terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A insegurança mata

COM MÚSICA



O post da semana passada deixou-me um bocadinho tristonha, não pelo tema mas pelas memórias que remexeu. Fez-me pensar em como algumas coisas boas que temos na vida, que ingénuamente tomamos por garantidas, podem desaparecer de um momento para o outro, sem que nada possamos fazer.

Tive,  na minha adolescência, um amigo com quem partilhava uma empatia, um entendimento, um companheirismo, raros. Até que uma namorada o “proíbiu” de se dar comigo.
Sabendo, pela minha boca pois já nos conhecíamos antes, a importância que tinhamos um para o outro, o passado que partilhávamos, deve ter-se sentido ameaçada pela minha proximidade.
A realidade é que, para enorme pesar meu, deixámos de nos ver.

Muitos anos passaram, muita água correu e, por coincidências do destino, os nossos caminhos voltaram a cruzar-se. Mas o que quer que tenha existido entre nós já tinha morrido. Somos hoje amigos no facebook, daqueles que se mandam umas bocas de vez em quando, sem mais.

Neste caso, do nosso passado comum constava um namoro, há muito acabado, tendo até já havido outra entretanto, de quem me tinha inclusivamente tornado amiga.
Outros houve em que nem isso havia, somente amizade, pura e dura.

Nas minhas divagações, dei-me conta de que este tipo de afastamentos eram uma coisa comum. Pude identificar vários casos, não só relativos à minha pessoa como também aos que me rodeiam, de ambos os sexos.
Consciencializei-me então de que a insegurança mata. Mata relações, se o permitirmos.

As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes ciumentas, possessivas, sentindo-se consequentemente inseguras. Tentam então afastar tudo o que considerem uma ameaça ao seu estado de graça.
Quer seja de forma directa e frontal ou recorrendo a manipulações subliminares, fazem o que estiver ao seu alcance para cortar pela raíz o que as incomoda.
Assisti a este fenomeno tantas vezes que já lhe perdi a conta.

Julgo que muitos não consigam entender a enorme capacidade do coração humano e a enorme diversidade  das suas relações. Que não compreendam que estas não roubam pedaços umas ás outras, cada indivíduo podendo ser importante à sua maneira, ter a sua função, ser complementar. 

Poucos são, infelizmente, os que conseguem resistir à pressão. O medo de perder o outro, se lhe fizerem frente, parece ser demasiado assustador. A maior parte acaba por vestir a camisola do abandono, da desistência, abdicando de algo que era efectivamente importante para si.
Tal como alguns pais cedem ás birras das crianças para não ter de as aturar, afastam-se, consciente ou inconscientemente, de forma mais ou menos óbvia, da origem do seu mal estar, daqueles que provocam ondas na sua relação.

É, na minha humilde opinião, uma postura muito cobardolas, muito “looser” e sem grande fundamento.
Nos casos que conheço em que isso não aconteceu, em que a pessoa em questão bateu o pé e não cedeu, e felizmente existem alguns, ninguém perdeu ninguém por causa disso.
Conheço inclusivamente um, em que dois amigos se viram meio ás escondidas durante algum tempo, de tal forma a cara metade de um deles lhes fazia a vida negra... Mas não desistiram, não se afastaram, não se perderam. Simplesmente abdicaram de um certo “conforto relacional”, em prol de uma relativa paz de espírito.

Na minha opinião, mas isto sou eu, ou as pessoas são de alguma forma importantes para nós ou não são mas, se forem, ninguém nos consegue fazer virar o bico ao prego. Ninguém nos consegue convencer de que não prestam, de que já não servem. Ninguém consegue ocupar o seu lugar no nosso coração, simplesmente porque sabemos que há espaço para todos.

Claro que também me poderão dizer que, as relações que perdemos, na realidade não valiam o que julgávamos... também pode ser por aí... :(








3 comentários:

  1. Fez-me lembrar um amigo, boa pessoa, generoso e cheio de coisas boas para dar que por um encantamento questionou uma amizade sã que há muito se tinha. A dita, em questão também era amiga de tempos idos mas como padece de um "malformado" pêlo na venta, agilizou o afastamento, estava muita coisa em causa... penso. As redomas nunca foram sinónimo de sanidade mental mas também compreendo que o tal amigo generoso, cheio de boas coisas para dar sempre se pautou por depressões intrínsecas, logo alguém que quase se põe a jeito para qualquer tipo de manipulação, a da dita em questão. Lamento, pela ternura que lhe tinha/tenho mas sobretudo lamento por não saber distinguir o "trigo do joio", talvez um dia...

    ResponderEliminar
  2. Fez-me lembrar um amigo, boa pessoa, generoso e cheio de coisas boas para dar que por um encantamento questionou uma amizade sã que há muito se tinha. A dita, em questão também era amiga de tempos idos mas como padece de um "malformado" pêlo na venta, agilizou o afastamento, estava muita coisa em causa... penso. As redomas nunca foram sinónimo de sanidade mental mas também compreendo que o tal amigo generoso, cheio de boas coisas para dar sempre se pautou por depressões intrínsecas, logo alguém que quase se põe a jeito para qualquer tipo de manipulação, a da dita em questão. Lamento, pela ternura que lhe tinha/tenho mas sobretudo lamento por não saber distinguir o "trigo do joio", talvez um dia...

    ResponderEliminar
  3. Pois... não haja dúvidas que para haver "mortes" tem de haver dois inseguros, um não chega... ;)

    ResponderEliminar