terça-feira, 2 de julho de 2013

Partir em paz.



Ao fim de cerca de um ano de luta, mais uma jovem perdeu a guerra contra o cancro…
É das tais notícias que não gostamos de receber.
Não a conhecia pessoalmente, só aos irmãos mais velhos, que quem me informou disse estarem destroçados, outra coisa não sendo de esperar.

Dirigi-me ao velório, como a tantos outros antes, com um grande aperto no coração, sobretudo tratando-se de uma família tão próxima do mesmo.
Preparei-me para enfrentar um ambiente pesado, angustiante.

Surpreendentemente não foi com o que me deparei.
Havia muita dor, muita tristeza, sim, mas acima de tudo senti no ar uma coisa de que não estava  de todo à espera: paz.
Estamos a falar de uma mulher com menos de quarenta anos, casada, com dois filhos pequenos, ao que tudo indica realizada e feliz. Estamos a falar, referindo-me só a quem conheço, de dois irmãos mais velhos, protectores e amigos da mana caçulinha.
Dramático é um adjectivo que me vem imediatamente à cabeça.

Ao falar com eles percebi o que se tinha passado e voltei para casa com um imenso sentimento de admiração por aquela família .
Aparentemente ela mostrou-se corajosa e lutadora durante todo o percurso. Enfrentou as provações com optimismo e força, esperando pelo melhor e preparando-se para o pior. Foi-se sem aparente mágoa ou revolta.
Ao fazê-lo, ao demonstrar que aceitava serenamente o seu destino, transmitia o mesmo sentimento a quem estava à sua volta. Ajudando-os assim, ainda em vida, a encetar o caminho que os levará a superar a sua perda.

Parece-me no entanto aqui bastante evidente a questão “ovo ou galinha”…
Ninguém, julgo eu, consegue atingir esta paz de espírito se não tiver uma estrutura de ferro à sua volta. A doença debilita e a ideia do que possa vir a acontecer só pode assustar, não são propriamente fontes de força e segurança. Sem apoio, tanto físico em termos de infra-estrutura e logística, como psicológico e emocional, tenho as minhas dúvidas que alguém se aguente.

Tive assim uma lição de vida, uma demonstração do poder do amor e bom senso conjugados.
Aqueles dois irmãos não me pareceram destroçados, não. Pareceram-me serenos e com força para enfrentar a vida que os espera sem ela. Pareceram-me felizes de a ter visto partir assim, em vez de gesticular e bater com os pés. Senti neles, em ambos, a sensação de terem feito tudo o que esteve ao seu alcance para lhe minimizar o sofrimento e ajudar a enfrentar a situação em todos os passos do caminho.
Senti sobretudo, relativamente a todas estas pessoas, que tinham pacificamente aceite a morte como parte integrante da vida.

Desejo-lhes que logo que possível a dor abrande o seu jugo para poderem mais levemente continuar os seus caminhos.


Carpe Diem

COM MÚSICA
Eric Clapton - Tears in Heaven

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