sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Os sois das nossas vidas…

COM MÚSICA

Disclaimer: este saiu um cadinho longo…  se não estão com tempo, façam inversão de marcha e voltem noutra altura. ;)


Criar um filho… tarefa hercúlea… grande responsabilidade…
Mas o que quer isso dizer, afinal?
A meu ver, significa zelar para que cresça forte e saudável e educa-lo. Por educar entenda-se dar-lhe todas as bases possíveis para que possa ser feliz, tanto na infância como na idade adulta.

Acho que esta parte anda a ser descurada por muita gente, cada vez mais me apercebo de que as crianças não andam a ser educadas, é um bocadinho assustador.
Assustador, não pela irritação que estas nos possam causar, mas porque o que vejo, quando observo as crianças birrentas, egoístas, malcriadas, etc que por aí andam,  é uma grande infelicidade…
Se não forem felizes, como poderão fazer outros felizes? E assim se gera um círculo vicioso. Onde irá parar este mundo?

Não me considero, de todo, perita no assunto. Para além disso, acredito que vários caminhos vão dar a Roma, que vários métodos educativos possam conseguir o mesmo objectivo final.
Decidi no entanto partilhar a minha experiência convosco, pois parece-me estar a dar bons resultados. É só mais uma receita…
Estou consciente de algumas falhas que cometi e certa de que mais estarão por vir. Não existindo  manual de instruções, só podemos contar com o nosso bom senso, associado à experimentação. Nem sempre funciona. ;)

Uma das coisas que, noto, falta aos pais actuais, é tempo. Quer-se dizer… tempo têm o mesmo que toda a gente, 24h por dia, dedicam é pouco aos filhos. Alguns não terão escolha, outros talvez façam uma distribuição desequilibrada do mesmo.
Hoje em dia passamos a vida a correr. Pois eu recuso-me a transmitir essa ansiedade constante ao meu filho. De manhã, levanto-me dez minutos mais cedo do que seria necessário, para os poder passar enfiada na cama com ele. Não o acordo a dizer “despacha-te”, dou-lhe festinhas, beijo-o, falamos, brincamos ou ficamos simplesmente na ronha enroscados um no outro.
Algures durante o dia arranjo mais um tempinho para ele, quer seja simplesmente a fazer-lhe companhia enquanto brinca, como a fazer alguma coisa em conjunto. Não é preciso muito tempo, embora ás vezes o seja, mas qualquer quarto de hora/meia hora já lhe enche as medidas.

A minha sobrinha veio cá passar um dia/noite a casa. No regresso disse orgulhosa à mãe; “Em casa da tia Cristina há montes de regras e eu fiz  todas!!!”
Também as há, é um facto, lol, mas aquilo a que ela se estava a referir era ás rotinas.
Não sendo totalmente obcecada ou inflexível, acredito que estas  tragam uma sensação de segurança  ás crianças. A prova é que a piolhita não se queixou, “gabou-se”. Existem horários e tarefas a cumprir no dia a dia, se não for o caso é excepção e não regra.

Quanto a estas… ninguém vive exactamente como gostaria, é bom que se compenetrem cedo disso. “Eu queria…”, também eu queria muita coisa. Vivemos em sociedade e como tal temos de cumprir com as suas regras, temos de respeitar e ter consideração pelo próximo, temos de adquirir os skills  necessários para viver em harmonia com nós próprios mas também com os outros, afinal de contas a nossa liberdade acaba onde começa a deles.
Só para dar um exemplo de regra, mas tantos haveria, nunca o deixei brincar com chaves, telecomandos, telemóveis e afins. Há brinquedos de criança e objectos de adulto, se estes puderem constituir perigo ou estragar-se nas mãos inexperientes de um pimpolho, a meu ver não são simplesmente para lá estar. Não tirei as coisas dos sítios, simplesmente o fiz compreender que não podia mexer-lhes.

