COM MÚSICA
Entramos, de alguma forma, em contacto com outros seres humanos numa base quase diária.
Alguns serão perfeitos desconhecidos, com quem provavelmente não voltaremos a falar na vida, outros fazem parte do nosso dia a dia, pelo meio haverá potenciais relações futuras.
Do tipo de interação que mantemos com o próximo depende toda a nossa vida, quer queiramos quer não, “nenhum homem é uma ilha”.
Um amigo de outros tempos disse-me, mais do que uma vez, que achava que eu tinha “medo de ficar sozinha”. Pela repetição se depreende que nunca consegui transmitir-lhe efectivamente a minha opinião sobre o assunto.
É verdade, adoro viver rodeada de gente, invisto imensamente nas relações humanas, ás quais me entrego de corpo e alma e sinto fascínio pelo seu estudo, não em teoria mas na prática, por observação.
Poderia sem dúvida “ter medo” de perder tudo isto, não estivesse consciente de que de nós depende conserva-lo.
As pessoas não são objectos, não são canetas ou isqueiros, que se percam... As relações constroem-se, mantêm-se e alimentam-se, cada uma na respectiva categoria a que pertencem e as pessoas só se “perdem” se desprezarem a sua manutenção.
Por que raio haveria alguém que tenha gosto e facilidade em dar-se com os outros de “ficar sozinha”?! Se naufragasse numa ilha deserta, talvez... mas “ter medo” disso parece-me um bocado descabido.
Quem brinca com o fogo queima-se, não há bela sem senão e essas coisas... É um facto que nem tudo são rosas nas relações interpessoais.
Quem não ouviu já alguém afirmar que não quer animais domésticos por já ter tido algum, de quem gostava muito, que lhe provocou grande desgosto ao morrer...
Pois com as pessoas passa-se o mesmo, depois de uma qualquer má experiência, muitos temem entregar-se, com receio de se magoarem novamente.
Quer sejam relações profundas ou superficiais, estas apelam aos nossos skills sociais, á nossa capacidade de integração e adaptação, de manter o respeito e a consideração pelo outro, exigindo-os também para nós. Dão trabalho, requerem constante esforço e empenho, capacidade de empatia, altruísmo ás vezes.
Como tal, muitos preferem manter os outros a uma certa distância de segurança, só se abrindo realmente para um grupo restrito de eleitos.
Quase que apostava que, esses sim, têm medo de “ficar sozinhos”. ;)
Quase que apostava que, esses sim, têm medo de “ficar sozinhos”. ;)
Viver é um risco, a todos os níveis, milhões de coisas “más” podem acontecer e não é por nos fecharmos na nossa concha, por criarmos uma armadura à nossa volta, que as vamos conseguir evitar. Quer queiramos, quer não, de uma forma ou de outra, havemos sempre de ir apanhando umas porradas da vida. A questão é se as suportamos sozinhos ou acompanhados.
As pessoas vão entrando e saindo das nossas vidas. Umas vão ganhando importância e outras perdendo. Uns aproximam-se e outros afastam-se. Temos surpresas agradáveis e decepções. Ganhamos rapidamente confiança e intimidade com alguns enquanto que com outros vamos criando relações fortes mas mais distantes, ao longo dos tempos.
Se tirarmos genuíno prazer de tudo isto, se apreciarmos os vários tipos de relações que preenchem as nossas vidas, se as acarinharmos, se lhes atribuirmos importância, quer sejam regulares ou esporádicas, dar-nos-emos conta de que é o calor humano que nos aquece realmente.
Uma vez que descubramos isto ficaremos sem dúvida dele dependentes, mas sem medos, pois saberemos que ele está em todo o lado e que basta abrirmos os olhos para o vermos e nos dirigirmos para ele.
Podemos não ter uma clássica relação de amizade com o nosso mecânico, a menina do supermercado ou a professora do nosso filho. Podemos não os convidar para nossa casa ou participar na sua festa de anos. Mas não deixa por isso de ser amizade se houver apreço mútuo, simpatia, um contacto agradável ao longo dos tempos.
Esse sentimento, a vários níveis, com vários graus de intimidade, distribuído por várias pessoas, faz com que nunca nos sintamos efectivamente sozinhos. Podemos estar sós, “home alone”, mas não estamos sozinhos.
Esse sentimento, a vários níveis, com vários graus de intimidade, distribuído por várias pessoas, faz com que nunca nos sintamos efectivamente sozinhos. Podemos estar sós, “home alone”, mas não estamos sozinhos.
Eu sei que hoje estou a soar muito "Jesus Cristo"... mas é que acho que o rapaz tinha razão, “amai-vos uns aos outros” até que é uma cena baril.
E facilita-nos tanto a vida... ;)
PS: Este post vai dedicado áquele senhor que cá veio comer a açorda no outro dia, com os meus agradecimentos pela inspiração... ;)
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