segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ano Novo, mesma vida...

COM MÚSICA


Neste novo ano que acaba de entrar nada irá ser diferente… pessoas irão nascer e morrer, haverá tristezas e alegrias, problemas e soluções, encontros e desencontros.
As passagens de ano não fazem reset às nossas vidas, nada muda à meia noite…
É no entanto graças a eles, aos anos, que podemos fazer a nossa cronologia, sem que percamos o fio à meada. A passagem do tempo, assinalada no calendário, permite-nos analisar o que fomos, comparar com o que somos e pensar no que queremos ser…
Parece-me portanto legítimo festejar estes marcos.

Olhar para o ano que entra como se tivesse havido uma quebra na linha do tempo parece-me tão pateta como perguntar a alguém, no dia do seu aniversário, se se sente mais velho… O tempo é contínuo, não tem degraus.
No entanto, curiosamente, olhando para trás isso até parece fazer algum sentido.


Imaginem que as nossas vidas fossem bibliotecas, com prateleiras organizadas por anos.
Umas estariam mais cheias, outras mais vazias, há sempre uns mais intensos que outros.
O tipo de livros também seria bastante diferente, haveria anos com mais romances, mais ficção, outros com mais assuntos técnicos e manuais, temas de arte e lazer, filosofia e religião, obituários… seriam tristes, divertidos, massudos, ligeiros, informativos, inúteis.
Os autores seriam igualmente variados. Quem sabe até houvesse alguns de nossa autoria.
Teríamos livros escolhidos por nós e outros que nos teriam vindo cair nos braços. Uns seriam apreciados e outros detestados.
Alguns teríamos lido e relido, outros folheado, uns quantos abandonado a meio.
Nem todas as prateleiras teriam livros de relevo. Por algumas sentiríamos uma especial ternura enquanto que para outras preferiríamos nem voltar a olhar.
Algumas obras serviriam o seu propósito em determinada altura e não lhes voltaríamos a tocar. Teríamos no entanto os nossos livros preferidos, que passaríamos de prateleira em prateleira, que iríamos mantendo sempre à mão. Esses seriam os que nos definem no presente.
A indexação de todos esses livros nas respectivas prateleiras dar-nos-ia uma visão global da nossa vida…

Assim o fazem os anos.
Se olharmos para trás poderemos mencionar aqueles em que temos “livros” importantes, que nos marcaram e fizeram de nós aquilo que somos hoje. Graças ao calendário podemos visualizar cronologicamente o nosso eu, a nossa evolução.
Graças a ele sei que Winston Churchill morreu no mês em que nasci, que os meus pais se separaram no ano em que nasceu o pai do meu filho, que o muro de Berlim caiu quando conheci o meu marido, que estava grávida na altura do 11 de Setembro… Podemos associar acontecimentos pessoais à história universal.

O que me parece no entanto importante é que aprendamos a escolher, a recusar, a interpretar, a utilizar, a procurar… os livros que nos serão úteis, que nos darão prazer, com base nas diversas prateleiras que já preenchemos… ;)

Bom ano a todos!!!

15 comentários:

  1. Sempre sabe melhor que os pontos de suspensão, apesar de eles continuarem por cá. Eu também uso, mas acho que é para deixar alguma coisa por dizer...
    A mim, incomoda-me um pouco esse tipo de arrumação da vida. Acho que prefiro umas caixas sem etiqueta, que se selam com fita de tela (sai a tela, mas não sai a cola), e podem acabar no fundo do mar, que não fazem grande falta. Fecham-se umas, abrem-se outras!

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  2. ;)

    Podes chamar-lhes anos, caixas, prateleiras ou cantinhos da tralha, mas vão-se acumulando quer queiramos quer não.
    Podes esquecer-te de onde estão as coisas, mas elas entraram numa determinada caixa.
    E a realidade é que, volta não volta, irás mencionar a etiqueta.