A minha avó costumava dizer que não existe “mimo a mais”…
Como, então não existem criancinhas mimadas?!
A meu ver, as crianças não ficam “mimadas”, por excesso de “mimos”, ficam-no porque existem incongruências na sua educação, porque não lhes são óbvios os limites, porque se habituam a exigir e receber tudo, mesmo que não faça qualquer sentido…
Eu cá vou pela minha avó, dou mimo como se não houvesse amanhã. Só é preciso ter em mente a razoabilidade das coisas.
Encho-o constantemente de beijos, de abraços, de carícias, digo-lhe a  toda a hora como o adoro… tenho inclusivamente o cuidado de o fazer sempre que me zango com ele ou o ponho de castigo. Parece-me importante que perceba que o facto de tomar uma atitude que não lhe é agradável não tem nada a ver com falta de amor.
Em termos materiais é igual, só não lhe proporciono o que não posso ou o que acho que não faz sentido ele ter.

Tento que se aperceba de que a vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras vezes para baixo e não há mal nenhum nisso. Cá em casa não há “dramas”, as coisas encaram-se tal como são. Chatices, dificuldades, preocupações, desgostos, são coisas por que todos temos de passar, quer queiramos quer não e ele não será excepção. Explico-lhe a diferença entre o ser e o estar  e que o facto de nos sentirmos infelizes em determinados momentos não quer dizer que sejamos infelizes. Não tento evitar-lhe as agruras da vida mas sim que dê valor ás coisas boas que tem. Tento fazê-lo compreender que, o facto da balança tender mais para o lado positivo, depende muito mais de nós do que as pessoas gostam de reconhecer.

Explico-lhe tudo, respondo a todas as suas questões, dentro da medida da sua compreensão e do meu conhecimento. Desenvolvo os temas, utilizo exemplos e metáforas, ás vezes investigo, falamos muito. Adapto as respostas à sua idade e capacidade de entendimento e, quando isso não é possível, explico-lhe que ainda não tem bases suficientes para que consiga sequer tentar, que mais tarde falaremos sobre o assunto.

Respeito as suas tendências naturais. Não é uma pessoa física, não tento portanto empurra-lo ou força-lo, para além do que é saudável, nesse tipo de actividades. Não acredito que se ganhe gosto pelas coisas por se ser obrigado a fazê-las, antes pelo contrário.
Evidentemente que contrario um bocado as suas vontades pois, por si, passaria os dias dentro de casa, a brincar ou afundado no sofá em frente à televisão. Tento que não leve uma vida demasiado sedentária.  Mas não o obrigo a praticar desporto ou sequer a andar de skate ou bicicleta se não estiver para aí virado. Se, no entanto, mostrar algum interesse, tento estimular e ajudar, no que estiver ao meu alcance.

Em contrapartida, sendo ele todo cerebral (o que, aqui entre nós e como poderão compreender, para mim é ouro sobre azul…lol) puxo por ele sem dó nem piedade. ;) Se é para o “meu desporto” que é dotado, tem aqui um treinador empenhado e exigente.
Jogo imenso com ele, por exemplo, todo o tipo de jogos, em todo o lado… no carro, na praia, em casa… jogos de palavras, de cartas, de tabuleiro… Encaro o jogo como uma ferramenta formativa sem igual, em termos de desenvolvimento cerebral, dele retiramos lições importantíssimas.
Cá em casa não há abébias, ninguém faz batota e os meninos não ganham só porque são pequeninos. Jogam-se jogos adaptados à sua idade, como tal que se façam á vida como os outros. Umas vezes ganham, outras perdem, é natural.
Isto permite-lhes aprender, através de uma actividade lúdica, a lidar com a frustração, a conseguir objectivos, a desenvolver estratégias, a perceber que existe um factor sorte e um factor raciocínio em tudo o que fazemos, a empenhar-se para ganhar… porque no fundo, ninguém gosta de perder.

Apesar de todo o esforço que dirijo no sentido de fazer do meu filho um ser humano intrinsecamente feliz, apesar de o considerar a pessoa mais importante da minha vida, sem qualquer sombra de dúvida, estou perfeitamente consciente de que também eu tenho vida. Não me anulo por ele, tento sempre coordenar interesses, fazer com que as coisas sejam equilibradas.

