domingo, 13 de setembro de 2009

Crises de Fé

COM MÚSICA

Julgo que todos tenhamos em alguma coisa.
Bem… se não for o caso também isso agora não interessa nada, pois vou só falar dos que têm. lol
A é geralmente associada à religiosa, mas não é necessariamente o caso…

Wikipedia:

“Fé (do grego: pistia e do latim: Fides) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.
A fé relaciona-se de maneira unilateral com os verbos acreditar, confiar ou apostar, isto é, se alguém tem fé em algo, então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita, confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha fé. A diferença entre eles, é que ter fé é nutrir um sentimento de afecto, ou até mesmo amor, pelo que acredita, confia e aposta.
É possível nutrir um sentimento de fé em relação a uma pessoa, um objecto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião. A fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas pela comunidade científica. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos. Nesse sentido, é geralmente associada ao contexto religioso.”



De entre as várias coisas que compõem o nosso ser, como a nossa personalidade, as nossas crenças, os nossos princípios, as nossas ideias… a fé é, na minha opinião, uma das mais importantes.
Se estivermos convencidos de que a vida é totalmente aleatória, caótica, sentir-nos-emos constantemente inseguros. Acreditar que haja uma razão para que as coisas sejam como são, mesmo que não se consiga identificar essa razão é, julgo eu, fundamental para o nosso equilíbrio.

Nas definições associa-se a fé a ideias como “acreditar”, “apostar”, “confiar”, “sentir afecto”… de onde se deduz que a fé se refira sempre a sentimentos positivos.
“Confio, acredito e aposto, que aquele filho da mãe me vai tentar aldrabar no negócio”, não qualifica para fé, apesar de cumprir com a maior parte dos requisitos.

Há coisas em que acreditamos sem que as possamos provar, não são por isso menos verdade aos nossos olhos. Nelas depositamos a nossa confiança e vivemos em conforme.
Pode ser uma coisa “grande”, como uma religião ou várias piquininas, como no meu caso, que todas juntas acabam por fazer com que esta vida faça sentido.

A fé, pode acabar de repente…
Uma vivência dolorosa, uma experiência traumática, um enorme desgosto podem, julgo eu, matar qualquer fé.
Mas nesses casos fala-se em perder a fé… não em crise da mesma.

Não, as crises de fé não são geralmente provocadas por uma machadada radical…
Estas geralmente aparecem por desgaste, quando nos cansamos, nalguma área da nossa vida, de remar contra a maré… de dar um passo para a frente e logo a seguir dois para trás…
Quando nos fartamos de ver a luz ao fundo do túnel, mas nunca lhe conseguimos realmente chegar…
Quando a nossa vida se mantém tipo montanha russa enquanto que, pelas nossas contas, já deveríamos estar a chegar ao cais, com as pernas a abanar, mas o estômago no sítio.
Ou quando uma série de eventos adversos, uns atrás dos outros, parece vir contrariar aquilo em que acreditamos.

Por exemplo… durante os partos gera-se muitas vezes uma grande crise de fé… ;)
A maior parte de nós acredita que parir é a coisa mais natural do mundo, tem confiança que vá tudo correr bem (se não houver anteriormente causa para alarme), sente já amor pelo serzinho que aí vem… Grande parte das mulheres (ok, há umas que são um bocadinho mais caguinchas…) vai para o parto cheia de fé em que vá tudo correr bem.
Umas horas de fé mais tarde, as coisas já piam de outra maneira…
Como é possível suportar aquelas dores durante tanto tempo? Em que cinco minutos rapidamente parecem uma hora... E dizem-nos que ainda não está para breve?! Devem estar a gozar connosco… alguém aguenta aquilo mais uma vez?
E então lá aparece a fé, que nem anjinho de asas brancas, a dizer-nos à orelha que à milénios que as mulheres passam por aquilo… muitas até repetem a dose.
Depois vem o diabinho, de corninhos vermelhos e rabinho em flecha, que nos berra: “que se lixe essa merda toooda, eu quero uma epidural e quero já!”

A realidade é que “quem espera, desespera”… e se a espera for dolorosa, pior ainda… e sem esperança, não há fé que aguente.

