sexta-feira, 9 de abril de 2010

Falar como gente…

COM MÚSICA

Não é espectável que, no relacionamento entre duas pessoas, não surja de quando em quando um atrito, um mal entendido, um conflito de interesses, etc… Da forma como ambos lidarem com eles dependerá a saúde da relação.

Há quem simplesmente não aborde as questões.
Como se costuma dizer, “a quem dói o dente é que vai ao dentista”. Assuntos mal resolvidos, ou não resolvidos de todo, podem gerar mágoas que poderiam perfeitamente ser evitadas se as pessoas se dignassem a falar umas com as outras.
Para isso é no entanto fundamental que haja, de ambos os lados, abertura de espírito, discernimento, permeabilidade à crítica, capacidade de auto-análise.
Infelizmente cada vez mais me convenço de que estas características não abundam por aí e, no caso da sua ausência, ás vezes é pior a emenda do que o soneto. Mais vale de facto ficar calado para não piorar ainda mais a situação.
Não considero no entanto minimamente gratificantes as relações que se enquadram nesse cenário.

Uma vez que se chegue à fala, parece-me tão importante saber falar como saber ouvir.
Se consideramos que nos pisaram de alguma forma os calos é natural que daí advenha algum ressentimento. No entanto, partir para a acusação, para a agressão, só vai servir para deixar o outro de pé atrás, na defesa, inibindo-lhe a capacidade de realmente apreender o que estamos a tentar transmitir. Assim, a diplomacia parece-me fundamental na apresentação que “queixas”.

A reacção natural ao sentirmo-nos “acusados” de alguma coisa, sobretudo se não tiver sido intencional ou ás vezes mesmo consciente, é a negação. Ninguém gosta que lhe apontem o dedo.  Muitos adoptam então a teoria de que a melhor defesa é o ataque, apontando imediatamente o dedo de volta.
Fazer um esforço para realmente ouvir e compreender o que o outro tem a dizer, fazer perguntas, esclarecer dúvidas, é provavelmente o primeiro passo para o entendimento.

Raramente alguém está totalmente certo ou totalmente errado.
Há no entanto pessoas que parecem incapazes de dar o braço a torcer. Até podem intimamente reconhecer que o outro tem alguma razão, mas são incapazes de o assumir e verbalizar. Continuam a puxar a brasa à sua sardinha, insistindo na(s) parte(s) em que consideram ter razão, ignorando aquela(s) em que possam de facto ter falhado.

Ignoram assim um factor que me parece extremamente importante. Se de facto na vida fizermos questão em limar as nossas arestas, o feed-back de terceiros é fundamental. É ele que nos serve de barómetro e nos permite avaliar os nossos eventuais progressos.
Em tempos tive uma loja. Vendia, entre outras coisas, colchas indianas. Um dia fui a casa de um amigo que me tinha comprado uma, que utilizava para cobrir o sofá e vi que este estava todo tingido, tendo assim descoberto que largavam tinta. Acreditam que não tivemos uma única reclamação?! Não acho normal…

Este fim de semana fui para fora com amigos. Regressei com a sensação de que a estadia tinha corrido muito bem. Sobretudo considerando a assustadora (pelo menos para mim) proporção de quase um para um entre adultos e crianças numa casa a abarrotar de cheia.
Qual não foi o meu espanto, ao descobrir que afinal não era bem assim…

No caso concreto estiveram em questão duas características minhas…

Primeira: Não sou menina de educar filhos alheios, posso não concordar com a metodologia adoptada mas costumo abster-me de intervir. Considero no entanto que, sobretudo no que diz respeito a crianças, se não há regras é o caos. Estas variando de família para família, estando várias reunidas, adoptar as do anfitrião parece-me uma solução tão válida como outra qualquer. Como se costuma dizer “em Roma faz como os Romanos”…

Segunda: Tenho uma tendência natural para a gritaria tipo tropa, quando se trata de pôr crianças na ordem… Ando “a tratar-me” (não profissionalmente …lol), já consigo ás vezes controlar-me e concretizar a tarefa de outras formas mas, volta não volta, lá salta o sargento que há em mim…

O conjunto destas duas características faz com que seja considerada um verdadeiro Ogre por algumas criancinhas. Estas estavam em maioria absoluta no nosso fim de semana.
Ando muito activamente a tentar alterar esta imagem e aparentemente com algum sucesso.
Já não encolhem instintivamente a cabeça quando levanto a mão, por exemplo… (just kidding!!! lol) até sorriram simpaticamente para mim, julgo que pela primeira vez…

Conclusão, aparentemente acabei por utilizar como exemplo, para os necessários ralhetes pontuais, os dois com quem me sinto mais à vontade, sendo um deles o meu próprio filho.
Tá mali!
A questão é que o outro é relativamente “novo” nestas lides, não tem termo de comparação. Por outro lado está a passar por uma fase complicada, relativamente à qual eu tive a sensibilidade de um paquiderme numa loja de porcelanas…

A mãe teve então uma conversa comigo, atitude que acho louvável, a falar é que a gente se entende e eu estava a leste desta questão.
Sobretudo neste tipo de situações, em que a “parte lesada” é a nossa cria, o instinto é pormos as garras de fora e virarmos leoninas.


Não o fez. Usou diplomacia, bom senso, inteligência. Não fez acusações, limitou-se a expor a questão e a explicar o que não lhe tinha agradado.
Esta atitude permitiu-me ver as coisas de um ponto de vista que talvez não tivesse sido possível se me tivesse sentido “atacada” e chegar à conclusão de que o meu caminho para a redenção ainda vai ser longo, ainda há muito que trabalhar… lol
I’ll keep trying… prometo!!!

Este é um bom exemplo de situação em que, se não se fizer uso de inteligência emocional, as coisas podem dar muito para o torto, as pessoas podem ficar francamente chateadas.
Nós não somos bichos, pessoal. Não devemos carregar sobre tudo o que possa remotamente parecer uma ameaça ás nossas ideias, aos nossos princípios, ao nosso modo de vida... Se dermos o benefício da dúvida ás ideias que nos são apresentadas, talvez encontremos algumas boas para adoptar… ;)





















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