quarta-feira, 24 de abril de 2013

Que seja feliz…


No Sábado passado, empoleirei-me para cortar uns ramos altos da nossa árvore e, pela terceira vez na vida que me lembre, vi-me frente a frente com a morte, ou pior…
O escadote partiu-se e vim por ali abaixo, de tesoura de podar na mão, estatelando-me no chão com a cabeça a poucos centímetros de dois pedregulhos.

Aos doze anos, por altura das marés vivas, ignorei o sinal de “não passar” no pontão do Tamariz e fui arrastada para o mar por uma onda que o varreu. Engoli água e areia e respirei quando as ondas fizeram o favor de me trazer á tona e depois finalmente de me atirarem para a praia.

Já perto dos trinta estive num acidente de automóvel. Partiu-se subitamente a suspensão, fizemos uns quantos peões, capotámos por uma ribanceira abaixo e, quando o carro finalmente parou, percebemos que estávamos dentro de água a afundarmo-nos.

Qualquer uma destas situações poderia ter sido fatal. Consigo, com imensa facilidade, imaginar várias coisas que poderiam ter corrido muitíssimo mal em qualquer uma delas. Entre a morte e as eventuais terríveis consequências que qualquer um destes acidentes poderia ter tido, venha o diabo e escolha.
Mas nada aconteceu, safei-me incólume de todos eles, nitidamente não era a minha hora.

Estas coisas fazem-nos no entanto pensar, pensar naquilo de que nos safámos e nas pessoas que não tiveram a mesma sorte.
Pensar na efemeridade da vida e consequente importância de viver o aqui e agora.
Pensar, desta vez, no meu filho, que não existia ainda das anteriores…

No meio do chuto de adrenalina do cagaço á posteriori, dei por mim a perguntar-me o que gostaria de lhe transmitir, que mensagem gostaria de lhe deixar se de repente lhe faltasse, no que lhe poderia dizer que o pudesse ajudar na vida.
E o que me ocorreu de imediato foi “sê feliz, sê realmente e genuinamente feliz”…

Eu sei que parece uma lapalissade sem grande sentido, é evidente que todas as mães desejam a felicidade para os seus filhos. A realidade é que nem toda a gente tem a noção de que está nas suas mãos sê-lo e que, ao fazer por isso, tudo o que de resto é importante vem naturalmente.

Acredito, do fundo do coração, que não se consiga ser verdadeiramente feliz sozinho. Assim, a conquista da felicidade passa pelo domínio dos skills sociais.
Não conheço nenhum filho da mãe que pareça viver em paz consigo próprio e com os outros. Assim, ser boa pessoa parece-me ser condição sine qua non para se ser feliz.
A felicidade não cai do céu, tem de ser desejada, conquistada, conservada. Assim, aprende-se a fazer pela vida, a trabalhar pelo que é realmente importante.
Um grande desequilíbrio entre a emoção e a razão, a incoherência, não nos permite viver em paz de espírito. Assim, a harmonia entre as duas coisas torna-se essencial para podermos ter serenidade.
And so on…

Dei por mim a compreender que ao “mandar” alguém ser feliz, ao desejar que o consiga, está-se simultaneamente a desejar que consiga resolver todas as questões que o irão permitir. Que o “objectivo” de ser feliz resolve todas as outras coisas que irão surgir pelo caminho. Que não é possível atingir a felicidade sem que uma série de condições sejam cumpridas e que aqueles que lá chegam as compreendam e resolvam.
Logo, desejar que alguém seja feliz, pedir-lhe, aconselha-lo a sê-lo, é dar-lhe ao mesmo tempo todos os conselhos realmente importantes que se podem dar na vida, mesmo que essa pessoa tenha de lá chegar sozinha.
Se conseguir ser feliz é porque, mal ou bem, conseguiu tudo o resto.



COM MÚSICA

1 comentário:

  1. 1 - Estou feliz por não ter passado de um grande susto

    2 - Sim, acho que tens razão, para se poder ser feliz é preciso vermo-nos como boas pessoas, com tudo o que isto implica

    3 - Agora, que já pensaste sobre "o resto", não poderias alterar o teu impirismo para expriências menos radiacais?

    Um abraço apertado até chatear

    ResponderEliminar