A fé é o que nos permite enfrentar as adversidades com serenidade. É o que nos faz acreditar que há uma maneira de chegar ao outro lado… seja lá o que for o outro lado… é o sítio para onde queremos ir…
A fé digamos que é uma ponte…
Só que quando esta é abalada, a ponte aparece-nos assim



Entre o dia em que meti na cabeça que iria abandonar a querida mas muito stressada Lisboa e acabar a minha vida para os lados de Cascais/Sintra, e o dia em que fiz efectivamente a mudança, passaram-se quinze anos.
Entre o dia em que deixei de tomar a pílula com intenções de engravidar, e o dia em que vi pela primeira vez a carinha linda do meu filho, passaram-se dez anos.

Tantas vezes a ponte me pareceu pouco sólida.
Tantas vezes me perguntei se deveria ou não tentar de facto atravessa-la.
Tantas vezes tremi ao fazê-lo…
Mas cheguei lá… cheguei lá porque, em termos de ditados populares, prefiro aquele que diz que “quem espera, sempre alcança”… e levo-o nos dois sentidos, de quem espera pacientemente (de preferência sentado, ás vezes…) e de quem tem esperança…

Por isso, por muito ranhosa que a ponte possa parecer em determinadas alturas, é acreditar que é possível de alguma maneira atravessa-la…

Mas o que é importante é que continuemos sempre a ver uma ponte. ;)

7 comentários:

  1. Depois de ler "Crises de Fé" fiquei com uma leve sensação que o texto está inacabado...

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  2. Penso que talvez estejas a confundir fé - a adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro - com esperança - Disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se há-de realizar ou suceder.

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  3. Ouch... lol

    Pedro, inacabado não está, na minha cabeça está acabadinho de todo... será que está "incompleto", confuso... ?

    Nuno, pleaaase... não estou a confundir nada, ou não deu para perceber que sei ver a diferença entre fé e esperança?!

    Mas ás vezes a Fé enfraquece, por exemplo em situações como as que descrevo.
    Se quiseres, usando a tua definição, a adesão torna-se menos "absoluta"... menos convicta.
    Vivemos as nossas vidas com certos pressupostos, baseando-nos na fé em determinadas coisas e de repente começamos a perguntar-nos se não estaremos completamente enganados... E se não for assim?

    Mas desde que continuemos a ter Fé na Fé que temos... (a ver a ponte) ela voltará naturalmente a fazer parte da nossa vida... ;)

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  4. A tua fé é a minha fezada.

    Acredito numa coisa, acredito numa pessoa, acredito que alguma coisa vai acontecer porque tenho essa fezada. E acontece, muitas vezes. Sem a adivinhar, sem ter poderes especiais (ai quem me dera!), apenas e tão só porque estou atenta aos sinais que a vida nos vai dando.

    A fé religiosa, já tive mais... tem-se sumido, aos poucos, não por via de uma crise pessoal, mais por um amadurecimento intelectual qualquer. Um "não faz sentido" em relação a muitos dogmas que, no todo, me levam para um patamar em que acredito mais naquilo que vejo, ouço e sinto, ou nos meus "seis" sentidos :-) do que numa transcendência qualquer para além deles.

    Gosto sempre de te ler, independentemente de concordar ou não.

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  5. O teu texto está claríssimo, pelo menos para mim. Quando disse "inacabado" se calhar não fui muito feliz. Queria antes dizer que a "Parte I" está acabada, falta a "Parte II" que poderia ter como titulo:
    "Quando a(s) nossas ponte(s) caem como encontrar forças para descobrir ou construir outras"...

    ...é que não basta dizer que é preciso ter Fé na Fé que temos...

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  6. Ui... mas é que quando as pontes caem, desaparecem, puf... por alguma razão, a coisa já pia de outra maneira...
    Isso é aquilo a que chamei "perder a fé".
    Aí não sei como é que se faz. :(

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  7. Carissima,
    Creio que já te terás apercebido que estou entre aqueles que pensam (mais do que acham, mais do que acreditam) que "Deus não joga aos dados". Sem essa inteligência subjacente à Vida, à "organização" do universo, a existência seria desprovida de sentido, seria estúpida. Nada mais longe da realidade presente a olhos e a neurónios atentos.

    As minhas crises de fé dão-me à hora dos notíciários quando testemunho tanto sofrimento inocente, tanta injustiça impune. E outras situações situáveis dentro dos mesmos parâmetros.

    Depois tento relembrar-me de que o meu entendimento é finito e por mais que tente pensar, buscar, não tenho acesso aos dados todos. Talvez um dia... Algures...
    Mas doi.
    E doi ainda mais viver sem acreditar

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