quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A tradição já não é o que era…

COM MÚSICA



Tendo recebido uma educação tradicional, sou uma menina prendada, que sabe fazer muitas coisas “como deve de ser”.
Sei, por exemplo, pôr a mesa com todo o tipo de talheres, para as mais variadas funções, sem qualquer hesitação quer na ordem quer na direcção, o mesmo se passando com os copos. Sei fazer a cama com “cantinhos de enfermeira” e a dobra da colcha a moldar as almofadas. Sei fazer bainhas “invisíveis”, engomar uma camisa, dobrar uma fralda de pano em forma de bacalhau, enfim, uma verdadeira fadinha do lar.

A realidade é que não pratico a maior parte dos ensinamentos que recebi.
Dobro as toalhas da casa de banho em três, por uma questão estética e as meias em envelope, para ser mais fácil de enfiar o pé, e posteriormente em bolinha para não se perderem umas das outras. Dou no entanto nós nos lençóis de baixo que não sejam de elástico, uso guardanapos de papel e não tenho qualquer problema em trazer uma panela para a mesa se estivermos em família (e com esta descarada e desonrosa confissão, acabei de me habilitar a ser deserdada).

Também em termos de relacionamentos sociais as coisas se vão alterando.
Em tempos, por pouco não fiz uma embaraçosa figura de ursa, aparecendo indevidamente num casamento, por ter recebido um idiota de um “faire part" que confundi com um convite. Quando o meu pai morreu, choquei um que outro membro da família, por me ter recusado a enviar os tétricos envelopezinhos de borda preta com os agradecimentos a quem nos acompanhou.

Enfim, mudam-se os tempos mudam-se os hábitos e pessoalmente mantenho os que me parecem fazer sentido, por razões práticas, de tempo, de dinheiro, de espaço. Não acredito em fazer as coisas “porque já os meus paizinhos faziam assim”… a não ser que continue a ver razão para tal.
Noto no entanto cada vez mais, um “descarte” da educação que nos foi dada, sem grande critério, devo dizer.

Acontece-me frequentemente ir buscar o meu filho à escola e ser bloqueada por carros em segunda fila, uma vez por mais de um quarto de hora, sendo quase insultada pelo paizinho/mãezinha ao ousar protestar no seu regresso.
Na passagem de ano, tendo os anfitriões do costume roído a corda quanto à mega festa dançante da praxe, decidi fazer um pequeno get together cá em casa. Enviei um mail a cerca de quinze pessoas, das quais UMA respondeu. Quando protestei, três responderam a gozar comigo, continuando a não dizer se sim ou sopas. Na véspera, outro perguntou a que horas era para aparecer. Não sei se algum deu com as fuças na porta porque não fiquei cá para ver.
No último jantar que fizemos, duas pessoas chegaram perto da hora combinada. Todos os outros chegaram com pelo menos uma hora de atraso, como se nada fosse. Quando comentei o facto, uma respondeu que achava ternurento que ainda tivesse ilusões de que alguma vez fossem chegar a horas.

Podia continuar por aí a fora, com muitíssimos mais casos, alguns dos quais já mencionei aqui, mas acho que já deu para perceber de que tipo de coisas estou a falar.
Adorava poder pensar que era uma cabala contra a minha pessoa, que só a mim estes filmes aconteciam, infelizmente não tenho tais ilusões, é um mal generalizado.
Os exemplos que mencionei denotam a meu ver, no mínimo, de falta de educação. Mas todos os males fossem esses… o que me parece realmente grave é a aceitação tácita pela maioria das pessoas, deste estado das coisas.

Chamem-me careta, chamem-me antiquada, chamem-me basicamente o que quiserem… mas não consigo de facto engolir posturas que demonstram nítida falta de respeito  e consideração pelos outros.

É-me perfeitamente indiferente o que cada um pratica em sua casa, no seu dia a dia, na sua intimidade, cada um sabe de si e ninguém tem nada a ver com isso. A coisa já muda completamente de figura quando entram terceiros em cena. O estar-se completamente a cagar para o próximo, não tendo minimamente em conta o incómodo que se possa causar é uma coisa que me ultrapassa.

Se calhar é o rumo que o bicho homem está a tomar. Eu própria já não mando vir como mandaria há uns anos, já não fico de trombas como ficaria, já não reajo de uma forma tão intempestiva como reagia dantes. Não deixo no entanto de me indignar, de me revoltar e de continuar a protestar.

“Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti”, sempre foi para mim uma regra de ouro. Parece agora estar a ser subvertida pelo conceito de “aguenta dos outros para poderes fazer tu também…”
Não consigo papar esta.









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