
    O que é tétrico é a forma como se encaram as verdades, porque vivemos na tal bolha que nos distancia das realidades, que tememos porque não as controlamos: a morte propriamente dita, o local e a hora.
    O nascimento é o início da jornada para a morte. Nada mais real do que isso. Mas pode ser uma jornada triunfante.

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  3. "Estar vivo é o contrário de estar morto", Lili Caneças dixit. O povo o que diz é que "Para morrer, basta estar vivo".
    Eu também não acredito no destino. Não como predestinação. Acredito é numa qualquer lógica matemática à qual a vida, aparentemente, obedece, e que até acho que fui eu que inventei. É só o que explica que a Maria João tenha dito, num jantar aonde esteve, em Julho: "Vocês estão tão bem e são tão felizes! Eu passei a minha vida toda a cuidar dos outros, mas agora já posso cuidar de mim e ser assim feliz também".
    Às vezes não há falta de coragem nem comodismo, a vida é que não nos proporciona a ocasião na altura certa, não se encaixam as peças em tempo útil, e o quadro nunca se pinta para aquela pessoa.
    Temos sempre que aproveitar, todos os minutos, sem excepção. Uma vez ouvi uma pessoa dizer, a propósito dos grandes deficientes, que "Nós sabemos como nascemos, não sabemos como morremos". Porque existe aquela tendência para imaginarmos que os deficientes já nasceram assim e, por isso, estamos livres, e eles são assim uma espécie à parte. Nunca imaginamos que, o mês passado ou o ano passado, podiam ser pessoas sem problemas, só que uma curva ou um fusível que se apagou fez toda a diferença, de um minuto para o outro.
    Já desviei o assunto. Mas é um bocado para dar a mensagem pela positiva. Carpe diem. Carpe vita.
    Seguimos em frente. Vá, e juntos, OK?
    Beijos

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  4. Concordo plenamente. Não tivesse eu escrito um post quase igual, quase que dava para dizer que te plagiei ;))

    Mas gosto mais do teu, é mais claro e bastante menos negativo.

    Digam aos que amam, que os amam. Mostrem. Não percam tempo com quezílias de nada, mal entendidos e orgulhos despropositados. O nosso tempo é precioso, para não deixarmos os nossos filhos, a serem educados pela Playstation, para darmos fins de vida dignos aos nossos velhos, para estarmos com os amigos.

    Não percam tempo. Não vale a pena.

    Pronto, foi mais fácil, fazer um copy/paste :)))

    Está deveras bom.

    Beijos

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