Várias razões me levam a crer que estou no bom caminho…
O Pedro é um menino que não tem pesadelos, por exemplo. Oh, como me lembro da angústia dos pesadelos da minha infância… Contam-se pelos dedos de uma mão os que ele me reportou desde que nasceu.
Não faz birras, essas contam-se pelos dedos da outra mão. Fica chateado, claro está, fica contrariado, um bocadinho “de trombas” ás vezes, mas “cenas” não há.
Aceita a autoridade sem revolta, questionando-a pontualmente, pedindo ás vezes justificação para as coisas, o que não me parece senão saudável.
Apesar de tímido, depois de ultrapassada a primeira barreira, é uma pessoa sociável e bem educada.
Tem capacidade de concentração, quando se interessa pelas coisas, não dispersa.
Aceita serenamente as diferenças, as suas e as dos outros.
É basicamente uma criança alegre e sorridente.
Estou consciente de que fases mais complicadas virão, de que a adolescência não é pêra doce.

Não acho que seja perfeito, ninguém é. Consigo inclusivamente identificar características que não o irão favorecer na vida, há que lhe fornecer as ferramentas para as trabalhar. Mas sinto nitidamente que, com a minha ajuda, tem muito mais hipóteses de sucesso. Educar não é treinar, como se faz aos cães, é ensinar a pescar… ;)

6 comentários:

  1. Afogo?! Não faz mal... ele tem guelras. ;)

    PS: mas já que me acusas de infanticídio podias ao menos dar a cara...

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  2. Achei muito interessante este teu post, pelo que tu pensas sobre esta tarefa de educar os nossos filhos, que serão os pais de amanhã.
    E lembraste-me uma afirmação que o Dr. João dos Santos, grande pedopsiquiatra e psicanalista dizia -façams os pais o que fizerem, acontecerá às vezes fazerem mal- (citação de cor).
    E é mesmo assim.
    A tua preocupação com a adolescência é muito comum embora haja quem defenda que ela só existe quando corre mal,(senão será um período de trabalho psicológico muito importante, mas em que muita coisa é reorganizada). No entanto terá probabilidades de correr melhor quanto melhor correram as fases anteriores. Por isso o regar afectivo tem de ser permanente mas diferente conforme a idade da criança/jovem e temos de lutar para manter sempre, com respeito, os canais de comunicação abertos, o que em certas épocas/fases pode ser mais difícil.
    Desculpa tanta palavra, mas tocaste numa coisa que me interessa, como sabes.
    Acho que muita gente devia pensar nestas coisas.
    Tu descreves bem, não é o quantidade de tempo que se está com os filhos mas a qualidade do mesmo.Há quem não tenha percebido isso.
    Um bj

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  3. Confesso que a adolescência me assusta um cadinho, sim. ;)
    Provavelmente por a minha ter sido tão conturbada...
    Tenho no entanto consciência do que dizes, "terá probabilidades de correr melhor quanto melhor correram as fases anteriores", também por isso tento criar desde já uma boa base de entendimento.

    Erros?! Todos os cometemos... Quanto mais depressa dermos por eles, mais facilmente poderemos tentar repara-los se possível. ;)

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  4. Para já ninguém te acuda de infanticidio. (O teu mau feitio). Depois não foi anónimo porque sabes quem escreveu, o que sucedeu foi o nome não ter entrado.

    Passando a fase dos infanticídios e muito a sério a realidade é que podemos fazer imensos cursos de formação excepto o de pais (mães). Concordo que a infância é extremamente importante na formação mas acho que a fase mais critica e onde é necessário mais tempo e tempo de qualidade é precisamente a adolescência.

    A adolescência é uma fase de tentativas sistemáticas de separação e afogamento se não for temperada e levada com bom senso, muito paciência e recordação da nossa (pai e mãe) própria adolescência, porque é a única experiência que podemos ter como pais.

    Daí que concorde inteiramente com a Magda que quanto melhor correrem as fases anteriores mais fácil correrá a adolescência. E com esta concordância com a Magda o meu comentário torna-se redundante.

    Como não sei se isto funciona para não ser anónimo
    Benjie

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  5. Exactamente pá.
    Todos temos momentos, bons, maus insipidos. Temos de saber viver com eles e... E... com aqueles que nos rodeiam.
    A vida às vezes é linda de sorrir até nos doerem os musculos da cara, às vezes é uma chatice mas temos de cumprir.
    O mais importante? Temos amor e apoio e verdade e direito a errar.

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