quarta-feira, 5 de maio de 2010

Amor e uma cabana

COM MÚSICA


Ahhh…amor e uma cabana… bonito… romântico… muito pouco realista… lol

Quando estamos apaixonados parece que o amor consegue ultrapassar tudo.
A realidade é que, para funcionarem, as relações requerem trabalho, investimento e esforço.
Nem tudo são rosas como possa parecer de início. Passada a fase do encantamento, há que começar a acertar agulhas.

As relações amorosas são, a meu ver, das mais complicadas e difíceis de gerir.
Com a nossa cara-metade partilhamos, voluntariamente, o nosso território, a nossa intimidade, o nosso quotidiano, os nossos prazeres e os nossos maus estares, os nossos problemas e alegrias … tudo isto numa base diária e geralmente sem grandes pausas para ganhar fôlego. Não é fácil, não.

O amor é ás vezes um sentimento cruel, que aproxima pessoas que não foram nitidamente talhadas para se entenderem.
Acredito bastante na teoria da metade da laranja, embora não ache que só exista uma única metade para cada um de nós.
Acredito mais ainda que certas pessoas nunca conseguirão ser felizes juntas.
Não, o amor não chega, de todo.
Quantos casais, unidos pela paixão, não viveram infelizes para sempre ?

Um dos primeiros erros que podemos cometer é tentarmos ser aquilo que achamos que o outro gostaria que fossemos. O nosso verdadeiro eu há de, mais tarde ou mais cedo, dar o grito do Ipiranga e aí temos a burra nas couves.
Quantas vezes não afirmamos gostar de coisas que não apreciamos realmente, amordaçamos certos traços do nosso carácter, alinhamos em actividades que não coadunam com a nossa personalidade, etc… para um dia nos perguntarmos quem é esta pessoa que vive agora dentro de nós.
E o pior é que, se deixarmos sair a que lá estava antes, o outro não a vai reconhecer e vai perguntar-se porque “mudámos”.

Não estou com isto a defender que não devamos fazer concessões, ajustar o nosso modo de vida ou inclusivamente rever os nossos anteriores pontos de vista. Acho simplesmente que temos de ter noção do que somos no nosso âmago e daquilo que estamos de facto genuinamente dispostos a mudar em prol da relação. Há coisas fundamentais para cada um de nós, ideias, princípios, posturas perante a vida, sem os quais perdemos a nossa coluna vertebral e nos tornamos seres amorfos. Outras são passíveis de ser alteradas e devem sê-lo se disso depender a relação, por muito que ás vezes nos possa custar. Teimar num “eu sou assim, sou assim, quem não gosta, come menos”, relativamente a tudo, usar de intransigência e esperar que seja o outro a adaptar-se a nós demonstra, a meu ver, não só egoísmo como de falta de visão. 

Da mesma forma que temos tendência a mudar para agradar ao outro, tendemos igualmente a não querer ver as suas características que nos são menos agradáveis. Por alguma razão se costuma dizer que o amor é cego. Tapamos o sol com a peneira, chegando inclusivamente a julgar achar piada a coisas, que normalmente não apreciaríamos de todo.
Tipicamente mais tarde elas voltarão então a assumir o seu papel de “defeito” aos nossos olhos.
Se tivermos consciência de que ninguém é perfeito, nós inclusive, muito mais facilmente aceitaremos que numa relação nem tudo o seja.
Se insistirmos em acreditar que beijando o sapo este se vai transformar em príncipe, estaremos a habilitar-nos a uma bela desilusão.

Outro erro frequente é o achar que havendo amor, empatia, companheirismo e todos os outros ingredientes que compõem uma relação amorosa, não há necessidade de palavras. Muitas vezes partimos do princípio que sabemos o que se passa na cabeça do outro. Muitas vezes estamos errados. Se qualquer coisa parece estar mal, provavelmente está, mais vale po-la em pratos limpos do que agir numa presunção de conhecimento de causa.

Da mesma forma ás vezes evita-se o dialogo por medo de um desfecho pouco favorável á nossa causa. O falar pode sem dúvida piorar as coisas antes de as melhorar, uma situação morna pode tornar-se quente ao ser verbalizada. Ninguém gosta de ser criticado, de ser apontado do dedo e a reacção imediata pode muitas vezes não ser das mais agradáveis. No entanto, se houver abertura de espírito de ambas as partes, o mais provável é que a situação acabe por se resolver. As discussões (no sentido inglês de “discussion” e não de “fight”) são a meu ver extremamente saudáveis, permitem por os pontos nos iis.

Uma relação é feita de dar e receber, ceder e exigir, tudo isto com conta peso e medida e tendo em consideração ambos os lados. Se a balança desequilibrar, dificilmente a relação se manterá saudável e agradável para ambas as partes. Não há fórmulas mágicas, cada caso é um caso, cada relação é única com as suas particularidades. Há que ir conhecendo não só o outro como a nós próprios, ir tendo noção do que é aceitável, do que é razoável, do que funciona para os dois indivíduos em questão. 

Mas sobretudo, nunca, mas nunca, tomar o outro por garantido… que nem planta no nosso jardim, se baixarmos os braços, se deixarmos de podar, adubar, regar, um dia quando dermos por isso já só encontraremos raminhos secos.

1 comentário:

  1. Olha concordo com tudo e pronto, estou numa fase muito boa, muito cor-de-rosa e a ver bolhas de sabão por todo o lado e não tenho muita cabeça para aspectos menos dignos do ser, brigas e quejandos.

    O amor dá trabalho, pelo menos o suficiente para a nossa preguiça e letargia, mas não é nada que não se consiga. Consegue-se conquistar todos os dias um bocadinho, dar atenção, não deixar instalar vazios de presenças e silêncios, mas sem invadir.

    P.S. A vantagem de ter um blog como o meu, é que ele sabe muito bem como eu sou, do que gosto e não gosto, nada que enganar e nem eu posso vestir máscaras. Verdadinha que também não teria pachorra para as vestir. Lá se vai o factor surpresa ;-)

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