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  3. @Cr: Há quem tenha caixas e quem tenha terminais de contentores com coisas como o Abbas Kiarostami lá dentro... ;-)

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  4. Chiça, Nuno... segui o link... li tudo (na diagonal, porque é muita coisa, mas li) e não vejo a referência aos contentores... lol
    Faz-nos lá um resumo... ;)

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  5. Continuo a achar que não é preciso comemorar a passagem de ano, nem sequer assinala-la, porque os marcos da nossa vida e até aqueles que referiste da tua, teriam sempre uma data, houvesse ou não comemoração da passagem de ano.

    Lógico que precisamos de um calendário, mas não se comemora a passagem de cada mês, pois não, então?

    E continuo sem perceber porque acham as pessoas que tudo se vai renovar lá porque muda o ano. Não vai. Se nada se fizer para isso, nada muda.

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  6. Pois não, não "temos".
    Nem temos mesmo de comemorar, nem assinalar, nada se não o quisermos... ;)

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  7. Pois... mas isto sou eu que sou um bocadinho anti calendário, talvez ainda vá a tempo de mudar ;)

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  8. @Cr: não me digas que já não te lembras da famosa tirada do PW no Trivial?

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  9. O writer's block tem destas coisas: acabam por sair coisas boas.
    Deste gostei mesmo.

    E do ano que passou. Mesmo sem tirar uma folha do calendário.

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  10. Abrir uma garrafa de champanhe ou desejar um bom ano na 12ª badalada é uma questão cultural e nada mais. Existem mais exemplos de eventos com data marcada, universalmente mais apreciados, tipo aniversário pessoal… ou mesmo do cão...ou da cobra…
    Gostemos ou não, temos muitos balanços que se fazem anualmente ( temos que ter um período de referência qualquer que ele seja ) sob as mais variadas útil e inutilidades :
    - nas, empresas os resultados
    - na politica , as eleições ganhas e perdidas
    - nas estrada, os acidentes e consequências
    - na agricultura, as colheitas
    - nas escolas….
    - nas… nas… nas…
    O ano é um razoável período de tempo, até porque resulta de um ciclo natural e completo da Terra.

    Pessoalmente também pouco me diz a passagem do ano. Todavia fazer balanços dos “livros passados” sobretudo para pensar nos “livros futuros “ é um bom exercício que deve ser feito de vez em quando, mas obviamente, não tem de coincidir com o fim de ano. … só por mera coincidência…

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  11. @Pedro: A celebração do Ano-Novo é muito mais antiga e muito mais variada do que se pensa:

    http://en.wikipedia.org/wiki/New_Year

    O que nos leva a pensar que talvez seja um fenómeno multi-cultural global, desde há milénios.

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  12. Bem escrito
    Bem posto
    Começas bem a blogar 2010
    Bj

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  13. E esqueci-me de dizer...
    Eu também estava grávida quando foi o 11Set. Presumo que também tenhas sentido aquela pergunta de uma fracção de segundo em que questionamos a responsabilidade...

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  14. NunoF:
    Claro que me lembro da "amosa tirada do PW no Trivial" duvido que alguém se vá esquecer...
    Não percebo é a relação com o meu post.

    PW$$$:
    Ele já estava cá dentro... não queria era saír...lol

    Pedro:
    My point exactly. ;)
    E obrigada por mencionares os vários balanços anuais, pensei em fazê-lo no post mas desisti porque achei que não ia "ficar bonito"... lol
    PS: Oh céus... não sei quando faz anos a minha cobra... será que vai ficar sentida comigo por não os festejar?!

    NunoF (again):
    Ora vêm?! Eu bem sei que não invento a polvora... lol

    Alex:
    Merci! Confesso que este foi daqueles que depois de acabar não tinha a certeza de como tinha saído...
    Quanto ás torres/gravidez... pois. "Em que caraças de mundo é que eu vou botar esta criança..."

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  15. Gostei, também.

    Há ainda outro tipo importante de livros: aqueles que perdemos, que gostaríamos tanto de voltar a manusear mas que, por serem edições antigas e já esgotadas, só podemos ler com a memória. O que já não é mau.

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