Ao longo da vida vai
havendo uma rotatividade de gente à nossa volta. Pelas mais diversas razões,
surgem uns, desaparecem outros.
A real importância de
cada um, a marca que deixam em nós, só o tempo no lo mostra.
Quem não passou já pela experiência desconcertante de se
lembrar subitamente de ter estado “apaixonado,” na infância ou adolescência,
por alguém que já nem se lembrava que existia?! Ou quem não reencontrou alguém que
conheceu tempos antes e sentiu genuína
pena de não ter desenvolvido na altura uma relação mais profunda..
No momento, as situações
e por arrasto as pessoas, têm um peso que não irão obrigatoriamente manter no
futuro.
É um bocado como as
feridas. Algumas são muito impressionantes na altura, são grandes, dolorosas e
sangram muito, julgamos que irão deixar uma terrível cicatriz e no entanto,
anos depois, vemo-nos aflitos para lhes encontrar
sequer o sítio. Pelo contrário, ás vezes damo-nos conta que a nossa pele reteve
a marca de pequenos arranhões aparentemente insignificantes.
Quando fiz cinquenta anos,
a minha irmã ofereceu-me uma prenda fabulosa, uma ideia genial; uma composição em
que, por cima de uma fotografia minha, montou a cara de mais de trezentas pessoas com
as quais me cruzei.
Devo dizer que não me
poupou, felizmente, a nada e não é de forma alguma um prazer, antes pelo contrário,
lá encontrar algumas. É no entanto, sem dúvida, um excelente
apanhado das minhas relações, da minha vida.
Sinto-me extremamente aliviada por alguns deles já não fazerem parte
dela. Outros são-me um bocado indiferentes, olhar para eles não provoca
qualquer tipo de emoção. A maior parte, encaro com uma enorme ternura e saudade
dos que já não tenho por perto.
Costuma dizer-se que conhecidos
temos muitos mas que poucos são os amigos verdadeiros... afirmação com a qual
só concordo parcialmente.
As amizades requerem, sem
qualquer sombra de dúvida, um enorme investimento, tanto de tempo como de
energia, que não é fisicamente possível despender com uma grande quantidade de
gente.
Tenho no entanto um
sentimento de sincera e recíproca amizade relativamente a uma série de pessoas,
com quem não partilho o meu dia a dia, e a sensação que muito facilmente a
relação se poderia transformar noutra muito mais profunda.
A realidade é que,
efectivamente, relações de estreita amizade não desenvolvemos muitas ao longo
da vida. Estas são de uma extrema importância para mim.
Não acredito que quando
as relações, sejam elas de que tipo forem, não são saudáveis, se deva insistir
nelas.
Não acho que os casais
devam continuar juntos por causa das crianças, que a família tenha de se manter
por perto por partilhar o mesmo sangue ou que os amigos se devam continuar a dar
em nome de um passado em comum.
Qualquer relacionamento
passa por episódios ou até mesmo
períodos complicados. Há no entanto a meu ver que apurar se se trata de uma
intoxicação pontual que, por muito violenta que possa eventualmente ser, há de
passar ou de uma intolerância alimentar que, se insistirmos, nos irá envenenando
aos poucos.
Nessa óptica, afastei-me,
há já vários anos, de alguém que considerava um grande amigo.
Andei muito tempo a
tentar evitar a ruptura, pois a ideia
punha-me doente. A realidade é que de amizade o nosso relacionamento cada vez
tinha menos.
O que despoletou tudo, um clássico; apaixonou-se, arranjou uma
namorada.
Nestas alturas, um recolhimento
no ninho de amor, com consequente afastamento do resto da malta, é a coisa mais
natural do mundo. Não foi no entanto (só) o que aconteceu.
De repente, tudo o que eu
era, tudo o que fazia ou dizia “magoava” ou “ofendia”. Parecia que se sentia
agredido pela minha simples presença. Às tantas entrei num martírio de
contenção, em que perdi toda e qualquer espontaneidade, pensando vinte vezes
antes de fazer ou dizer alguma coisa.
Julgo que a gota de água
tenha sido uma conversa na qual afirmou, com chispas de ódio a sair-lhe dos olhos, o quanto gostava de mim. Daí ao meu “chega” final, foram dois passos.
Não discutimos, não nos
zangámos, simplesmente me pareceu aconselhável ir cada um para o seu lado,
enquanto ainda não havia estragos de maior.
Mandar as culpas para
cima da sua amada seria fácil, parece ser a conclusão mais obvia; “ela
afastou-o de mim”. A realidade é que acredito no livre arbítrio e cada um faz
as suas próprias escolhas.
Estou consciente de que há quem
considere incompatíveis um grande amor e uma forte relação de amizade com o
sexo oposto mas suspeito que possa não ter sido “só” isso.
Este era um lobo solitário, que às tantas adoptou a
nossa alcateia.... pergunto-me até que ponto não terá recalcado uma série de
coisas, a bem do convívio, que terão saído nessa altura, por ter encontrado uma
companheira com a mesma onda.
A realidade é que, apesar
de felizmente não ter pessoalmente nada a apontar-lhe, comecei também eu a não
gostar da pessoa em que se foi lenta mas seguramente transformando. Posturas
que adoptou, atitudes que tomou, opiniões que partilhou, transformaram-no num
estranho aos meus olhos, que me é desagradável e nada tem a ver com o amigo que guardo no meu
coração.
Mas voltando a este
último e simultaneamente ao tema deste post... há pessoas que sairam da
minha vida em quem penso com alguma frequência, noutras esporadicamentemente, nalgumas
praticamente nunca.
Ao fim deste tempo todo, não passa uma semana sem que ele
me venha à cabeça.
Recordo-o constantemente,
sem tristeza, porque não morreu; pelo menos parte dele está
a viver o amor da sua vida, é pai de família, tem finalmente tudo aquilo com
que sempre sonhou. :)
Penso nele com muita ternura,
um imenso carinho, uma grande saudade e a perfeita consciência de ter perdido uma amizade como há poucas.
Não importa o que é agora, o coração não pára de me relembrar inequivocamente o que foi. É isto que o tempo faz,
dá-nos a noção da importância das coisas na nossa vida.
Pelo que fomos, pelo que
tivemos... tchin, tchin... LuvU PW, estejas lá onde estiveres!
COM MÚSICA
0 comments:
Enviar um comentário